League of Legends: As Crônicas de Valoran 2ª Temp. escrita por Christoph King


Capítulo 15
Capítulo 14: Noxus


Notas iniciais do capítulo

A família Hastur retorna a Noxus com a Ordem Cinza e uma proposta de paz; Gregori Hastur conversa com Swain; Katarina investiga Vladimir e tem uma surpresa.



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Capítulo 14:

Noxus

Swain desceu às masmorras com uma lamparina em mãos. Ela era quente, queimando num ambiente relativamente frio. Frio e sujo, com teias de aranha por todas as partes. O local era escuro, tão escuro quanto as trevas podiam ser. Descia as escadas lentamente; sua perna ainda doía. Sentia que aquele era seu fardo que deveria carregar para sempre.

Há um dia atrás havia dado um mau jeito na perna e ela doía até o presente momento. Flechas, lanças, lasers de monstros roxos, tudo lhe feria à perna, sempre a mesma. Isso era irritante, mas ele deveria se acostumar com aquilo.

Às suas costas LeBlanc parecia insatisfeita com a demora dele.

– Eu disse que deveria ir na frente, Jericho – ela parecia fingir preocupação pela forma como ele gemia quando mancava escada abaixo, mas no fundo só estava impaciente, mesmo. – Vamos, me dê essa lamparina!

Ele bufou.

– De forma alguma. Que líder eu seria se nem ao menos conseguisse descer uma escada sem morrer antes? – exagerou ele.

Ela revirou os olhos.

– Não vai querer demonstrar fraqueza perante ele, não é? Eu recobrei a consciência dele, retirei parte do trauma, pois ele estava irreconhecível – ela cerrou os dentes. – A outra o torturou demais. Seria impossível dialogar com ele naquele estado.

Swain deu uma risada fraca.

– Me pergunto qual o limite de seus poderes – os dois chegaram a um portão de ferro. Swain girou uma chave na grade e ela se abriu. Adentraram mais afundo na masmorra. – Eu pensava que você era só uma ilusionista. Vejo que poderia ser uma deusa.

Ela sorriu maliciosamente.

– Não é pra tanto, meu querido. Se tem uma coisa que aprendi, é que em Valoran, imortais como eu não tem lugar na liderança. Somos peões, ou somos conspiradores. Todos nós.

Swain estranhou a forma como ela disse nós. Do jeito que havia dito, deveriam haver outros seres como ela por aí: conspiradores, imortais, demônios. Seres de alto poder que viviam para manter o mundo nos eixos. Talvez.

Caminharam de cela em cela, Jericho verificando cada uma e procurando Jarvan IV. Quando o achou, sorriu.

O príncipe estava sentado de costas à parede. Ele vestia-se com uma camiseta branca surrada e shorts. Seus longos cabelos castanhos estavam maiores, desgrenhados e sujos, assim como sua barba, que havia crescido desenfreadamente. Ele olhou para Swain com uma expressão desdenhosa.

– O que quer aqui, corvo? – cuspiu para a frente. – Pensei que haviam me torturado o suficiente.

Swain sorriu.

– Acho que deveria tratar-me com mais respeito. No reino de papai você é príncipe, aqui você é mero lixo.

Jarvan não esboçou qualquer tipo de reação.

Swain pareceu preocupado. Olhou para LeBlanc.

– Você contou para ele?

– Não – ela respondeu rapidamente.

– Mas eu contei – da entrada da cela saiu outra LeBlanc, o clone, a falsa, vestida de uma versão roxa do manto amarelo da verdadeira, seguida de dois guardas. – Eu quis que a tortura fosse maior e, acredite, foi. Ele chorou feito um bebê.

Swain olhou de volta para Jarvan, que desviou o olhar.

– Então, já posso te chamar de maninho? – Swain inclinou-se para a cela

Jarvan avançou para a grade, cuspindo no rosto de Swain com uma expressão de ódio e rangendo os dentes.

– JAMAIS OUSE CHAMAR-ME DE IRMÃO!!

Swain se colocou ereto, limpando o rosto.

– Deveria ter mais modos – apertou as mãos na bengala. – Diferente de mim, você não foi criado na rua.

