- KANE?!- Eu gritei.

 

- AGHATA?- Ele gritou ao mesmo tempo.

 

- Ah, meus deuses. – Eu o puxei e lhe dei um abraço forte. – Como você está vivo?- O soltei de uma vez, talvez eu estivesse tendo uma miragem.

 

- Então quer dizer que ele sempre foi suicida? – Liam perguntou analisando Kane. Eu fiz o mesmo.

 

Ele estava mais bonito, com certeza. Suas sardinhas estavam mais discretas com seu novo bronzeado. Seu cabelo ruivo não fazia mais tantos cachos, ele estava maior, mais musculoso, mais gracioso, mais velho, mais...

 

- Quem te treinou?- Eu acusei.

 

- O que?- Ele fez uma de desentendido, mas eu vi o sangue fugindo do seu rosto.

 

- Vamos ali, Kane. – Eu o puxei pelo braço até um canto do beco. – Quem te treinou?- Eu repeti, sussurrando.

 

- Ninguém, eu não fui treinado. – Ele respondeu sussurrando, eu vi que ele estava nervoso.

 

- Suas pupilas estão dilatando, você está sentindo culpa.

 

- O que? De onde você tirou isso?

 

- Minha avó é medica. Agora conte logo, quem te treinou?

 

- Ninguém, eu sou apenas mortal.

 

- Quem é o seu pai?

 

- Hefesto. – Ele respondeu sem pensar, depois viu que tinha entregado o jogo e colocou uma mão na boca.

 

- Quem. Te. Treinou?- Eu perguntei de dentes trincados, perdendo a paciência.

 

- Oliver Roins. – Ele estremeceu com a minha ameaça.

 

- Espere, ele também é Filho de Hefesto? – Eu semicerrei os olhos, me lembrando daquele nome.

 

- Sim. – Ele admitiu, mordendo o lábio de culpa.

 

- AI. MEUS. DEUSES. – Eu comecei a bater a cabeça na parede. – Oliver é um dos traidores.

 

- Traidores?- Ele perguntou confuso.

 

- Sim, ele é servo de Cronos.

 

- E daí?- Kane parecia não achar problema nisso.

 

- “E daí?’’? – Eu repeti incrédula. – Cronos é tipo... Darth Vader, é tipo o lobo mal, é tipo o Macaco Louco, é tipo Vingador, tipo o Coringa...

 

- Aghata, eu já entendi. – Kane me interrompeu. – Mas eu não vejo porque ele seria vilão. Contra quem ele tramaria?

 

- VOCÊ É BURRO?- Eu o chacoalhei.

 

- Ele não tramaria contra seus próprios filhos, certo?- Ele perguntou inocente.

 

Peguei seu braço o joguei no chão, e sentei em sua barriga, prendendo seus pulsos no chão.

 

- ADMITE! CRONOS É VILÃO.

 

- Aghata, o que você está fazendo?

 

- Admita!

 

- Não, não vejo contra quem ele tramaria. Agora saia de cima de mim.

 

Dei um tapa estalado em seu rosto, ele gritou de susto e dor.

 

- Aghata, está tudo bem ai?- Liam perguntou, estranhando meu carinho.

 

- Está. Estamos apenas resolvendo alguns problemas de família. –Semicerrei os olhos para Kane.

 

- Porque você está me batendo?- Ele perguntou.

 

- Porque você se juntou ao Lado Negro da Força. – Eu respondi. – E porque eu gosto de bater no rosto das pessoas.

 

- Lado Negro da Força?- Ele riu. – Pelo amor de Cronos, Aghata.

 

- CRONOS NÃO. – Eu dei outro tapa em seu rosto. – DEUSES!

 

- Não vejo o problema em Cronos. – Ele tentou dar de ombros.

 

- Kane, você sabe da história da criação do mundo?

 

- Não. – Ele franziu o cérebro. – Mas você podia contar sem ser em cima de mim. Meu estômago está doendo.

 

- NÃO!- Eu dei outro tapa em seu rosto.

 

- AU! Porque você me bateu?

 

- Já falei que eu gosto de bater nas pessoas. Se eu sair de cima de você, você sairá correndo.

 

- Tudo bem.- Ele respondeu assustado.

 

- Tá, eu vou contar. Quando havia o nada no universo, surgiu Caos, o vazio. Em seguida Gaia, a terra. E assim por diante. Até que teve toda aquela suruba e incesto grego, e Gaia teve os Titãs com Urano. Mas Urano, por medo de ser destruído pelos seus filhos, os prendia no útero de Gaia. Até que esta se revoltou, e mandou forjarem uma foice para Cronos, um dos seus filhos. Ele castrou o pai e assumiu o controle do mundo, libertando seus irmãos. Mas o mundo na mão dos Titãs era um caos, cheio de destruição, mortes e sofrimento. Até que teve toda aquela história do meu pai e blabla.

