Mais que a Minha Própria Vida escrita por Melissa J


Capítulo 13
Capítulo 13




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E não importava o que eu fizesse, os pensamentos que eu tinha de tentar desviar, quaisquer coisas que eu pudesse fazer para que aquela semana passasse mais rápido. Nada funcionava. Por mais que eu tentasse fugir e fingir que era uma semana como qualquer outra, todos já haviam percebido. O único jeito era tentar manter a calma e colocar na minha cabeça que eu tinha de estar preparada para qualquer eventualidade. Apesar de parecer que estava tudo certo, que seria tudo bem, haviam centenas de coisas que poderiam dar errado. A porcentagem de chances que tinham de dar errado era muito maior da de chances de dar certo. Isso principalmente aplicado a mim.

Eu acordei sozinha ás seis horas da manhã daquele sábado, apesar de ter colocado o despertador para tocar ás sete, e não consegui dormir mais. Mais uma vez culpa da ansiedade que surge quando você espera por coisas que sabe que não deveria ter. Depois de ter me conformado que o meu cabelo só ficaria bonito se eu o lavasse e que eu ficaria muito melhor se eu usasse aquele vestido azul com o qual Grace me presenteou em meu aniversário de desesseis anos do que a blusa vermelha que eu sempre usava, eu me sentei na cama impaciente, esperando pela ligação de Brandon. É claro que não tardaria, mas o meu nervosismo fazia os minutos parecerem durar horas. Apesar de saber que talvez o vôo demorasse e eu provavelmente sentiria fome, eu não tive a menor vontade de comer. Tudo que eu sentia era aquele embrulhar de estômago, o frio na barriga, a vontade de comer todas as minhas unhas até que não sobrasse nada.

_Jenni! - chamou meu avô, sonolento, tal qual o tivessem acordado - Tem um homem aqui querendo falar com você.
_Um homem?Quem?
_Um tal de Bradon,ou Bretton...
_Seria...Brandon? - eu ri.
_É. É isso mesmo. Ele está lá na porta. Se for sair, não saia sem antes comer alguma coisa, tá bom?
_Tá bom vô. - eu disse, descendo as escadas. - Nós vamos buscar um amigo no aeroporto, tá bom? Talvez eu não venha almoçar.
_Como não? São 7 e 30 da manhã. Não acredito que o vôo vá demorar tanto.
_Talvez demore. - eu disse, pensando no dia incrível que poderia passar com Connor. Só ele e eu.
_Tudo bem. Você comeu?
_Comi sim, vô. Tchau. - eu gritei, fechando a porta.

Na calçada estava parado um carro azul escuro cheio de adesivos em referência a times de Rugby e festas colados ao vidro de trás. O motor estava ligado e Ethan sentado ao banco de motorista. Brandon esperava ao lado de fora, sorrindo ao me ver.
_Está toda arrumada, hein? - ele brincou.
_Calado! - eu disse.
_Tudo bem, senhora estressadinha. Entre. Vamos deixar você lá. - ele pediu, abrindo a porta do banco de passageiro para mim.

Ainda que eles mentissem em relação ao lugar para onde me levavam e fossem a um lugar longe e deserto, eu custaria a perceber de tão perdida em pensamentos que estava. Assim, eles tiveram de me chamar algumas vezes quando chegamos.

_Você quer que te levemos até onde os passageiros irão desembarcar? - sugeriu Ethan.
_Não precisa, eu encontro.
_Você tem certeza?
_Tenho. - eu disse, pegando do bolso aquele pedaço de papel amassado que continha o número do voo em que Connor chegaria.
_Olha, agora são oito horas. Se o avião ainda não chegou, não deve tardar a chegar. Então espere lá perto e qualquer coisa ligue para nós, combinado? - disse Ethan.
_E procure relaxar. Você está muito tensa. - sorriu Brandon.
_O Connor tem sorte de ter amigos assim como vocês. Não imaginava que vocês fossem assim tão legais.
_Só porque nós gostamos de você. - Ethan sorriu. - Agora vá, ou você não o encontra.
_Tá bom. - eu sorri, descendo do carro. - Me desejem sorte.
_Você terá, Jenni. Não tem nada pra dar errado agora.