Jarvan ainda estava agarrado às grades, os dentes rangidos e olhos injetados de sangue. Swain pôde perceber o quão deteriorado ele estava, pior que um morador de rua, mais sujo que um rato. Não era nem metade do que era há alguns meses em Kalamandra. Um príncipe dourado, cobiçado por todas as mulheres e um tremendo garanhão. O cheiro dele embrulhou o estômago de Swain, que recuou.

A clone de LeBlanc fez uma cara feia.

– Este príncipe fede a merda. Não mereço isso, vou voltar – ela caminhou por trás de LeBlanc e desapareceu da visão de Swain, como se nem estivesse ali antes. Os soldados não esboçaram reação.

LeBlanc revirou os olhos.

– Jericho, precisamos colocar o plano em prática logo.

– Espere um instante...

– Que plano?! – perguntou Jarvan. – É algum tipo de conspiração contra meu pai? Como ousam? Irão pagar, noxianos imundos!

Jericho riu.

– Será que não vê, Jarvan? Eu poderia matá-lo daqui. Infelizmente, devo mantê-lo vivo para uma causa maior. Eu poderia ficar aqui e te contar meu plano infalível como um clichê literário, mas prefiro que você contemple sua ruína – foi até a cela e a abriu com uma chave. Jarvan recuou e Swain fez um gesto com as mãos. – Guardas.

Os guardas adentraram à cela, enquanto Jarvan tentava se esquivar.

– Não! – gritou ele, enquanto era imobilizado e carregado pelos guardas. – Não, não, nã... – e levou um soco capaz de deixá-lo inconsciente.

[...]

Afora do Castelo Negro três pessoas podiam ser vistas, atrás delas, um exército de outras, todas encapuzadas de negro perante à chuva que caía sob Noxus. Somente os três à frente tinham um guarda-chuva, já que a pessoa do meio era uma criança.

Um casal, uma filha. Gregori Hastur, o Feiticeiro Cinzento, Amoline Hastur, a Bruxa da Sombra, e Annie Hastur, a filha dos dois. Gregori vestia uma espécie de terno cinza, seus cabelos eram negros lambidos para trás e ele usava um monóculo. Amoline vestia um vestido negro com partes cinzas e seus cabelos eram ruivos e cacheados. Ela usava um chapéu escuro e seus olhos, assim como os de seu marido e de sua filha, eram verdes.

Já Annie era pequena, deveria ter apenas dez anos. Ela usava um vestido curto com um capuz emplumado. Ela tinha cabelos ruivos curtos e um olhar sombrio demais para uma criança. Ela tinha um urso de pelúcia em uma mão, e segurava a mão da mãe em outra. O pai segurava o guarda-chuva.

O portão do castelo se abriu, revelando Darius e mais alguns guardas. Ele fez uma cara feia.

– Decidiram voltar, bastardos cinzentos? – ele perguntou ofensivamente.

Gregori sorriu.

– Quando nós fomos embora, você ainda era um garoto, Darius. Me sinto agraciado em poder vê-lo em tão alto cargo no Alto Comando – ele semicerrou os olhos, que brilharam. – Mas anseio que não se coloque em nosso caminho. Apenas chame Jericho, pois almejamos dialogar com ele.

Darius riu.

– Eu vou, sim. E não é por medo de você ou do seu exército de magos, mas por que tenho nojo dessa sua forma engomada de falar – deu as costas e entrou de volta ao castelo.

Annie puxou a manga do pai, que se inclinou para ela.

– O que há, querida?

Ela era séria, até demais para uma criança.

– Papai, posso fazê-lo queimar? Ele traz perigo! Não viu o machado dele?!

Gregori riu.

– Ah, querida. Não tema estes noxianos imundos.

Amoline suspirou.

– Espero que Jericho Swain aceite nossa proposta, querido – ela apertou a mão da filha, sentindo o calor que ela emitia. Noxus estava frio, frio demais. O inverno havia chegado e trazido uma frente fria freljordiana. O clima estava diferente desde que os Hastur haviam deixado a cidade-estado. – Não tenha medo, Annie.

– Não estou com medo, mamãe – retrucou Annie. – Estou impaciente.

[...]

De todos os magos presentes, só os Hastur adentraram ao castelo. A família se assentou num sofá estofado, bonito e confortável da sala de visitas de Swain. A sala era bonita, cheia de porcelanas ionianas, quadros por todos os lados que mostravam os antigos governantes – ao centro o de Jericho – e outros tipos de decoração.

