Ilha das Nuvens escrita por Masrani


Capítulo 3
Não Eram Lagartos


Notas iniciais do capítulo

Chegou a hora de ir atras de algumas verdades. A descrença na existência de dinossauros é grande, mas será que isso irá mudar?



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Miguel estava empolgado. Seguia alguns metros à frente falando sem parar. Não entendi muito do que ele falou, a floresta parecia absorver as palavras e só me deixava ouvir o que ela queria. Isso me assustava um pouco. Fazia pouco mais de dois meses que eu estive ali e muito parecia ter mudado. Depois que fui parar no hospital por causa da mordida de um dinossauro (é estranho pensar nisso, mas eu já estava convencido de que o que me morderá foi de fato um animal que a muito deveria estar extinto), ter entrado em coma e ficado algumas semanas internado, estava de volta ao mundo. E acabei me deixando levar pela ideia de Miguel: capturar o espécime que me atacou. Ele obviamente tinha interesses financeiros nisso, não que eu não ficasse feliz em pensar no valor que um dinossauro de verdade valeria, mas eu tava querendo de uma vez por todas, tirar a prova de que dinossauros existem.

Por fim chegamos ao destino. Miguel parou de caminhar e tirou a mochila das costas. Enquanto ele pegava algo na mochila, eu observei ao redor. Reconheci o riacho que corria ao nosso lado esquerdo e a campina que se abria a nossa direita. Lembrei de ter fotografado meio que sem intenção o lagarto que estava sobre uma pedra do outro lado do riacho e que por um breve momento de distração, ele havia desaparecido. Me veio à mente, como um flashback de um filme, o momento que desci a campina e pouco tempo depois um lagarto pulou em meu braço e me mordeu. Certo de que o animal era muito rápido, mesmo que ele tivesse dado a volta por entre os arbustos e ido a campina, não creio que tenha alcançado o local onde eu fora mordido em tão curto período de tempo. Enquanto ponderava sobre isso, cheguei a uma conclusão: não poderia haver só um daqueles animais.

—_Pronto! __ levei um susto quando Miguel surgiu ao meu lado com uma gaiola de ferro, não muito maior que uma gaiola para um coleiro. __Vai caber. Só precisamos de um. ___ Acredito que minha feição tenha me entregado novamente. Estava incrédulo de que aquela gaiola serviria para alguma coisa.

—_ Sabe Miguel, estive pensando em algo. Eu fotografei o lagarto lá__ aponto para trás, um pouco acima, onde corria o riacho__ e fui mordido ali__ aponto para um ponto um pouco abaixo de nossa localização__ Certo?

—_ Certo __ responde Miguel.

—_ Estou em dúvidas se era somente um dinoss... lagarto basilisco__ embora internamente eu já houvesse aceito o fato de um dinossauro ter me atacado, falar em alto e bom som me parecia estupidez.

—_ Como assim? Se houvessem mais, mesmo que em pouca quantidade, já teríamos visto mais deles ou haveria mais relatos de ataques. Se bem que... __ Miguel para.

—_ Se bem o que?___  O silencio dele me deu calafrios.

—_ Alguns anos através, tivemos alguns ataques nos vilarejos. Bebês foram atacados em seus berços__ Novamente minha cara me entregou. O fato de pensar em inofensivos bebês sendo atacados por aquela criaturinha horrenda me assustou. Miguel tentou me acalmar:__ Mas calma, não chegou a ser nada grave. Nenhum foi morto. Tiveram febre semelhantes a sua, mas nenhum chegou ao extremo.

—_ Não acha que teria sido melhor avisar alguém de que estamos aqui? __ não acho que tenha sido uma boa ideia termos vindo para a floresta sem avisar ninguém.

Nem mesmo Eleanor, que fez questão de estar presente quando o médico me deu alta, sabe que estamos aqui. Pensar nela me trouxe uma tranquilidade. Quando estava saindo na porta do hospital, Eleanor veio correndo para se despedir. Não sei como chegamos ao ponto de trocar telefones e marcarmos um jantar, sempre fui um desastre flertando com mulheres, mas depois de uma breve conversa, ela me deu o número dela e eu o meu para ela. Um abraço meio desajeitado e ela voltou correndo para dentro do hospital.

