Eu acordei com um sorriso. Nunca tinha dormido tão bem quanto aquela noite. Mas quando abri os olhos, notei que não estava no meu dormitório. Eu também estava com as mesmas roupas de ontem.

E eu também não estava sozinha.

Eu e James tínhamos dormido abraçados no sofá-cama e minha cabeça se encostava no seu peito, enquanto sua cabeça estava encostada por cima da minha. A gente tinha dormido de conchinha. Suspirei por um instante, até notar que a realidade me atingiu.

– James. James! – cutuquei-o.

Ele acordou suspirando, me puxando para mais um abraço preguiçoso.

– Acorda! Está de manhã!

As palavras pareceram despertá-lo. Ele pulou do sofá, me derrubando de cara no chão, e arrumou a camisa amassada. Fiz o mesmo quando ele me ajudou a levantar, pedindo desculpas. Seu cheiro estava impregnado na minha roupa. Arrumei o cabelo o máximo que pude e lavei o rosto.

– Eu tinha treino hoje, Carter! Vão perguntar para a Dominique onde eu estava e estou ferrado.

Ah, é. A namorada dele. Sorri por dentro, notando que ele dormiu comigo ao invés de ficar com ela, mesmo que nada tenha acontecido.

– Fazemos assim, James: diga para eles que eu fiquei muito chata quando você estava me ensinando e fui embora. Você estava morto e acabou dormindo aqui mesmo. Eu dou um jeito nas minhas companheiras de quarto. Agora, vá!

– Obrigado, Carter. Você é incrível. – ele me olhou agradecido e estava saindo da sala quando o chamei:

– E James? Não conte para ninguém daquilo de ontem, ok?

Ele sabia que eu estava me referindo á minha habilidade de fazer feitiços sem varinha. James assentiu e se foi. Fiquei sentada naquele sofá por um tempo. Eu estava totalmente confusa sobre o que sentia sobre James, e estava na cara que ele não ia terminar com a perfeita Dominique para ficar com a Carter, a garota mais estranha da escola.

E agora eu estava nas mãos dele. Se ele contasse meu segredo para alguém, eu estava ferrada. Ninguém nunca me deixaria em paz. Cheirei a minha camisa mais uma vez e o perfume dele me confirmou que ele ficou comigo a noite inteira.

Suspirei e saí daquele local. Fui para o meu quarto e as meninas já haviam ido tomar café. Elas já estavam acostumadas a acordar sem a minha presença, pois eu acordava muito cedo. Troquei as minhas roupas, amarrei o cabelo em um coque mal-feito e escovei os dentes. Assim, decidi ir para a vice-diretora June e entregar os livros do segundo ano.

Dois meses depois...

Finalmente, após muito esforço e dedicação, eu era oficialmente uma estudante de sexto ano comum. Incrível como em tão pouco tempo as pessoas pararam de me olhar feio e algumas passaram a me cumprimentar. Conversava com Rose de vez em quando, mas ela estava muito ocupada com seu novo namorado Scorpius.

Eu, Georgie e Caroline acabamos ficando mais unidas quando íamos para alguma festa ou algo assim, mas eu não confiava plenamente nelas, pois eu sentia que elas guardavam segredos de mim. Mas tudo bem, eu não precisava de mais segredos que eu já tinha.

Nick e eu estávamos melhores amigos, ele era incrivelmente parecido comigo em muitas coisas. Eventualmente eu acabei lhe contando o meu segredo. Ele não teve a mesma reação que James: fez um questionário pra mim e pediu que quando eu virasse a melhor bruxa de todos os tempos, não o esquecesse.

Eu logo notei que tinha mais amigos Grifinórios que Sonserinos e talvez isso tenha afetado um pouco na minha relação com a minha casa, mas eu não estava ligando tanto, porque, afinal, quem estava me ignorando era daquele tipo idiota e fresco.

Eu tinha alguns amigos da Corvinal e acabamos virando um grupo de estudos. A Grifinória passou a gostar de mim e eu até já tinha a senha de lá. Incrível como as coisas mudam: Harry Potter e eu nos correspondíamos por carta e ele me contou que a Hogwarts do seu tempo teve apenas um baile. Agora, pelo menos uma casa dava uma festa na semana.

Sammy e eu criamos um laço. Virou hábito que lêssemos As Incríveis Aventuras de Billy James. Eu já o tratava como um irmão e às vezes sem querer eu o chamava assim. Ele nunca reclamou.

E James... bom, eu e James continuávamos na mesma situação. Ele namorava a Dominique, que se mostrava cada vez mais ciumenta em relação a mim. Eu reagiria da mesma maneira. James tentava me mostrar os prazeres da vida, como jogar quadribol e explorar Hogwarts pela noite. Ele não tinha problema nenhum em me abraçar em público e diminuiu sua sessão de beijos com a loira na minha frente.

Minha vida estava... perfeita.

– Senhorita Carter, que prazer ter a sua adorável companhia neste jantar! – exclamou o professor Slughorn.

– Imagina! Eu adoro vir aqui! – e me sentei.

Eu estava indo apenas porque Nick me forçou.

Eu conhecia todos naquela mesa, mas mesmo assim estava encabulada. Era a minha primeira festa usando vestido e eu não estava gostando. James estava me observando enquanto eu sentava. Nick pegou na minha mão por baixo da mesa e o olhei com raiva. Ele havia me comprado o vestido no último passeio a Hogsmead e ameaçou queimar meu guarda-roupa se não o usasse.