À frente dos Hastur se assentava LeBlanc, de pernas cruzadas, observando-os com um olhar predatório.

– Vocês tiveram uma filha – ela comentou. – Qual o nome dela?

Gregori a fuzilou com os olhos.

– Prefiro que não olhe para nossa filha com esse olhar serpentino, Emília.

– Você não deveria nem nos dirigir à palavra depois do que nos fez – continuou Amoline. – Viemos para conversar com Swain, não com você, Falsa!

LeBlanc deu de ombros, sorridente.

– Tanto faz. Pouco me importa a opinião de vocês, seus ridículos.

Annie fez uma careta.

– Posso fazê-la queimar, papai?

Gregori hesitou, mas a impediu.

– Não, filha. Ela não merece uma demonstração de seus poderes.

LeBlanc riu.

– Poderes? É uma garota de dez anos, Gregori. Francamente acha que ela poderia me derrubar?

– Sem qualquer sombra de dúvidas!

A porta da sala se abriu fortemente, fazendo um estrondo. Swain adentrou com os braços para trás do corpo, Darius e Draven tendo aberto a porta. Ele usava a armadura verde e preta, chamada de Tirana, com até mesmo penas em algumas partes.

Beatrice o acompanhava, empoleirada em sua ombreira.

Swain fez uma reverência.

– É bom revê-los, Hastur.

– Dizemos o mesmo, Jericho – respondeu Amoline. – Boram teria ficado orgulhoso de vê-lo neste posto. Ele sempre falava da preferência de você no poder a qualquer um dos filhos dele. Bom, isso antes de irmos contra a forma dele de governar.

Jericho se sentou ao lado de Emília.

– Não quero ouvir bajulações de vocês, só quero que vão ao ponto.

Annie olhou para trás; Draven lhe fez uma careta e ela devolveu com uma expressão desdenhosa e sombria que o fez tremer na base. Ele olhou para Darius, que estava parado, em guarda.

– O fato, Jericho – começou Gregori a falar –, é que Boram foi um líder fraco. Ele abusou demais da magia e causou grandes males a Runeterra. Ele liderou nas Guerras Rúnicas e nós, a Ordem Cinza, estivemos do lado dele em todos os momentos para impedir que ele se corrompesse. Meu pai foi um dos que o auxiliou após o caso Sion.

LeBlanc arregalou os olhos e se projetou pouco para a frente. Ela notou a confusão nos olhos de Swain e voltou-se irada para os Hastur.

– Nós não ligamos para o que vocês têm a dizer. Boram teve um ótimo motivo para querer exilá-los!

– Mas nós fomos embora antes – concluiu Gregori. – Passamos dez anos esperando que o reinado de Boram terminasse, com medo de chegar perto de nossa cidade natal. Agora, Jericho, queremos a sua permissão para voltarmos para cá, nosso reino.

Jericho Swain ficou com uma cara séria. Ele olhou para LeBlanc e depois para eles.

– De fato, Hastur, tê-los de volta será ótimo. Os magos fizeram falta em Noxus, eu me lembro. E vocês podem me auxiliar no meu plano. Quero destruir Demacia de uma vez por todas, sem hesitar. Vocês poderão ser minha arma final, caso aceitarem se aliarem a mim.

LeBlanc pareceu desesperada.

– Mas e se eles irem contra você, como foram com Boram?!

Gregori a olhou com desdém.

– Enojo o quanto você pode ser ardilosa, Emília. Nós fomos contra Boram por que sabemos do golpe que ele queria dar em Demacia com você, Jericho – e apontou para ele. – Emília sabe disso, todos sabemos. Nós fomos contra, mas agora voltamos atrás.

Jericho cerrou os punhos.

– Um golpe... como assim um golpe?

Amoline se inclinou à frente.

– Nós ficamos sabendo sobre sua ligação com o rei, Jericho. Por isso voltamos – ela respirou fundo. – Pensávamos que era mentira de Boram e que ele estava enlouquecendo...

LeBlanc cruzou as pernas e os braços, irritada.

Swain pareceu pensar na proposta dos Hastur.

