O País dos Generais escrita por Redbird


Capítulo 7
Fantasmas e Passados


Notas iniciais do capítulo

Hello, Its me!!!

Olá seus lindos. Finalmente!!!! Eu não sei vocês, mas estava morrendo de saudades. Eu não sabia se deveria continuar a fic, mas não consigo ficar longe de vocês então... Aqui vai o País dos Generais. Olhem só, consegui voltar no dia que pretendia (:D) Hoje é um dia especial para nosso fandom então realmente espero que gostem. Para aqueles que forem ver o filme bom filme. Para aqueles que vão depois bom filme também. Segurem os forninhos meu povo! Anyway.... espero que curtam de verdade.



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Deja Vu, me dei conta parada na velha mesa da cafeteria, era apenas uma expressão francesa para algo incrivelmente mortificante e desconfortável. Finalmente eu tinha conseguido entrar em contato com a resistência.

Fazia duas semanas que Hazelle tinha desaparecido. Gale e eu peregrinavámos procurando por ela. Sabia que estava cometendo um desatino procurando assim descaradamente. Se a haviam pego é porque sabiam da resistência. Se descobrissem que eu tinha algo a ver com ela estaria condenada. Só que não há nada mais doloroso do que esperar respostas. Eu tinha ido a hospitais, delegacias e uma vez, num puro ato de desespero, tinha ido a um necrotério. Mas nem um sinal de Hazelle.

Para não sucumbir ao desespero, e por extrema necessidade, meu amigo assumira completamente as tarefas da família. Com o pai morto, a mãe desaparecida, só sobrara ele. Tive medo que Gale começasse a odiar Hazelle pelo desaparecimento. Mas ele era inteligente demais para achar que ela havia abandonado os filhos por conta própria.

Todo dia eu ia até a casa dele. Ás vezes até voltava depois, quando meus pais já estavam dormindo e invadia o quarto de Gale. Ficávamos conversando até que ele pegasse no sono. Ás vezes, eu pegava no sono antes, mas ele dizia que ajudava. Se há algo que aprendi naquelas noites é que, quando alguém que você ama desaparece, não é possível dormir tranquilo. Nunca mais.

Eu contatara a resistência imediatamente depois do baile. Logo após acalmar Gale e deixá-lo dormindo calmamente em minha cama, corri até o apartamento de Johanna. Bati a porta e ela me atendeu mal humorada.

–Você sabe que horas são?

Eram 6 horas da manhã. Eu só conseguia pensar em quanto tempo fazia que Hazelle tinha sido pega. Se o tempo ainda era algo válido para ela.

–Pegaram Hazelle, eles sabem da resistência- despejei sem me importar com o mau humor de Johanna.

A Garota me lançou um olhar despreocupado, não consegui detectar nada nos olhos negros da minha amiga. Ela apenas aquieceu.

–Fique preparada.

E fechou a porta e tive que seguir para casa, tentando encontrar algum ponto firme na bagunça que eu tinha me metido.

“Fique preparada” significava encontrá-la, uns 5 dias depois, na saída da minha aula na faculdade fumando calmamente em uma árvore na entrada do prédio. Ela me viu, veio até mim e com o mesmo jeito lacônico que respirava me encarou.

–Sexta-feira. Mesma cafeteria ás 6h. Espere lá.

Então, aqui estava eu. Protegida do frio do inicio de inverno na cafeteria, esperando para ver se a resistência pelo menos tinha alguma resposta do que acontecera com Hazelle.

–O que vai querer?- Perguntou uma mulher loira, me tirando do meu devaneio.

Antes que eu pudesse responder Johanna chegou e deu um sorriso para a garçonete.

–Capuccino para as duas-falou dispensando a mulher, enquanto eu olhava para a janela a procura do fusca azul da última vez.

–Alguma noticia de Hazelle?- Perguntei antes mesmo que minha amiga pudesse sentar na cadeira a minha frente.

Johanna me lançou um olhar contrariado.

–Calma garota.Você sabia que ela não foi a única? Sabia que eles prenderam dezenas de pessoas só na última semana? E eles nem começaram Katniss.

Olhei para Johanna, sentindo todo o medo que vinha guardando há semanas prestes a explodir.

–O que você quis dizer com isso?

