Cursed Mistakes escrita por CristinaD, Skorgiia


Capítulo 7
Checkmate


Notas iniciais do capítulo

Informação sobre o capítulo:
O jogo "escondidas" é o termo português usado para o jogo "esconde esconde" no Brasil.
Eu e a minha co-autora ficámos com algumas dúvidas quanto a isto, portanto fizemos uma rápida pesquisa no google. Caso esta informação esteja errada, pedimos aos nossos leitores brasileiros que nos corrijam. ♥

Novamente, estamos super agradecidas por todos os leitores maravilhosos que continuam a seguir esta história. Muito obrigada pelos comentários que têm deixado, são um grande incentivo para que continuemos a escrever com todo o prazer que temos tido ao longo deste tempo.

Temos também uma novidade quanto à fanfic. Irei falar sobre isso nas notas finais!
Beijos e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603773/chapter/7

Cerca de duas semanas se passaram após o pequeno conde decidir adiar a missão que lhe fora atribuída, e isso de facto tinha surpreendido o demónio. Sebastian sentiu a preocupação do pequeno rapaz, mesmo que este não a demonstrasse. Não queria que isso fosse alvo de provocações, portanto não tocara no assunto desde que chegaram.

Os dias agora decorriam normalmente com o quotidiano habitual, mas os sentimentos do mordomo demonstravam grandes mudanças.

Apercebera-se de que o que queria não era proteger Ciel. Ou melhor, era algo além de proteger. O demónio queria demonstrar todo o afecto ao rapaz. Suaves palavras, delicados toques e ternas expressões. Queria trocar tudo isso com o seu jovem mestre, passando a ignorar todos os seus deveres como demónio, mantendo as suas obrigações de mordomo, mas desejando actuar de uma maneira além disso. Era anormal um mordomo pensar dessa forma, mas Sebastian queria tocar na pálida pele do conde, queria segurar o seu frágil corpo e pretendia escurecer cada vez mais aquela alma, não para que se tornar-se numa refeição digna da sua fome mas para que o demónio fosse a sua única salvação. Queria demonstrar-lhe que tudo era efémero e trapaceiro para além dele, o seu demónio. O seu demónio que estaria lá, eternamente, para salvá-lo dos danos humanos de que todos os misericordiosos são alvo. E por isso, aquele mordomo decidira ignorar a fome que sentia, dia após dia, de uma alma credora, até ao fim da sua existência.

Os ponteiros do relógio marcavam as 7h20 e Ciel, ainda deitado na cama, olhava ensonado para o teto do seu quarto, irritado por ter acordado tão cedo. Tinha sido novamente desperto por aqueles sonhos que teimavam em reaparecer todas as noites na sua mente. Antes, era perseguido pelos habituais pesadelos da morte dos seus pais ou dos gritos de desespero de Elizabeth, mas agora, os sonhos tinham mudado drasticamente. O seu mordomo tinha-se tornado a figura principal. Na sua mente passavam imagens que ele não conseguia esquecer.

Os compridos dedos do mordomo, despidos das habituais luvas, percorriam as costas do pequeno, a sua fina cintura. Os seus lábios gelados que beijavam de leve o seu pescoço, deixando-lhe pequenas mordidas.

Ciel arrepiava-se ao se relembrar do sonho que o tinha atormentado nos últimos dias. A sua vontade de tocar no mordomo aumentava cada vez mais, e o conde tinha a certeza de que chegaria a altura em que o faria.

As memórias do sonho voltavam novamente à sua mente.

O corpo do demónio sobrepunha-se sobre o seu, pressionava-o contra os lençóis da sua cama. Ciel gemia com o contacto, o seu corpo ardia de prazer.

“Hmm… Sebastian…”

O mordomo sorriu maliciosamente, agarrando o corpo do pequeno e cravando as suas garras na cintura do pequeno.

“Jovem mestre… Acabou.”

As farpas do demónio tornaram-se visíveis e num movimento rápido mordeu os frágeis lábios do conde, sugando brutalmente a sua alma.

O contracto teria acabado.

Foi ai que Ciel acordou, e o seu doce sonho transformou-se num pesadelo. Suspirou, e permaneceu a última hora com o olhar fixo no tecto sobre si, a pensar no que significava tudo aquilo.

