Silver Knight escrita por Bellye


Capítulo 1
A Mulher dos olhos escarlate


Notas iniciais do capítulo

E aí, galerinha? Preparados para mais uma aventura? (parei)Tentarei postar toda semana, mas é claro que podem ter imprevistos, então...Tenham uma boa leitura! ♥



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–Kate-

Era um dia chuvoso. Estava na escola, encolhida em uma pequena maca na enfermaria, coberta por um lençol fino que achei. Mas não estava lá por estar passando mal, e sim por não querer realmente assistir aula. Estava também apenas cansada e com frio. Pensava no quanto que a escola precisava mudar o uniforme de inverno, aquele já não era tão eficiente.
Observava com atenção a neve que caía graciosamente lá fora, e que aos poucos deixava tudo mais bonito, usando apenas o branco.
Ah, o branco...
Entre todas as cores, o branco é o que mais me chamava atenção.
Não sabia ao certo o porquê dela sempre me atrair, mas meu amor por ela era grande.
Em pouco tempo me perdi em pensamentos. Estava tão caída neles que quando senti uma mão quente em um de meus ombros, dei um grande pulo de susto. Olhei para trás lentamente e sorri ao reconhecer, era Jack.
— Oi. – cumprimentou ele com um sorriso enquanto sentava-se ao meu lado – Os professores estão preocupados, disse que ia beber água e sumiu. – Sorriu novamente ele, talvez feliz por ter finalmente me achado.

Uma dos efeitos mais bonitos que o branco poderiam dar também era o belo sorriso de Jack. Grandes, alinhados e brancos. Contagiantes. Sempre foi lindo.

Ele arqueou as sobrancelhas ao perceber que o olhava, mas claramente meus pensamentos estavam em outro lugar.

—... Está tudo bem...?

— Sim. — respondi baixinho.
Ele me encarava, não parecia satisfeito com a resposta.
— Estava tudo bem mesmo? Quer que eu chame a Sra. Meire?
— Não, não precisa. – Dei-lhe um sorriso amarelo – Minha mãe ficaria apenas mais preocupada e correria o risco de perder o emprego de novo por minha causa se saísse de lá agora. — Desviei o olhar, puxando levemente o lençol frágil na altura do meu nariz levemente vermelho, causado pelo meu permanente resfriado.
Conhecia Jack desde pequena. Sempre foi meu amigo e esteve disposto a ajudar sempre que precisei. Conhecia tudo sobre mim, meu amor por cores, arte e livros, meus devaneios estranhos e coisas que nem eu mesma entendia. No meu aniversário de doze anos, ele me deu três livros de autores que amo, identifico-me com eles, e foi aí que comecei a reconhecer sua amizade e seu afeto por mim. E bem, ele sempre foi super protetor.
— Kate, você está muito quente e pálida. Tem certeza que não quer ir embora? – Ele me olhava preocupado enquanto colocava as costas da mão em minha testa – Eu posso te ajudar a sair e esperar que pegue um ônibus pra casa.
Eu nem percebi quando Jack colocara um termômetro em mim.
— Tem sorte de sempre se esconder na enfermaria, ninguém desconfiaria que estivesse aqui – Ele olhou em volta – Pior que aqui nunca tem ninguém. — Suspirou.