–Você vai saber quando encontrarmos os outros- respondeu Johanna enigmática.

15 minutos depois nos duas vimos quando um fusca azul estacionou na frente da cafeteria. No próximo segundo eu já estava dentro do carro, seguida por Johanna.

Era engraçado, mas não pude evitar olhar para todos os lados assim que Finnick, o garoto ruivo, apertou o acelerador e seguiu para a casa de Haymitch na zona sul da cidade. Eu tinha que admitir, eu era uma péssima espiã.

Pelo menos desta vez estava de calças e com uma jaqueta de couro velha do meu pai, não com um dos vestidos estúpidos que minha mãe me obrigava a usar.

Não demorou muito e já estávamos na pequena casa de Haymitch, o fogão a lenha aceso para proteger contra o vento inclemente do Guaíba e o frio do inicio de Maio. O homem parecia alheio a tudo ao seu redor, concentrado em por a água na chaleira, enquanto todos chegávamos. Me peguei querendo ter toda essa calma. Há dias que eu tinha que fingir estar tudo bem, principalmente para minha família e Gale, que estava tão perdido que eu mal podia reconhecer. E até agora eu tinha feito um péssimo trabalho.

–Bom- começou Plutarch analisando uns documentos que tinha pousado sobre a velha mesa de madeira- Como posso deixar isso mais claro? Estamos fudidos.

Encarei meus colegas, todos os que tinham estado na reunião em que fui apresentada a resistência estavam ali. Todos eles pareciam mais sérios do que da última vez que os tinha visto.

Plutarch começou a explicar que seu contato dentro do quartel de Porto Alegre afirmava que os militares estavam tendo ajuda estrangeira, da Argentina, onde os militares tinham tomado o poder 2 anos antes e alguns americanos. Agentes da inteligência desses dois países, pessoas tidas como comuns, estavam no Brasil ajudando nosso militares e tinham apenas um objetivo: caçar comunistas, e por baixo dos panos, pessoas que se opusessem ao regime.

–Meu Deus, Hazelle!- comentei, sem conseguir me conter. Era terrível demais imaginar o que eles podiam estar fazendo com ela. Já fazia dias.

–Hazelle está em maus lençóis- comentou Plutarch friamente – Mas ela não é a única. Pegaram mais 6 pessoas da cidade e nosso grupo na fronteira com a Argentina teve que ser desmantelado. 3 pessoas já fugiram para o Uruguai. Esperamos que nossos companheiros lá lhes deem asilo.

–Espero que eles gostem de panchos- comentou Johanna lembrando de uma espécie de cachorro quente do país, como se eles tivessem ido tirar férias por vontade própria.

Aquilo meio que me irritou um pouco. Ajeitei melhor a jaqueta de couro que estava vestindo. Mesmo dentro da pequena cabana, sentia como se estivesse congelando.

– O que vamos fazer para ajudar Hazelle e os que foram capturados?- Questionei enquanto Haymitch me alcançava uma xícara de chá. Percebi que quando fiz a pergunta ele me encarou. Era como se ele tivesse tentando me passar uma mensagem silenciosa com aquele olhar. Acima de tudo, vi que era um olhar de pena e isso me irritou ainda mais.

–Nós não podemos fazer nada por Hazelle. Já estou com informantse nos quarteis, mas eles também não sabem nada sobre os desaparecidos. Um deles viu três soldados carregando um homem que parecia muito um dos nossos camaradas, mas assim que ele tentou chegar perto os soldados disseram que aquilo era assunto confidencial.

–Mas temos que fazer alguma coisa. Se eles conseguirem tirar alguma informação dela, estamos todos perdidos. Temos que resgatar essas pessoas.

Plutarch soltou um resmungo exasperado.

–Nós já estamos buscando o máximo de informações possível com o pessoal infiltrado, não podemos fazer mais nada.

Não pude deixar de notar que o tom de voz dele deixava claro o quanto achava que eu estava fazendo um papel de tola. Os outros baixaram a cabeça, parecendo concordar com ele. Apenas Haymitch permanecia impassível.

– Nos envolvermos mais é perigoso. Quando eles entraram nisso sabiam exatamente os riscos que estavam correndo- falou Plutarch como se encerrasse a discussão- Além do mais, estamos mais preocupados com as informações que você conseguiu na festa.