Não se surpreendeu com a parte final do sonho, afinal, um dia a sua alma seria realmente consumida pelo demónio. A sua maior surpresa foi o facto de ter sonhado algo tão… inadequado. Não era a primeira vez que tinha pensado em ter um contacto mais próximo com o mordomo, mas era uma novidade que esse contacto tivesse ido tão longe, mesmo sendo ele apenas fruto da sua imaginação. Questionava-se agora se era realmente possível que algo assim pudesse acontecer. Seria ele capaz de…

Abanou a cabeça em negação, fazendo o máximo para rejeitar a possibilidade de vir a acontecer algo do género. Não se queria iludir de tal forma.

Olhou novamente para o relógio ao seu lado e suspirou. Ainda teria mais meia hora para se perder em pensamentos.

Mas essa meia hora passara como meros segundos pela mente de Ciel. Sebastian caminhava agora, guiando o carrinho prateado que carregava o jornal e o chá matinal do conde, até ao quarto do mesmo. Sebastian abriu a porta silenciosamente, deparando-se com o rapaz acordado que observava o tecto do quarto.

– Bom dia, Jovem Mestre. – Sebastian disse sem comentários enquanto abria as cortinas rubras da janela que iluminava agora o quarto com a luz vinda do raro sol que teimava em se mostrar em Inglaterra. O mordomo entregara o jornal diário ao conde que agora se sentava na cama servindo-lhe depois o chá morno.

O pequeno recebeu a chávena das mãos do mordomo, corando, nunca mantendo contacto visual com o mesmo. Provou o chá, e como habitual, elogiou o doce aroma do mesmo. Dirigiu o seu olhar para o jornal, e num tom rígido questionou o mordomo:

– Qual é a minha agenda para hoje?

– Bem, tecnicamente, nenhuma, visto que aqueles três têm algo preparado para o jovem mestre. – O mordomo suspirou. – E sem o meu consentimento… - Adicionou murmurando enquanto olhava de lado para a porta do quarto.

O conde levantou a sobrancelha, pouco satisfeito com as palavras do demónio.

– Algo preparado? Não estou com a disposição para mais um jogo idiota, se é isso que eles planeiam fazer. – Fez uma pausa, levando a chávena aos lábios. – Para além disso, quero evitar que a mansão seja destruída pela milésima vez…

– Penso que seja algo preparado com boas intenções. Disseram-me que planearam um jogo de modo a fazer o jovem mestre esquecer a morte da Lady Elizabeth, já que parecia um pouco alterado e demasiado ocupado com trabalho. – Sebastian disse enquanto sobrepunha um casaco de algodão fino nos ombros do conde.

Ciel aceitou o casaco que agora aquecia as suas costas, e levantou-se calmamente com a ajuda do mordomo.

– Parece que não tenho outra opção… - Suspirou e manteve-se imóvel à espera de ser vestido. – E qual é o tal jogo que serei obrigado a participar? – Perguntou com pouca curiosidade, o seu olhar percorria todos os cantos do quarto, evitando ao máximo olhar directamente para o mordomo.

–Bem, todos pensaram na sua idade então, às escondidas. – Sebastian disse, cobrindo os seus lábios com a mão, evitando rir.

– Cala-te! – O conde reclamou, irritado com o comentário do mordomo.

Levantou-se, já devidamente vestido, e dirigiu-se apressadamente até à porta. Ao abri-la, foi surpreendido pelos três servos que o abraçaram de imediato.

– Bom dia Jovem mestre! – Os três gritaram alegremente.

Sebastian sorriu um pouco perante o momento terno, mesmo que fosse apenas pela parte dos outros servos. Tanaka ria sobre o cenário que presenciava enquanto bebia o seu chá.

– Ho Ho Ho…

Ciel apoiou-se no mordomo, libertando-se de imediato dos braços dos três servos que quase o sufocavam.

– Jovem mestre, preparámos um jogo para divertir o seu dia! – Finny anunciou entusiasmado, os seus olhos brilhavam de felicidade.

– Todos iremos jogar, até o senhor Tanaka! – Meyrin acrescentou, pulava juntamente com Finny, e até Bard se deixava levar pelo entusiasmo.

Ciel soltou um pequeno sorriso, encantando os servos à sua frente.

– Certo. Então como leais servos da família Phantomhive… Façam o vosso melhor para me proporcionar um dia agradável. – O conde ordenou, uma expressão carinhosa no seu rosto.