Assim que você entra no 'Aeroporto de Londres', você passa por dois guardas que observam você provavelmente vendo se você tem uma cara suspeita ou algo assim. Tudo é separado por paredes de vidro, e você vê que os bancos ficam a duas ou três paredes longe de onde você está. Esses bancos são uma espécie de fila de espera tanto para as pessoas que pegarão o próximo voo quanto para os familiares e amigos que lá estão para receber aqueles que estão voltando de viagem. Então você passa por um tipo de esteira eletrônica que lentamente leva você ao outro lado, e onde costumam ter várias crianças brincando de correr ao contrário pela mesma. Depois disso você anda por um longo corredor e chega, finalmente, aos bancos lotados de pessoas e malas. Ao menos aquilo estava acabando.

_E então? Vai viajar a passeio ou a trabalho?
_Desculpe?
_Você vai viajar a passeio ou a trabalho? - perguntou novamente aquele homem de terno cinza. Ele deveria ter por volta de seus 40 anos. Era alto e bastante sério, com olhos azuis muito escuros e cabelo loiro cortado bem curto. Sua voz era firme e pela forma como ele se portava, eu pensei ser um homem de negócios.
_Ah, não. Eu não vou viajar. - sorri, simpática. - Estou só esperando alguém.
_Seu namorado?
_Não, eu não diria isso. Ele é...hm...um amigo.
_E de onde ele vem?
_Eu não sei exatamente.
_Ah! - ele exclamou, estranhando a minha resposta.
_É que ele passou os últimos meses meio que viajando pelo mundo. Não tivemos contato nesse meio tempo. Então ele pode estar voltado de qualquer país.
_Ele tem muita sorte de ter alguém que espere assim por ele. Eu nunca tenho isso. Por viajar muito, tudo o que tenho tempo é pra relacionamentos casuais. E tudo acaba por perder a graça no final.
_E por que você viaja muito?
_A trabalho. Eu sou advogado internacional, resolvo casos muito complicados e que tomam quase todo o meu tempo. Então ainda que more em Londres, eu quase nunca estou por aqui. Estou sempre viajando.
_Uau! Deve ser o máximo ter um emprego assim. Conhecer todas aquelas pessoas importantes, todos aqueles lugares novos, estar sempre viajando.
_Eu não diria isso. - ele sorriu, me observando uma forma estranha. Evitei pensar na possibilidade de ele ter algum interesse em mim. Afinal, ele era consideravelmente mais velho. - Mas talvez você achasse divertido, menina. Sabe? Qualquer dia desses você poderia vir comigo. Eu poderia te mostrar outras cidades, outros países. Você poderia aprender várias coisas novas.
_Coisas novas?
_Você se divertiria muito viajando comigo. Nós poderíamos tentar um dia, o que acha?
_Meu pai não deixa... - eu menti, afastando-me um pouco, assustada.
_Não precisa ter medo de mim. Eu não mordo. - ele riu.
_Tá. - eu disse, olhando para frente e torcendo para que ele parasse de falar comigo. Eu não o conhecia, e se ele fosse algum psicopata? Que tipo de homem da idade dele falaria assim com uma menina da idade que eu tinha?
_Olha. Toma o meu cartão. - ele disse, oferecendo-me o cartão que ele havia tirado do bolso. - Apesar de eu viajar muito,o meu celular está sempre comigo. Se mudar de ideia...
_Tá. - eu disse, pegando o cartão. O nome dele era John Foster. Estava escrito abaixo: 'International Lawyer'(Advogado Internacional), com dois celulares pessoais que eram dele. Eu os coloquei no bolso e continuei a olhar para frente. Minha vontade era de sair dali com uma desculpa qualquer. Dizer que eu ia ao banheiro, ou que ia à lanchonete. Mas assim eu correria o risco de não conseguir encontrar o Connor e tudo daria errado.
_Você não faz ideia do quanto é bonita, né? - ele sussurrou. Optei por fingir não ter ouvido e ele parou de falar.
_Que droga! Por que você está demorando tanto? - eu perguntei mentalmente, enquanto cruzava e descruzava as pernas impacientemente.