– De fato é interessante tudo isso. Vou pensar no caso de vocês, invocar uma reunião do conselho para averiguar o destino da sua família e de seus aliados – levantou-se junto de Gregori e os dois apertaram as mãos, sorrindo.

LeBlanc encarou Amoline, que sorria para ela de forma sarcástica. Ela também estendeu a mão para um aperto, mas Emília cuspiu na mão e a ofereceu em seguida. Amoline recuou.

Gregori abraçou a esposa de lado e a filha agarrou-se a sua perna.

– Pense com carinho sob nossa futura situação, Lorde Swain. Um legítimo estrategista não recusa boas alianças.

Uma fumaça negra saiu do vestido de Amoline, envolvendo os três. Logo a fumaça se tornou densa como uma sombra viva, tão intensa quanto. Como um véu ela se enrolou; logo os Hastur não estavam mais ali.

[...]

Jericho se sentou à frente da mesa do conselho, pronto para iniciar a seção. Na mesa estavam assentados Marcus, Elise, Petal, Thorn e Emília. Ele franziu a testa com dois locais vazios, sabendo logo quem não estava. Katarina ele esperava uma falta após o que ocorreu no teatro, mas Vladimir? De fato, ele estava agindo estranho nos últimos dias.

Viu os dois no teatro juntos, o que talvez explicasse a falta deles. Sentiu uma pontada de raiva de pensar naquilo, naquele momento. Não imaginava que Katarina pudesse se submeter aos encantos daquele homem horroroso. Não aceitava isso. Por mais que fosse da Rosa Negra de Boram, ele parecia tão jovem e tão inconsequente. Talvez isso fosse parte do charme, quem sabe.

Marcus parecia observar a expressão furiosa de Jericho para a porta.

– Esperando a Du Couteau? Ela é engraçada, mas muito violenta. Não sei como vocês a aguentam. Eu lembro do avô dela. Ele era um idiota.

Jericho olhou para o avô com uma expressão mais irritada ainda.

– Por mais que eu queria muito entender melhor essa história do avô da Kat, a Rosa Negra e a Ordem Cinza, eu quero muito mais terminar essa seção do conselho. Ajudaria não fazer comentários idiotas.

Marcus revirou os olhos.

LeBlanc estava calada, os olhos desafixados de Swain, como se tivesse algo a esconder. Ele a observou por alguns segundos, esperando para ver quando ela viraria o rosto. Ela decidiu que não o faria.

– E então, Elise – perguntou para quebrar o clima –, como tem sido a volta ao mundo dos vivos?

Elise era uma mulher culta e de poucas palavras. Seus cabelos estavam sempre presos e ela usava pouca maquiagem, muita roupa e parecia sempre estar séria. Ela gaguejou, parecendo um pouco temerosa.

– Bom... tenho recebido visitas de algumas aranhas desde que retornei. Mas não se preocupem.

Swain franziu a testa e, para a sorte de Emília, ele se concentrou em Elise.

– Eu li e descobri que este tempo que passaram como estátuas, somado à magia usada para salvá-los pode despertar... habilidades especiais. Sinto muito se a sua habilidade é uma espécie de feromônio para aranhas.

Elise fez uma cara emburrada.

Thorn Zyra olhava para as próprias mãos, séria. Swain estranhou a seriedade da garota.

– Eu tenho notado algumas mudanças em mim, também. Não sei explicar, são somente... mudanças.

– Ninguém perguntou, Thorn! – reclamou Petal. – Sou o único normal nesta espelunca?

Katarina riu.

– Se com normal quer dizer idiota – ela adentrou à sala do conselho chutando a porta e indo diretamente ao seu lugar, sentando-se desleixadamente. – Francamente você é o mais chato daqui, o que menos fala. Só fica parado nos julgando.

Jericho gesticulou para que ela parasse.

– Não temos tempo para discussões, Lady Du Couteau – a retrucou. – E falando na senhorita, por onde andou? Está cansada de saber sobre as normas de pontualidade?

Ela deu de ombros.

– Depois de ontem, no teatro, pensei que já tinha discutido contigo demais para uma semana. Mas decidi vir; quero saber o que tanto falam aí – ela tirou um jornal do cinto e atirou-o na mesa à frente de Swain. Ele pegou e começou a ler. – Jornaleiros de Noxus são rápidos. Já tem uma matéria sobre A Ordem Cinza que retornou e sobre um assassinato que ocorreu ontem. E adivinha só, a vítima teve o sangue totalmente drenado.