Yes Sir!

*

Todos se reuniram no enorme jardim da mansão depois do conde ter sido devidamente vestido para um dia no exterior e ter tomado o seu pequeno-almoço. Sebastian ditava agora as regras do jogo.

– Escolhe-se uma pessoa para contar até determinado número. Enquanto essa pessoa conta de olhos cerrados, os outros procuram esconder-se. Após terminar, a pessoa que esteve a contar procura os restantes jogadores. A primeira pessoa a ser encontrada é a próxima a contar. Se alguém que estiver escondido conseguir chegar ao ponto determinado para salvar todos os jogadores e disser “Salva todos!” A mesma pessoa volta a contar. – Sebastian disse, suspirando no fim.

Todos acenaram positivamente com a cabeça, compreendendo as regras do jogo. Bard voluntariou-se para ser o primeiro a contar e iniciou a contagem.

– Vais fazer tudo o que for necessário para que eu ganhe este jogo. – Ciel sussurrou para o mordomo, aproximando-se do mesmo. – Custe o que custar.

O demónio sorriu, e observou o conde que já corria em busca de um bom esconderijo.

O pequeno ouviu a voz de Bard perto do número final, e apressou-se em se esconder atrás de um muro que era, sem dúvida, um péssimo esconderijo.

“Se tivesse tido mais tempo…”. Ciel pensava irritado, enquanto observava o mordomo que se escondia num arbusto a alguma distância de si.

Sebastian observava o cozinheiro que ainda contava. O mordomo procurou em silêncio pelo conde e surpreendeu-se ao o ver a alguns metros de distância atrás do muro. “Quer ganhar o jogo mas escolhe esconderijos bem visíveis.” Suspirou enquanto puxava Ciel para perto de si.

–Sebast…- O conde fora interrompido quando este lhe tapara a boca e ambos se deitaram atrás do arbusto.

Em poucos segundos, o pequeno Phantomhive tinha sido puxado do seu esconderijo para junto do mordomo. Encontrava-se agora deitado no relvado, encarando o demónio frente a frente. Ciel corou furiosamente ao sentir o corpo do mordomo completamente junto ao seu, os seus rostos a poucos milímetros de distância.

A sua boca ainda se mantinha coberta pela mão do mordomo, impedindo-o de pronunciar qualquer palavra. Os lábios do demónio chegaram perto do seu ouvido, sussurrando-lhe calmamente para que não gritasse, caso contrário perderia o jogo. Assim dito, Sebastian retirou a mão da boca de Ciel, e este separou os lábios levemente, recuperando o ar que lhe faltava.

Ouviam-se minimamente os passos de Bard enquanto este procurava os jogadores escondidos. Sebastian levantou um pouco a cabeça para verificar onde é que o cozinheiro estava. “Demasiado perto.” Pensou enquanto olhava para o local que fora estipulado para salvar todos os jogadores mas logo baixou o corpo quando viu o homem a virar-se na sua direcção.

As faces de Ciel e Sebastian estavam extremamente perto uma da outra, os seus corpos colados enquanto ambos se encolhiam ao máximo para não serem vistos. Sebastian envolvia os braços no pequeno enquanto escutava a respiração acelerada e o veloz palpitar do coração do pequeno rapaz. Olhou por entre as folhas do arbusto e verificou que o cozinheiro ainda estava perto.

O mordomo moveu-se ligeiramente e o seu corpo roçou-se no de Ciel, que não conseguiu evitar soltar um quase inaudível gemido. O pequeno corou furiosamente, e esperou que o demónio não tivesse reparado, mas foi surpreendido por mais um movimento ligeiro que o fez gemer novamente.

– Se-Sebastian!

O mordomo fingiu não ter ouvido o pequeno suspiro prazeroso do conde e voltou a cobrir os lábios do rapaz quando este lhe chamara pelo nome, sussurrando-lhe suavemente “Shh…” enquanto se movia, provocando o conde novamente.

O corpo do pequeno fervia, cada vez mais alterado graças aos movimentos estimulantes do demónio. A sua respiração tornava-se mais rápida e foi surpreendido ao sentir os dedos do mordomo que passavam levemente pela sua cintura. Mordeu a outra mão do demónio que cobria a sua boca, tentando impedir as suas provocações. Estava a perder o controlo da situação.

“Maldito demónio.”

