A maior oportunidade escrita por Lostanny


Capítulo 1
A cor vermelha significa perigo


Notas iniciais do capítulo

A primeira oportunidade nem sempre é bem aproveitada.



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Midorima acreditava que tudo tinha um propósito. Por mais sem sentido que as coisas parecessem a princípio. Os céus podiam ser caprichosos. Podiam acabar mudando seus pensamentos de uma hora para outra e isso não podia ser ajudado.

Ele convivia com a ideia de que sua vida era moldada a partir do que quanto se esforçasse. Para que esses caprichos fossem direcionados favoravelmente para si. “Não poderia reclamar quando não estava se esforçando o suficiente” era o que achava. Então sempre deu o melhor de si e seguiu todos os manuais possíveis. Até os mais desacreditados pelo povo.

O horóscopo era atendido como a escritura dos céus.

Acordou exatamente na hora em que costumava a acordar. Para que não houvesse nenhum erro tão cedo à primeira coisa que fez foi consultar o horóscopo. Não sem antes se espreguiçar devidamente e sair da cama com o pé direito. Nunca se sabe. Então pegou seu celular com a internet e consultou seu site favorito.

A pessoa que tinha criado a internet deveria ser devidamente elogiada. Apenas dessa forma ele conseguia ficar de olho em sua sorte suficientemente cedo para que nada saísse dos eixos. Como aquele dia. O horóscopo de câncer não estava favorável. A mensagem era clara: “Não fique próximo de nada vermelho ou fará algo que não gostaria de fazer”.

Mais parecia uma maldição do que qualquer outra coisa. No entanto Midorima não estava assustado.

Era só fazer como dizia o horóscopo e nada o aborreceria.

Com isso em mente tomou um banho em tempo calculado e se dirigiu a cozinha para tomar seu café. Quando desceu sua família também estava acordada e ajudavam com o café da manhã. Seu pai arrumava a mesa enquanto sua irmã ajudava a mãe a preparar a comida.

Eles já deviam estar cientes de seus horóscopos. Cada um já tinha o seu item da sorte.

Quem estivesse os vendo pela primeira vez provavelmente os achariam loucos: um grupo de pessoas com cara semelhante tentando fazer as coisas com apenas uma das mãos. Entretanto isso não surpreendia Midorima, pois fora criado naquele tipo de regime. Não sabia ao certo se foi a sua mãe ou o seu pai que tinha começado com aquela mania, mas a questão era que já era tarde demais para mudar aquele hábito. Já tinha se tornado parte da identidade deles.

Shintarou não estava diferente tendo em mãos um giz de cera azul claro.

Não o agradava nem um pouco. O fazia se lembrar de certo colega de classe. Mas nada poderia ser feito a respeito. Teria que aguentar. Saudou sua família e tiveram um café rápido. Se convidasse alguém para sua casa, coisa que nunca aconteceu, provavelmente iria estranhar aquele modo peculiar de se alimentar dos Midorima. Ainda com uma das mãos eles movimentavam os hashis sem nem sentir o peso desigual na outra mão. A irmã segurava um chaveiro de flor, o pai uma bola de boliche e a mãe um kiwi de plástico.

- Então, Shintarou, Sayuri, não deixe ninguém além da família entrar nessa casa. Meu horóscopo diz que algo ruim pode acontecer. - a senhora Midorima disse com tom preocupado.

- Entendo. - Shintarou falou já que geralmente era o primeiro a chegar.

- Eu só vou voltar no dia seguinte. Então não precisam esperar por mim. - Sayuri disse em um tom neutro.

Todos sabiam do motivo da ausência da garota, mas o pai resolveu insistir um pouco mais no assunto meio ansioso:

- O namorado novo? - o pai perguntou ajeitando os óculos.

Sayuri assentiu.

- Eu vou apresentá-lo quando tiver oportunidade. A Ryouko e o namorado dela vão me acompanhar então não precisam se preocupar muito.

Sayuri foi a primeira a terminar o café e informar que estava de saída. Depois foi Shintarou. Seus pais que também trabalhavam não demorariam a sair também.

Shintarou não gostava daquele mistério todo que a irmã mantinha com relação aos seus namorados. O último não havia sido ninguém mais ninguém menos que Haisaki Shougo. Pelo menos ela conseguiu se afastar do outro devidamente quando soube de seu histórico.

Porém o que mais detestava nesse mundo eram surpresas desagradáveis. Não era porque tudo tinha um propósito que aceitaria 100% o que se deparasse na vida. Pessoas esquentadas que achavam conseguir fazer tudo o que queriam era uma dessas coisas que o aborrecia.