Enquanto lia Swain olhou rapidamente para ela e perguntou:

– E daí?

– E daí que olhe a matéria do assassinato, ora.

Ele revirou os olhos e continuou a ler.

– Humph – terminou em segundos. – Em três meses ocorreram sete assassinatos desse tipo, claro.

Katarina bufou.

– Não leu tudo? Tá escrito que as vítimas são mulheres jovens e bonitas. Inclusive eu vi uma ontem no teatro.

– Por acaso foi a última vítima?

Katarina assentiu.

– O nome dela era Annabelle Harkness. Era uma prostituta... assim como as outras. E todas ocorrem em períodos subsequentes de quinze dias.

– Onde conseguiu tanta informação, Du Couteau? – perguntou Petal.

Ela sorriu e deu de ombros.

– Sou uma mestra da investigação.

– De fato – concordou Swain –, no jornal não fala de nem metade do que disse. Me diga, você investigou tudo isso só durante a tarde de hoje?

Ela assentiu.

– Eu estava investigando, mas me lembrei do conselho. Eu queria falar com o Vladimir, já que eu o vi com a Annabelle antes dela morrer. Queria fazer umas perguntas, mas...

– Ele nem compareceu – completou Thorn a frase.

– É de fato suspeito – concordou Elise. – Vladimir voltou muito estranho desde o renascimento. Ele era mais vívido antes da petrificação. Ele voltou tão mal e pálido, parecia um morto.

Petal assentiu.

– O garoto parecia anêmico. Nós tentamos ajudá-lo mas ele não quis, disse que resolveria isso sozinho – olhou para Swain. – Ele ficou alguns dias trancado num quarto, aqueles dias que ele faltou ao conselho, grão-geral. Se lembra? Até que um dia ele voltou totalmente reavivado, parecendo outra pessoa.

LeBlanc lambeu os lábios.

– Mais atraente, eu diria – e os mordeu.

Katarina se levantou.

– Se quiser eu vou vê-lo, ele pode saber de alguma coisa, nem que seja o culpado pelo assassinato.

– Mas como ele poderia drenar todo aquele sangue? – perguntou Marcus.

LeBlanc pigarreou.

– Houveram casos semelhantes durante o recorrer dos anos em que vocês “estiveram fora” – ela tirou um jornal velho e surrado de dentro do decote. Todos observaram àquela cena, perplexos, todos com a mesma pergunta: como ela fazia aquilo? E mostrou o jornal, datado de vinte e cinco anos antes, com a manchete SURTO DE ASSASSINATOS SEGUIDOS DE DRENO DE SANGUE ASSUSTAM POPULAÇÃO NOXIANA. – Noxus é o circo de horrores de Valoran, eu comprovo pois já trabalhei em um. Mas até para nós, as aberrações circenses, esse tipo de coisa não é lá tão comum.

Elise fez uma expressão preocupada.

– Realmente, Katarina, vá vê-lo. Estamos preocupados com o que pode estar acontecendo com ele.

– De forma alguma – negou Swain, recebendo todos os olhares. – Nenhum membro sairá até resolvermos o mais importante: a aliança com os Hastur.

Todos pararam e começaram a pensar. Alguns entreolhares aconteciam de vez em quando, todos pensando numa resposta rápida, como se quisessem uma solução rápida. O foco foi voltado para Vladimir, logo os Hastur era um problema secundário.

– Mande um espião para dentro da Ordem Cinza – sugeriu Zyra. – Não acho que eles vão negar uma grande influência se unir a eles.

– Mas quem faria esse trabalho? – perguntou Elise.

Novamente o silêncio dominou enquanto eles pensavam numa solução, num nome, na verdade. Enquanto Katarina pensava, se viu revestida por todos os olhares. Logo ficou totalmente sem-graça.

– Hã... por que estão olhando pra mim?

Swain sorriu.

– Katarina, você é uma espiã nata. Precisamos de você. O seu avô era adepto à Ordem, talvez te aceitem por isso. Vá lá, se una a eles, após ver Vladimir, é claro, e nos informe das verdadeiras intenções deles.

Katarina bufou.

