Blackout escrita por Victor Walker


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

- Essa minha primeira fic, então é lógico que deve estar horrível e por favor, tenham paciência comigo x.x

— Escrevi escutando Blackout - Muse e acredito que tem muito haver com a história, se quiser ouvir então lê poderia ser uma boa.

— Boa leitura, espero que gostem.



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O maior desafio sobre contar uma história está no ato de começar a escrevê-la. Nunca sabemos como começar a conta-la. Às vezes, cismamos em contar ela do princípio, outras vezes pelo fim dela. E sempre que começamos a escrever, após uns dois parágrafos achamos que a história ficou péssima e nenhum pouco digna da verdade que a originou.

Nesses casos, a maneira mais simples de começar a história e garantir que ela seja fidedigna é contar tudo sem tempo para pensar, sem tempo para refletir ou se negar. Bem, no caso da minha história isso faz todo sentido, pois tudo veio e foi como uma belíssima tempestade de verão, rápida e devastadora.

Eu o conhecia a algum tempo já, mas nunca havia dado tanta importância ao fato. Aliás, nunca nem se quer reparara nele, era quase como se ele fosse parte da mobília ou detalhe da paisagem ao meu redor. Tudo veio a mudar com a súbita e inesperada aparição de uma garota: a belíssima Rosemary Stuart. Loira, olhos azuis e de uma personalidade suficiente para embriagar o sóbrio e enlouquecer o sábio.

Ela surgiu no início do semestre letivo, vinda de uma cidade distante, de mudança com seus pais que tentavam salvar um casamento em ruinas. Logo que chegara em nossa pacata cidade matriculou-se no colégio em que eu e meu amigo estudávamos, e já nos primeiros dias chegou arrancando suspiros de todos que conhecia.

Robert, meu amigo na época, logo caiu de amores por ela e com o passar dos dias nossa amizade e conversas eram substituídas por especulações sobre a distinta moça. Todo lugar e todo momento era resguardado para debater o caso Rosemary.

Para tentar fazê-la se apaixonar por ele, aproximei-me da garota, o que não foi difícil. Isso porque eu era um mistério para ela tanto quanto ela o era para mim, e isso a atraía. Nossas conversas começaram como quem nada queria, falando sobre amenidades, pessoas e amores. Como eu queria que Robert fosse feliz comecei a pintar a imagem dele na mente dela, o transformando em tudo o que uma garota poderia querer. E aos poucos o amor começou a crescer nela porque ela enxergava o que eu, sem perceber, via nele. Quando me dei conta, era tarde demais. Eu era apaixonado por ele e na minha devoção dei a ele a pessoa que o afastaria de mim. Não pense você que eu quis mudar o jogo e assumir o controle, não. Acreditava que no caso do amor, bastava eu vê-lo feliz que eu me sentiria feliz. Mas eu estava errado. O amor que estava em mim começou a me envenenar sem que eu pudesse morrer.

Como o amor de Rosemary era apenas uma criação do meu imaginário e das qualidades que eu via nele, esse amor logo veio a murchar. Brigas e discussões iniciaram afogando aquele relacionamento que de belo só a estética tinha, pois era tão vazio quanto uma bolha de sabão. E Robert virara-se contra mim, achava que eu era culpa por ela não o amar mais. Que a havia a envenenado contra ele e feito ela se desiludir. O ciúme dele afogara nossa amizade que já em muito estava fraca por termos nos afastado para ele se aproximar dela.

Um dia, nos fundos de nosso colégio, tudo aquilo que fervilhava na mente dele veio à tona, e com ímpeto e furor se derramou sobre mim. “Aposto que Rosemary se afastou de mim por sua culpa, não é? Diga-me por que a jogou contra mim?”

Eu estava perplexo com aquilo. Sempre fui o leal escudeiro, o fiel capacho, fazia os gostos dele, o defendia dos demais com unhas e dentes, esquecia-se de mim mesmo para privilegiar ele, o amava profunda e insanamente. “Eu não fiz nada. Nada tenho haver com isso. Não sei o que houve com ela.”

“Sei que você é o culpado. Você se tornou o melhor amigo dela. Acha que não sei das confidências que ela troca com você. Do quanto ela confia e acredita em você “. A mágoa que dele era forte e aquela desconfiança me feria. Meu semblante que já não estava feliz nos últimos dias ganhara novos tons de tristeza, e nesses tons ele achara ter visto culpa.

