Mais que a Minha Própria Vida escrita por Melissa J


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. :)



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O fato de ter estado tão próxima dele naquela noite mais parecia um sonho para mim e meu incurável pessimismo. E eu bem sabia que sonhos geralmente se transformavam em pó a partir do momento em que eu abria os olhos. Ah, e eu não queria abrí-los.

O domingo passou, como sempre, monótono. Segunda feira chegou trazendo junto a certeza de que a normalidade voltaria e todo o encanto passaria. Teríamos apenas mais um dia de aula para pegarmos os nossos resultados, isto é, se não ficássemos de recuperação. Por sorte, estudar compulsivamente era um de meus passatempos favoritos. Dessa forma, pensei, diversas vezes, em cabular aula apenas para não ter a tristeza de não encontrar Connor passeando pelos corredores ou observando o mural. Seria a coisa mais difícil do mundo. Ou, pior, eu poderia encontrá-lo e ser totalmente ignorada por ele. Pensar por esse lado me fez pensar se eu não deveria me arrepender de ter me aproximado tanto dele naquele baile. Agora era tarde demais. Não tinha como desfazer. Havia apenas como esquecer. Era um questão de tempo.

Por não ter conseguido dormir nada á noite - culpa daquela tal expectativa - eu chegara muito mais cedo do que o normal à aula, e fui a primeira pessoa da sala a chegar. Entrei naquela sala vazia e me acomodei em um canto enquanto esperava que minhas amigas chegassem. Abri, então, meu caderno e me coloquei a fazer escritas e desenhos aleatórios, apenas com o intuito de passar o tempo. Porém, quando percebi, em meio a todos aqueles esboços, lá estava o nome dele. Brilhando, em alto relevo, chamando a atenção pro quão estúpida eu estava sendo.


_ Puta merda! Quantos anos eu tenho? Dez? - irritei-me. Amassei a folha e acertei na lata de lixo - Não sei o que esse cara tem para me deixar assim.
_ Bom dia! - sorriu Rachel logo que entrou na sala e me viu. Sua irmã estava junto, com a cara emburrada de sempre.
_ Bom dia Rachel. Bom dia Leah.
_ Eu não ganho bom dia? - perguntou um voz familiar do lado de fora da sala.
_ Oi Grace - sorri.
_ Oi docinho. - ela disse, entrando logo após.
_ E então? Felizes por ser o último dia de aula?
_ Eu deveria? - perguntou Leah irônicamente. - Fiquei de recuperação em quase tudo.
_ Ei. Que tal nós falarmos de coisas mais...hm...interessantes? - insinuou Grace olhando-me.
_ Estava demorando! - reclamei.
_ Não reclama! Eu te dei uma ajuda digníssima de respeito.
_ Você quase me matou de vergonha. Isso sim.
_ Mas funcionou, não funcionou?
_ Funcionou pra quê? Eu não pedi pra você fazer isso.
_ Mas você bem que queria. Você não me engana, Jenni.
_Desculpa termos ido embora e deixado você lá, amiga. Mas é que a Grace deu a ideia dizendo que, assim, o Connor levaria você para a casa. E vocês estavam tão compenetrados na dança...que eu não quis atrapalhar.
_Tudo bem, Rachel. - sorri. Bem sabia o quão difícil era dizer 'não' à Grace.
_E o que mais? Vocês se beijaram? - perguntou Leah, sentando-se entre Grace e sua irmã.
_ Não.
_ Vão se beijar?
_ Ah, Leah, claro que não.
_ Por que não?
_ Porque nem sei se vamos nos encontrar novamente. Talvez ele tenha até se mudado de cidade por causa da universidade. Não tenho como saber mais sobre nada. E é melhor assim, sabe? Não ia dar em nada.
_ Por que não perguntou? - brigou Grace.
_ Foi a primeira vez que nos falamos. Eu tinha que ter feito um interrogatório?
_ Ah, claro que não. Perguntasse casualmente. Parece até que nunca conversou com um menino antes. Que é que tem demais você se interessar pelos planos dele quanto à faculdade?
_ Sua chata! Claro que já falei com outros garotos antes. É só que... Não senti que era o momento certo para perguntar.
_ Você é muito complicada. Se fosse comigo eu saberia tudinho sobre a vida dele. E ele nem se sentiria incomodado em responder. Ah, e claro, eu já o teria fisgado.
_ Ele não é um peixe pra você 'fisgar'.
_ Espertinha. Você entendeu. Meu Deus, você é devagar demais.
_ É porque ela não vê os garotos como um objetivo de vida, Leah. Ao contrário de você. - Rachel tentou me defender.
_ Que é que você tá dizendo, ratinha? - Leah lançou-lhe um olhar de ira. Ela sempre a chamava de 'ratinha' quando queria provocá-la. Dizia respeito ao fato de que ela era muito magra e que seu corpo ainda não começara a se desenvolver. Apesar de serem gêmeas, nesse quesito Leah parecia mais velha.
_ Meninas, meninas. Sem brigas, ok? - Grace as abraçou e suspirei aliviada ao ver que se calaram . - A Jennifer ainda tem de nos contar exatamente o que rolou entre ela e o bonitinho no sábado.
_ Bem, nós dançamos, conversamos um pouco. Ele dança muito bem. Depois ele me deixou em casa, me beijou no rosto e disse 'a gente se vê'. Mas claro, só uma forma de falar. Acho difícil nos vermos novamente.
_ Que falta de confiança em si mesma. Se eu fosse um cara eu certamente me apaixonaria por esses lindos olhos azuis. - ela brincou - Você nem sabe se realmente não vão se ver de novo.
_ Ah, é meio difícil. Eu sou só uma menininha do primeiro ano.
_ Ele não é muito mais velho que você. E você é uma 'menininha' encantadora. Mas não se preocupe. Eu posso te ensinar como conquistar caras mais velhos.
_ Como se isso fosse uma coisa boa, né Rachel? - Leah a repreendeu. - Ou você já se esqueceu do Luca?
_ Cala a boca, Leah. Você sabe ser inconveniente, hein? - Rachel a repreendeu. Grace fez uma expressão de mágoa mas não retrucou, apenas virou de costas e foi se sentar na carteira mais próxima. Leah fez o mesmo e Rachel sentou-se ao meu lado.
_E então? Ele é tudo aquilo que você imaginou? - perguntou baixinho.
_ Não - eu sorri - É melhor. É uma pena que tenha durado tão pouco tempo.
_ Você nem sabe.
_ É. Mas eu costumo acertar. Rachel, quem é esse Luca? Eu não entendi o que aconteceu aqui agora.
_ Foi um menino que quebrou o coração dela. Um menino não. Um cara quinze anos mais velho. É meio que um assunto proibido entre nós, sabe? Rachel nunca superou totalmente. Já faz mais de um ano.
_ Mas ela é tão nova ainda.
_ Você já olhou pra ela? Por que acha que ela parece mais madura do que realmente é?
_ Como assim?
_ Deixa pra lá, Jenni.