Engoli a raiva. Sabia que fazia sentido que eles estivessem mais preocupados com as informações do que com Hazelle. Sabia que minha amiga era durona, acontecesse o que acontecesse ela sobreviveria, mas ainda assim… Ser racional quando se trata de alguém que você ama é tão simples quanto voar em torno do sol.

Entreguei os documentos que conseguira no baile. Não fora fácil, tive que despistar os Mellarks, convidados que se achavam no direito de andar por todo o clube e seguranças que estavam por todos os lugares. Pelo menos minha família estava feliz demais para notar qualquer coisa.

–Ótimo, isso vai ser útil.

O que seria útil eu não sabia. Eu tinha visto que eram plantas de alguns locais da cidade, alguns nomes. Nada mais que isso. Segundo Plutarch, era o mapa do poder no estado. Assim que percebi que minha presença na pequena reunião não era mais necessária, sai para fora da pequena cabana. Mesmo com o frio e com o sereno da noite, sabia que conseguiri respirar melhor ali. E se ficasse lá fora, não deixaria minha irritação me trair.

Não deu dois minutos percebi que Haymitch tinha se juntado a mim. Ele estava com um copo. Percebi que o copo era uma presença constante na vida dele.

–Eu sei o que você está pensando- comentou ele, se posicionando do meu lado na varanda.

–Que você bebe demais?- Questionei sem me importar em ser sarcástica. Era engraçado, mas eu tinha ganas de deixar que Haymitch visse esse lado meu que ninguém mais via.

Ele riu, mas não um riso divertido.

–Alcóol é um purificador natural. Existem coisas em mim que precisam ser purificadas, sabe? Cada um faz isso como pode. Eu bebo, você se junta a resistência.

Dessa vez quem riu fui eu.

–Não me juntei a resistência para me purificar- Respondi. No entanto assim que terminei de falar, lembrei de Johanna. Haymitch tinha razão. Eu tinha me juntado por causa da culpa que me consumia desde aquele dia. Ou não. Algumas coisas são complicadas demais.

–Bom, seja o que for. Eu sei que você está irritada- comentou ele.

A raiva parecia uma onda que se afastou demais da praia para voltar com toda a força. Era assim que eu estava me sentindo.

–Irritada não começa nem a descrever o que sinto. Preciso encontrar Hazelle. Gale..a família precisa dela. Eu imagino que a família dos outros capturados também. Mas é como se eles não importassem. É…

–Terrível. Eu sei. Mas você tem que estar preparada para isso. Eu já estive na sua posição. E acredite… não há nada mais enervante.

Concordei com a cabeça.

–Então você acha que eu devo simplesmente esquecer Hazelle?- Perguntei, sentindo a exasperação me dominar.

Haymitch sacudiu a cabeça. Me encarou e sem querer percebi que os olhos cinzentos do velho eram do mesmo tom dos do meu pai. Do mesmo tom que os meus.

–Não. Mas você não pode contar com eles. Se quer respostas… procure você mesma. E sinto lhe informar menina, a melhor forma de fazer isso é trabalhando para esses caras aqui.

Foquei a paisagem, buscando conforto nas águas do Guaíba, procurando me mimetizar com os movimentos das árvores. Eu sabia que ele tinha razão, no entanto meus instintos mais primitivos me faziam querer bater o pé e ficar parada até que me devolvessem minha amiga, exatamente como uma criança. Suspirei e fiz força para assentir para Haymitch.

–Você é parecida com ela, sabe?- Disse ele- Minha filha, quero dizer. Ellie. A mãe dela gostava desse nome.

–A sua filha… foi quem você perdeu? Digo… quem você teve que esperar como eu?- Questionei, percebendo que estava interessada na história do velho.

Ele riu.

–Sim. Mas faz muito tempo. Uns anos. Ela desapareceu. Nunca soube bem o que aconteceu. Acredito que tenha sido morta por integralistas. Ela estava envolvida com movimentos estudantis. Anos 50, uma época tão diferente. Ela tinha só 18 anos.

–Integralistas- Eu estava confusa.- Mas eles não sumiram depois da guerra? Você é novo para ter uma filha que morreu há tanto tempo assim.