Eu já não o via com muita clareza, algo na minha cabeça girava e eu sentia-me a cada segundo pior. Havia mentido sobre meu estado, mas não sabia que do nada ficaria tão ruim a esse ponto. Ia desmaiar, eu conhecia essa sensação.
Jack atentou-se rapidamente e se assustou ao ver a situação que eu estava. Consegui apenas ver sua expressão desesperada antes de perder a consciência.
*****
Acordei com luzes fortes no rosto. Estava tonta e minha cabeça pesava.
Olhei em volta e percebi que estava sozinha deitada numa maca velha de hospital, com alguns aparelhos conectados ao corpo. Pela maca e as paredes brancas, provavelmente estava em um hospital... De novo.
Analisei minuciosamente o lugar, havia uma porta branca ao meu lado esquerdo e outra a minha frente, a da esquerda consegui ver que era de um banheiro por estar um pouco aberta, então a da frente certamente seria a de saída. Procurei analisar tudo, o chão, o teto, as paredes limpas de quadros e sujeira, mas não sabia ao certo se aquilo era minha imaginação ou se era real, coisas assim para mim já não eram novidade nenhuma, nem para minha mãe, nem para minha irmã, e a Jack.
Jack...
Ele não estava lá. Sentei-me a cama e o procurei. Ele e minha mãe sempre ficavam comigo quando algo do tipo ocorria. Estranhei, e foi aí que percebi o que estava acontecendo.
Uma mulher alta e magra entrava no meu quarto com uma bandeja contendo alguns remédios. Vestia roupas de enfermeira e além do belo rosto, corado e saudável, possuía longos cabelos louros ondulados presos em um coque alto e sorria de forma encantadora, mas eu não iria ousar tocar nos remédios do mesmo jeito.
— Olá. – Ela abriu um sorriso fofo e parou do lado esquerdo da minha maca – Está na hora de tomar seu antialérgico.
— Antialérgico? – Estranhei mais uma vez. Eu não era alérgica a nada, e minha mãe nunca permitiu que me dessem remédios, por que os tomaria?, eu sempre tinha mais alucinações quando isso acontecia.
Infelizmente descobrimos isso quando tinha treze anos. Deram-me uma simples aspirina quando tropecei da escada do colégio e machuquei minhas pernas. Algo tão simples... Que quase ocasionou na minha morte. Voltei das alucinações cheias de hematomas da minha ‘’briga imaginária’’. Krakens haviam beliscado meu braço e algumas partes do meu corpo quase foram arrancadas. Quando voltei e contei tudo que aconteceu, concluíram que os simples hematomas que restaram, eram apenas porque, no meio de toda a confusão, eu me bati nos móveis, a fim de livrar-me dos possíveis ‘’krakens’’ flutuantes no ar. Mas eu sabia que não era isso.
Estreitei os olhos por um momento e pude ver um símbolo pequeno em vermelho no avental da suposta enfermeira. Era um quadrado formado por quatro outros quadrados agrupados. Aquilo me era familiar, e por algum motivo me causou um desconforto inexplicável, tanto pelo remédio, quanto pelo símbolo vermelho. Foi aí que tive a certeza do que acontecia.
Aquilo não era real. Não era mais.
Depois do meu choque, percebi que a enfermeira espetava a agulha da seringa na borracha de um frasco escuro. A sala ficou escura e agi automaticamente:meu corpo arrepiou-se e senti que deveria sair de lá imediatamente, como um instinto natural. Foram questões de pouquíssimos segundos para que eu já tivesse tirado os aparelhinhos da minha pele e corrido até fora do quarto.