A aula passou o mais lentamente possível. Após a entrega dos relatórios de nota, sessões de fotos com a turma e calorosas despedidas, caminhei com as meninas até o estacionamento com o intuito de pegar carona com Leah. Nós quatro andávamos por aquele chão de pedra em direção ao carro, quando, subitamente, Rachel segurou meu braço com força.
_O que foi? Você tá bem? - perguntei assustada. Porém, ela apenas fez sinal com a cabeça para que eu olhasse para o lado.
_Connor? - eu disse em voz baixa para que nem ele e nem ninguém ouvisse. Era mesmo ele naquele mesmo carro onde eu havia me sentado naquele quase fantasioso sábado do baile?Ele estava mesmo ali, naquele banco de motorista, carregando três dos seus amigos e olhando para mim? E ele estava sorrindo? Impossível.
_ Jenni! - susurrou Rachel tocando-me o braço.
_ Hm?
_ Acorda.
_ Hmm?
_Você tá sonhando acordada.
_ Então é uma alucinação que ele esteja aqui?
_ Não. Mas você o está encarando assustadoramente.
_Ah! - exclamei, voltando os meus olhos para o chão. - Ele está aqui. Ele está aqui de verdade.
_Sim, ele está. - ela riu
_ Por que?
_ Eu não sei, Jenni.
_ E o que eu faço? - perguntei, encolhendo os ombros.
_Continua olhando para mim. Ele saiu do carro e está vindo até você. E fica calma. - ele pediu em vão. Tencionei meu pescoço ao máximo possível para que ele não se virasse, e tentei acalmar o meu coração antes que ele chegasse e percebesse o meu estado. É claro que ele não perceberia. Era para mim, só para mim que aquelas batidas soavam tão alto.
_Oi. - disse uma voz que vinha pelas minhas costas ao mesmo tempo que uma mão quente e firme tocava-me os ombros. Eu me virei devagar tentando manter a expressão mais casual que fui capaz.