– Claro, lá vou eu, sozinha, fazer um trabalho por Noxus. Gostaria de receber mais por isso.

– Certamente receberá um aumento. E se quiser, Zyra pode ir com você.

Thorn Zyra sorriu.

Katarina revirou os olhos.

– Claro, pode vir.

[...]

Vladimir assentava-se em seus aposentos, num sofá vermelho e acolchoado numa sala imensa e repleta de pinturas e estátuas. Ao seu lado havia uma mulher seminua e um homem loiro nu, servindo de companhia. À sua frente, em uma espécie de prostíbulo improvisado, mulheres nuas dançavam enquanto outros homens apareciam e as dominavam.

Ver aquelas cenas o excitava, fazendo com que o sangue circulasse mais rápido em suas veias. Podia se ver as suas veias cintilando de leve em certos momentos. A mulher ao seu lado retirou a parte do roupão de Vlad que cobriu seu pênis, deixando-o exposto. Já ereto, ela o colocou na boca.

Em um nível elevado de êxtase, ele ergueu a cabeça, os olhos quase brancos e a boca aberta. O homem nu pegou em seu pescoço de forma suave, enquanto o beijava.

O sangue em Vladimir brilhava, seu corpo se tornando algo sobre-humano e poderoso. Após o beijo com o homem loiro, ele fez um movimento, causando um pequeno sangramento nasal nele. Em outras ocasiões aquilo seria mórbido, mas para eles, não; mais excitante foi.

Logo a mulher levantou-se e sentou em cima de seu órgão, sendo penetrada e fazendo movimentos de vem e vai. Depois de um tempo ela revezou com o homem loiro, que fez o mesmo, sentando-se em Vladimir e aproveitando o movimento.

Em um barulho estrondoso a porta foi arrombada e Katarina Du Couteau adentrou. Todos os amantes nus se assustaram e se cobriram, escondendo sua nudez e sua vergonha. Alguns até correram ao reconhece-la. Ela ainda para assustar, atirou algumas adagas, errando propositalmente, mas fazendo efeito e assustando-os.

– Opa, opa! – Vladimir se levantou e estendeu as mãos, pedindo que ela parasse.

– Belo pau – elogiou Katarina. – Mas eu pensava que as veias fossem verdes e não vermelhas. Isso é bizarro.

Vladimir cerrou os punhos e fechou o roupão. Foi até ela, percebendo uma acompanhante: uma garota também ruiva com cabelos lisos puxados para trás e vestida com uma armadura negra e verde noxiana, mas curta e leve.

– Thorn? O que faz aqui?

Thorn sorriu.

– Eu vou acompanhar a Katarina numa missão – e deu um pulinho; ele revirou os olhos. – E você, o que está fazendo? Isso é lícito?

Ele fez uma cara feia.

– Deveria ter ficado no castelo – e se virou para Katarina sorrindo. – E você, minha querida. Você sumiu ontem no teatro e eu decidi ir embora. Agora eu estava... bem... me divertindo...?

– Você estava se atracando com uma prostituta! – exclamou Katarina que olhou para o cara loiro que estava trepado em Vladimir há alguns segundos. Ele a olhava com um olhar raivoso. – Eu não sabia que você também gostava de homens.

– Meus gostos são peculiares, você não entenderia – ele balançou a cabeça. – Mas quanto à prostituta... – ele hesitou – ela... como você soube sobre ela?

– Eu vi vocês, mas vá logo ao ponto.

Vladimir cruzou os braços.

– Ela tinha outro programa. Disse que hoje faria para mim. Mas eu não encontrei aquela puta. Se a encontrar mande um beijo para ela.

– Ela está morta.

Vladimir fez uma expressão de surpresa, mas não tão surpreso assim. Como se já esperasse aquilo.

– Ela morreu? – perguntou ele. – Não me diga isso...

Katarina fez que sim.

– É, eu digo sim. E ela teve o sangue drenado, assim como outras seis pessoas num período de três meses – ele engoliu em seco enquanto ela falava. – E adivinha só quem está na ativa há três meses? Isso mesmo, você. Você e essas aberrações da Rosa Negra – virou-se para Thorn. – Nada pessoal, okay?

Ela assentiu.

– Okay... eu acho.

Vladimir virou as costas e voltou à poltrona, onde seus “brinquedinhos” estavam. Katarina e Thorn o seguiram.

