Cobra não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo no momento, assim como Karina que demorou apenas uns dez segundos para reconhecer o amigo. Aos olhos dela, ele não tinha mudado nada, só havia adquirido uns músculos a mais no corpo já mais maduro. Ela só não se lembrava dele ser tão bonito assim. Mas como poderia se lembrar? Eles eram apenas crianças e Cobra era só mais um garoto como outro qualquer com a diferença que ele era legal.

Aos olhos de Cobra, Karina tinha mudado pouco, o cabelo que antes era longo, agora estava bem curto. Ela estava mais alta, óbvio mas, ainda continuava mais baixa que ele. O azul dos olhos dela, ele podia ver brilhar desde o outro lado do cômodo. A sua expressão de surpresa demonstrava que ela não esperava vê-lo tão cedo ou talvez nunca mais. Ele queria chegar mais perto, ele queria abraça-la. Sentia a necessidade disso como se tivesse vivido os últimos dez anos desejando apenas este momento.

– Cobra? – Karina indagou de volta só para ter certeza e para fazer com que seu cérebro conseguisse confirmar o que seus olhos estavam vendo. Ela viu ele assentir em um aceno leve de cabeça e ela caminhou devagar até ele. – Ai meu Deus, é você mesmo! Eu... – ela perdeu a fala quando lágrimas invadiram seus olhos.

– É... Eu também não sei o que dizer. Vem cá pequena. – ele envolveu ela em um abraço que estava guardado por dez longos anos com a saudade de protagonista.

Karina enfiou a cabeça no pescoço dele, ele cheirava a sabonete misturado com algum perfume masculino, um cheiro muito bom, ela admitiu para si mesma. Lembrou-se de repente que ao contrário dele, ela estava toda suada do treino e se afastou rapidamente.

– O que foi? – Cobra franziu o cenho para o afastamento abrupto dela.

– É que... Você ta aí todo cheiroso... Digo, você acabou de tomar banho e tudo mais e eu to fedendo, toda suada e suja. Não quero...

– Deixa de besteira Karina. – interrompeu ele – Eu não me importo, eu só tava morrendo de saudade. – puxou-a para outro abraço.

– Eu também, Cobra. Eu também. – sussurrou com a boca encostada no peito dele.

– Vem... Vem conhecer meu novo cantinho. – deram dois passos adentro do novo local onde Cobra passaria as noites – Bem, é aqui que eu moro agora. – ele sorriu para ela e ela engoliu em seco. Que sorriso era aquele? Karina se perguntou.

– Você ta morando sozinho... Cadê seus pais? – perguntou e viu o sorriso lindo do rosto de Cobra desaparecer.

– Por favor, não vamos falar sobre isso... Não agora. – ele suplicou com o olhar e ela assentiu – Me diz, o que você fez sem mim nesses últimos dez anos?

– Não muito, só estudado. E treinando. Você sabe o quanto eu gostava de te socar, tive que transferir pro saco de pancadas. – riu rapidamente – Meu pai parou de lutar em competições e abriu essa academia aí na frente.

– Ta treinando muay thai também? Seguindo os passos do senhor Gael?

– Sim e pelo visto você também, né? – disse apontando para o saco de pancadas.

– Ainda vou procurar um lugar para treinar, talvez eu tente lá na academia do seu pai. E aí poderemos recuperar a amizade, que tal?

– Eu acho ótimo! Assim que chegar em casa eu vou falar com o meu pai.

– Você acha que ele vai me receber bem? Eu tenho um pouco de medo sabe Ka. Tudo que aconteceu no passado ainda não tem nenhuma explicação para mim. – desabafou Cobra.

– Nem pra mim. Mas tenho certeza que foi problema entre nossos pais, você não tem nada a ver com isso.

Eles passaram alguns instantes em silêncio apenas se olhando. Relembrando, cada um em sua cabeça, alguns momentos da infância. Eles não podiam acreditar que estavam ali, juntos. Novamente.

Karina pensava no quanto ele tinha ficado bonito com o passar dos anos, não podia negar isso para si. Sentiu as bochechas esquentarem e viu Cobra soltar um risinho discreto. Parecia que a tensão finalmente tinha aparecido ali. Ela teve que desviar o olhar do dele.

– Você não tá achando isso tão estranho? Digo faz dez anos que não nos vemos... – ela disse – Nós dois aqui.

– Não tem nada de estranho Ka... – ele se aproximou dela e acariciou a bochecha avermelhada da garota – Nós só vamos nos conhecer novamente, afinal, aconteceram coisas em nossas vidas, nós mudamos em alguns aspectos. Crescemos. Quanto a estarmos aqui... Nós dois. Acho que estamos exatamente onde deveríamos estar.