“Uma chuva de lembranças
Invade a minha solidão
Chega junto uma esperança
Acende a luz do meu coração
Tua foto no espelho
Um pedacinho de ilusão
A cama ainda tem seu cheiro
Perfume de sedução”

Mais um dia exaustivo nas escavações. Não era tão fascinante como no começo. As descobertas, os achados valiosos, a história escondida com aquelas tumbas, monumentos e relíquias de séculos passados... o que continuar procurando? Sair e ir para outros locais, em busca de novos horizontes? Seria uma boa solução.

Sentado de frente para o computador, pronto para iniciar os relatórios das buscas de hoje. No espelho acima a foto dela sorria sedutora. Tinha que lembrar de retirar aquela foto dali, tomara a decisão mais difícil da sua vida: divorciar-se de Sara.

Parecia injusto, com ela, com ele mesma e até com os amigos que acreditavam que eram felizes estando casados e morando em continentes diferentes. Não era como namorar alguém de outro estado, eram milhas de distancias. A facilidade da internet podia encurtar um pouco mas não trazia o cheiro do corpo, o calor do abraço, os beijos molhados... tinha que parar de pensar nela.

A tela do notebook era grande demais, deu para ver uma janelinha piscando, sinal de email recente. Porque será que uma chama pequena pareceu tremular em seu peito? Podia ser ela recusando-se a aceitar a separação, dizendo que o amava, quem sabe até deixassem essa bobagem de divorcio pra lá.

Email de seu Advogado, melhor, advogado dos dois. Não eram inimigos por isso não havia necessidade de trocar seu representante legal.

“Sr. Grissom,

Os papeis do divórcio estão prontos, sob minha posse. Devido a proximidade, Sara vai assinar primeiro. Tenho uma reunião marcada com ela na semana que vem para explicar e definir o acordo pré-nupcial, deixarei os papeis com ela para que envie-os a você.”

E mais umas bobagens e protocolos que ele precisava resolver antes da reunião de Sara com o advogado. Por ele isso tudo era desnecessário, mas ela disse que era melhor ser assim, ficarem longe um do outro de vez.

Cansado demais para continuar o relatório que deveria estar fazendo, tentou relaxar com um banho frio para aliviar as dores. O telefone tocou mas não tinha animo para atender. Deitou na cama ainda mais fria e amarrotada. Retirou os lençóis sujos, ao mover o colchão do lugar achou caído aos seus pés uma camiseta branca. O perfume não negava a quem pertencia,

“Sara...”

Talvez estivesse ali desde as ultimas férias dela quando viera passar um tempo com ele, na ultima noite juntos ela usava aquela camiseta, foi retirada no meio de uma torrente de amor, quando ele apressado lançou longe a peça transparente para ter livre o corpo em suas mãos.

Atirou longe outra vez a camiseta, mas agora era de raiva, por não poder se livrar da sentença que ele próprio decretara para o fim do casamento.

Colocou os lençóis limpos, ligou o ar condicionado e deitou pronto para dormir, talvez só precisasse disso. O ruim era que o colchão ainda exalava aquele perfume sedutor da camiseta.

“Até parece que derramou de propósito um frasco do perfume dela aqui.”

Adormeceu enfim, consumido pelas lembranças e pelo perfume embriagante que envolvia suas noite.