Contador de Histórias escrita por Darth


Capítulo 12
O Bardo e o Guerreiro




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A necessidade pedia que Galeth encontrasse Hector, o bárbaro amante de lutas nas arenas. A paixão do Sangue de Aço pela luta começou no dia em que ele se revelou ao mundo na luta contra três criminosos e dois behemoths. E que lugar seria melhor para chamar a atenção de Hector do que a própria arena de Porto Capital?

Assim, o bardo viajou para a capital do reino humano de Ornea. A única cidade onde ele não se hospedava em tavernas ou estalagens. Pois fora lá que nascera. Ao chegar à cidade foi até a loja de sua família, Mercadorias Alvagris. A placa de madeira já estava bem velha, com o desenho do senhor de cabelos brancos com um saco de moedas na mão descascando já.

Ao entrar, sentiu nostalgia ao ver o balcão com as várias prateleiras de produtos logo atrás. “Eu costumava me esconder entre as prateleiras quando pequeno” lembrou saudosista. Várias pessoas andavam para lá e para cá, observando os produtos e barganhando com os atendentes. Mal tinha entrado, uma garota loira com um rabo de cavalo e expressivos olhos castanhos foi atendê-lo:

— Em que posso ajudá-lo, sen - Interrompeu rapidamente a frase ao reconhecer Galeth. – Senhor Alvagris, há quanto tempo.

— Olá Nara, já faz tanto tempo assim? – respondeu o bardo, com um leve riso. Nara Lensiner era a pessoa que ele mais confiava em todo o continente, mais até do que seus companheiros de aventuras. Tanto foi que ela ficou com a loja de sua família quando ele saiu em viagem para cumprir sua promessa. – E sabe que prefiro que me chame de Galeth.

— Eu sei, eu sei. Mas não custa nada seguirmos as regras de etiqueta em público, não é mesmo? – dessa vez era ela quem ria. – Veio descansar ou a trabalho?

— Um pouco dos dois, acho.

Caminharam para a parte de trás da loja e subiram para a casa propriamente dita. A mobília, embora fosse a mesma, parecia nova devido aos cuidados que Nara tinha. Era fácil para ela, sendo uma maga formada do círculo. O quarto de Galeth tinha sido transformado no seu escritório de estudos arcanos, cheio de instrumentos e vidrarias. Ela dormia no quarto que fora dos pais do bardo, na cama de casal que eles dividiam quando ele vinha a Porto Capital.

Deixou sua bolsa de viagem num canto do quarto e desabou cansado na cama. Nara se deitou ao seu lado, abraçando-o:

— Você parece mais abatido que o habitual, meu bem. O que aconteceu?

— Um mercador de escravos. Parece que ele estava raptando crianças da cidade de Brishock com aquela história do Abissal. Mas além de ter coisas que ainda não se encaixam, como os ossos adultos no charco do monstro ao invés de osso infantis, tem o problema de que o cretino é poderoso. Poderoso o suficiente para ter enfrentado tanto eu quanto a Princesa do Vento sozinho.

— Então você pretende reunir os Exaltados pelo Ritual novamente? E assim ser capaz de sobrepor o poder que ele pode ter com a força de todos vocês reunidos novamente?

— Exatamente. Bater nele no bom e velho “nós temos mais gente poderosa”. – disse com um riso, logo em seguida puxando-a para um beijo.

Algumas horas mais tarde, o bardo estava ajudando a cuidar da loja. Os clientes animaram-se ao saber que o Bardo Cantante tinha vindo visitar a loja e tocaria algumas canções lá. E ele tocou várias músicas, animando os presentes enquanto eles faziam suas compras e até ganhando algumas moedas.

Após o anoitecer, Galeth e Nara fecharam a loja depois que os outros funcionários foram embora. Organizaram todas as prateleiras com rapidez e facilidade. Ele, com a magia de bardo ao tocar o alaúde, e ela, com palavras arcanas e gestos de mão. Cearam juntos e se prepararam para dormir:

— Vai dormir no quarto dele hoje? – perguntou a loira, com a mão no braço do bardo.

