P.O.V. Henry

Aqui estou eu, deitado em uma das camas da quinta coorte no CJ. Me lembro que haviamos falado com a Diretoria, que havia alertado para ficarmos atentos o tempo inteiro. De algum modo, Octavian descobriu uma falha nas proteções do CHB. No CJ ainda não (mas não por falta de tentar). Então, comunicamos Zoé, a pretora, que pediu para que ficassemos uns dias para tentarmos fortalecer as barreiras, para que os gregos possam ficar aqui até a situação acalmar.

Aqui, entre nós, acho que não vão. Pelo que Annie disse, Octavian é muito vingativo. Acho que ele não vai parar até reduzir o CHB a cinzas.

Falando na Annie, ela tem estado bem ocupada esses dias. Comanda tropas para patrulhar as fronteiras, corre de um lado para o outro com papéis na mão. Me pergunto o que ela está planejando.

Sou tirado de meus devaneios quando uma Nicole, ofegante me derruba da cama (delicada ela, não?).

–Henry! A Annie...Octavian...invasão...

Nicole se joga no chão, cansada.

–Cara, fale coisa com coisa.

–A Annie e eu estávamos fazendo patrulha na Colina dos Templos quando Octavian e uma tropa sua conseguiram invadir o acapamento. Annie falou para que eu fugisse para chamar ajuda. Cara, vai lá e afogue alguns deles pelo amor dos deuses!

–Ok, deite na cama e descanse, eu já volto.

Saio em disparada, rumo à Colina dos Templos. De longe, posso ver raios azuis derrubando uns garotos. Isso tem a cara e a assinatura da Annie. Olho para o Pequeno Tibre, ergo o braço e litros de água respondem ao meu comando.

–ANNIE!-chamo.

Ela me olha, erguendo as sobrancelhas. Faço um sinal para ela sair dali e ela entende. Atira em um deles e atropela o cara (mais uma delicada), correndo para longe. Jogo a água neles. Alguns saem correndo, mas outros não fogem a tempo.

Procuro Annie e vejo ela lutando com...espera...OCTAVIAN!

Ela luta bem, mas ele tem anos a mais de prática e é melhor. Ele derruba Annie e levanta a espada, pronto para dar um fim naquilo. Desesperado, convoco mais alguns litros de água e jogo em Octavian. Mas, como nada pode ir perfeito, acabo acertando a Annie também.

Annie se levanta, ensopada, e caminha até mim. Seus olhos castanhos brilham de fúria. Agora eu apanho.

–Por que fez aquilo?!

–Ele ia te matar!

–Claro que não, eu sabia o que estava fazendo!

Vejo uma pistola, ainda menor que aquelas que Annie normalmente usa, em uma de suas mãos. Realmente, ela sabia o que fazer. Quando Octavian fosse atacar, ela atiraria nele.

–Como eu ia saber?!

–Não devia ter se intrometido!

–Eu estava tentando ajudar!

–Muito ajuda quem não atrapalha!

–Annie, qual é o seu problema?!

–Meu problema?! Foi você que enfiou o nariz onde não foi chamado!

–Quantas vezes vou ter que dizer que estava tentando te ajudar?!

–Argh, você é um idiota!

–Eu sou idiota?! Eu acabei de te salvar e você ainda briga comigo!

–Henry, eu não precisava ser salva!

–Não é o que parecia!

–Nem tudo o que parece realmente é! Já passou pela sua cabeça que não preciso de sua ajuda?!

–Não precisa ou não quer?!

–Não quero!

–Onde está querendo chegar?

–Podemos ser aliados enquanto lutamos contra Octavian e seus capangas. Mas, escute bem, Henry Sea, se nos encontrarmos de novo, em uma ocasião que esteja fora dessa guerra, seremos inimigos no campo de batalha.

E, antes de sair pisando duro, ela pega uma lança e crava-a no pedaço de terra que é o interior do Templo de Belona. Não sou o que se chama de gênio, mas entendo o que aquele gesto significa. Ela declarou guerra. Guerra contra mim. E essa é uma guerra que não posso vencer.