O relógio marcava dez e cinquenta da manhã quando John se levantou para pegar o seu voo, sorrindo para mim de uma forma insinuante. Ele disse algo como 'nos vemos depois', e eu fingi não ter ouvido, olhando para o outro lado. Não dá nem para explicar o alívio que senti quando ele saiu. Ele me assustava. Resolvi então procurar um dos seguranças para me informar quando o avião chegaria. Ele perguntou qual era o número e eu dei o papel para que ele lesse.

_O voo de Milão tinha hora prevista para oito da manhã, mas ocorreu um atraso e ele chegará somente por volta de uma hora da tarde.
_Uma hora da tarde? Mas como assim?
_Como eu disse, senhorita, ocorreu um atraso.
_Obrigada. - eu disse, afastando-me.

Ao olhar no relógio vi que ainda teria de esperar por mais duas horas. O meu estômago roncava de fome e eu me arrependi totalmente por não ter tomado café da manhã. Eu tinha de arranjar alguma forma de passar o tempo até lá. E eu tinha de comer alguma coisa senão começaria a passar mal. Não muito longe dali havia uma lanchonete. Era a melhor coisa que eu encontraria por ali aquela hora, ainda mais considerando a quantidade pequena de dinheiro que eu havia levado por não imaginar que aconteceria algo assim.

Já estava me remoendo de impaciência com aquele tempo que não passava e aquele voo que não chegava. Eu comera dois salgados, bebera um refrigerante, passeara por todas aquelas lojas de lembranças que haviam por lá, até que fosse meio dia e meia. Então eu ouvi o anúncio de que o avião que voltava de Milão chegaria em cerca de dez minutos, e corri até onde deveria esperar.

E, então, finalmente, o avião aterrizou. Dezenas de pessoas desciam correndo, algumas com crianças de colo, outras com malas de mão, quase todas procurando por alguém que as esperava. As famílias e amigos que estavam sentadas ao banco se levantaram, ficando nas pontas dos pés para encontrar os seus. Menos eu. Eu fiquei presa ao banco, totalmente incapaz de me mover. Minhas pernas tremiam e tudo dentro de mim começou a se agitar. O meu coração estava disparado e eu literalmente suava frio. E se ele não ficasse feliz em me ver? E se ele ficasse? Meu Deus, como aquilo era agonizante!

Depois de ter ficado naquele estado por alguns minutos eu suspirei fundo e me levantei. Eu tinha de fazer aquilo. As pessoas estavam na frente e eu não conseguia ver nada, tendo de me virar, enfiando-me no meio delas até que pudesse ficar em um lugar onde eu teria privilegiada visão dos que chegavam por lá. Os maridos, esposas, amigos, filhos, todos sorriam felizes ao encontrar os que esperavam por eles. Eu podia até imaginar o sorriso de surpresa que Connor faria, e tinha certeza que seria o mais bonito de todos.