— Sim... É algo que preciso fazer sempre que venho para cá. Lembrar e fortalecer minha convicção.

— Vai ficar aqui quanto tempo?

— Alguns dias. Três ou quatro, imagino, até encontrar Hector. – disse enquanto acariciava o rosto dela com a mão sorrindo. – Não pense que ficará sem minha companhia nas outras noites.

— É bom mesmo ou terei que obrigá-lo com minha magia. – ela disse rindo.

Se despediram com um beijo de boa noite e Galeth foi para o quarto de seu irmão. O local estava intocado, como sempre. Não mudara em nada desde a partida do bardo para viajar como aventureiro. Sentou-se na cama, com o semblante abatido pelas lembranças como sempre ficava quando vinha. Desembainhou Olgal e, apoiado sobre ela, desatou a chorar enquanto lembrava.

“Fora a quinze anos atrás. Na mesma casa, onde Galeth estava agora, vivia uma família de mercadores com dois filhos: estes eram Galeth, com dezessete anos, e Valros, com dezesseis. Ambos os irmãos eram muito unidos e tinham o mesmo sonho, tornarem-se aventureiros e viajarem o mundo.

Galeth tinha dom com as palavras e a música. Sempre gostava de se sentar ao redor de uma mesa agitada por um bardo em uma taverna para ouvir as canções e as histórias. Tanto que começou a aprender a tocar alaúde com os bardos que passavam pelas tavernas que visitava e com aqueles que trabalhavam por tempo integral. Em três meses, descobriu sua aptidão como bardo e passou a estudar com afinco as artes bardas de conjurar magias arcanas com a música.

Valros era diferente. Seu gosto estava na luta e na esgrima. Juntou-se a escola da guarda da cidade de Porto-Capital para aprender mais e descobriu-se vocacionado para a vida de guerreiro. Nos três meses que treinou, aprendeu a lutar com uma espada longa e era considerado um dos melhores espadachins entre os alunos.

Um dia, não muito tempo depois de Valros ter completado seus dezesseis anos de idade, os dois irmão finalmente decidiram partir em busca de trabalho como aventureiros e realizar seus sonhos. O de Valros, de se tornar um valente espadachim, e o de Galeth, de conhecer o maior número de histórias e músicas que pudesse.

Na manhã em que partiram, a mãe dos dois presenteou a cada um em meio a lágrimas. A Galeth foi dado um alaúde, para que pudesse tocar e exercer seu ofício. E a Valros foi dado uma espada longa, para que lutasse junto com seu irmão. Valros nomeou sua espada Olgal, juntando duas palavras élficas: Oltis Gallies, “velha companheira”. O pai deles também os presenteou em meio a soluços contidos. Cada um recebeu um pingente de uma letra A estilizada. Os colares eram encantados para que um sempre soubesse onde o outro estava e se estava ferido. Dessa forma eles poderiam se manter em segurança.

Galeth vestia roupas leves em tons azuis e brancos, com uma capa de viagem azul como seus olhos. Valros vestia uma cota de malha por cima de uma roupa de cavalaria em tom esverdeado.

E foi o que fizeram. Obtiveram sucesso nos primeiros trabalhos que fizeram, com tranquilidade. A habilidade de Valros com a espada era surpreendente e nem mesmo um bando de orcs foi capaz de vencê-lo. Isso só era possível, claro, com a ajuda que Galeth fornecia ao seu irmão com suas magias de bardo, ora magias defensivas para protegê-lo, ora magias ofensivas para auxiliá-lo.

Os meses foram passando e os dois irmãos começaram a ganhar certa notoriedade entre as pessoas e entre outros aventureiros. Acorde Guerreiro foi como passaram a ser chamados. Uma dupla que conseguia enfrentar desafios que grupos de quatro aventureiros teriam certa dificuldade em superar. E foi um desafio desses que chamou a atenção deles na época.