_ Connnor...Oi.
_ E aí? O que faz aqui?
_Último dia de aula, entrega de resultados, despedida dos colegas. Essas coisas. - sorri,colocando as mãos na cintura antes que eu começasse a tremer. Eu tinha que me acostumar logo com a sua presença para parar de agir como idiota em sua frente. Quanto tempo demoraria para que eu me acostumasse? - E você?
_ Meus amigos e eu viemos pegar nosso certificado de conclusão do Colegial. Precisamos dele para o ingresso da faculdade, e tal.
_ Legal. Vocês já pegaram?
_ Sim. Eu estava esperando para ver se encontrava você por aí.
_ Me encontrar? - tentei não parecer surpresa.
_ Sim. Nós vamos pra Broadstairs (cidadezinha que fica há mais ou menos duas horas de Londres, e se situa em torno de várias praias, a mais famosa é Viking Bay) passar o dia na praia. Estava procurando você para convidá-la. E, bem, se as suas amigas também quiserem vir serão muito bem vindas.
_ Eu não posso. Viajarei hoje com minha família e ainda nem fiz as malas. - disse Grace, e todas a olhamos com estranheza. Ela estava fazendo as malas há semanas. Não parava de falar nisso. De forma que comecei a me perguntar se esse comportamento estranho tinha algo a ver com o comentário infame que Leah fizera mais cedo.
_ Ah Grace, vamos. - sorri para ela.
_ Sério, ainda falta arrumar mais um monte de coisas. Vão vocês. Eu ligo pra vocês mais tarde.
_Que milagre! Logo você que é tão adiantada. - riu Leah - Eu topo ir...Se a minha irmã for também.
_Então... - eu disse, lançando á Rachel meu melhor olhar de súplica. Era bem verdade que eu não tinha lá muito ânimo para me aventurar naquele dia, já que o cansaço me consumia pela noite mal dormida. Mas...e se fosse a minha última chance? Eu não poderia passar o resto da vida me lamamentando a pensar como poderia ter sido. Mas eu não queria ir sozinha, eu queria que Rachel estivesse ao meu lado. Isso fez com que eu me sentisse mal. Soava um pouco egoísta obrigá-la a ir sabendo que Brandon também estaria presente e que isso a faria sofrer. E não era uma característica minha fazer isso com as pessoas.
_ Eu vou. - ela disse, sorrindo timidamente.
_Não precisa ir se não for se sentir á vontade. É sério. - eu lhe disse em voz baixa. - Eu nem quero ir tanto assim.
_ Eu quero ir. É minha última chance também. - ela sussurrou tão baixo que quase não entendi o que dizia. Era como se ela tivesse ouvido os meus últimos pensamentos.
_ Legal. Já que todas vão, teremos que passar na casa de Brandon para pegar o seu carro.
_ E na minha casa para eu pegar minhas coisas. E...pedir permissão. - eu disse,mordendo os lábios e morrendo de vergonha.
_Nós também precisamos pegar nossas coisas. Nós não pretendíamos fazer algo assim depois da aula. Não trouxemos nada. - disse Leah.
_Sem problemas. Nós podemos passar na casa de todas. - ele sorriu.
_ Ei cara! Passa para o banco de trás para as meninas entrarem! - ele gritou para Brandon, que obedeceu sorrindo maliciosamente.

Rachel e eu nos sentamos na frente, de forma que eu fiquei no meio, espremida ao lado dela e de Connor. Leah se sentou no banco de trás, totalmente realizada por estar ao lado de Brandon. Os dois outros garotos, Ben e Ethan, afastaram-se gentilmente para que ela entrasse, e nos cumprimentaram, apresentando-se.

Ben passava os seus últimos dias em Londres aproveitando-os ao máximo com os amigos, já que logo iria para Leeds, onde cursaria Direito na universidade local. Apesar de não estar muito animado para tal se sentia orgulhoso de si mesmo, afinal, fora a universidade onde os seus pais se formaram e isso os deixava muito felizes. Era isso, somente isso que importava para ele. Ele gostava de agradar aos pais, gostava de Rugby (futebol americano) e gostava de sua namorada, com a qual ele estava há três anos. Ele pretendia terminar a faculdade, arranjar um emprego e casar-se com ela. Isso foi o pouco que conheci dele.