Mas o tempo ia passando e nada dele aparecer. Eu queria tanto vê-lo que parecia que cada homem que estava ali era parecido demais com ele. Isso fazia com que eu sentisse falsas esperanças a todo momento em que via alguém semelhante. Mas já tinham se passado quase quarenta minutos e a quantidade de pessoas que entravam pela porta iam escasseando até que todos já houvessem entrado. Quero dizer, todos não. Onde estaria o Connor? Eu andei em círculos por todo aquele ambiente, fitei cada um daqueles rostos masculinos, sem sucesso. Ele não estava em nenhuma loja, ele não estava na lanchonete, e um guarda me informou que todos os passageiros já haviam desembarcado. Será que o guarda de antes me dera a informação errada sobre o voo? Será que Brandon havia me dado o número errado? Será que...Connor não havia voltado?
_Brandon... - eu sussurrei no celular com voz chorosa.
_Que foi? Tá tudo bem?
_Ele não apareceu. Ele não tá aqui. Eu estou sozinha,aqui está quase vazio, e ele nunca desembarcou do avião.
_Como assim? Você tem certeza? Você olhou o número direitinho, meu bem?
_Sim, eu perguntei para o guarda! Não tem como estar errado.
_E você está aí sozinha até agora? Por que você não me ligou?
_Porque o voo atrasou mesmo. Mas agora já chegou.
_Fica sentada aí no salão de espera que eu vou ligar pra ele. Não saia daí, tá bom?
_Tá. Tchau. - eu disse, colocando o celular do bolso. O que estava acontecendo? Por que ele estava fazendo aquilo comigo?

Após alguns minutos de espera pude ver um rosto conhecido que se aproximava de mim com uma expressão triste. Aquilo não foi lá muito animador.
_O que você está fazendo aqui, Ethan?
_O Brandon pediu pra buscar você.
_Mas...E o Connor?
_Ele não vem. - ele disse em voz baixa, evitando me olhar nos olhos.
_Por quê não? Como assim ele não vem? Você está brincando,né?
_Você não sabe o quanto eu queria estar.
_Mas... O Brandon prometeu que não tinha nada pra dar errado.
_Vamos pro carro. - ele disse, passando os braços envolta da minha cintura.

Eu caminhei quase arrastada até o carro sem trocar uma palavra sequer com Ethan. Eu estava muito brava e muito triste. É possível sentir duas sensações tão fortes assim e ao mesmo tempo? Acredite, é possível. Ethan abriu a porta do carro para mim, e depois se sentou no banco do motorista, fitando o meu rosto com uma expressão de quem está a pensar no que dizer. Eu não queria olhar para ele. Então eu fitava o chão, de braços cruzados, esperando impaciente que ele me levasse para casa. Mas ele nem ligou o carro.
_Não fica assim. Ele é só um idiota.
_Ele é seu melhor amigo, Ethan.
_É. Mas não quer dizer que eu concorde com as coisas que ele faz.
_Faria algum sentido se eu soubesse o que está acontecendo.
_Bom...se o Brandon e eu soubéssemos, nós nunca teríamos deixado você ir sozinha pra lá. Mas ele havia comprado a passagem semana passada, estava tudo confirmado, e ele até tinha nos pedido para ir buscá-lo. Mas ontem ele ligou para a casa do Brandon quando ele não estava e deixou um recado para a mãe dele. E ela esqueceu de dar o recado. Então nós ligamos pra ele e ele disse que havia resolvido ficar por mais tempo viajando. Foi uma sugestão dos pais dele, ele poderia trancar a faculdade por alguns meses viajar mais um pouco. Como ele nunca teve isso, está tão empolgado que não quis que acabasse. É uma chance única e qualquer um daria qualquer coisa para conhecer tudo o que ele está conhecendo. Mas ele está se esquecendo de coisas muito mais importantes que está deixando para trás.
_Quanto tempo?
_Eu não sei. Talvez seis meses, um ano...
_Isso tudo?
_Eu sinto muito.
_Isso significa que acabou,né?
_Eu não sei,Jenni. Eu não sei o que dizer. Só não fica assim, por favor.
_Está tudo bem.
_Eu sei como você se sente. Quero dizer,eu sei como eu me sentiria se a Rachel fizesse algo assim. Eu sei exatamente como eu me sentiria, e isso não é nada bom.
_Você gosta mesmo dela,né? - eu perguntei, tentando sorrir um pouco. Mas o sorriso não saía.
_Sim, eu gosto. E talvez eu consiga conquistá-la de forma que um dia ela goste de mim da forma como gosta do Brandon.
_O quê?
_É. Eu sei. Eu sei de tudo.
_Ela te disse?
_Não, mas todos percebiam. Não tinha como não ver. Mas eu não me importo, não posso obrigá-la a gostar de mim da forma como eu queria. Ela é livre.
_Ela gosta muito de você. Acredite.
_Fico feliz em ouvir isso. Ainda que não seja o suficiente.
_Ethan...
_O quê?
_Me leva pra casa. Eu não quero mais ficar aqui.
_Você quer que eu ligue pra ele? Vocês podem conversar.
_Não. Eu não quero falar com ele. Pra mim isso acaba aqui e agora. Você tá entendendo?
_Tá. Eu vou levar você pra casa.