Corri muito, com medo de que tivesse algo ou alguém atrás de mim. Até que me vi obrigada a parar, minhas pernas doíam e o hospital parecia não ter fim, ou estava dando voltas, minha cabeça estava confusa e não conseguia enxergar direito. Quando olhei para trás, para minha surpresa, percebi que a enfermeira não me seguira, e por sorte, nada de monstros.
Mas o hospital não era mais claro, parecia noite, e nos vértices, era notável o acúmulo de teias de aranhas. Olhei para o chão e estava sujo, muito sujo, e podia jurar que via bichinhos pequenos e nojentos que jamais vira saindo do chão, e se apegando lentamente aos meus pés descalços. Quase gritei, mas acabei tapando a boca no último momento. Andei rapidamente enquanto desviava de algumas áreas com infestação daquelas... Coisinhas. Até o mais forte das pessoas vomitariam se visse aquilo tocar em sua pele.
Quando ergui meu olhar, senti um peso horrível sob a cabeça e tudo parecia girar, uma hora estava pisando no teto, e via pessoas sem face andando acima de mim, ou talvez fosse o contrário. Senti vários calafrios ao ver uma pessoa em específico, a alguns metros de mim. O mais aterrorizante era a falta de rosto, identificação, eram coisas que sempre ocorriam, e além de tudo, possuíam a mesma marca que vi na enfermeira segundos atrás, mas um pouco acima do que era para ser uma bochecha.
Minha voz falhou e já não conseguia gritar. Corri na direção contrária e dei de encontro com a enfermeira, antes bonita e amigável, agora completamente diferente. Olheiras fundas pendiam embaixo de seus olhos, que eram vermelhos, extremamente assustadores e brilhantes. Engoli seco e minhas pernas vacilaram. Estava desesperada, mas... Como fugir? Era a minha mente me causando dor... Sem nenhuma explicação. Era simples: eu deveria fugir, até que minha cabeça se cansasse e parasse, mas enquanto isso, eu devia lidar com as limitações do meu corpo, cujas dores eram... reais demais.
Obediente, foi o que fiz, corri o máximo que pude e instruía mentalmente para que minhas pernas não me abandonassem agora. Ouvia passos rápidos me seguindo e vozes sussurrando ao meu redor, o que me deixava mais perturbada. Havia passado por essa situação muitas vezes, mas era definitivamente impossível se acostumar a isso.
Foi aí que o encontrei. Meus olhos se iluminaram e dei o maior sorriso que consegui.
Era Jack, diferentemente dos que me seguiam, ele possuía rosto e felizmente, nenhuma marca. Parecia não estar muito assustado com aquilo, mas algo o chamava atenção na parede, até que ele me encontrou, e a esse ponto, eu já estava grudada nele, e não ousava soltá-lo de jeito nenhum.
— Ah, Kate! – Ele sorriu e me abraçou com força – Que susto, você sumiu de novo... Isso deixa todo mundo preocupado, sabia? Eu vou começar a não deixar
você ir a lugar nenhum.
Tudo a minha volta desapareceu e voltou ao normal, como mágica.
Eu não tinha noção do quanto o estava esmagando no abraço até que disse:
— Ahn... Kate, isso está me machucando. – Ele sorriu e tirou delicadamente meus braços de sua cintura.
Tudo havia desaparecido, mas ainda sim meu corpo doía, eu quase não conseguia andar, além de minha garganta doer e minha voz estar falha. Precisei da ajuda de Jack para andar até onde mamãe e Raquel – minha irmã – estavam. Agora o hospital estava bem claro e limpo, completamente diferente de alguns instantes atrás.