Havia um problema em um vilarejo próximo a Elbritch: um grupo de vampiros que vinha assolando os moradores, raptando as filhas e esposas dos moradores para sugarem seu sangue. Segundo os boatos, o líder desses vampiros era um poderoso vampiro ancião. E isso significava que o Acorde Guerreiro precisaria de se juntar a outros aventureiros se quisesse ter sucesso.

O complicado nisso era que muitos aventureiros não queriam se juntar aos dois irmãos, pois não acreditavam que eles dividiriam o reconhecimento pelo feito. E assim, frustrados, ambos acabaram na taverna Pilares do Conhecimento. Situada no vilarejo na base do Círculo dos Magi, a taverna contava com vários alunos e ex-alunos do Círculo.

E foi lá que o destino sorriu para os irmãos. Enquanto Valros bebia sua cerveja, Galeth tocava para os presentes. As pessoas estavam animadas, já que não era sempre que bardos vinham para as paragens do Círculo. Ele saltava entre as mesas, sem perder as notas, enquanto cantava e animava as pessoas a cantarem o refrão com ele. Foi nesse momento que Galeth viu uma maga o observando e os olhos azuis do bardo de cabelos castanhos se encontraram com os olhos castanhos da maga de cabelos loiros. Ela batia palmas junto com os outros e ria se divertindo. Quase tropeçando nos acordes, ele conseguiu terminar a música e fez uma mesura para a plateia que o ovacionava animada.

— Obrigado, obrigado. Vocês tem sido uma ótima plateia esta noite. Mas um homem tem de comer e estou faminto. – Alguns risos – Então paremos por hora e quem sabe não me anime para tocar mais depois.

Enquanto comia, junto de Valros, Galeth notou a aproximação de duas pessoas. Levantou os olhos enquanto eles se sentavam e deu de cara com a loira que havia visto mais cedo. Esforçou-se para manter a expressão neutra de sempre, esforço esse que não passou despercebido por Valros. “Droga. Ele não vai perder a chance de falar disso depois” pensou Galeth, derrotado.

— Ouvimos falar que vocês estão procurando aventureiros para se juntarem a vocês. – disse a outra pessoa que viera com a loira, um elfo de cabelos loiro prateados longos e olhos verdes, com a voz melodiosa característica dos elfos. – Também ouvimos falar que ninguém se juntou a vocês por medo de acabarem na sua sombra.

— Não que acreditemos que isso seja verdade. – emendou a loira, com uma voz suave que estarreceu o bardo.

— E não é. Esse idiotas ficam inventando todo tipo de rumor para piorar nossa reputação já que eles não conseguem montar uma reputação para eles mesmos. – disse Valros, que sempre se irritava quando falavam desses rumores.

— Calma, Valros. Creio que ouviram também que o meu irmão aqui é bem cabeça-quente, estou certo? – disse Galeth com um meio-sorriso. – Mas acho que isso não vem ao caso. O que importa é que vocês ouviram falar de nós e têm interesse em conversar conosco. E com quem tenho o prazer de conversar, a propósito?

— Eu sou Eitharel Folha-do-Outono, mago do Círculo e instrutor na disciplina de magia Elemental. – Magia Elemental era a escola da magia que mexia com os elementos básicos da natureza e como utilizá-los para combate, basicamente. – Esta aqui é Nara Lindfell, aprendiz do Círculo.

— Maga do Círculo, Eitharel. – Corrigiu a loira, com ênfase na palavra.

— Sim, sim. Perdão, é a força do hábito. De qualquer forma, é verdade que pretendem erradicar o vampiro ancião no vilarejo ao norte de Elbritch?

— Sim. Ele vem aterrorizando as pessoas há tempo demais. E se vocês não quiserem nos ajudar, eu e o Galeth vamos lá sozinhos e acabar com eles. Porque é isso que heróis têm de fazer!

— E qual o lucro para nós, se participarmos?

