Bonnie estava com frio. Apesar da enorme quantidade de cobertores que a cobriam. Conseguia ver gotículas de água grudadas na sua janela, entre os cachos que lhe atrapalhavam a visão, e o céu que novamente estava fechado, o que não a animou muito.

Costumava acordar agitada e disposta para começar o dia. Mas hoje ela estava com tanta preguiça. Bocejou. Pensando em pedir a mãe para faltar à aula, mas sabia como os pais se importavam com os estudos e decidiu que se levantaria em cinco minutos.

Acomodou-se melhor na cama, tirando os cachos ruivos do rosto e levou um susto quando viu um corvo parado na frente de sua janela, e assim que o avistou, ele saiu voando. Tinha certeza que sua avó teria algo a dizer sobre a estadia dele ali. E talvez até já tivesse mencionado algo do tipo. Bonnie infelizmente, não se lembrava.

Quando saiu do banho era como se a preguiça tivesse sumido do seu corpo. Disposta como sempre, se sentou a mesa e comeu com sua mãe e irmãs.

Dando um beijo de despedida em cada uma, se levantou, escovou os dentes e arrumou o cabelo.

As ruas da cidade eram estreitas e as calçadas largas, como se quem a tivesse construído soubesse que poucas pessoas teriam o trabalho de tirar o carro da garagem em dias habituais. Bonnie cumprimentava todos os poucos moradores que estavam cuidando dos seus jardins, passando pela calçada, ou do lado de fora de algum estabelecimento. Já era conhecida por muitos, já que fazia o mesmo caminho desde que entrou para a escola. Alguns lhe ofereciam café e ela até aceitou um cookie de uma senhora simpática que sempre conversava com ela, se arrependendo de nunca ter aceitado antes. Eram tão melhores do que os que a sua irmã Mary tentava fazer.

Encontrou Meredith no estacionamento assim que chegou a escola, lhe deu um abraço, sentindo o cheiro reconfortante da amiga, e se juntou aos outros colegas que conversavam animadamente.

— ELENA! — Bonnie saudou a amiga animadamente assim que a viu.

Elena sorriu, abraçando as amigas e todas as outras pessoas que pareciam fazer uma fila para saudá-la.

— Olhe. — a ruivinha apontou para a figura curvilínea de Caroline que se aproximava, com o seu aspecto bronzeado reluzindo, como se o sol tivesse aparecido apenas para cortejá-la.

Meredith deu um tapa discreto e repreendedor na mão da amiga que sorriu envergonhada.

— Olá Bonnie, Meredith, Elena. — Caroline falou assim que se aproximou delas.

— Tudo bem? — Elena perguntou confusa, enquanto arrumava seus cabelos loiros.

— Olhe Elena, eu sei que brigamos muito semestre passado, mas acho que deveríamos fazer as pazes. — falou com elegância enquanto estendia a mão.

Elena a encarou desconfiada, por fim, estendeu a mão e estava prestes a retirá-la quando Caroline a puxou para um abraço.

Bonnie e Meredith trocaram um olhar significativo, depois de passar metade do ano tentando competir com Elena, era como se Caroline tivesse admitido à derrota e levantasse a bandeira branca. Exceto pelo fato de que Caroline nunca se rendia. Sem contar que ela ficara imensamente revoltada quando as duas permaneceram do lado da loira.

Quando Caroline finalmente liberou a outra, a multidão que cercava o estacionamento se virou para ver um carro entrando no lugar. Bonnie se espremeu entre os outros, tentando enxergar o que todos tanto observavam. Não conseguindo, prendeu-se a Meredith que a ajudou a chegar à frente.

Um belíssimo Porsche Turbo 911 tinha acabado de ser estacionado.

— Oh, meu Deus! — Caroline sussurrou.

— Você pode dizer isso novamente! ? — exalou Bonnie.

Era como se o ar tivesse fugido dos seus pulmões. Um garoto tinha saído do carro. Ele tinha um corpo magro e músculos lisos. Camiseta apertada, e uma jaqueta de couro com um corte incomum. Seu cabelo era ondulado – e escuro. Sua estatura era mediana.

Os murmúrios começaram assim que ele se dirigiu a escola. Bonnie reconheceu o olhar no rosto de Elena. Quase como se pudesse ler seus pensamentos. Ela faria de tudo para tê-lo.

As pessoas começaram a se dispersar. As garotas entraram no prédio. Meredith com o horário de Elena na mão, a guiando por entre os corredores lotados.

***

A primeira aula de Bonnie era história, o que a fez gemer e ter vontade de enfiar sua cabeça na carteira e só retirá-la de lá quando a aula acabasse. Ela não tinha nenhum problema em frequentar as aulas dos outros professores. Mas o Sr. Tanner não só implicava, ele gostava de humilhar os alunos.

E Bonnie sentia seu rosto queimar só de pensar em entrar na sala de aula, mas não teve outra opção quando Meredith a deixou ali com Elena. Se despedindo e combinando de se encontrarem na entrada para o refeitório.

— O que está esperando? — Elena lhe perguntou seca.

— Nada. — mentiu.

Cumprimentou Matt quando passou pela sua carteira e não se sentou no seu lugar de costume, e sim, atrás de um dos garotos mais altos da turma, onde esperava estar escondida.

Viu o enorme olhar de interrogação na cara de Elena, e deu de ombros com um sorriso de quem se desculpa.

Sentiu-se tentada a tirar o cachecol de lã azul que usava, tentando se impedir de suar frio enquanto o professor entrava na sala. Foi difícil, por isso, “concentrou-se” na janela e em como gostaria de estar tão livre quanto aquele pássaro, que pousava em um galho de árvore ali perto, para voar rapidamente para fora daquela sala de aula.

Inesperadamente todos os pássaros voaram do galho. Bonnie só entendeu o porquê quando um carro estacionou rapidamente na vaga ali perto. Ela arregalou os olhos, era uma bela Ferrari.

Com um extraordinariamente belo motorista. O seu rosto era pálido, podia ver que seus traços eram limpamente definidos e quase perfeitos debaixo de um chocante cabelo escuro. Ele estava todo vestido de preto: botas suaves, jeans, suéter, e uma jaqueta de couro. O que Bonnie achou sexy e intimidador.

Em pensar que minutos atrás ela achava que não poderia existir um garoto que tivesse uma beleza párea para a do garoto do Porsche. Bem, agora ele tinha um bom concorrente.

Ela o observou vir na direção da escola. Seus olhos se encontraram como se ele soubesse que ela estivera o observando esse tempo todo. Envergonhada, olhou na direção do professor que a olhava interrogativamente, junto do resto da sala que segurava risinhos.

— Desculpa. O que o senhor disse? — se desculpou.

Se Bonnie não o conhecesse diria que ele estava decepcionado, mas os cantos dos seus lábios estavam puxados em um pequeno sorriso grotesco.

O professor repetiu a pergunta.

— Eu não sei. — sua habitual resposta, com um leve encolher de ombros.

Nem se importou em ouvir o discurso já ultrapassado e olhou novamente para a janela. Vendo seus cachos serem jogados violentamente para trás em um ato que achou ser rebelde. Infelizmente, o estacionamento estava vazio novamente.