Por isso caminhava com um mau humor visível ao seu redor quando uma das pessoas mais importunas de todas apareceu.

- E aí, Shin-chan... Nossa, quer matar alguém tão cedo? - Takao perguntou desconfortável com a aura verde escura próxima.

- Não fale comigo Takao, estou por um triz de...

Porém não completou sua frase. Lembrou-se de uma informação preciosa demais para ser ignorada. O objeto da sorte de Sayuri era um chaveiro vermelho. Devia ter imaginado que aquele giz de cera minúsculo não seria o bastante para acabar com sua má sorte. Mas foi teimoso. Se lembrar de Tetsuya por meio daquele objeto o fez agir negligente. Por isso acabou dando meia volta. Mas não sem antes indagar a Kazunari:

- Takao, tem giz de cera azul claro? Ou outra coisa desse tom?

-... Por que eu teria? E logo dessa cor... Ei! Shin-chan! Vai se atrasar assim! - Takao chamou ao longe, mas foi ignorado.

A cabeça de Shintarou estava a mil. Tinha que encontrar uma loja que vendessem giz de ceras o mais rápido possível. Parou outra vez. Teve uma ideia que lhe sairia bem mais em conta do que gastar dinheiro em tantas caixas de giz de cera, e ainda mais eficiente.

Só que teria que conversar com certo garoto de cabelos azuis.

- O que gostaria de falar comigo, Midorima-kun?

Midorima se encontrou com Kuroko Tetsuya após o término das aulas de ambos. O ás do Shutoku ficou um segundo inteiro em silêncio para se convencer de que estava tomando a decisão correta. Não conseguiu. Seu orgulho mais do que nunca parecia lhe impedir de falar às palavras que tinha ensaiado consigo mais cedo. Mentalmente é claro.

- Algum problema? - Kuroko questionou sem alterar sua expressão. - Eu estava indo ao Maji Burguer agora, se quiser me acompanhar... Podemos conversar um pouco se quiser.

Shintarou achou melhor apenas assentir. Não sabia se Tetsuya tinha percebido seu rosto um tanto vermelho nas bochechas. Provavelmente sim, e agradeceu pelo outro não comentar nada a respeito. Deixaria tudo ainda mais embaraçoso!

Não era como se fossem as pessoas mais próximas. Na verdade era bem o contrário. Sabia pelo tipo sanguíneo que ambos estavam destinados a não se darem bem. Porém fazia isso pelo seu bolso. Não era sempre que podia gastar tanto com seus itens da sorte. Mesmo em uma família que quase idolatrava esse tipo de coisa.

- Não vai pedir nada Midorima-kun? - Kuroko perguntou ao ter seu milk-shake de baunilha em mãos.

- Não estou com fome... Mais importante... - Midorima falou ajeitando seus óculos pela milionésima vez aquele dia. - Eu tenho um favor a lhe pedir.

- Ahh, que fome! Essa treinadora um dia vai me matar e...

Midorima congelou em seu lugar ao perceber quem era a pessoa que tinha se sentado bem ao seu lado. A pessoa também fez cara de espanto. Por sorte as dezenas de hambúrgueres que tinha comprado caíram em segurança sobre a mesa. Kuroko parecia não estar nem um pouco surpreso e disse tão somente:

- Kagami-kun.

- Ei... O que está fazendo aqui Midorima? - Kagami falou apontado escandalosamente para rosto do vizinho.

- Eu é que pergunto. - Midorima disse ajeitando os óculos mais uma vez - Isso era para ser uma conversa particular...

- Kagami-kun veio antes de nós. - Kuroko explicou em um tom neutro - Como ele é guloso só devem ter terminado de atendê-lo agora.

- Não tenho culpa se eles demoram muito... - Kagami comentou aborrecido.

Até que Midorima notou um detalhe particularmente importante em toda aquela situação. Parecia que realmente tinha acordado com o pé esquerdo aquela manhã, apesar de que tivesse certeza que não. A prova era aquele vermelho ambulante azarento bem ao seu lado. Isso foi o bastante para que ele surtasse de vez. Sem se segurar ou pensar direito empurrou o ás da Seirin com toda a sua força e se levantou perplexo. Bem, o estrago já estava feito. E ele sinceramente não estava tão ressentido consigo.