Era um vestido chique, tinha de admitir. Era de um tom rosa-bebê e tinha bojo, aumentando consideravelmente o tamanho dos meus seios. As alças deixavam meus ombros a vontade, pois era daquele tipo de vestido onde a alça bate no braço e não no ombro, sei lá. Eu não entendo de vestidos. Não sei muita diferença.

Eu estava fitando Nick quando notei que todos olhavam para mim. Corei até ficar da cor de um pimentão e Nick estava quase tendo uma crise de riso por causa disso.

– Perdão? – observei o professor.

– Eu estava lhe perguntando qual é o truque para ser tão boa em poções.

Como ser tão boa em poções. O que eu realmente queria dizer é que as pessoas se complicavam muito ao ler as questões e que tudo se tratava da concentração. Logo, você notaria que dava para simplificar dois parágrafos em duas linhas. Mas, claro, com todos aqueles olhares voltados para mim, a única palavra que ousou sair da minha boca foi:

– Estudar? – respondi, com um sorrisinho amarelo. Burra, burra, burra! Algumas risadinhas na mesa.

– Carter quis dizer que ela ralhou muito para estudar com a gente e que acabou escutando algumas dicas que nós não prestamos atenção. – Nick me salvou, como sempre.

– Isso mesmo, senhor Sullivan! E por falar em estudar, eu soube que você recebeu nota alta em todos os seus NOM'S. Impressionante! Senhorita Richards, como...

... e uma uva atingiu a minha testa. Nick estava usando uma colher para atirar uvas em mim. Impressionante. Peguei o chantilly da minha sobremesa e joguei no seu nariz. Não aguentei e comecei a rir alto. Todos começaram a gargalhar quando o viram com o creme no rosto. Mas quando olhei na direção de James, este olhava para o meu melhor amigo com cara de poucos amigos. Ciúme, talvez? Não, ele tinha namorada.

Assim que o jantar terminou, Nick e eu corremos para o salão da Sonserina.

– Você me paga por ter me humilhado lá, pirralha!

– Não sou pirralha! Só porque inventaram que meu aniversário é um mês antes que o seu, não significa que é! Eu posso muito bem ser dois anos mais velha que você.

– Você? Dois anos mais velha? Quando eu te vi pela primeira vez eu podia jurar que ia cursar o terceiro ano!

Bati nele enquanto ríamos. Mas os seus olhos o contradiziam. Estavam sérios, quase como se nada importasse para ele. Mas o que eu sabia da vida? Scorpius chegou e sentou ao nosso lado.

– E então? Como vai sua vida no paraíso com a Rooooose? – eu estava quase cantando para o loiro, que estava namorando a ruiva.

– Eu tô com medo, cara. Ela quer que eu conheça os pais dela! – Eu não pude deixar de gargalhar ao ver sua expressão.

– Ei, a Hermione é legal. O Rony pode ameaçar te jogar de um penhasco, mas ele só fará isso se necessário.

– Muito obrigada mesmo, Carter. Posso contar com você para me assustar sempre. Mas sério, o senhor Weasley é um auror. Um auror, Carter! Se eu fizer algo de errado ele me põe em Azkaban!

– Você tá voando geral, Malfoy. Agora pense pelo lado positivo: Rose te pediu para conhecer os pais! Isso significa que o namoro está uma maravilha. Ainda bem, porque se não... Rony Weasley vai ser o menor dos seus problemas – fiz cara de brava, cutucando-o.

– Você não consegue vencer uma mosca em uma briga, Carter. – Nick gargalhou.

E assim que ele terminou a sentença, o fogo da lareira aumentou de uma forma assustadora.

Scorpius nem notou. Estava viajando dentro dos seus pensamentos.

– Srta. "Sou toda poderosa", vou dormir agora se não se importa – Nick me deu um beijo na bochecha. Fingi uma cara de nojo e esfreguei a mão aonde ele havia beijado, “desinfectando” a região.

– Eu sei que você amou – ele brincou.

Eu ia batê-lo, mas o moreno então me segurou e me forçou a abraçá-lo. Eu nem conseguia fazer aquilo direito por causa do bojo do vestido, que nos separava.

– Nick, eu odeio esse vestido. Porque eu tenho que pôr volume nos seios?

– Porque todo mundo quer pegar uma garota com a sua aparência. Só te fiz parecer mais desejável ainda, colocando um pouco mais de airbags. James não tirou o olhar de você hoje.

Airbags? Ri por dentro, mas manti a expressão desinteressada no rosto.

– E daí? – finalmente respondi.

– E daí que eu quero que ele veja o quão atrativa você é, mesmo não podendo namorá-la. Isso vai ser uma boa dose de vingança para ele. Além de que se você chama a atenção dele, vai irritar a Dominique. Admita: você não vai com a cara dela.

– Você é muito vingativo, é isso que eu acho. Nunca vou te querer como inimigo, pode crer. Agora boa noite, eu preciso tomar um banho.

– Não posso tomar com você? – perguntou com um biquinho e eu ri, dando um tapa na sua cabeça.

– Carter, você é muito violenta.

– Boa noite!

Eu estava realmente exausta e nem consegui me trocar: caí na cama e dormi com aquela roupa.