— Metade da recompensa por matar os vampiros e dos tesouros que encontrarmos lá dentro. Vocês podem dividir a metade de vocês como bem entenderem e eu e Valros ficamos com a nossa parte. Um lucro justo, não concorda?

— Parecem bons termos para mim, Eitharel. Eu concordo.

— Eu ainda não decidi, Nara. Espere eu tomar a decisão antes de concordar assim.

— Não acho que você deveria dizer o que ela pode ou não fazer, senhor Folha-do-Outono. – O bardo interrompeu, incomodado com a forma que o elfo tratara a garota.

— Ela é minha aprendiz, garoto. A forma que eu trato ela é para o bem dela. Enfim, decidi que vamos participar do seu grupo. Porém quero os itens arcanos que porventura encontremos nesse tesouro dos vampiros.

— Como quiser. – respondeu Valros. – Estejam preparados para partir ao amanhecer.

Antes de dormirem, Valros se virou para seu irmão deitado na cama do outro lado do quarto, um sorriso zombeteiro no rosto:

— “Não acho que você deveria dizer o que ela pode ou não fazer”? Não tinha uma cantada melhor não, meu irmão?

— Cale a boca, Valros.

Ao amanhecer, os quatro se reuniram na saída do vilarejo e partiram em direção a Elbritch. Galeth e Valros caminhavam despreocupadamente, ora cantando alguma canção que o bardo dedilhava no alaúde, ora conversando sobre a vista. Elthariel caminhava a certa distância, olhando com desprezo para o pouco caso que os irmãos faziam de viajar a pé em uma estrada que poderia ter salteadores e ladrões. Nara caminhava ao seu lado, olhando com curiosidade o quanto os dois pareciam se divertir simplesmente por estarem viajando.

Quando anoiteceu, estavam a ainda umas cinco horas de caminhada até Elbritch. Dessa forma, decidiram acampar durante a noite e terminar a viagem durante a manhã seguinte. Montaram uma fogueira rapidamente, com ajuda dos magos e fizeram um cozido com alguns coelhos que Valros apanhara. Nara se pegou acordada durante a madrugada, ansiosa demais com o que aconteceria no dia seguinte para dormir.

Levantou e foi se sentar junto ao fogo para se esquentar. Notou uma figura sentada no galho de uma árvore na beira da clareira onde estavam acampados. Era Galeth, e ele estava tocando calmamente seu alaúde. Valros e Elthariel continuavam a dormir sem problemas mesmo com a suave melodia ecoando pela clareira. A maga se aproximou da árvore onde ele estava:

— Não consegue dormir também? – Ele parou de tocar ao ouvir a voz dela e olhou para baixo.

— Há quanto tempo você estava ouvindo?

— Apenas alguns minutos, acabei de acordar... Não sei como vocês conseguem dormir sabendo que no dia seguinte vão arriscar suas vidas. É como s-

— Eu não consigo. – A interrupção foi tão surpreendente que só depois de um momento Nara percebeu que Galeth estava chorando.

— O que foi? Você está bem?

— Estou... É só que, vocês pensam que nós, aventureiros, nos jogamos de frente ao perigo sem medo de nada... E não existe mentira maior do que essa.

— Quer dizer que... você está com medo?

— Claro que sim. Como eu não estaria? Amanhã eu posso acabar morto nas mãos de algum vampiro sedento por sangue ou meu irmão se machucar por minha causa. Ou o mago elfo rabugento ali que acha que eu e Valros somos dois idiotas que não nos preocupamos com nossa segurança. – A loira se surpreendeu, pois achara o mesmo quando Elthariel comentara com ela a respeito da maneira que os irmãos agiam quando caminhavam. – Ou você, uma garota que deveria ser convidada para uma dança e não para uma caça a vampiros. É por isso que estou tocando. Eu sempre toco durante a noite quando eu e meu irmão vamos lutar no dia seguinte alguma batalha importante. Toco canções de descanso, de força, de proteção e de revigoramento. Canções para que meu irmão possa dormir bem e estar protegido na luta que virá.