Sabe quando acontece algo ruim sem nenhuma explicação plausível? Quando tudo que você quer, tudo pelo que você espera, pelo qual você sonha, escorre pelos seus dedos sem quem você você possa fazer nada? É pra isso que servem as expectativas,para serem arrasadas. Você já se sentiu assim? Era exatamente como eu me sentia. Queria pensar que aquilo tudo tinha um lado bom. Que, assim, eu poderia me lembrar das razões pelas quais eu não acreditava em nada e não conseguia me aproximar de verdade das pessoas. No final todos vão embora. E ninguém se importa com o que você sente, se o seu coração foi arrasado, com o quão triste você está. É algo só seu, que você guarda dentro de si e que é tão ruim que não quer que ninguém veja.
_Pode parar aqui?
_Mas...não chegamos ainda na sua casa.
_Mas está pertinho. Eu posso ir a pé depois. Eu só quero ficar sozinha um pouco. Sei que quando chegar meu avô vai fazer mil perguntas.
_Não sei não.
_Eu só vou ficar aqui nessa praça. Eu gosto daqui, me acalma.
_Promete que não fará nenhuma besteira?
_Que besteira eu faria?
_Não sei.
_Relaxe, Ethan. Eu vou ficar bem. Eu sei lidar com essas coisas melhor do que qualquer pessoa.
_Tá bom. Só...volta pra casa depois, ta? E qualquer coisa me liga. - ele disse, abrindo a porta do carro.

Eu poderia dizer que o dia estava horrível, mas não estava. O vento estava agradável e o sol brilhava como se quisesse dizer: hoje é um dia em que todos deveriam estar felizes. Eu sabia que não era nada demais, que era um direito do Connor de ficar mais um pouco se quisesse. Eu deveria ter aceitado e ter entendido. E eu tentava. Eu não entendi por que me sentia tão brava. Era uma sensação tão grande de vazio, de falta,de vontade de ser alguém importante para outra pessoa, e saber que não aconteceria. Talvez eu nunca tivesse isso. Meus pais haviam me deixado e meu avô não tardaria a ir. Então eu ficaria sozinha. E eu não queria ficar. Era difícil ter de ficar o tempo todo só comigo mesma. Eu queria alguém para dividir as coisas. Queria poder sentir todo o tempo aquela sensação de ecstasy que sentia quando ele estava comigo. Logo meus amigos todos iriam embora. Eu sabia disso. Eu não queria mais me sentir só. Isso já estava ficando uma droga.

_Você tá chorando? - alguém perguntou, e eu não sabia há quanto tempo estava ali me observando.
_Eric? - me assustei, levantando de repente e limpando as lágrimas na manga da blusa.
_Está tudo bem?
_Não...Mas vai ficar. Eu só estou me sentindo um pouco sozinha hoje.
_Você deveria parar de sofrer assim por um cara que só te deixa mal. Sabe? Se fosse eu...Eu nunca faria nada pra te magoar. - ele disse. Então sem pensar, eu dei um passo a frente e lhe dei um rápido selinho.
_Então me faça esquecê-lo. Se você é capaz, faça com que eu não me lembra dele nunca mais. - eu sussurrei. Meu ato me fez lembrar de uma pergunta que Rachel me havia feito há uma semana atrás. E de minha resposta.
"_Seria egoísmo da minha parte ficar com uma pessoa para esquecer outra?
_Seria... "
Então eu era egoísta.