Sebastian deliciava-se com as reacções do rapaz às suas provocações. O mordomo retirou a mão que cobria os doces lábios do pequeno mas continuava com aqueles movimentos tentadores. Queria ouvir mais daqueles mélicos suspiros que escapavam dos seus doces lábios, queria sentir a cálida pele do seu jovem mestre.

“Ahh…”

Os gemidos intensificavam, os movimentos tornavam-se mais frequentes e Ciel perdia o controlo aos poucos e poucos. Os seus lábios molhados pediam pelos do demónio. As pequenas provocações tinham passado do limite e agora o conde estava fora da sua zona de total consciência.

Aproximou o rosto do pescoço do demónio, inspirando o seu doce aroma. Pressionou os lábios na sua pele branca, e deixou um pequeno beijo. Após este, seguiram-se vários, fazendo um percurso de carinhosos beijos intercalados por prazerosas mordidas que marcavam o pescoço do mordomo.

O demónio surpreendeu-se com os actos incomuns do pequeno. Não imaginava que o limite entre a consciência e a pura perda de controlo do conde fosse tão fácil de atravessar.

Sebastian preparava-se para dizer algo mas fora interrompido por uma voz grossa. – Aha! Encontrei vocês os dois! – O cozinheiro disse, orgulhoso da sua trivial descoberta.

Ciel abriu os olhos em desespero ao ouvir os passos de Bard que se aproximava do local onde se encontravam. O mordomo rapidamente levantou o rapaz e ajeitou as suas roupas, o rosto do pequeno ainda visivelmente corado.

O conde manteve-se em silêncio enquanto o cozinheiro o observava de cima a baixo, estranhando o estado desmazelado em que Ciel se encontrava. Ainda assim, não disse nada quanto ao assunto, focando-se apenas em se gabar da sua vitória.

Os outros participantes também se aproximaram, felicitando o jovem conde por ter sido o último a ser encontrado. Ciel sorriu satisfeito, e agradeceu.

Partidas se passaram e Sebastian agora anunciava o final do jogo, relembrando os servos que tinham trabalho a fazer na mansão. Todos eles suspiraram em desagrado, à excepção de Tanaka, que bebia o seu habitual chá.

Depois de todos os outros servos se afastarem para terminar as suas tarefas, Sebastian sorriu um pouco, observando o conde. – Uma partida de xadrez parece-me um jogo muito mais calmo do que este… - Comentou.

O conde corou ainda mais com o comentário do demónio, mas acabou por aceitar a sua proposta. Recompôs a sua postura autoritária e seguiu caminho em direcção à mansão, ouvindo os passos do mordomo que continha o riso atrás de si.

*

Sebastian preparava agora a mesa de xadrez na biblioteca, onde também se encontrava o conde. O mordomo observou o pequeno, continuando depois a posicionar as peças nas casas iniciais do tabuleiro de pedra. – Mas que actos impensáveis que o jovem mestre teve à momentos atrás. – O mordomo riu.

Ciel engasgou-se com o copo de whisky que bebia, pousando-o na mesa ao seu lado. Já esperava por um comentário do género vindo por parte do demónio, mas não pensou que fosse tão cedo.

– E de quem foi a culpa?! – O conde perguntou corado, uma expressão pouco satisfeita no seu rosto.

Sebastian olhou para o conde, formando um sorriso escarnecedor nos seus pálidos lábios. – Ora? Foi o jovem mestre que se sentiu assediado com meros movimentos, deixando-se levar por algo tão trivial. – Sebastian provocou.

Ciel jogou a primeira peça de xadrez, avançando o seu peão. As peças brancas, como sempre, eram suas. Segundo as regras, seria então ele o primeiro a jogar.

– Foi devido às tuas provocações completamente escandalosas que eu fiquei em tal estado. – Fez uma pausa, pousando as mãos no joelho enquanto deixava escapar um pequeno sorriso malicioso. - Deveria castigar-te por agires dessa forma perante o teu mestre.

Sebastian sentou-se perante o conde. – Certamente. – Ignorou - Não obstante, tal comportamento não implicava uma resposta, especialmente uma resposta tão imoral que incluísse beijos no seu próprio mordomo. – O demónio criticou, movendo uma das suas peças.