Silêncio enquanto a maga absorve as palavras ditas subitamente. Enquanto ele desce da árvore, ela pergunta:

— E por quê não fui convidada para uma dança então? – Ela notou, com satisfação, que o jovem bardo ficou desconcertado com a pergunta.

— Bom, eu achei que você e Elthariel..

— O quê? Que a gente tinha algo?

— Bem, sim.

— Ele bem que queria ter algo, mas não tenho interesse. Então? Vai me convidar para uma dança? – disse com um sorriso.

— Sem dúvidas.

Chegaram ao vilarejo sem problemas no dia seguinte. Durante a caminhada, Valros notou que algo acontecera entre seu irmão e a maga loira devido aos vários momentos em que ambos trocavam olhares. Mas não foi o único. Elthariel também notara e estava visivelmente incomodado, conversando baixo com Nara sobre algo.

Ao falar com os aldeões, o grupo descobriu a localização da caverna onde os vampiros ficavam. Embora soubessem onde fosse, os aldeões haviam desistido de tentar expulsar os monstros depois que a terceira tentativa resultou em um massacre.

Finalmente estavam na entrada da caverna. O cheiro de carne apodrecida inflava as narinas deles. Entraram cautelosamente, em posição de combate. Valros ia na frente, enfrentando os vampiros que apareciam. Logo atrás dele vinha Galeth, usando sua música para protegê-lo enquanto Elthariel e Nara atacavam com magias ofensivas. Alcançaram uma grande câmara rapidamente e deram de cara com um vampiro de pele extremamente pálida.

Ele não tinha mais cabelos, mas a aparência era jovial. Seu belo rosto só era desfigurado pela palidez anormal e pelos terríveis olhos rubros que brilhavam na escuridão da caverna. E ele disse, com uma voz sedutora:

— Quem vocês pensam que são, invadindo meus domínios e matando meus filhos assim?

— Viemos impedir que você continue atacando o vilarejo aqui perto! – disse Valros, corajosamente.

— Entendo... Entendo... Mas e se fizermos um acordo?

— Do que está falando? – perguntou Galeth, com suspeitas.

— Eu tenho coisas que podem interessar a todos vocês aqui. Ouro, jóias, artefatos arcanos...

— E que artefatos seriam esses? – perguntou Elthariel, os olhos brilhando de interesse.

— Uma orbe de magia maior. – Disse o ancião, com uma risada. – Creio que já tenha ouvido falar nessas obras primas, pela sua expressão.

Orbes de magia maior eram artefatos que ampliavam o poder de qualquer feitiço conjurado pela pessoa que a estivesse segurando. Uma orbe dessas era algo que o mago elfo buscava há tempos, para finalmente ter poder suficiente para subir na hierarquia do Círculo e conquistar Nara com seu poder e influência.

— E o que você quer em troca dessa orbe, vampiro? – perguntou Elthariel.

— Que vocês partam e não voltem mais.

— Nunca que vamos nos vender por algo tão baixo! – gritou Valros, e avançou contra o ancião.

Apenas para ver sua espada ser segurada pela mão do vampiro sem problemas. Com um riso de escárnio, ele chutou o peito do guerreiro arremessando-o longe.

— VALROS! – gritou Galeth enquanto corria na direção do seu irmão.

— Vocês optaram pela morte, apreciem-na. – disse o ancião, virando-se para ir embora.

— Eu fico com isso, obrigado.

O mago elfo tinha aparecido de repente na frente do vampiro ancião, tomado a orbe das mãos dele e sumiu mais uma vez, transportando Nara consigo e deixando os irmãos Alvagris para trás.

— Ele nos traiu! O desgraçado nos deixou para trás e levou a Nara com ele! – gritou Galeth, possesso de raiva.