“Não fique próximo de nada vermelho ou dirá algo que não gostaria de dizer”. Seria isso o que seu horóscopo estava tentando alertá-lo? No entanto tinha perdido para o destino assim que ficou perto de Sayuri aquela manhã. E mesmo que tivesse ignorado sua repulsa pela cor azul claro e pego algo mais útil, às vezes era bom arriscar, mesmo que fosse tornar as coisas piores. Foi esse pensamento que o levou a se encontrar com Tetsuya. O homem que o fez confiar um pouco mais no imprevisível.

Só que, bem, não tinha como as coisas piorarem. Dirigiu-se a saída mesmo sob os protestos de Kagami.

Até que sentiu uma mão puxar o seu casaco do clube de basquete.

- Kuroko. - Midorima falou como se a palavra fosse nova a seus lábios.

Porém, por algum motivo, esperava que o outro viesse atrás de si.

- Midorima-kun. Acho que você deve um pedido de desculpas ao Kagami-kun. - Kuroko disse olhando firmemente para o ex-colega.

Midorima descansou o dedo indicador sobre o meio dos óculos como se o arrumasse. Era necessário manter o mínimo de calma.

- Não é necessário. É o que merece por me atrair tanto azar.

- Eu não acredito nesses tipos de coisas Midorima-kun, mas eu respeito. Então por favor... - Kuroko disse insistindo.

Kuroko sustentou seu olhar. Aparentemente o aperto em seu casaco não iria ser desfeito tão cedo caso não concordasse.

As pessoas já começavam a notar que havia algo errado.

Não se incomodava com o que as pessoas achavam de si. Podiam considerá-lo a pessoa mais alienígena que conheciam. Porém como aquele olhar intenso já estava começando a incomodá-lo deu um suspiro cansado.

- Tudo bem Kuroko. Farei o que me pede. Mas antes quero que você me faça uma coisa. - Midorima disse sem rodeios.

- O que você queria me dizer antes. - Kuroko falou entendendo onde queria chegar.

- Isso. Venha a minha casa hoje... - Midorima disse não com certo pesar para consigo mesmo - É questão de vida ou morte.

Lembrava-se muito bem de sua mãe o avisando a não trazer nenhum estranho para sua casa. Porém estava muito tarde para voltar atrás. Tinha que de alguma forma se livrar daquele azar acumulado ou mesmo depois daquele dia acabar isso ainda permaneceria grudado em si. Precisava de seus arremessos perfeitos. E de situações que era capaz de lidar.

Não como a que estava prestes a presenciar:

- Isso não é possível para mim Midorima-kun. Eu rejeito humildemente essa oferta. - Kuroko disse o soltando por um momento e o cumprimentando ao estilo tradicional japonês. - Na verdade se eu fizer vou ficar bem irritado.

Midorima olhou de Kuroko para as pessoas ao redor que observavam a cena curiosa. Até Kagami tinha parado com seu chilique e observava tudo com uma cara confusa.

Midorima não conseguiu evitar que seu rosto corasse ao perceber no porque de Kuroko rejeitá-lo. Mas depois ficou zangado.

Quem Kuroko Tetsuya pensava que ele era?

- Francamente. Acha mesmo que eu iria chamá-lo para fazer coisas tão vis? Vejo que apenas perdi meu tempo e paciência aqui. Com licença.

“Estou desapontado Kuroko”. Não precisava dizer tais palavras já que estavam estampadas em sua face para quem quisesse ver.

Midorima saiu do local assim como tinha ido: de mãos vazias. Não se lembrava de seu ex-colega de turma ser tão ligado nesse tipo de assunto. Já Midorima não tinha nada em sua mente além de seu basquete e formas de conseguir ser escolhido pelo destino.

No entanto por algum motivo seu peito se apertou com aquele tipo de negativa. Talvez ainda houvesse algum sentimentalismo no meio de tanta disciplina. Isso provavelmente não deveria ser visto como algo bom. Tinha perdido um bom tempo e concentração em formas de falar a Kuroko aquele favor, por exemplo. Isso não deveria ser nada demais, apenas mais uma imprevisibilidade do destino, mas não conseguiu mandar embora de sua mente a ideia de que aquele dia tinha sido injusto consigo.

Isso era simplesmente improvável. Talvez estivesse dando crédito demais a filosofia de Tetsuya em poder escrever a própria história. Quando chegasse a seu lar reveria as matérias do dia que não tinha prestado a atenção e tentaria afogar de vez aquelas ideias absurdas.

Pensar mais que isso seria demais. De alguma forma.


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Notas finais do capítulo

Só foi revisado uma vez, sorry, por algum motivo minha mana queria muito ver isso aqui pronto (?). Então estou dedicando esse primeiro ato a ela ♥ Espero que tenham gostado! Nunca é demais gostar de mais um casal, eu acho. NN