– Ah… - Ciel murmurou, divertido com o jogo de xadrez e com o jogo de palavras que eram desempenhados naquele momento. – E não é o dever de um mordomo impedir que o seu mestre aja imoralmente? Pois fizeste exactamente o contrário. – O conde retrucou, respondendo às provocações do demónio.

– Admito que talvez me tenha deixado levar pelo momento...- Sorriu amplamente num tom motejador., esperando alguma reacção do conde perante as incomuns palavras. – Mas seja sincero, jovem mestre. Se eu parasse, seria do seu agrado? Admita que por mais que aqueles actos fossem imorais e por mais que o jovem mestre estivesse consciente disso, o senhor não quereria que eu parasse.

Ciel inclinou-se ligeiramente ao passar o seu bispo por cima do cavalo do demónio, derrubando-o. Sorriu maliciosamente, os seus olhos seduziam os do homem à sua frente.

– Foi realmente uma pena que tenha terminado por ali… - O conde admitiu, divertindo-se com as suas próprias palavras. – Se ao menos não tivéssemos sido descobertos…

Sebastian fez depois a sua jogada, pouco interessado no jogo em si, e após isso observou o conde. – Imaginaria Deus até que ponto é que o jovem mestre tencionaria ir. – O mordomo riu um pouco das palavras indecentes da criança à sua frente.

– Oh? - Ciel riu ao ouvir o comentário do demónio e levou o copo de whisky aos lábios. Derrubou mais um peão das peças pretas, colocando-o no canto do tabuleiro. – Hm… - Ciel tornou-se pensativo, encarando as suas peças enquanto agitava levemente o copo de cristal. – Seria interessante se eu tivesse continuado as minhas explorações… Certamente que tencionava ir bem mais longe.

– Imagino que sim… - Sebastian riu levemente, fazendo novamente uma jogada que não alteraria em nada o rumo do jogo.

Ciel arrastou a rainha até ao canto do tabuleiro, mantendo-se numa perfeita diagonal com o rei inimigo. O jovem conde sorriu e as palavras que já eram esperadas foram pronunciadas:

Checkmate.

Sebastian sorriu ligeiramente ao já esperado final. Ainda observando a expressão do conde que era agora vitoriosa, o mordomo divertia-se com o facto de Ciel ficar orgulhoso por algo trivial como ganhar um mero jogo de tabuleiro.

Agora que tinha terminado mais um jogo, Ciel reparava nas horas que marcava o relógio da sala. Já se fazia tarde, e o jovem conde sentia-se cansado devido a todo o entusiasmo daquele dia.

Levantou-se da cadeira e aproximou-se do mordomo. – Estou exausto… - Murmurou enquanto fazia uma expressão sonolenta.

*

Sebastian abria agora os lençóis da cama do seu pequeno mestre, enquanto este se sentava na berma da cama. A já habitual troca de olhares decorria agora em silêncio enquanto o mordomo despia o pequeno conde das suas roupas quotidianas.

O demónio passava agora a vestir a longa camisa branca de dormir, abotoando com cuidado cada botão até chegar ao último e onde as faces de ambos se aproximaram e ambos os olhares se cruzaram intensamente.

Os olhos do conde prenderam-se nos do demónio, deixando-se seduzir mais uma vez pelo olhar escarlate. Durante o decorrer do dia, a única coisa que passou pela mente de Ciel foi beijar os lábios do seu mordomo, tocá-lo e ser tocado por ele. E agora, estava frente a frente com ele, presos nos olhos um do outro, ambos pedindo mentalmente que algum tivesse a coragem de avançar mais uma vez.

E o conde assim o fez.

Apertou a gravata do mordomo, puxando-o na sua direcção, e provou os doces lábios do demónio, um beijo intenso e desesperado que já era desejado há demasiado tempo. Os lábios tocavam-se brutalmente, as suas línguas entrelaçavam-se e o beijo apaixonante durou por vários segundos.

“Hmm… Sebastian”

O mordomo sorriu ligeiramente, respondendo ao olhar azul diante de si após o beijo intenso. Levantou-se lentamente, acariciando a face do pequeno enquanto aproximava novamente os pálidos lábios.

– Boa noite, Jovem mestre… - Sebastian sussurrou suavemente perto da orelha do pequeno, e em seguida voltou à sua correcta postura, gentilmente soprando as velas no castiçal, apagando-as e demonstrando ultimamente uma expressão fria antes do quarto se inundar no negro. O mordomo saiu cerrando a porta.