Já Ethan tinha um sonho diferente: ele queria ser famoso com a sua banda. Ele permanceceria em Londres e trancaria a faculdade até ter certeza do que realmente queria. Aos seu ver, certeza ele já tinha, o que faltava era a coragem para convencer os pais a aceitar tal escolha. Ele havia acabado de completar dezoito anos, e era vocalista de uma banda desde que tinha quinze. 'The Dream of Anyone' tinha quatro membros: Charlie como guitarrista, Peter como bateirista, Joe como baixista e ele (Ethan) como o vocalista. Eles eram conhecidos em seus meios comuns, clubes, bares, colégio e praia, mas ansiavam por mais, muito mais. Quanto mais ele crescia, crescia com ele o sonho de carregar o mundo nas costas. Os seus olhos brilhavam quando ele tinha um microfone nas mãos e seu coração se enchia de orgulho e admiração por todos aqueles outros membros que estiveram com ele por tanto tempo.

Eu tive medo de que a viagem fosse monótona e Connor e eu acabássemos por nos desencantar um do outro. Isto é, supondo que ele sentia o mesmo por mim. Uma pontinha encanto, uma pontinha de...curiosidade, talvez? Mas todo aquele medo fora em vão. A viagem de duas horas passou muito rapidamente, e nos divertimos muito brincando, cantando, e conversando sobre os nossos sonhos, ideologias, desejos.

Ethan tinha um jeito extremamente brincalhão, não havia como ficar sem sorrir se ele estivesse por perto. Todas as suas piadas e histórias tornavam o ar leve, o tempo rápido e a tensão quase não existia. Já eram quase três horas da tarde quando chegamos a Viking Bay, e o sol iluminava a praia recheada por casais, grupos de amigos e crianças que curtiam o dia numa alegria contagiante. E, naquele momento, não consegui pensar em nenhum outro lugar onde eu quisesse estar. Era tudo o que eu queria, tudo o que eu secretamente desejava. De certa forma, com um simples sorriso Connor conseguia aquecer toda aquela frieza com a qual eu lidava com as coisas.

Os garotos haviam trazido várias toalhas, bolas e redes - para jogar o tanto adorado vôlei de praia deles- e algumas caixas de isopor com cervejas e refrigerantes. A água, surpreendentemente, não estava tão gelada como era geralemente na maioria das praias inglesas. Era um morno agradável que trazia uma ótima sensação de relaxamento.

Leah não obtivera muito sucesso em suas incansáveis tentativas de conversar por muito tempo com o Brandon. Muito pelo contrário. Ele tinha um gênio frio e irônico que afastava a qualquer um que quisesse se aproximar. Talvez se houvesse sido por ele que eu tivesse me entantado, nós dois teríamos nos dado muito bem juntos. Ou talvez não. Não é como dizem? 'Os opostos se atraem!' Toda aquela enegia e vontade de viver que Connor demonstrava ter, todo aquele charme e calor que emanava de cada palavra e gesto seu faziam com que eu quisesse me aproximar como um imã. Já Leah, em razão da falta de sucesso nas suas investidas com Brandon, acabou por passar o seu tempo tomando sol e ouvindo música deitada na areia.

Ethan, Connor, Rachel e eu estávamos sentados na areia bem próximos ao mar, bebendo refrigerante e conversando muito, enquanto Leah tomava sol e Brandon e Ben haviam saído juntos para encontrar uns amigos.

_ Você quer entrar um pouco no mar? - perguntou Ethan á Rachel - A água tá uma delícia, é um absurdo ficarmos sentados aqui com toda essa beleza na nossa frente.
_Tá bom. - sorriu ela - Vamos apostar uma corrida. Quem chegar por último paga pro outro um sorvete que aquele homem ali está vendendo. - ela sorriu,apontando para um carrinho de picolés. A descontração com a qual Ethan encarava os momentos fazia com que ela se soltasse mais, despertando todo aquele encanto que eu adorava nela. Vê-la alegre me fazia alegre também.

Eles riram enquanto corriam em direção ás águas, deixando a mim e Connor sozinhos. E, então, toda aquela minha desinibição foi embora, e eu não sabia sequer se ainda estava num estado apto o suficiente para ter uma conversa decente com ele.
_ E você quer? Não se preocupe, não te obrigarei a pagar. - ele sorriu.
_ Hm? Do que você tá falando? - perguntei, olhando-o com uma expressão tão assustada que fez com que ele risse de uma forma muito gostosa.
_Sorvete. - ele disse, levantando uma das sobrancelhas
_ Ah...sorvete. Não, obrigada.
_Bem, nesse caso comprerei apenas o meu. Se quiser desistir ainda dá tempo.
_ Obrigada. - eu disse,sorrindo forçadamente.