Haymitch fechou os olhos. Percebi que ele estava imerso em lembranças.

–Não. Eles não sumiram. Estão ai...apenas clandestinos. Tenho medo do que possa acontecer agora com os militares no poder. Outras Ellies. Eu sei que foram eles. Eu sempre soube tudo o que acontecia com minha Ellie.

Assenti, entendendo perfeitamente o que ele queria dizer.

–Como ela era?- Não me contive. Não sabia porque continuava tocando nesse assunto doloroso, mas Haymitch parecia querer falar.

– Ela...era rebelde. Não se conformava- Riu com a lembrança- Talvez seja por isso que tenha se apaixonado por quem se apaixonou. E talvez seja por isso que ela me lembra você.

Sorri a contra gosto.

–Por quem ela se apaixonou?- Insisti, curiosa para saber um pouco mais sobre a garota.

–Não sei o nome. Ellie dizia que era muito perigoso. Era uma garota.

Haymitch esperou que eu fizesse um comentário, ou parecesse chocada. Coisa que eu não faria, já que para mim amor era amor e ponto

– Filha de militar- continuou ele depois de alguns segundos- Acho que descobriram… alguns pais não aceitam. Talvez as duas tenham se envolvido em algo perigoso. Ellie adorava uma boa luta. Só sei que um dia, quando voltei do trabalho, tudo o que encontrei foi o colar com a estrela de Davi que a mãe dela tinha dado no aniversário e duas mechas de cabelo. Depois disso… nunca soube de mais nada. Fazem 12 anos. Parece que foi hoje.

Não soube o que dizer, às vezes acho que o silêncio foi feito para isso. Assimilar a dor do outro. Ficamos um bom tempo ali, olhando para o Guaíba, tentando imaginar se algum dia nossos desaparecidos voltariam. Se nossos fantasmas deixariam de nos assombrar.

Na próxima segunda a conversa com Haymitch ainda martelava na minha cabeça. Eu sabia que tinha que buscar respostas se quisesse encontrar Hazelle. As aulas na faculdade tinham perdido toda graça. Eu sentia como se estivesse perdendo tempo ali. As aulas de moral e civica eram o pior de tudo. Um suplício. Então eu fiz algo que nunca tinha feito antes. Matei aula.

Sentei no banco da faculdade, o mais distante que podia da entrada onde os soldados patrulhavam. Eu peguei o livro que estava lendo “O sol é para todos”. Desde que lera algo sobre ele no último Correio do Povo, eu tinha praticamente esperado que nem uma louca para comprar este livro,

Deixei que o livro me carregasse até um mundo diferente, tão cruel quanto o meu, mas eu sempre achei que existe algo de redentor na crueldade de papel, não fui feita para romances e cavalos brancos.

–Sabe, se continuar matando aula de Educação Cívica, eles podem fazer você perder seu diploma.

Aquela voz, eu sabia bem a quem ela pertencia. Levantei os olhos do livro, sabendo que tinha que jogar o jogo.

–Você não está com medo de perder seu diploma senhor Mellark?- Perguntei. Ouvi os lábios dele se contrairem num sorriso.

– Eu passo o dia com Cato e com meu pai. Não há nada que eu não saiba sobre essa aula.

Assenti, sem saber como responder bem aquilo, um Peeta bem humorado e sarcástico era algo totalmente novo. E Deus, vê-lo serviu para me lembrar da última reunião da resistência. Boo Radley teria que esperar, eu tinha um trabalho a fazer. “Se quer respostas… procure você mesma”

–Gostaria de tomar um café? Você não parece interessado em voltar para aula.

Peeta me encarou, percebi que nunca poderia entender completamente o que passava por detrás daqueles olhos azuis. Parecia estar me avaliando. Era engraçado, mas ele parecia temer que estivesse tramando algo contra ele. Ótimo, você está jogando também. De algum modo ele parecia até...frágil.

– Por que não?- Perguntou ele.

Sorri, conduzindo-o para a cafeteria do Campus, sabendo que pela primeira vez, havia muito mais em jogo do que a resistência.


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Notas finais do capítulo

Então seus lindos? O que acharam? Preciso muito da opinião de vocês. Espero de todo o coração que tenham gostado. Beijão.



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