Mantendo-se imóvel no corredor, do outro lado da porta. O seu coração palpitava como nunca, agradecendo a quem quer que fosse por se ter controlado momentos atrás, tentando segurar a situação, mas agora que refletia talvez tivesse sido rude da parte do mordomo ter deixado o rapaz assim.

O demónio cobriu a face com a mão, mordendo o pálido lábio inferior. “Entre humanos beijos são considerados actos de afecto.” O mordomo ponderou. “Beijos nos lábios são considerados actos de afecto romântico.” Reflectiu novamente.

Sebastian virou costas e caminhou pelo longo corredor. “Infactível. Demónios não conseguem presenciar tais sensibilidades…”

*

O luar que passava pelos cantos da janela iluminava suavemente o quarto. Já passavam das 2h e Ciel ainda permanecia acordado. Mantinha-se deitado por baixo dos seus lençóis, confuso com a mistura de pensamentos que atacavam a sua mente.

Sentia-se feliz por finalmente ter sido capaz de beijar o seu mordomo, e pelo beijo ter sido ainda melhor do que tinha imaginado. Ficara animado quando o demónio retribuiu os seus afectos, proporcionando-lhe um sentimento de paixão que nunca tinha sentido antes. Mas quando pensou que iria ter uma noite bastante diferente das que costumava ter, o mordomo simplesmente fez o seu habitual papel e deixou o quarto.

Sentiu-se irritado por alguns momentos, pois Sebastian teimava em provocá-lo daquela forma e depois deixar o pequeno conde sozinho e abandonado.

Agora, Ciel mantinha-se deitado, perdido na sua própria frustração e pensamentos conflituosos. O seu pequeno corpo aquecido pelos lençóis, mas mesmo assim necessitando do corpo do mordomo em sua volta.

*

Já era demasiado tarde e Sebastian ainda não se conseguia concentrar no seu trabalho nocturno. O mordomo ficava habitualmente a tratar de documentos durante a noite mas desta vez a sua atenção focava-se em algo diferente. Os seus pensamentos estavam todos trocados. Tentava admitir o amor que sentia pelo seu jovem mestre, mas era algo difícil, pois continuava séptico quanto ao facto de poder sentir algo humano.

O demónio levantou-se, saindo do seu quarto, atravessando os longos corredores que se deixavam iluminar pelo luar que atravessava as altas janelas.

O mordomo entrou silenciosamente no quarto do seu jovem mestre, ignorando o facto de ser algo impróprio. Sentou-se gentilmente na berma da cama, no lado onde o pequeno estava deitado.

Ciel foi surpreendido ao ouvir o mordomo entrar no seu quarto, e a sua surpresa aumentou quando este se sentou junto a si. O pequeno conde respirou fundo, e manteve os olhos fechados, fingindo que se encontrava num profundo sono.

Foi ai que sentiu a mão do mordomo passar levemente no seu rosto, num movimento carinhoso que fez o corpo de Ciel estremecer. O demónio continuou a acariciar o rosto pálido do pequeno, e este não evitou sorrir, denunciando assim que estava desperto.

– Jovem mestre eu… - O mordomo começara por dizer atrapalhado, mas a sua tentativa de justificação para os seu actos foi interrompida quando Ciel agarrou na mão do maior e lhe pressionou um beijo. O demónio foi surpreendido, mas não evitou em formar uma expressão carinhosa no seu rosto.

O jovem conde continuou a apertar cuidadosamente a mão do mordomo e encostou-a ao seu peito. Permaneceram naquela posição em completo silêncio, até que Ciel decidiu pronunciar as suas últimas palavras da noite.

– Boa noite, Sebastian.

– Boa noite, jovem mestre.


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Notas finais do capítulo

A partir da próxima semana os capítulos escritos até agora irão ser postados de 2 em 2 dias no SocialSpirit.
Após postarmos os 7 capítulos, iremos continuar a postar os próximos no mesmo dia em que postarmos aqui no Nyah!

Ao fim de todo este tempo a minha co-autora finalmente conseguiu-me convencer em postar no SocialSpirit, mesmo eu odiando a organização no site.
Felizmente consegui ultrapassar a minha teimosia, portanto aqueles que têm conta no Social poderão comentar mais facilmente.
É tudo, beijos e até ao próximo capítulo! ♥



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