The Killer Society escrita por Redblue


Capítulo 3
Sombras




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Todos já estavam vestido de forma apropriada, usando roupas escuras. Exceto Davi, que precisou correr até sua casa, não muito longe da casa de Rafael, para se trocar e pegar o carro do seu pai.

Sophia não estava tão confortável com aquela situação, mas não queria discutir com seus amigos, não devia discutir. Será que Davi era seu amigo?

–§-

Passaram-se vinte minutos até o som de buzina entrar no carro, alertando a chegada de Davi.

– Podem ir, tenho que conversar com a minha mãe antes. Vou usar a desculpa de ir dormir na sua casa. - disse Rafael direcionando suas palavras a Pedro.

Os quatro desceram as escadas e foram em direção a porta. No caminho encontraram a mãe do Rafael que fez questão de se despedir de cada um deles antes de abrir a porta e deixá-los sair.

Quando saíram, Davi estava encostado no capô do carro de braços cruzados. Ele usava uma calça preta apertada, e um moletom da mesma cor sem nenhuma estampa. O capuz da blusa cobria sua cabeça, projetando uma sombra parcial em seu rosto angular, deixando apenas um olho verde sob a luz e o canto do seu sorriso. Davi era alto, mais alto que todos os seus amigos, acima de 1,85m, além disso, possuía músculos pelo corpo inteiro, mas não de forma exagerada.

Para Sophia, Davi era um garoto atraente - fazia seu tipo - o que não importava muito naquele momento, pois relacionar-se com alguém não era prioridade durante aquela fase da sua vida.

Alguns minutos após todos se acomodarem nos bancos, Rafael chegou e abriu a porta traseira do carro para entrar. Sophia e seus dois amigos, Alice e Felipe precisaram se ajeitar para liberar um pouco de espaço. Não estava confortável, mas era aquilo ou um deles não faria parte dessa noite.

Na frente Davi e Pedro apenas observavam a a tarefa difícil dos quatro no banco de trás. Estava expresso em seus rostos o divertimento.

Davi virou e ligou o carro.

– Qual cemitério iremos? - perguntou Felipe.

– O mais próximo daqui. - respondeu Sophia. - Afinal, não temos muito tempo

– Vila Alpina então. - disse Alice.

– Ótima ideia. - disse Davi, sua voz cheia de entusiasmo. - Lá é vazio tanto de dia quanto de noite. Só precisamos tomar cuidado com as paradas policias. Lembrem-se que estou com excesso de passageiros e todos eles são menores de idade.

Pedro não disse nada, apenas sorriu em concordância.

–---

No final das contas aquela preocupação não levou a nada, eles chegaram no cemitério sem maiores problemas.

Sophia fora aquele cemitério anteriormente, mas há muito tempo atrás. Não lembrava de como era cheia e iluminada a sessão dos velórios daquele lugar - um ponto de luz, cercado pelas trevas do cemitério.

Ainda assim, a quantidade de pessoas a surpreendia. Era incrível. Famílias e mais famílias em luto pelo seus falecidos familiares e amigos. Quantas pessoas mortas em apenas uma noite.

“A morte é algo tão comum. Uma vida a menos ou a mais não fará tanta diferença.” concluiu.

Aquele pensamento a ajudava no processo de aceitar o que deveria acontecer nos próximos dias.

– Coloca o carro no estacionamento. Lá não tem iluminação alguma. - sugeriu Alice, apontando para o sentido do estacionamento.

Davi acelerou o carro e entrou no cemitério. O estacionamento era realmente escuro, praticamente impossível de enxergar algo sem os faróis ligados no máximo. Não havia um poste de luz.

Após estacionar o carro, Davi desceu e foi até seu porta malas. Após alguns minutos voltou com uma mala de academia preta.

– Peguem os binóculos que estão ai dentro. - disse, ao jogar a bolsa nos quatro que estavam atrás.

– O que você tá pensando Davi? Que estamos num filme de espiões? - brincou Rafael.

– Não. Mas precisamos reconhecer o território antes de entrar.

Enquanto Davi e Rafael conversava, Felipe já estava segurando o binóculos, observando em volta. Sophia não achava que ele conseguia ver muito coisa, considerando a escuridão do local.

– Tem um segurança apenas a uns cinquenta metros daqui – disse Felipe, como se estivesse respondendo aos pensamentos de Sophia. - Ele está próximo do portão de entrada da área dos túmulos. - continuo. - Quem for até lá pode usar a luz como guia.

– Eu vou. - informou Pedro.

Antes que alguém pudesse dizer algo sobre a decisão ele abriu o carro e andou em direção ao segurança. Sophia percebeu um pouco de dificuldade que ele teve para chegar ao seu destino, mas isso não o impediu de ter sucesso na tarefa.