Eu o observei enquanto caminhava até o carrinho de sorvete, e isso fez com que eu ficasse envergonhada de o estar observando daquela forma. Ele usava uma bermuda, apenas uma bermuda, e eu era uma garota que se encantava por cada coisa nova que descobria sobre ele. A forma como os seus escuros cabelos molhados sacudiam quando ele andava, as suas costas largas e bem desenhadas, os seus braços tão bonitos e masculinos que pareciam me chamar para estar em meio a eles, a sua pele, o seu cheiro, as suas grossas sombrancelhas, seu sorriso, seu jeito de olhar, sua boca...Tudo isso me deixava fora de controle. Me embrulhava o estômago e me despertava vontades de fazer e dizer uma porção de coisas que muito provavelmente eu jamais diria e muito menos faria. Era assustador? Era. Mais que era maravilhoso... Ah, se era.

Tudo estava em chamas dentro de mim. Que loucura enorme. Apenas por observá-lo. Eu me deitei na areia macia e fixei os olhos para aquele lindo céu azul, antes de fechá-los firmemente para que pensamentos calmos e sãos dominassem todas aquelas sensações que me eram estranhas. E aquilo realmente estava dando certo...Até Connor voltar.

_Voltei. - ele disse.- Acabou o sorvete do carrinho. Quer passar numa sorveteria aqui perto?-

Eu nada respondi, permancendo na mesma posição de antes e com os olhos ainda fechados. Ele, então, deitou-se ao meu lado e, pelo que pude ver, de canto de olho, começou a fitar o céu, em silêncio. O fato de ele estar em silêncio ao menos me permitia pensar. E aquilo me acalmava. Connor pegou uma das mechas de meu cabelo que caiam pela minha face, e começou a fazer movimentos como que para cacheá-las. Depois que já não havia mais mecha alguma para que ele moldasse, ele começou a acariciar o meu rosto. Minha pele queimava ao contato com seus dedos.

Após alguns minutos tomei coragem para abrir os olhos, e o seu rosto estava tão perto que eu pude ver cada detalhe. E, caramba! Era difícil me acostumar com a beleza dele. Eu esbocei um sorriso para ele, que foi retribuído por um enorme, muito mais bonito e confiante
.
_ Você não estava realmente dormindo...estava? - ele perguntou, divertindo-se.
_ Eu... - eu gaguejei. E, vencida, fiz que não com a cabeça.
_Imaginei que não. - ele riu, voltando a acariciar o meu rosto. Eu sentia todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem, um por um, por aquele contato que muito mais parecia uma troca de eletricidade. E aquilo ia aumentando, aumentando à medida que o seu rosto ficava cada vez mais próximo ao meu. Eu fechei os olhos, pronta para sentir a sua boca na minha, porém nada aconteceu. Quando eu os abri devagar ele ainda estava lá, me observando, perto demais. Ele tocou o meu ombro, e pude sentir a suas mãos percorrerem a extensão de meu braço, escorregaram até o meu cotovelo e deste para as minha mãos, meus dedos, até que os dele entrelaçaram-se com os meus.
_ A sua mão tá gelada. Você tá nervosa?
_ Ner...Vosa por quê? - gaguejei. Ele apenas sorriu docemente.
_Peça. Peça o que você quer. - ele sussurrou em meu ouvido. Suas feições, sua forma de falar demonstravam que ele queria também aquilo. Exatamente o mesmo que eu. Será que eu estava viajando? Eu gostava dele há quase um ano, e ele me conhecia há o quê? Três dias?É possível se apaixonar por alguém em três dias? Impossível. Matemáticamente, físicamente, biologicamente e químicamente impossível. Então que ironia da vida era aquela? Por que estávamos os dois tão próximos naquele lugar lindo? Por que aquilo estava acontecendo? E por qual razão...eu deveria pedir?
_ Por que?
_ É preciso que você queira também...como eu. - ele sorriu mais uma vez.
_ Beije-me. - eu sussurrei, fechando os olhos, e esperando novamente por aquilo que eu desejava há tanto tempo.