“Você...você está apaixonado por ela?” disse-me ele num misto de incredulidade e assombro e prontamente rebati dizendo que para mim ela nada era mais que uma amiga, mas ele não acreditava em mim. Estava cego de ciúmes. Tomado por uma força desconhecida me empurrou contra uma árvore e desferiu-me um golpe no abdômen.

“Como você pôde fazer isso comigo? Achei que você fosse meu amigo. Como você pôde? Diga-me” gritava ele enquanto me sacudia de encontro a árvore nos fundos de nosso colégio. Estava eu sem reação diante daquela fúria e sabia que se não confessa-se o que sentia o ciúme dele me destruiria.

“Eu...eu...não amo ela, você sabe disso” comecei com um sussurro frágil e temeroso, e nessa fraqueza a indecisão entrou na mente dele. “Então, diga-me quem você ama, se não é ela” questionou ele próximo a mim, num misto de curiosidade e medo. “Você não sabe? Por que você acha que eu sempre fiz tudo por você? Que eu sempre estive ao seu lado, mesmos nos momentos em que você me magoava com críticas duras? Você acha que fiz tudo isso, tudo para você ser feliz, apenas por ser seu amigo e querer seu bem?” lágrimas escorriam sem que eu pudesse contê-las. Estava reabrindo minhas feridas e tentando desenroscar dos meus espinhos uma rosa de amor para oferecer a ele.

“Eu não compreendo. Quem é que você ama?” pediu-me ele, mas com ares de já saber a resposta e temendo por ela. O hálito doce dele batia contra o meu rosto, os olhos dele pareciam perfurar minha alma e me despir por completo, minha respiração estava rápida e sofrível. Não havia mais resistência em mim para esconder o que sentia. Nada mais importava. Como uma barragem que se rompe, todos os sentimentos vieram numa enxurrava me fazendo proferir pela primeira vez um:

“Eu te amo”.

E minhas mãos se adiantaram agarrando a nuca dele e o aproximando de mim. Meus lábios se encontraram com os dele e assim eu havia dado o meu primeiro beijo de amor, e imagine minha surpresa ao ser retribuído por ele no ato. Nos beijávamos com uma ferocidade indescritível, era como se sempre sentíssemos o mesmo um pelo outro, mas nunca havíamos tido coragem para confessar. Beijava-o como se não houvesse um amanhã, como se não houvesse mais um eu e só ele importava.

Sem que notássemos escurecera e ninguém deu falta de nós. Nos fundos daquele colégio, escondido da vista de todos eu conheci o amor nos braços dele que, mesmo dizendo amar Rose, me amara como só ele podia.

“Eu te amo” sussurrava eu no seu ouvido, inebriado de amor e de alegria.

“Eu...eu...não sei...talvez” respondia-me ele num misto de sentimentos que eu não queria acreditar na hora que poderiam ser arrependimento e dor. Mas infelizmente eram.

Como não existe conto de fadas na vida real, tudo mudou. Não éramos mais amigos. Não nos conhecíamos mais. Após aquela noite ele se afastara de mim, e todas as vezes que me aproximava dele, com palavras duras e cruéis ele me afastava. Dizia que eu me aproveitara da fraqueza dele, que o seduzira com meus olhos tristes e minhas palavras doces. Aquilo me ferira profundamente, e em dor e mágoa me afastei. Mudei-me de colégio. Ao vê-lo desviava do caminho, onde ele ia não ia mais eu, meus amigos se afastaram de mim porque diziam que eu era problema certo e que eu não prestava.

Logo que atingi minha maioridade me lancei no mundo, numa busca desenfreada por paz e amor de verdade. Estava partido e quebrado e queria que alguém me curasse. E todas as noites meus braços conheciam outros braços, meus lábios a outros, minha cama atendia novos hóspedes e meu coração novos inquilinos que como uma brisa noturna vinham para de manhã irem embora.

Muitos amores conhecera, mas nunca me esquecia dele, corroendo-me por dentro. Até que um dia, numa das minhas noitadas uma garota acordou-me para a realidade “Alexandre, pare de fugir do passado. Eu sei que você não me ama e que eu sou apenas alguém que aquecerá sua cama por alguns momentos para ser logo esquecida. Está na hora de você voltar e aceitar seja lá o que você deixou para trás””.

