Agilidade escrita por Diane


Capítulo 8
Capitulo 8 - O terceiro




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Perspectiva de Sam

Sam estava se sentindo o máximo.

Na sua vida inteira ele tinha visto filmes de interrogatórios, de detetives e até lido alguns livros sobre o assunto. E agora, ele iria interrogar Tyler Stwert.

Ele dava pequenos pulinhos enquanto andava pelo corredor. As pessoas que passavam o olhavam como se fosse doido, mas quem se importa com a opinião publica? Bom, Sam não se importava.

— Você não está entusiasmado? — Ele perguntou para Alec.

Alexander Kroell parecia tudo, menos feliz. E inclusive, ele parecia que queria matar alguém e Sam pretendia não ser essa pessoa.

— Não.

O elfo se perguntou qual era a causa desse mau humor do capeta, mas não obteve uma resposta concreta.

Ah, mas que se dane o mau humor de Alec, hoje seria tão brilhante como Sherlock. Quem sabe ele poderia até se tornar profissional nisso, imagine, Sam, detetive profissional.

— Você está feliz demais para quem vai fazer um interrogatório.

A voz não era de Alec. Era Christine.

A feiticeira estava encostada na parede do corredor junto com Mary. A filha de Nyx estava com sua habitual expressão sarcástica que fez Sam pensar que ela iria tirar um da cara dele – Sim, Christine é um ser perverso que faz bullying com pobres e inocentes elfos.

Sam não ficou muito tempo encarando Christine, seus olhos foram atraídos para Mary. A ninfa estava espetacularmente bonita naquele dia, os cabelos dourados como o sol caindo sobre os ombros em leves ondas, e a pele parecia tão macia...

O elfo foi arrancado de seus pensamentos quando percebeu que Christine e Alec estavam rindo.

Ele franziu a testa.

— Qual é a graça?

As duas preguinhas riram mais. Mary parecia igualmente confusa.

— As poças de baba no chão — Alec falou, se sufocando com o veneno, ops, com a risada.

As mãos de Sam se dirigiram imediatamente para a boca, só para verificar se não estava babando. E infelizmente estava.

Ele queria virar um avestruz e enterrar a cabeça na terra pelos próximos mil anos.

— Ah? — Mary perguntou confusa.

Christine riu da inocência de Mary.

— Nada, pequena ninfa lerda, esqueça.

Sam lançou um olhar mortal para a feiticeira. Poderia ser assustador esse olhar, é claro, se Sam tivesse mais trinta centímetros de altura.

— Ártemis é sua patrona, você deveria ser inocente e pura! — E também não insinuar que estou babando em garotas, disse Sam.

Alec riu mais ainda e Christine teve que se apoiar na parede para não cair no chão.

— Ah, até Ártemis percebe quando alguém está devorando uma garota com os olhos — Ela respondeu.

Novamente, ele quis virar um avestruz.

Raphael salvou a vida e a reputação de Sam quando chamou Christine do outro lado do corredor. A feiticeira gritou um “Estou indo, criatura!” e saiu do seu campo de vista, e Mary a seguiu.

Ele e Alec continuaram caminhando até o quarto de Tyler. As vezes Alec olhava para a cara dele e ria, provavelmente rindo de uma piada que Christine lhe contava via telepatia, e Sam tinha certeza que sua cara estava mais vermelha que o cabelo de Vanessa e que a piada era sobre ele. Provavelmente deveria ser algo como: Oh, pobres empregadas que limpam esse chão, hoje as coitadas vão ter que limpar poças de baba de elfo.

Enfim chegaram até o quarto de Tyler. O elfo hesitou, mas enfim abriu a porta.

Ele esperava encontrar Chuck, ou a menina do exorcista, ou talvez um psicopata sanguinário segurando uma serra elétrica.

Felizmente, ele não encontrou nenhum deles.

Sentado em uma poltrona, estava um garoto. Ele aparentava ter por volta dos dezessete anos e era loiro; os olhos eram de um tom profundo de verde e ele tinha orelhas ligeiramente pontudas denunciando que ele era um elfo.

A coisa chamativa ali não era o garoto, na verdade, era o quarto. Sam sempre achou que tinha o quarto mais bagunçado do mundo, mas aquele era pior. Muito pior. A cama estava desarrumada, um pôster de um jogador de futebol estava colado na parede, o chão estava coberto de roupas sujas e embalagens de salgadinho. O elfo teve a ligeira impressão que tinha uma cueca presa no ventilador de teto.