Começaram a correr, desviando dos vampiros que surgiam de outras reentradas da caverna. Valros golpeava de um lado para o outro, matando vários vampiros no caminho. Galeth dedilhava canções loucamente em seu alaúde, protegendo a si mesmo e a seu irmão e atacando os vampiros com magias variando entre relâmpagos e bolas de fogo.

Quando enfim chegaram à saída da caverna, um vampiro conseguiu agarrar a capa de Galeth. O tranco o derrubou de costas no chão, indefeso ao ataque seguinte do monstro:

— Você não terá ele! – gritou Valros, lançando-se contra o vampiro que havia agarrado o bardo.

Trespassou o monstro e jogou-o contra um grupo que estava vindo. Ajudou Galeth a se levantar o mais rápido que podia, apenas para ver que os vampiros haviam parado de avançar. Antes que os irmãos pudessem sentir alívio a razão apareceu andando entre os vampiros: o ancião decidira matar a ambos pessoalmente:

— Farei questão de fazer com que sofram pela orbe que me foi roubada, seus malditos!

A situação era desesperadora. Não sabiam como fariam para alcançar a saída da caverna, já que o vampiro ancião era tremendamente rápido. O Acorde Guerreiro se posicionou para combate e o ancião riu, lançando-se contra Valros.

O irmão de Galeth lutava bem, isso não se tinha dúvida. Mas contra um oponente tão terrível ele não tinha chances com o pouco preparo que tivera. Facilmente foi lançado ao lado, caindo com um rolamento para voltar para cima do ancião. Foi quando viu que este estava prestes a empalar Galeth com suas próprias mãos:

— EU DISSE QUE VOCÊ NÃO TERÁ ELE!

E com esse grito desesperado, lançou-se entre seu irmão mais velho e o vampiro ancião. Ao mesmo tempo em que era empalado pelas mãos do monstro absurdamente forte, cravou Olgal em seu peito. Ouviu o grito de dor e descrença do vampiro ancião e seus lacaios, mas não eram nada comparados ao grito de dor que Galeth dera ao ver seu irmão ser trespassado pelo golpe. Os outros vampiros recuaram assim que viram seu mestre morrer, assustados.

O bardo se ajoelhou ao lado do guerreiro, chorando desesperadamente:

— Não, não, não, não, não... Isso não pode estar acontecendo... Eu prometi pra mamãe e pro papai, Valros... Não morre... – Galeth soluçava, abraçado ao irmão.

— Galeth... Eu... não poderei cumprir nossa...promessa... nunca serei um guerreiro famoso... – dizia Valros, em seus espasmos finais. – Vá... Leve Olgal com você... Nunca se esqueça do que prometemos...

E assim, Valros Alvagris morreu nos braços de seu irmão mais velho. Os vampiros começaram a retornar, mais confiantes quando viram que apenas restara o bardo. A confiança deles morreu ao ver o rosto dele.

— Eu te prometo, irmão. Vou carregar o meu sonho e o seu. Vou encontrar as maiores histórias que eu puder e também vou me tornar o melhor espadachim que eu conseguir. E eu farei isso com Olgal. Começando aqui.

Esse mantra foi repetido vezes e mais vezes, enquanto o bardo enlutado matava e retalhava todos os vampiros da caverna. Primeiro ele caçou todos com toda a fúria que podia criar com seus dedilhados. Depois foi terminando de matar as criaturas moribundas uma por uma, utilizando Olgal. Cada vez que matava um dos vampiros com a espada, ele repetia o mantra.

No final, ao sair da caverna, Galeth Alvagris enterrou o corpo de seu irmão na saída e jurou vingança contra Elthariel Folha-do-Outono, aquele que fora responsável pela morte de seu irmão.”

Galeth acordou, sentindo conforto. Percebeu que estava deitado no chão abraçado a Olgal e que alguém o cobrira. Sentiu mãos tocarem seus cabelos com carinho e deixou-se embalar em um sono sem sonhos, com Nara observando-o enquanto enxugava suas próprias lágrimas ao lembrar-se de uma conversa sob uma árvore numa noite em que estava sem sono.


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