Essas foram as palavras de uma garota que eu mal conhecia, mas sem me conhecer parecia enxergar meu coração partido. Com esse conselho e um leve beijo me deixara dizendo que nunca podemos fugir do passado. Tomado por um espirito de coragem voltei a minha pacata cidade. Havia se passado cerca de 2 anos desde que eu fugira de lá, e agora retornava para poder enterrar meu passado.

Logo que cheguei procurei saber sobre onde estava Robert, e não imaginam a minha surpresa ao saber que ele estava noivo e que em pouco tempo se casaria. Numa louca correria me dirigi onde diziam que ele morava, agora só, pois a pouco seus pais haviam morrido. Sem qualquer educação entrei na casa que na minha juventude fora meu segundo lar.

Estava ele sentado na cadeira de balanço da mãe, olhando enquanto eu abria o portão e entrava sem nem ao menos bater palmas. Com um sorriso largo ele veio e me abraçou, dizendo que muito sentira a minha falta. Meu coração sorriu diante daquilo, mas as palavras seguintes dele fizeram esse sorriso desaparecer tão rápido como veio.

“Você aceita ser meu padrinho de casamento?” questionou-me ele com aqueles olhos que antes eu conhecia, mas agora não conhecia mais. “Você...você está falando sério?” não podia acreditar que ele estava dizendo isso. “Você se esqueceu do que eu sinto por você? Do que nós fizemos?” meu tom de voz crescia a cada silaba, expondo toda minha dor que eu cultivara nos anos que haviam se passado.

“Tudo aquilo foi tolice. Paixão de moleque apenas. Apenas isso. Você não pode estar falando sério dizendo que me amava, e duvido que está falando sério agora deixando claro que me ama ainda. Homens como nós não se amam, e você sabe disso” disse ele num tom definitivo e não aberto a diálogos.

“Então, se para você era tudo tolice, por que você nunca me disse que não sentia o mesmo? Por que se afastara de mim e me abandonara?” lágrimas a muito guardadas agora saiam sem resistência. Começara a desconstruir na minha mente o garoto por quem eu me apaixonara, agora eu via que na verdade ele nunca foi nada do que eu imaginava que era.

“Eu não queria dar a você esperanças. Precisava de tempo para pensar. Ai quando eu tive meu tempo você se fora sem dar sinal algum e sem nem ao menos explicar para onde” falou ele com uma tristeza e arrependimento. “Eu me senti só sem você, precisava de você e você não estava mais lá para mim. Mas o tempo a tudo cura e eu e a Rose voltamos a nos entender e acho que ela é a pessoa certa para mim.”

Construí a imagem dele, o tornei um deus para mim, mal podia acreditar que o maior carrasco da minha vida era eu mesmo, que eu mesmo estava me matando porque não quis aceitar que ele não me amava.

“Você a ama?” o questionei agora ciente do quanto fui tolo e do quando desperdicei minha vida por nada.

“Não, eu não a amo, mas um dia irei amar. Nunca amei ninguém além de você, mas não fomos feitos um para o outro” disse como se fosse uma informação banal. “Por que você não disse que me amava? E por que você se casara com ela sendo que me ama?” questionei com agora uma fúria subindo em mim por ter sido feito de idiota por mim mesmo e por ele que me fez acreditar que ele me odiava.

“Eu o amo, mas somos homens e homens não se casam. Todos sabem disso, menos você. E a Rose é tudo que posso esperar de uma mulher além de ter a personalidade semelhante a sua” disse com um misto de riso como se tivesse tirado a sorte grande por achar alguém que poderia me substituir. “Sou tão pouco para você para você me trocar por qualquer um?” novas lágrimas surgiam agora com os sentimentos sendo expulsos do meu coração.

“Não o estou substituindo. Isso é impossível. Estou apenas me casando com alguém que sei que me fará feliz e que me ama” defendeu-se ele. Numa fúria descabida o larguei falando sozinho e corri para longe dele, precisava de tempo para refletir.

Os dias foram se passando e ele a todo custo tentava se aproximar de mim novamente e tornar-me seu amigo, e o afastava de mim. Aos poucos fui aceitando a verdade que até então era imaturo demais para notar. Eu nunca amei ele de verdade, amei o que ele representava para mim e somente isso, amava ele por não conseguir me amar, via nele o que queria que estivesse em mim, me odiava e o amava por ele me dar atenção sem perceber que ele só fazia isso devido a minha devoção cega. Nunca o conheci de verdade.