Sam sentia uma compulsão de pegar uma vassoura, um desinfetante bem potente e um pano umedecido com álcool e começar a limpa aquele quarto. E olhe que ele nunca sentiu vontade de limpar algo durante sua vida inteirinha.

— Mary avisou que vocês viriam — O garoto falou.

A ideia de Mary ter conversado com esse moleque deixava o elfo extremamente irritado. Mas Mary era boazinha demais, só por que a criatura era amigo dela desde pequenos ela fez questão de avisar.

— Acho patético essa história de investigação... A policia já fez isso e não achou nada — Tyler falou.

“Patético é você”, Sam pensou. Por algum motivo estranho ele não ia com a cara daquele garoto.

— Mas nós não somos a policia — Alec falou, dando um sorriso perverso para o garoto, uma suave indicação que era melhor ele não usar palavras como patético para definir algo que ele estava fazendo.

— Pois é, vamos começar o interrogatório — Sam falou. Ah, deuses, desde pequeno ele sonhava em dizer isso.

Tyler empurrou algumas embalagens de duas cadeiras que estavam próximas á ele.

— Não querem sentar?

Sam e Alec se entreolharam e depois olharam as cadeiras. Duas cadeiras normais, é claro, se você ignorasse os restos de iogurte seco e chocolate branco dando uma “decoração adicional”.

— Não — Os dois disseram ao mesmo tempo.

Tyler deu os ombros.

— Por que você não gostava do seu primo, Ethan? — Alec perguntou.

O garoto parecia realmente surpreso, provavelmente não esperava que perguntassem isso á ele, esperava que perguntasse algo como ”onde você estava na noite da queda do lustre e etc.”, mas não esperava isso.

— Olhe, eu e meu primo nunca fomos muito amigáveis um com o outro — Tyler confessou — Ele era um vampiro e eu um mero elfo.

Sam entendia isso. As vezes metade de uma família era de uma raça e a outra parte de outra, isso por conta dos descendentes deles. E elfos e ninfas nunca foram muito valorizados por serem considerados fracos. Feiticeiros podiam controlar elementos, terem poderes psíquicos, e monte de outras vantagens. Vampiros eram rápidos, fortes, predadores naturais e as vezes um ou outro tinha um poder superior. Já os elfos e ninfas também controlavam a natureza, especificamente, o elemento terra, mas feiticeiros também fazem isso, então não era nenhuma grande vantagem. Muito raramente, um elfo ou uma ninfa tinha algum poder incomum, mas Sam não tinha essa sorte.

Podia se dizer que ele entendia Tyler nesse ponto.

— Você seria capaz de matar alguém — Sam perguntou.

Tyler o encarou horrizado.

— Claro que não!

Bom, um assassino profissional também diria isto.

— Conhecia Lauren? — O vampiro perguntou.

— A garota que morreu? Não.

Sem nenhum motivo aparente, os olhos de Sam percorreram o quarto enquanto Alec fazia perguntas á Tyler. Ele não estava prestando a atenção ao interrogatório, apenas na aparência do quarto.

Aquilo estava tão desarrumado que seria mais do que fácil esconder qualquer coisa ali. A policia não iria revirar uma pilha de roupas sujas, talvez.

Então foi que ele viu uma pequena borda de papel preto.

Papel preto. A mesma cor que foi usada no bilhete ameaçador que foi enviado á Lauren.

[...]

Perspectiva de Vanessa

Vanessa tratou de sair para bem longe daquela rua com ares de magia negra, apenas por prevenção.

Voltou o mais rápido possível para o Campo de Treinamento e entrou correndo igual á um leopardo na sala de sua tia.

Ilithya estava tranquilamente sentada em sua cadeira, mexendo em papeis enquanto cantarolava uma música do século XIV. Ela parou de cantar subitamente quando viu Vanessa correndo.

— O que aconteceu? — A loira perguntou enquanto abaixava os óculos de leitura e encarava a ruiva.

Vanessa tomou um pouco de ar.

— Alaric... eu o vi praticando magia negra.

Aquilo foi o suficiente para fazer Ilithya jogar a papelada para o canto da mesa.

— Como? Aonde.

Aí chegamos na parte complicada para Vanessa. Ela não podia dizer para sua tia que resolveu seguir um garoto e acabou descobrindo isso. Ilithya com certeza não aprovaria se soubesse que sua sobrinha estava seguindo pessoa por aí.