Olhei para trás pelos ombros, hesitando, porém queria confirmar de que tudo havia realmente acabado, e quando tudo atrás de mim não passava de um corredor normal de hospital, um alívio gigante tomou conta de mim e um "ufa" foi inevitável.

Quando encontrei minha mãe, depois de lotada de beijos e perguntas como ‘’Onde estava?’’, ‘’Por que sumiu do nada?’’, fui informada que havia passado três dias inconscientes, e que tinha sumido pouco tempo depois de acordar, quando fui à lanchonete do hospital comer algo, eles me procuraram por todo lugar, e Jack acabou me encontrando. Fiquei sem entender muito, para mim haviam sido apenas poucos segundos.
Antes de voltarmos para casa, pedi, ou a palavra certa seria implorar, se Jack não tivesse aceitado tão fácil para que fosse embora comigo. Estava perturbada e o via como meu herói de tudo aquilo, e não o deixei sair de perto nem por um único instante.
Nem percebi quando chegamos e minha irmã começou a nos dar apelidos como: ‘’Os Inseparáveis’’ ou ‘’Dupla Salvação’’. Ela tinha 24 anos, mas era tão infantil quanto uma criança de 3.

Em meu estado normal, eu ficaria irritada e começaria a discutir, mas não tinha forças. Jack teve uma reação diferente: ria e concordava com ela, dava até ideias para outros, o que fez com que minha irmã ficasse quieta e desistisse em pouco tempo.
Estava sentada no sofá, lendo pela quinta vez um dos livros que ganhei de Jack há três anos. Eram viciantes, não me cansava de ler. Minha mãe não ousava me atrapalhar, ficava apenas me observando de vez em quando enquanto preparava a comida do jantar na cozinha.
Ouvi quando Jack voltou e sentou-se ao meu lado no sofá, ele estava mais cheiroso e coçava os olhos de forma fofa. Com certeza tinha tomado um banho.
– Uh? – Ele observou o livro e sorriu – De novo?
– Uhum.
– Está se sentindo melhor?
Ia responder, mas algo em sua mão me chamou mais atenção: um cordão preto com uma pedra branca amarrada na ponta na mão de Jack.
– O que é isso? – Eu o olhei e fechei o livro, interessada.
– Ah, isso? Um cordão – ele o mostrou a mim – É pra você, minha mãe acreditava que peças artesanais possuíam poder de proteção. – Ele sorriu e me entregou.
– Que lindo. – Eu o apanhei e o observei, percebi que a pedra brilhava levemente dentro quando entrava em contato com minhas mãos – É muito linda mesmo, obrigada.
Ele me observava e parecia agitado para que o colocasse logo. Coloquei em volta do meu pescoço e a fiquei admirando quando ele interrompeu:
– Ponha por dentro da blusa. – Instruiu naturalmente.
Eu o coloquei sem reclamar ou perguntar o porquê. Ele sorriu, satisfeito.
– Então... A janta está pronta. – Mamãe disse da cozinha para nós e foi até o início do corredor longo da casa. – Venha também, Raquel!
Jack levantou-se rapidamente e disse meio sem jeito:
– Perdoe-me por ter que sair agora, mas eu tenho que ir, Sra. Meire.
Ele parecia levemente nervoso e inquieto, parecia que deveria ir mesmo logo.
Intervi:
– Mas não ia ficar para me fazer companhia...? – disse em um tom decepcionado.
Ele me olhou e consegui ler perfeitamente em seu olhar: desculpe.
–Eh?! – Mamãe colocou as mãos na cintura e fez uma cara triste – Eu fiz o que você gosta Jack, isso não é justo.
Era óbvio que ela estava brincando com o jeito que dizia. Jack já fazia parte da família e não era raro quando aparecia em casa, algumas vezes sem avisar, mas nunca foi despejado por isso, jamais seria. Mas seu tom fez com que ele ficasse sem graça e sem o que dizer. Sinceramente? Eu estava surpresa com suas expressões, ele não era assim.
Ele se desculpou mais uma vez, a agradeceu por deixá-lo tomar um banho, provavelmente para tirar o cheiro de hospital. Jack saiu rapidamente quando mamãe desistiu de fazê-lo ficar.
Eu olhava tudo atentamente, eu estava com medo de novo. Normalmente ficar longe de Jack por pouco tempo nunca foi um problema. Mas depois que percebi que ele conseguira fazer com que aquelas coisas desaparecessem como mágica, ficar longe dele estava fora de questão e percebi que me sentia muito insegura quando não estava perto.
Fui até minha mãe e Raquel. Não fiquei longe delas nem por um instante sequer. Procurei o conforto que criara com Jack, por mais que soubesse que elas fossem lutar ferozmente para me ajudar em caso de perigo (como eu também faria por elas), não era a mesma coisa, e isso não era nada bom.
Nesse dia dormi no quarto da minha mãe, percebi no escuro que a pedra branca do colar brilhava levemente, como um pisca-alerta fraquinho, lá para me livrar levemente de toda a escuridão do quarto.
Eu não sabia ao certo a origem do brilho, mas segurei a pedra brilhante com força e me confortei no meio de tanta turbulência em minha cabeça. Fechei por um instante meus olhos e nem percebi quando adormeci.
*****
Quando acordei com o Sol levemente no rosto, virei-me para o outro lado e abri lentamente os olhos, dei-me de cara com algo, estreitei os olhos e reconheci que era ele, Jack! Estava sentado no chão, abraçando as pernas, enquanto dormia com a cabeça em cima dos joelhos, suas roupas estavam diferentes e rasgadas nas partes do braço, sangrando em um símbolo parecido com o formato da minha pedra amarrada ao colar. O que era isso? Por que sangue? Desde quando?

Tudo passou pela minha cabeça, e tudo o que consegui, de forma inútil, fazer, foi encará-lo por um longo tempo, boquiaberta e com os olhos arregalados.

Eu não conseguia acreditar no que via.


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Notas finais do capítulo

Críticas, elogios, declarações de amor? hahaDeixe o seu coment, isso me inspira a escrever (e me deixa feliz também huaha) ♥
(E sorry, pessoal, dessa vez não conseguir colocar nenhum desenho, mas vou tentar sempre anexá-las junto).
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"...Tudo ainda teria de ser desvendado.E nós que faríamos isso. Seríamos os responsáveis pela vida ou morte da Terra.Estava tudo pré-destinado há milênios... [...]...E eu só queria uma vida normal."



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