 

Kane não dizia nada, apenas ficava me olhando, esperando por mais história.

 

- Kane, os titãs são maus. E eles estão organizando uma rebelião para reassumir o controle do mundo. Cronos é o líder, e isso não é bom. O mundo como conhece, será totalmente destruído caso os titãs retornem ao poder. – Isso ele pareceu entender.

 

- Então... - Ele começou a pensar consigo mesmo.

 

- Eles te usaram, Kane, assim como usam a todos os outros semideuses traidores. – Ele apenas continuou em silencio, pensando consigo mesmo. – Como eles te acharam?

 

- Eu não sei. – Ele parecia confuso. – Quando estávamos naquela pousada, um garoto que dizia ser meu irmão, me tirou de lá. Ele me levou para uma espécie de acampamento. Eu pensei que fosse o acampamento que Annabeth me disse quando nos conhecemos, por isso fiquei lá. Quando percebi que não era, eu já estava acostumado com o lugar. Já era a minha casa. Lá nos treinaram para adorar Cronos, e lutar. Eu aprendi a controlar meus poderes e... agora eu luto muito bem. Mas era tudo uma farsa, eles apenas me usaram.

 

- E o que você está fazendo nessa escola?

 

- Me mandaram para... recrutar novos irmãos, para tomar conta deles, como me disseram.

 

- Não, Kane, te mandaram para me matar. – Eu deduzi.

 

- Mas... eles não disseram nada sobre matar ninguém.

 

- Você é uma armadilha. Eles me te mandaram pra cá para me vigiar.- Levantei de cima de Kane, meio ressentida. - Espera, você disse irmãos? No plural?

 

- Sim, eles disseram que nessa escola era provável terem muitos, e que eu era o certo para fazer isso. – Ele disse meio triste.

 

- AH, MEUS DEUSES. Eles sabem de Nico. – Desesperei. – Eles vão levá-lo, preciso vê-lo agora.

 

- Está tudo bem?- Liam chegou, colocando uma mão na minha cintura.

 

- Nico. Ele está em perigo. – Eu disse e saí correndo, em direção aos dormitórios. Kane e Liam me seguiram.

 

- Com licença, você não pode entrar no dormitório dos meninos. – Uma freira tentou me impedir de entrar no enorme corredor de carpete cheio de portas dos quartos.

 

Eu parei, olhei para ela, olhei quem estava em volta e dei um murro no nariz dela, deixando-a inconsciente.

 

- Porque você fez isso?- Liam perguntou assustado. Até agora ele só me viu batendo nas pessoas, deve achar que eu sou um monstro bruto.

 

- Eu odeio freiras. Elas são tão iludidas, sempre quis bater em alguma. E agora eu tenho um bom motivo, ela não me deixaria passar. – Eu voltei a correr.

 

- Sabe que vai levar uma bronca quando ela acordar, certo?- Ele perguntou correndo também.

 

- Não importa, estou acostumada.

 

- Qual é o dormitório de Nico?- Kane perguntou no corredor.

 

- Ai meus deuses, eu não sei. – Eu desesperei de novo. – Não há nenhum computador para nos falar isso ou algo do tipo?

 

- Não, mas nós podemos tentar em todos os quartos. – Kane sugeriu e assim nós dois fizemos, Liam não entendia o que estava acontecendo.

 

Cada um batia em uma porta, via a pessoa que atendia e passava para o próximo dormitório. Até que eu bati em uma porta e uma voz abafada respondeu, mas não abriu a porta. Bati de novo e um ‘ssssshi’ respondeu bem baixinho. Reconheci na hora esse ‘s’ puxado. Dracaenae.

 

Cheguei para trás, tirei Alexis do meu cabelo, abri Aegis e levantei a perna. Dei o chute mais forte que pude, quase quebrando a maçaneta. Assim que o barulho do chute se propagou, a voz abafada tentou gritar mais forte. Coloquei Alexis em forma de faca e enfiei entre a porta, empurrando para abrir, mas não deu certo.

 

- Deixa comigo. – Kane apareceu ao meu lado.

 

Ele estendeu a mão perto da maçaneta, fez uma cara de concentração e jogou a mão para o lado. Magicamente a tranca foi junto.

 

- Problemas com metais é só me chamar. – Ele sorriu confiante.

 

- Obrigada. – Chutei a porta novamente, e agora ela abriu.

 

Uma dracaenae segurava uma garota de olhos verdes como uma planta pelo tornozelo, a fazendo ficar de cabeça para baixo.

 

- Aghata! Socorro!- A garota gritou. Todo seu sangue estava em sua cabeça, seu rosto estava vermelho e seus cabelos caiam abaixo de sua cabeça. Ela estava suspensa tão alto que se a dracaenae a soltasse, ela ficaria inconsciente por algum tempo.

