Eram sussurros fracos e imagens borradas. "Fuja", disse o garoto, se apoiando em algo. "Fuja e me encontre".

"Me encontre".

"Fuja".

"Me encontre e fuja".

"Fuja. Encontre".

Passos. Passos. Corre. Corre. Passos. Olhar para o lado: lado. Olhar. Gritos. Lado.

Acordei sem ar. Suguei o máximo que podia e soltei lentamente. Não conseguia me lembrar do que havia sonhado, mas algo me inspirava a sair daquele hospital.

Três dias. Há três dias eu havia saído do coma, há três dias eu apenas tomava sopa e há três dias ninguém de fora me visitava. Alguns enfermeiros passaram a ter pena do meu sofrimento e sempre que dava me traziam uma tigela de sorvete. Lá eu não tinha TV e nem celular, e minha sanidade estava começando a ser prejudicada. Tente ficar três dias apenas observando os corredores, sem poder sair da sua ala, com quadros acusando-o de ter alguma doença incurável, só se corroendo por dentro sem saber se James Potter gostou de você ou te achou uma oferecida.

Agora tente duas semanas. Tente um mês. Com tanto tempo de sobra, eu passei a notar que eu tinha certas... habilidades.

Notei que quando eu queria, meu cabelo ficava seco e sedoso depois de tomar banho. Também notei que quando eu observava a parede do meu quarto, se eu me concentrasse bem, eu conseguia fazer algumas rachaduras aparecerem, e foi pelas rachaduras que eu decidi meu nome. Depois de horas decidindo qual letras eu preferia, decidindo, desistindo, eu finalmente escolhi:

Carter.

Pra mim era o nome certo, além de que ninguém lá no hospital era chamado assim.

E foi uma pequena vitória para mim. Saber que aquele seria meu nome me fazia pensar que eu ainda comandava algo na minha vida patética dentro de um quarto de hospital.

E, depois de um mês e uma semana sem ser visitada, aparece Hermione Weasley. Desta vez, ela não se vestia nem um pouco formal e não tinha nada nas mãos a não ser uma pequena bolsa. Seu cabelo estava completamente solto, mas parecia menos volumoso que a última vez que a vi; suas roupas eram casuais e vinha com um sorriso no rosto.

– Lembra de mim? - perguntou.

– Claro, Hermione! - respondi meio exaltada por estar sendo visitada. Finalmente!

– Já decidiu seu nome?

– Carter. Eu não sei sobre sobrenomes, então apenas Carter.

– Pois bem. Eu trouxe boas notícias! - ela pareceu ficar indecisa, mas continuou com um sorriso no rosto - Você está saindo do St. Mungos.

– O-o que?

– Eu pedia isso a eles a semanas! Acertamos tudo hoje. E... se você quiser... pode morar com os Weasley.

Eu não conseguia acreditar! Aquilo era tudo o que vim imaginado todos os dias em que estive aqui! Nunca pude pensar que ela iria fazer isso por mim. A ideia era que eu fosse enviada a um orfanato. Claro que eu não estava reclamando, só que aquilo era surreal para mim. Quando me dei conta, já estava abraçando Mione.

– Quero! - Eu não podia deixar de ser estranha, mas era um estranho bom.

– Então vamos. - ela sorriu e eu arrumei minhas poucas roupas enquanto ela organizava o meu quarto.

Eu parecia uma criança que descobriu que ia para a Disney. Não podia acreditar. Me acalmei e a curiosidade me tomou enquanto ela assinava os últimos papéis do hospital e saíamos dali.

– Você tem filhos?

– Tenho. Hugo tem treze anos e Rose tem dezesseis. Vai se dar muito bem com ela, mas avise se ela estiver perguntando coisas demais. Essa garota é muito curiosa e as vezes pode acabar sendo um pouco intrometida. Você logo irá conhecer os Potter, que são da família. Você já conheceu James e também irá conhecer a Lily e o Alvo. Alvo tem quinze e Lily tem a idade do Hugo. Se der tudo certo, você irá estudar em Hogwarts com Rose e James. Se quiser, claro.