Os sons da praia, o vento, as vozes e risadas das pessoas que lá estavam, o som dos passos na areia, a música, tudo, tudo desapareceu. Naquele momento só existia o silêncio e a calma. Eu me sentia tão bem e tão leve como se fosse capaz de levitar. Era como se houvéssemos somente nós dois e aquilo fosse a coisa mais importante de toda a Terra. Os nossos lábios se tocavam urgentes, desejosos, as nossas línguas se entrelaçavam com tanta facilidade, como se estivéssemos predestinados a viver aquele momento. Os nossos corpos se abraçavam, queriam estar próximos, e a minha pele, ainda que se queimasse ao contato com a dele pedia por muito mais daquilo.Toda aquela junção do seu cheiro, toque, beijo, tinha o efeito de uma droga para mim. A sua respiração quente perto da minha pele sensível me fazia arrepiar. Era difícil de acreditar. E pensar que, meses atrás, eu havia ficado radiante de felicidade apenas por descobrir o seu nome. Connor Garrel. Agora Connor Garrel era meu. Naquele dia, naqueles minutos ele era meu, e somente meu. Era eu a estar aconchegada em seus braços, e era a mim que a sua boca e seu beijo pertenciam. E isso tudo porque aquele dia em especial, quando naturalmente os olhos de todas aquelas garota voltavam-se para Brandon, os meus voltaram-se especialmente para ele. E, desde que eu o notara, eu já sabia que ele era muito melhor, que ele era muito mais especial, e que o brilho dele era grande demais para ser notado por aquelas meninas imaturas.

Deitei minha cabeça em seu peito, e ambos ficamos a observar as nuvens que iam lentamente cobrindo todo o céu. Eu estava entusiasmada, extasiada de tamanha felicidade, mas segurando tudo aquilo dentro de mim. Ele não poderia saber o quanto aquilo havia sido especial. Talvez ele não entendesse, se assustasse e fosse embora.

Eu já havia beijado uma vez, no outro colégio, quando estava no sétimo ano. Era um garoto ruivo que se sentava na minha frente e, um dia me convidou a passar o recreio com ele. Não sei bem explicar como fomos parar ali, atrás da quadra de esportes, mas foi como o meu primeiro beijo aconteceu. E foi estranho. Eu me senti como uma criança brincando de ser adulta. Com Connor era diferente, como se, finalmente, eu estivesse pronta. Era lindo e intenso e eu jamais havia me sentido daquela forma. Connor tocou-me o queixo, levantando-o de forma que pudesse ver o meu rosto e sorriu deliciosamente para mim.

_ Eu quero encontrar você mais vezes.
_ Eu também. - eu sorri, deixando-me corar pela rapidez com a qual a resposta veio. - Mas você não vai pra universidade? Quero dizer..Eu imaginei que este seria o último dia em que nos veríamos.
_ Sim, eu vou para a universidade. A 'University of London'. Eu amo Londres,não vou me mudar. De onde tirou isso?
_ AH! Não sei, eu achei que...Quer dizer, todos estavam se mudando e tal.
_ Bem, eu não. O único lugar de onde eu vou me mudar é da casa dos meus pais. Quero morar sozinho e perto da faculdade. Nunca nos demos bem, sabe? E quero começar a construir algo só meu e ser independente deles.
_ Isso é ótimo! Eu poderia ver você de n... - eu comecei dizendo, entusiasmada.- Hm..quero dizer...Que bom que você não se mudar.

Creio ter surpreendido todos os que me conheciam pela expressão radiante que eu carregava naquele dia. Connor me agarrou naquele momento e não soltou mais. A forma como ele acariciava a minha bochecha, como me beijava o pescoço, como entrelaçava as suas mãos com a minhas, eram únicas e irresistíveis. Eu amava a ideia de conhecê-lo melhor. E nos dávamos bem como se já estivéssemos juntos há anos. Como se ele sentisse o mesmo. Ah, que imaginação enorme eu tinha...Eu queria poder ler aquela sua mente enigmática a fim de saber o que ele sentia por mim.

_ Quem é aquele rapaz que trouxe você em casa hoje,Jenni?-Perguntou o meu avô.
_ Só um amigo.
_ Você parecia muito feliz com ele.
_ Dava pra peceber? - sorri.
_ Você gosta dele, não é Jenni?
_ Ah, vô... Eu mal o conheço.
_ Isso não quer dizer nada, querida. Se uma coisa lhe faz feliz lute por ela. A vida é muito bonita para passar o tempo todo enfiada naquele quarto e sendo infeliz. Ouça os conselhos de seu velho avô. Você é muito jovem para ser assim, tão pessimista.
_ Sim vovô. Eu vou tentar.


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