– Ele podia ter levado a lanterna. - disse Felipe, segurando uma pequena lanterna retirada da bolsa preta.

Passaram-se alguns minutos antes que Pedro retornasse.

Ele abriu a porta, entrou no carro e sentou no banco. Era evidente a satisfação que estava sentindo.

– Então? - perguntou Sophia.

– Conversei com o segurança. - disse Pedro. - Ele está sozinho, aproveitou até para reclamar sobre a administração do local. Também disse que não podia permitir minha entrada, por causa do horário.

– Se tem só uma segurança, fica muito fácil entrar. - disse Rafael, sua animação aumentando a cada palavra.

– Só que precisaremos pular o cercado. - apontou Alice.

– Isso será um problema para vocês? - perguntou Felipe, direcionando a pergunta à Alice e Sophia.

Se fosse qualquer um dos seus outros amigos Sophia teria levado aquele comentário como uma ofensa, mas era apenas o pequeno Felipe e ela sabia que aquilo era um preocupação genuína, não uma provocação.

– Por mim não tem problema. - disse Sophia.

– Idem.

Os seis saíram do carro e ficaram lá, parados na escuridão. Todos estavam encapuzados. Ninguém seria capaz de vê-los. Agora ele eram simples sombrar perdidas na escuridão do estacionamento.

– O segurança esta para lá. - Pedro falava baixo, enquanto apontava para uma direção. - Nós iremos para aquele lado. - apontou para outra direção a 45 graus de onde o segurança estava.

O grupo seguiu até alcançar a cerca. Ela tinha mais de dois metros, no entanto era feita de metal, o que ajudaria a escalar.

Rafael, Davi e Pedro atravessaram a cerca sem maiores dificuldades. Alice também, afinal ela era uma atleta. Felipe e Sophia não ficaram para trás, porém precisaram, ajudar um a outro para realizar a mesma tarefa que seus amigos.

– Vamos. - chamou Davi, andando na frente dos cinco, com uma pequena lanterna apontada para o chão.

Enquanto caminhavam, Sophia notou que os túmulos não eram do jeito ideal para o plano de Davi. Não haviam grandes fundações de mármores. Eram apenas covas subterrâneas.

– Isso não vai servir. - disse Rafael, dirigindo-se a Davi.

– Definitivamente não é o ideal, pois teríamos que cavar muito, abrir o caixão, colocar o corpo lá e depois...

– Muito trabalhoso. - interrompeu Sophia.

– Acho que talvez isso seja perfeito para consertar uma falha no nosso plano. - disse Felipe. - Pensem... - um grito, acompanhado da luz da lanterna do segurança, o interrompeu.

– Ei! O que estão fazendo aqui?! - gritou um segurança gigante - tanto de altura, como de largura.

Nenhum deles respondeu. A única reação dos amigos naquele momento foi correr.

O segurança os seguiu. Seu tamanho e o excesso de gordura faziam sua corrida ser desajeitada e lenta.

Após alguns segundos de corrida Sophia já não conseguia mais ver o segurança, apenas a luz da lanterna distante. Então parou e esperou seus amigos.

– Acho que ele não vai nos encontrar. - disse Sophia ofegante.

– Aquela bola? - perguntou Pedro rindo de seu próprio comentário. - Nem em cinquenta anos.

Uma segunda luz, acompanhada de mais um grito surpreendeu o grupo mais uma vez.

– Parados! - gritou o segundo segurança, enquanto apontava a luz nas costas de Davi.

E novamente eles correram. Porém, esse segurança conseguiu acompanhá-los. E para piorar a situação, um terceiro apareceu e o primeiro os alcançara.

“Não demorou cinquenta anos, Pedro!” pensou Sophia.

Quando Sophia percebeu, o grupo já tinha se separado. Correndo ao seu lado estavam Rafael, Alice e Davi – não via Pedro, muito menos Felipe.

Agora apenas um segurança os seguia e, infelizmente, era o mais rápido dos três. Mais rápido, porém não tão rápido quanto os quatro jovens. Algumas voltas entre as os túmulos e árvores foram o suficiente para deixá-lo para trás.

Quando Sophia e seus amigos chegaram à cerca, ela virou e olhou para trás – somente para checar se o segurança não estava lá mesmo. Conseguia enxergar apenas três luzes bem distantes.

Davi foi o primeiro a pular a cerca, seguido dos outros três.

Alguns metros de distância do carro o grupo foi surpreendido por uma sombra. Sophia deu alguns passos a frente para ver melhor quem poderia ser.

“O segurança?” pensou.

Era apenas Pedro que, de alguma forma, conseguirá chegar ao carro antes de todos.