Então ela resolveu mentir. O que foi uma excelente ideia.

— Eu fui para Nova York fazer algumas compras no shopping, então vi Alaric caminhando em uma direção suspeita. Resolvi seguir ele, o garoto parecia estranho, não estou mentindo. Então ele entrou em uma rua abandonada cheia de casas velhas e sentia a presença de magia negra quando passei perto dessa rua.

Vanessa falou tudo isso olhando para os olhos de ilithya e evitando tremer. Não era tudo mentira, a parte sobre a magia negra era verdade, ela apenas ocultou o fato que estava seguindo-o de modo planejado.

Vampiros podem sentir a presença de magia negra a distancia e feiticeiros são ainda melhores nisso. Não existia a menor hipótese que Alaric entrou naquela rua inocentemente e não sabia de nada, isso deixava concluído que ele fora lá praticar magia negra em algum coven.

Magia negra era proibida com tudo o que era possível. Á muito tempo atrás, magia negra foi usada por Trivia para controlar seres mágicos e os escravizarem. E todo tipo de magia que causava escravidão mental era proibida.

Ilithya ficou furiosa ao saber que um aluno dela estava fazendo isso. A mulher saiu da sala subitamente e caminhou até o quarto de Alaric, Vanessa sem saber o que fazer, a seguiu.

— Alaric! Abra essa porta agora! — Ilithya gritou quando percebeu que a porta estava trancada.

Ninguém respondeu.

— Abra isso, senão vou estourar esta porcaria que você chama de porta! — a feiticeira ameaçou.

Novamente, ela não obteve resposta. Ilithya nunca foi uma pessoa muito paciente e não seria agora que começaria a ser. Fez um movimento leve com as mãos e a porta explodiu em pequenos fragmentos fazendo Vanessa se desviam para nenhum caco machuca-la. Ilithya nem reparou nos fragmentos pontiagudos e entrou no quarto.

— Eu avisei você que... — llithya parou de falar subitamente.

Vanessa ficou curiosa pelo motivo da sua tia ter parado de falar e entrou no quarto.

Então ela viu uma cena que nunca mais queria ver novamente. Alaric estava morto.

[...]

Perspectiva de Christine

— Eu nunca... vi alguém realmente morto — Vanessa estava chorando com o rosto afundado no travesseiro — Foi horrível. Ele estava deitado na cama, parecia dormir. Os lábios estavam entre abertos como se fosse falar alguma coisa. Quando vi ele... pensei que estava dormindo. Mas Ilithya puxou o cobertor e então eu vi a adaga enfincada no peito dele.

Vanessa parecia realmente mau com isso que aconteceu. E eu não a culpava.

— Eu devia ter entrado naquela rua e arrastado ele de volta para o Campo de Treinamento e força-lo a conversar com Ilithya. Se eu tivesse feito isso... Ilithya estaria punindo ele e o pobre garoto não estaria morto, estaria roxo, mas não morto.

Nunca falei com Alaric, a única coisa que lembro dele era que uma vez ele derrubou coca-cola em mim e eu briguei com ele na frente do refeitório inteiro. Mas é estranho saber que uma pessoa que nessa manhã mesmo estava bem estava morta.

Confesso que uma parte de mim achava que ele poderia ser culpado pelos assassinatos. Ele era bastante esquisito, e isso contribuía para me fazer desconfiar dele.

E era impossível que ele fosse o assassino. Ele não se suicidaria, por que não era da natureza dele e segundo Ilithya era impossível que ele tenha enfincado a faca em si pelo ângulo que ela estava.

Isso me fazia lembrar que qualquer um podia morrer a qualquer momento.

Vanessa abraçou Idia e voltou a chorar. Idia parecia muito irritada pelo fato de suas costelas estarem sendo esmagadas, mas deixou mesmo assim. Acho que Vanessa estava chorando não pelo garoto mas pelo que podia ter feito e não fez.

— Se eu fosse mais corajosa e me enfiasse naquela rua e o arrastasse para aqui, isso não teria acontecido.

Ao lado dela, Ian tentava dizer palavras consoladoras, mas não tinha muito êxito.

Fiquei calada e olhando para o teto. Nunca fui boa para consolar pessoas e duvidava que essa habilidade tivesse melhorado.

Então a porta se abriu e Raphael entrou no quarto.

— Vanessa, seu pai e a Guarda chegaram.


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Notas finais do capítulo

E aí, quem vocês acham que é o assassino ou a assassina?