Acho que vai nevar. escrita por Lolla


Capítulo 11
Chuva.


Notas iniciais do capítulo

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Minha reação foi correr. Correr para Mel, o mais rápido que eu pudesse, eu corri quase sem respirar até ela, entrei como um furacão no café, e eu não me importava,com mais nada, eu queria colo, eu queria sentir o calor e conforto de alguém, de alguém sincero e que se importasse comigo de verdade. Que me entenderia me acolheria, e ninguém faria isso por mim além dela.

Encontrei a Mel,fazendo contagem do estoque, eu só a chamei, e assim que ela virou, eu a abracei e desabei, foi com choro admito, mas pouco, eu estava muito mais do que constrangida, eu estava com medo, com medo do que as pessoas fazem com as outras só por diversão, por vaidade, destruir vidas, só para ter do que rir em seus momentos de tédio.

Ela sentou comigo no chão, e passou a mãos nos meus cabelos, como mães fazem, e disse :

– Você saiu de novo de casa sem seu casaco.

– Mel, eu estou no meio de um problema, e você só lembra desse maldito casaco ?

Eu me levantei com raiva,e saí do café limpando as lágrimas e com o rosto vermelho. Saí cega de lá, de como tudo se tornou tão egoísta e eu não percebi ? Passei tempo demais fingindo ser feliz de festa em festa enquanto o mundo ficava cada vez mais frio e cinza? Pra onde foram todos aqueles sorrisos que eu via nas noites, aquelas gargalhadas, luzes coloridas e abraços? Eu deixei esse mundo, pra viver onde, pessoas destroem pessoas por tédio, onde a família vive mais distante do que continentes,mesmo estando na mesma sala.

Abri mão de um mundo mais humano, do que esse que me forcei a ficar. Eu deveria ir pra casa,poderia esperar mais algumas horas e me encontrar com Vitor. Eu poderia procurar muitas coisas par fazer, mas todas elas pareciam falsas e frias, o mundo de repente perdeu o brilho e a cor pra mim. E desta vez, eu não desisti dele, ele desistiu de mim.

Fiquei andando por ai, com a minha mochila a tira colo,andei por quadras, quarteirões, bairros ... E quando dei por mim, estava mais longe de onde jamais estive, e a única coisa familiar que tinha ali, era um bar,mas não era um bar comum, desses que só tem bebida, era o que chamam de bar para " Cavalheiros". Eu entrei mesmo assim, ninguém me impediu, sentei em um banco no balcão do bar. Uma moça vestida com pouca roupa, trouxe-me o "menu" do lugar, onde cada bebida tinha ao lado a recomendação de uma das moças que trabalhavam lá. Fechei o livro mesmo sem ter nada escrito nele.

– Quero uma dose de tudo.

Eu podia pagar pelo bar inteiro, com as moças dentro dele e tudo.Mas eu só queria as bebidas. E eu as tive, por longas horas o mundo voltou a ser colorido, e feliz, onde ninguém machuca os outros, não há dor, nem arrependimentos. Em certo momento, olhei para a porta que estava entre aberta e vi que estava tarde, paguei a conta que nem sei o quanto deu, paguei com o meu cartão, e não devia explicações a ninguém. Eu pensei " Tenho que encontrar Vitor", tudo que vi foram luzes que mal pude ver de onde vinham,até que me atingisse.

Minha visão estava turva e eu estava deitada olhando pro céu, ela tinha razão, assim como todas as vezes,estava nevando. Ouvi pessoas gritando,luzes se aproximando e outras se afastando, o segurança do bar, gritando alguma coisa pra mim e então, meus olhos se fecharam.

Durante as vezes em que estive acordada, ouvia vozes estranhas e algumas familiares, meus olhos não abriam, parecia ter panos em cima deles, mas meus ouvidos funcionavam bem, ouvi que eu sobrevivi por sorte, por poucos centímetros minha cabeça não atingi o meio fio, e então eu teria morrido. Ouvi também a Mel, falar comigo, sobre como ela estava feliz em saber que eu ainda respirava, e que ja havia deixado recado para a mãe, e em algumas vezes, Vitor foi me ver, ele não falava muito, e nas vezes que falava segurava a minha mão, e eu podia sentir o frio dos dedos dele, era como estar no mundo feliz de novo, ouvi também que ainda ficaria lá por mais uns dias, e que meu rosto estava ainda muito machucado e sensível.

Quando acordei, com pouco menos de dor,meu olhos já se abriam, e era noite, o silêncio do hospital era estrangulador, e a única coisa que passava pela minha mente era. "Minha mãe, não veio." Aos poucos fui me recuperando e recebi apenas duas pessoas, Mel e Vitor, e elas me faziam cada vez mais felizes, Vitor levou livros e livros, e lia pra mim sobre a matéria que eu teria que prestar prova,jamais pensaria que ele tinha tamanha paciência. E então, minha mãe chegou. Vitor percebeu que tinha que sair, me sorriu e disse que voltaria amanhã.

– Olha só quem apareceu. - Falei com toda a raiva que eu poderia expressar em uma frase.

– 4.563,97.

– O que é isso ?

– Esse foi o valor que você gastou em um lugar chamado " Bombonier sedutor"

– Eu estive internada por quatro dias, e você se quer veio me ver, e tudo que pensa é sobre dinheiro? Quando foi que você se tornou tão mesquinha?

– Mesquinha? Cada centavo que você gasta com as suas bebidas, festas e amigo que jamais se quer gostaram de você, sou eu quem pago, eu e aquela empresa da qual eu tenho que tocar sozinha. Desde que seu pai morreu eu pago por tudo que você gasta e usa. Não ouse me chamar de mesquinha criança.

– Boa parte do dinheiro que eu uso, veio do esforço do meu pai e do meu avô,não fale comigo como se tivesse construído a empresa do zero, como se fosse a única dona dela, e como se tivesse se esforçado para cuidar de mim e da Mel. Você só fez o que era mais cômodo, mandar dinheiro, do que vir, e ver como suas únicas filhas estão, abraçá-las, olhar para elas e dizer que ama, que sente saudade, sem manter essa pose de dona do mundo. Pra você sempre foi mais fácil manter-se longe, esperando pela primeira oportunidade de erro e dizer " e te avisei."

Depois dos gritos,tudo ficou em um silêncio divino, nos ficamos nos olhando sem ter mais nada a dizer, e pela primeira vez, vi minha mãe chorar.

–Quando seu pai se foi,eu também era sozinha,ela era meu porto seguro, e eu sempre o amei, mesmo depois de separada era nele que pensava todas as noites e manhãs, mas não podia permitir que ele fosse exemplo de vida para vocês. E de repente eu estava sem ninguém, e com duas pequenas princesinhas confusas e assustadas, eu tive que ser forte, ser pai e mãe, eu consegui, mesmo com medo, com dor, com dúvidas, eu não desisti e não culpei ninguém jamais por isso. E em todas as noites, em que você esteve aqui, eu pedi ajuda ao seu pai,para que não permitisse que ficasse sem você também, te ver dormir e respirar nunca foi tão gratificante. E em momento algum, te culpei, ou culpei seu pai. Então, quando que você vai parar de culpar os outros por erros que só você cometeu ?


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