Esse conhecimento tornou meus dias suportáveis e aos poucos me desprendia das garras daquele amor doentio e restaurava o que havia em mim, aceitando facetas minhas que na minha juventude odiava. Voltara a sorrir e a desejar estar vivo e aos poucos fui o perdoando e deixando ele se aproximar de mim e até aceitei o convite dele para ser padrinho do casamento.

Uma semana antes do casamento combinamos de beber para aproveitar os últimos dias de solteirice dele e internamente para eu celebrar que havia superado ele enfim. Já bêbados saímos do bar, eu servindo de escora para ele até que paramos numa esquina e nos sentamos na calçada para o efeito baixar antes de chegarmos nos nossos lares.

“Sabe, Alex, você é e sempre foi meu melhor amigo. Nunca tive outro como você” balbuciava ele com o hálito fedendo a álcool. Ri do estado dele de embriaguez, mas o que se seguiu em muito me surpreendeu. Sem que eu notasse ele aproximou o rosto do meu e colou meus lábios com os dele num beijo ávido e rápido, que logo findou. “Eu amo você, Alex. Mesmo dizendo que não, eu te amo como nunca amarei a Rose e queria muito ficar com você, mas não posso” falou derramando lágrimas. Perplexo e sem reação o afastei de mim um pouco.

“Sabe Robert, se você tivesse me dito isso a meses atrás, talvez eu acreditasse em você. Mas agora não acredito. Sabe, você não me ama de verdade e nunca amou, você nunca me entendeu e nem entendeu meus motivos e, na realidade, a única coisa que você amou de verdade foi o que eu representava para você, assim como eu amava o que você significava para mim. Nos iludimos sem saber. Vendo você agora, após todos esses anos, eu percebi que você não é nada daquilo que eu achava que você fosse. Nunca reparei nos seus defeitos, mas agora os vejo, e nunca poderia amar alguém que não tem coragem de admitir seus sentimentos e abandonar tudo por mim. Chame-me de extremista se quiser, mas eu abandonaria meu mundo por você, mas você não faria isso por mim, não estou certo?” interroguei sem fúria ou mágoa, apenas com um leve sabor de nostalgia dos anos passados.

“Você está certo, nunca abandonaria meu mundo por você...Mesmo o amando demais, o que fizemos anos atrás e agora é errado demais para mim. Você não vê erro, mas os outros nunca nos aceitariam e eu não posso viver sabendo que todos me consideram errado” disse ele numa súbita clareza do álcool. Agora eu havia recebido a resposta que tanto esperara e cambaleante me afastei dele e fui para minha casa, sabendo que em fim o assunto fora resolvido.

Aquela semana passou, assim como o casamento dele que para mim foi tudo menos feliz. A noiva estava radiante e ele fingia o mesmo, e todos lá engoliam menos eu. Mas eu não estava mais triste por não tê-lo, só estava arrependido por perder tanto tempo pensando em alguém que nunca me quis ou nunca esteve disposto a me querer. Estava profundamente triste por ele e desejava do fundo do coração que a felicidade o encontra-se e que ele de fato se apaixona-se pela Rose.

Uma semana após o casório arrumei minhas malas. A minha doce cidade não era mais minha, me sentia um estranho lá, um forasteiro. Estava livre agora para poder seguir em frente e nada mais me prendia lá, nem meus pais. Eles não me entenderam na época, mas acho que um dia talvez entenderão. Dirigi-me a rodoviária e antes de subir no vagão olho para trás não na expectativa que Robert corresse para me impedir. Não, olhei para trás tendo uma mistura de memórias de tempos felizes, me lembrando da minha amizade com ele, de como o amor nosso foi doce, mesmo não sendo real, das nossas brincadeiras, de tudo.

Sentei no meu lugar e olhei para a janela e um pensamento me assaltou a mente no momento: “Só conseguiremos amar alguém de verdade se formos capazes de nos amarmos de verdade e enxergar o outro como ele é”.

Aquelas palavras nunca foram mais reais para mim como foram naquele fim de 1922, o ano em que em descobrira o preço que o amor cobrava e como alguns não estavam dispostos a paga-lo. Aquele pensamento ressoava em minha mente naquele vagão que me levava ao desconhecido e quem sabe um lugar onde pudesse amar e ser amado de verdade.

Fim, por enquanto.

Alexander R. Pierre.


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Notas finais do capítulo

- Se gostaram ou se odiaram deixem um comentário para eu saber a opinião de vcs =).

— Obrigado por ter lido e até uma próxima.