_Jenni... Você tem certeza do que está fazendo?
_Você quer que eu mude de ideia?
_Não, mas...é só que...UAU! Eu achei que essas coisas não aconteciam. Quero dizer...Elas não acontecem não.
_Acontecem sim. - eu disse tentando sorrir. Como sorrir com os olhos em lágrimas? Era completamente estranho. Ele se aproximou de mim devagar e eu senti a ponta de seu nariz roçando o meu. Suas mãos trêmulas tocaram as minhas, e ele foi se aproximando aos poucos para que tivéssemos um beijo de verdade. Eu tinha que me entregar. Eu tinha de bloquear qualquer tipo de pensamento da minha cabeça.

Quando eu senti os seus lábios frios pela primeira vez (e eu tinha que passar por aquilo para compreender), foi quando eu tive a maior certeza de que nunca haveria ninguém como o Connor. Que não haveria um toque, um olhar, um simples afago que me fizesse perder o fôlego como quando era com ele. Era como se nós tivéssemos nascido um para o outro. Ou talvez só ele tivesse nascido para acabar comigo, já eu não era boa o suficiente e jamais o seria. Eu poderia ver na forma como ele andava e falava, podia ver claramente que eu não era para ele. Teria de ser uma garota incrível de exuberante beleza, teria de ter aquele mistério que ele tinha, teria de saber conversar sobre todas as coisas as quais ele entendia e eu ainda não conhecia. Não era eu. Não seria eu. Era por isso que eu tinha de seguir em frente. Mas ter ao Eric daquela forma só fazia com que eu lembrasse mais. Comparações são facilmente feitas uma vez que você conheceu a perfeição. Não tem mais volta. Você busca algo para preencher a falta, mas sempre há um pedaço, por menor que seja, que ficará descoberto. E quanto mais você se deixa levar, mais descoberto estará aquele pedaço. Isso dificulta bastante o processo de 'seguir em frente'.
_Jenni! - eu fui chamada enfaticamente.
_O quê?
_Você está pensando nele, né?
_O quê? Por quê?
_Porque eu beijei você. E eu dei o meu melhor. E depois você só ficou aí parada, olhando para frente, totalmente perdida em pensamentos.
_Desculpa. Eu não estava pensando nele não. É que eu sou assim mesmo. Eu penso muito. - eu disse, olhando para os meus pés.
_Mas você gostou? - ele perguntou. Que tipo de pessoa pergunta se a outra gostou do beijo? Algo assim você deduz apenas olhando o seu rosto. Eu era assim tão indecifrável?
_Gostei. E muito. Eu realmente fiz a escolha certa decidindo ficar com você. - eu menti e me senti cruel por isso. Isso fez com que ele sorrisse como um garotinho quando ganha um brinquedo novo.
_Sério? Que legal. Eu devo ter ficado muito bom nisso.
_Hm...é. - eu murmurei. As suas feições inocentes,o seu jeito de falar, os olhos curiosos demonstravam perfeitamente o que ele era. Não precisávamos trocar uma palavra sequer para que eu já o conhecesse na primeira vez que o vi. Ele era só um menino. A sua inocência transparecia em todos os seus gestos e sorrisos e a sua curiosidade em me desvendar parecia-lhe muito mais uma aventura, um simples desejo momentâneo. Independente do que ele achava, não passava daquilo. E eu não sabia por qual razão o estava envolvendo em meus problemas. Ao menos, uma hora ele se cansaria. Eric era um garoto bonito, uma hora ou outra as garotas o notariam. E então ele estaria totalmente livre para seguir em frente. Ele não precisava me amar e eu não precisava amá-lo. Era somente aquilo que nós tínhamos.


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