Os cinco entraram no carro. Davi o ligou e quando foi soltar o freio de mão Sophia gritou. Acabara de perceber a ausência de Felipe.

– Para!

– O que?! - perguntou Davi.

– O Felipe. - disse Sophia. Nessa hora, todos notaram que o garoto do ensino médio não estava no carro.

– Não podemos voltar. Nós seremos pegos – pontuou Rafael.

– E dai? O que eles podem fazer conosco? Dar uma bronca? - disse Pedro. - Eles não são policiais.

– Independente disso, se voltarmos e eles nos pegarem e, depois, acontecer algo no cemitério, os seguranças com certeza falarão sobre o grupo de jovens que estava no cemitério. - disse Davi impaciente. - E pronto! Somos suspeitos em uma investigação criminal. Simplesmente não podemos correr o risco.

– Então eliminamos esse cemitério. - disse Alice, sua voz transmitia a irritação com a discussão. No entanto, Sophia entendia Davi, ele estava sendo apenas racional e prático. Ninguém podia culpá-lo por se colocar em primeiro lugar, afinal, ele não conhecia Felipe há anos como cada um do grupo.

– Ele está bem. - disse Rafael, quebrando o clima pesado entre Alice e Davi.

– Como você pode saber disso? - questionou Alice.

Rafael não respondeu, apenas mostrou a tela do seu celular. E lá estava uma foto do Felipe sentado no banco de um ônibus com uma expressão de divertimento, acompanhada de uma mensagem dizendo “Escapei. E vocês?”

– Fala pra ele ir pra casa do Pedro.

–§-

No caminho para a casa de Rafael, Sophia avistou uma viatura algumas quadras a frente e avisou Davi imediatamente.

Aquilo ativou algo em Davi, sua calma desapareceu instantaneamente, em seu lugar existia apenas desespero. Ele virou na primeira esquina a direita, acelerando enquanto fazia a manobra, os pneus do carro responderam com um barulho ensurdecedor., acompanhado do som das sirenes da viatura policial.

A reação de Davi veio logo em seguida. Acelerou mais e virou a direita na esquina seguinte e depois a esquerda. Em seguida simplesmente parou o carro, desligou o motor e todas as luzes.

– Abaixem e esperem eu voltar. - saiu do carro, fechou a porta e andou calmamente até a rua que eles acabaram de passar.

– Que porra foi essa?

Sophia olhou imediatamente para Alice, estava surpresa em ouvir aquele tipo de palavra saindo da boca de sua amiga. Não por Alice ser um dama ou algo parecido, mas sim por nunca ter ouvido sua amiga dizendo aquilo ou qualquer outra coisa similar.

– O que? Não posso falar um palavrão? Nem nessa situação? - perguntou, enquanto olhava para seus amigos com um semblante de indignação. - Que porra acabou de acontecer?

Pedro abriu a boca para responder, porém foi interrompido pelo barulho da porta do carro ao abrir. Davi entrou e se jogou no banco do carro. Todos os olhos em sua direção.

Agora ele não parecia mais aquele jovem em corpo de homem de antes. Davi voltará a ser uma criança. Uma criança pálida, com as duas mãos tremendo apoiadas no volante e gotas de suor escorrendo pela nuca.

– Eles já foram. Podemos ir para casa. - disse Davi, na tentativa de tranquilizar o grupo. Tentativa falha, pois seu ar de terror não indicava que estava tudo bem.

– O que aconteceu? Por que você fugiu com tanto impeto da polícia? - questionou Pedro. - Se eles te parassem não ia acontecer nada. Era só falar que estava nos levanto pra casa. É serio. Não ia acontecer nada. Nada.

Sophia olhava para Pedro conversando com Davi. Ao voltar seus olhos para o garoto no banco do motorista, percebeu outra mudança em seu semblante. Ele voltará a ser o jovem animado e feliz de antes.

– Não aconteceu nada. - tranquilizou. - Vou deixá-los em casa.

–§-

Não demoraram nem quinze minutos para chegar à casa de Pedro. Não havia muitos carros nas ruas.

Sophia checou seu relógio. 00:42am.

Davi não saiu do carro. Apenas abaixou o vidro e disse algumas palavras.

– Estou cansado pessoal. Amanhã nos falamos.

Felipe ainda não tinha chegado. Provavelmente por causa do ônibus. Sophia não sabia se ele conseguiria vir direto com apenas um ônibus ou precisaria pegar outro.

– O Felipe foi direto para a casa dele. - disse Rafael. - Ele acabou de mandar uma mensagem avisando.

– Acho melhor encerrarmos por hoje. - sugeriu Pedro, sua voz cansada.

– Só uma coisa. - disse Rafael enquanto os quatro caminhavam em direção à porta. - O carro era roubado.


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