– Então acha que eu sou o assassino? É sério? – virou-se para o cara loiro. – Donnie, por acaso eu já matei alguém?

Donnie sorriu maliciosamente, esgueirando-se na direção de Vlad. Ele ia de quatro, lentamente, como uma serpente dando o bote. Ergueu a cabeça para Katarina.

– Nunca – respondeu ele.

Vladimir se virou para Katarina, sorrindo forçadamente.

– Vê? Ele acredita nisso, que eu nunca matei ninguém – algo no tom de voz dele assustou Katarina, que recuou um passo e colocou uma mão na adaga. Os olhos dele ficaram vermelhos por sangue e seu sorriso se tornou sádico. – Bom, se eu nunca matei... não matei até agora – ele colocou Donnie em pé (Kat conseguiu notar todos os detalhes do corpo do garoto, que era bonito e corpulento; achou tudo aquilo um desperdício de homem. Não pelo fato de se relacionar com Vladimir, mas pelo que se seguiu) e voou em sua garganta, arrancando parte dela com presas afiadas. A garganta do garoto jorrou sangue, mas ele pareceu excitado, não com dor. O que apavorou Katarina.

As duas, Katarina e Thorn recuaram. Thorn ficando atrás de Kat, apavorada. Apontou uma adaga para ele, que se ergueu ao lado do corpo de Donnie, que logo era lavado pelo sangue que caía no carpete.

Vê, Katarina, o que você me fez fazer? – ele sorriu. – Eu me controlei esses três meses, bebendo sangue de inocentes só duas vezes a cada mês, ficando sem desejos psicóticos por semanas. Mas aí vem você e descobre tudo. Ah, como imagina que eu fico? Noxus seria bizarra o suficiente para me aceitar?

Katarina engoliu em seco. Já matara muitas pessoas, mas uma adaga no peito não superava uma pessoa ser feita de catarata de sangue. Aquilo com certeza ficaria na mente dela por semanas, se não meses.

– O que você quer? – perguntou.

Agora que você sabe meu segredo, eu tenho que te matar... e você também, Thorn, minha velha amiga – ele gesticulou lentamente com uma mão, e o sangue de Donnie pareceu erguer-se, como que controlado por telecinese. Ele fez uma espécie de broca de sangue e atirou em Katarina, que repeliu com um ataque de adaga.

Ele pegou mais sangue e atirou, ela repelindo com mais adagas, mas logo elas não eram o suficiente. Quando ele atirou um jato daquele sangue, Thorn colocou-se à frente e criou um escudo que pareceu absorver o sangue, indo da tonalidade branca ao vermelho. Logo ela desfez o escudo, criando uma onda de choque que atirou Vladimir e o cadáver de Donnie para trás.

– Vamos embora daqui! – ela exclamou, e correram para fora da mansão de Vladimir

[...]

Vladimir acordou com seu mordomo agachado ao lado dele. James tinha quarenta anos e era grisalho com barba espessa. Ele era pálido e parecia um morto, assim como ele. Ele o balançava, tentando acordá-lo.

– Senhor. Acorde, senhor.

Vladimir abriu os olhos, não acreditando que havia apagado. Sua mente se tornara totalmente desligada após o surto de adrenalina. Odiava perder o controle. Pensou que orgias ajudariam a controlar essa fúria sanguínea, mas se enganou.

– Senhor – chamou James novamente.

– Que foi, Jamie? – perguntou Vlad.

James tomou coragem para responder.

– Eles vieram te buscar.

Vladimir franziu a testa e levantou a cabeça.

– Eles quem?

– Nós – disse uma voz.

Vários homens encapuzados de vermelho estavam ali, em sua sala. Olhou ao redor e todos os seus parceiros de orgia estavam mortos, pálidos e com o sangue drenado. Podia sentir.

– Você fez coisas ruins, Vladimir von Crimson – disse o homem do centro, que revelava ter um rosto pálido por baixo do capuz –, e será julgado por elas.

Vladimir se levantou e recuou.

– Quem são vocês?!

Todos eles sorriram, revelando dentes afiados.

– Nós? Nós somos como você.


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Notas finais do capítulo

O capítulo que deveria sair era o de Shurima, mas adiei pro próximo :



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