A noite, Eleanor me encontrou em frente à casa onde eu estava hospedado. Desde que cheguei na Costa Rica fiquei na casa de uma família que recebe estudantes de outros países. Caminhamos lado a lado rua abaixo, não muito mais do que cinco minutos. Ela me levou a um pequeno restaurante, que no Brasil provavelmente seria chamado de botequim, mas era muito agradável e bem frequentado. Havia muitas famílias comendo e bebendo no estabelecimento.

Passamos um bom tempo juntos, conversando e descobrindo um pouco mais um do outro. Descobri que Eleanor não era nascida na Costa Rica, sua família se mudou para os Estados Unidos, ela nasceu em solo americano e até os seis anos morou com sua família na Flórida. Ela não chegou a ser registrada nos Estados Unidos, seus pais foram deportados e ela veio junto para a Costa Rica. Enfim foi registrada nas terras nativas de seus pais. Ela disse que nunca se sentiu americana. Gostei de ouvir ela durante vários minutos. Já sobre mim, não tinha muito o que contar, mas fiquei feliz em falar um pouco sobre a chance que tive em fazer um intercâmbio nos Estados Unidos através de uma bolsa que ganhei em uma ação social que aconteceu na minha comunidade, já que minha mãe não teria condições de me proporcionar tal experiência se fosse paga. Eu já esperava que ela demonstrasse certo interesse em saber o porquê não falei do meu pai em momento algum. Não era algo que eu comentava muito, mas com Eleanor poderia ser diferente, desde que a conheci, senti que ela era uma pessoa que se importava de verdade com outras pessoas. Tentei resumir o máximo que pude, mas passei uns trinta minutos falando dele. O homem que me colocou no mundo, que sustentou minha mãe e eu mesmo diante de tantas dificuldades, mas que infelizmente, no desespero, se sucumbiu a vida do tráfico e foi morto em uma ação policial.

Por fim, terminamos a noite com um beijo em frente ao restaurante.

—_ O que você vai fazer amanhã? __ ela disse quando nossos lábios se separaram.

—_ Nada importante, talvez fazer algumas fotos na cidade. __ Miguel me pediu para não contar a ninguém o que faríamos no dia seguinte__ E você?

—_ Tenho plantão de 24 horas no hospital. __ ela revira os olhos__ Oba!

Dou uma leve risada pela cara cômica dela. Nos abraçamos e nos despedimos.

—_Relaxa. Vai ficar tudo bem! __ diz Miguel ao meu lado me tirando de meu devaneio da noite passada.

Não se passaram dez segundos depois que ele disse essa frase amaldiçoada e ouvi sons sibilantes seguidos de pequenos guinchos vindo da mata. O som era assustador e só piorava por não saber de onde vinha.  Antes que eu pudesse perguntar a Miguel que animal faria aquele barulho, um pequeno lagarto pulou de trás de uma moita e ficou de pé na nossa frente. Ele estava de pé sobre as patas traseiras e a cumprida calda balançava para cima e para baixo enquanto ele tentava manter o equilíbrio.

Agora que estava vendo o animal com mais calma, não havia duvidas. Não era um lagarto basilisco, aquilo era um Compsognathus. Não, espera. Não era um, mas sim dois. Um segundo comp pulou do lado do primeiro e ficou na mesma posição. Os dois nos olhavam fixos.

—_São ou não são dinossauros? __ Miguel estava entusiasmado olhando para os animais. Ele se agacha e fica de frente para eles. Os animais não demonstram medo e continuam na mesma posição.

—_Acho que sim. __ Com certeza são dinossauros. Mas não podia demonstrar o quanto aquilo me fascinava e me assustava ao mesmo tempo.

Dinossauros. Havia dois pequenos dinossauros bem na minha frente. Como isso era possível? Será que as histórias sobre a InGen eram verdadeiras? Como aqueles Compsognathus chegaram até a costa? Não podem ter sido esses pequenos comps que destruíram as instalações na Isla Sorna. Se haviam esses exemplares, sabe-se lá Deus o que mais eles criaram naquela ilha. E o Sr Hammond, será que foi vítima dos animais que trouxe de volta a vida? A única certeza que tenho é que não pode ter sido os comps responsáveis por sua morte, ou será que podem?

Enquanto eu estava perdido em pensamentos e Miguel agachado olhando o animal na sua frente, não percebemos que estávamos cercados. Haviam dezenas deles. Todos sibilando e soltando agudos guinchos, nos olhando. E agora eu estava pronto para dizer para quem quisesse ouvir, aqueles animais não eram lagartos basiliscos, eram dinossauros e nós éramos suas presas.


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