– Espera aí. - interrompi. - A senhora está me dizendo que eu posso ir para Hogwarts e ainda estudar com gente da minha idade?

Meu coração batia a mil e era tão alto que eu não sabia se Hermione estava escutando ou não.

Finalmente, entramos em um beco e aparatamos na casa dos Weasley.

Ela abriu a porta e eu não pude deixar de pensar se eles gostariam de mim. Afinal, eu era uma garota totalmente desconhecida que apareceu dentro de Hogwarts, entrou em coma e logo em seguida acordou sem memórias. Eu poderia por todos eles em perigo, se o alguém que estava me perseguindo ainda me quisesse de volta.

Pus essas ideias longe, pois assim que entrei, fiquei encantada com aquela casa. Podia observa-la o dia inteiro se não fosse pela família de ruivos que estava sentada no sofá. Vários pares de olhos me encararam e em seguida todos se levantaram para me cumprimentar. Primeiramente foi Rony Weasley, que me deu um aperto de mãos meio desconfortável, em seguida foi Hugo, que repetiu o gesto de seu pai; mas logo em seguida recebi um abraço caloroso de uma garota da minha altura, que supus ser Rose.

– Seja bem vinda a família, ahn...

– Carter. - respondi.

– Seja bem vinda a família, Carter. - ela completou, amigável. Ela parecia ser uma garota muito sociável e divertida, o que me agradou, já que eu esperava por um "olá" educado e olhares me estranhando.

Assim que nos sentamos, senti um arrepio gelado: meu coração batia rapidamente e eu tive um pouco de dificuldade de respirar, mas continuei com o rosto indiferente para os ruivos.

Se concentre, Carter, estão falando com você.

– Então, você não deve ter gostado muito do St. Mungos, não é? - Rony falou, como se estivesse me perguntando como foi a escola. - Odeio aquele lugar. A fila de espera é enorme e eles sempre te olham como se você fosse um monte de...

– Sem palavrões, as crianças estão aqui, Ron! - Ralhou Mione.

– Não somos crianças, mãe! - Rose revirou os olhos.

– Tanto faz - Ron fez um gesto de indiferença com a mão e Hugo fez uma carranca. - Eu soube que eles não te deixam comer com garfos nem facas por lá. Que absurdo! Eles deveriam por as facas no...

– Ron!

– Verdade, e era por isso que eu amava tomar sorvete. Muito mais fácil e prático. - afirmei, tentando descontrair o clima.

Rose fez menção de responder, porém a porta dos Weasley se abriu com um estrondo e de lá entraram várias pessoas de uma vez.

– Chegamos!

– Finalmente! - exclamou Ron -, Quanto tempo vocês demoram para aparatar, pelas calças de Merlin!

– Desculpe Ron, é porque teve gente aqui que resolveu se arrumar demais. - falou aquele que presumi ser Harry Potter, observando James. O moreno me encarava e nem pareceu ter percebido o que seu pai havia falado, e logo eu comecei a sentir minhas bochechas esquentarem.

Depois de uma chuva de cumprimentos e saudações para mim, todos nos sentamos em um meio círculo em volta da TV. Lily e Hugo correram para o jardim da Toca e Alvo se trancou no quarto de visitas, e finalmente todos ficaram sérios. Harry continuou, me observando.

– Agora que as crianças saíram, precisamos conversar com você, Carter. - Ele estava sério. Seus olhos verdes demonstravam um pouco de pena e ele parecia decidir como deveria contar a notícia.

– O quê? - perguntei. Rose se sentou ao meu lado e segurou minha mão bem forte, como se eu fosse cair se soltasse. Claro, eu estava sentada, mas tanto faz. James estava do meu outro lado, calmo, me observando.

Ninguém quis continuar a conversa.

– O que está acontecendo aqui? - perguntei.

O Sr. Potter pigarreou:

– Confirmaram a alguns dias que você foi realmente sequestrada e provavelmente o seu sequestrador está procurando por você. - Harry falou.