 

- Megara?- Eu perguntei. Bem que notei que aqueles olhos eram de uma Filha de Deméter.

 

- Filha de Zeussss- A dracaenae me analisou. – há quanto teeempo.

 

- Eu nunca te vi. – Eu olhei com desprezo para ela.

 

- Você que penssssa- Ela sorriu, mostrando sua língua de cobra bifurcada. – Ai!- Ela reclamou, quando algo de metal acertou sua cabeça, fazendo-a soltar Megara no chão.

 

Vi Kane sorrindo e abaixando a mão, provavelmente fora ele quem jogara. Quando eu notei Megara, já era tarde demais. Ela estava caindo pela janela, seus cabelos marrons como terra espalhados pelo ar.

 

- Nãaaaaaaaao. – Eu gritei, correndo até a janela. Ela caíra 3 andares e não havia nem sinal de seu corpo. Como? Uma árvore a segurou na copa. Mas não qualquer árvore. Uma arvore que brotou ali, no meio da grama, em menos de 3 segundos.

 

- Ela está viva?- Kane sussurrou ao meu lado, com o cuidado de uma criança amedrontada.

 

- Não sei. – Sussurrei pasma, ainda olhando para baixo. Com a esperança de que Megara saísse da árvore. Reparei que uma pessoa correu até a árvore de Megara. Ou melhor, um garoto lindo correu até ela.

 

- Que tal pegarmosss ssseu amiguinho mortal?- A dracaenae sorriu diabólica, mostrando sua língua de cobra e pulou da janela, caindo bem em cima de Liam.

 

- Kane, corra para a escada! Eu consigo pular sem me machucar. – Eu ordenei.

 

- Há-há, eu também vou pular. – Ele simplesmente... pulou. Deu um mortal no ar e aterrissou como um felino.

 

Eu fiquei boquiaberta, ele foi realmente bem treinado. Se todo o exército de Cronos for assim tão habilidoso, estamos mortos.

 

Eu cheguei para trás, corri, coloquei meu pé no parapeito da janela e pulei. Dei uma de Kane e dei um mortal no ar, mas eu não tinha aquele instinto felino dele, não conseguiria aterrissar sem causar estragos ao meu corpo. Preparei uma massa de ar perto do chão para me receber, ela me conduziu até o chão com calma.

 

Eu chutei a dracaenae, fazendo-a sair de cima de Liam.

 

- Kane, vá ver Megara! Eu cuido de Liam. – Eu gritei para ele, ele assentiu. Arrastei Liam até o prédio, ralando todo seu corpo com a grama.

 

- O que está acontecendo, Aghata?- Liam perguntou atônito, quase desmaiando, quando o coloquei sentado embaixo do prédio da escola.

 

- Saia daqui o mais rápido possível! Pelo seu próprio bem. – Eu disse.

 

- Não, eu vou te defender daquela cobra, calma. – Ele tentou se levantar. Eu tive vontade de rir. Santa Névoa.

 

- Liam!- Eu segurei sua camisa, o puxando para trás quando começou a andar em direção à luta. – Prometa que você vai ficar aqui, quieto?- Eu dei um olhar mandão.

 

- Não posso. – Ele teimou, soltando sua camisa e andando em direção de novo à luta.

 

- Odeio fazer isso. – Suspirei cansada. Preparei uma pequena bola de energia na minha mão e coloquei nas costas de Liam. Ele caiu na hora, desmaiando. – Desculpe.

 

Eu prepararia uma bolha de energia para levá-lo até algum lugar seguro, mas eu estava na escola de mortais, tinha que agir como uma. Tive o enorme esforço de carregá-lo, novamente, até dentro do prédio. Joguei seu corpo porta adentro e saí correndo para ajudar Kane.

 

Ele estava se saindo bem, com sua lança, e um escudo pegando fogo que parecia uma espécie de ímã, atraindo todos os metais ao seu redor. Mas Megara estava melhor ainda. Grossas raízes brotavam na grama e agarravam os braços da dracaenae, que se debatia sem parar. Uma espécie de chicote estava em suas mãos. Ela estalava o chicote na barriga da dracaenae e milhares de plantinhas carnívoras apareciam nele, agarrando-se à cintura de cobra e mordendo-a.

 

Esperei em pé, sem ser notada. Esperei que a espada de Kane distraísse a dracaenae e que as plantas de Megara a enroscassem. Quando aconteceu, eu corri o mais rápido que pude e joguei Alexis como lança, fazendo-a fincar direto no peito da dracaenae.

 

Ela gritou de surpresa e dor, tremeu sua língua bifurcada no ar e se dissolveu em pó dourado.

 

Eu, Kane e Megara ficamos fitando a grama dourada. Olhei para nós três. Até que fazíamos um bom trio de heróis.