O País dos Generais escrita por Redbird


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Hey minha gente mais uma história da tia Red. Essa é especial para mim porque é um desafio. Escrever sobre meu país e minha cidade quem diria. Também porque bom... em tempos onde as pessoas não sabem bem o que é viver em um ditadura é uma grande responsabilidade escrever sobre isso. Espero que gostem. Beijos seus lindos.Até as notas finais (espero)



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O vento soprava forte e Katniss sorriu ao perceber os primeiros indícios de outono. A universidade se transformava, deixando para trás aquele calor insuportável do verão. Apesar de ser apenas terça ela se sentia cansada. A aula de História da América Latina não tinha sido nada fácil. Ela sentia um comichão toda vez que o professor falava sobre Jango. "O grande culpado pelo estado calamitoso do país". E que os Yankes nos salvem dos comunistas. Típico. Embora muito dos alunos tivessem discordado, ela pôde ver que a grande maioria parecia confusa com tudo o que estava acontecendo. Bom, ela não os culpava. Mas dai a pedir um impeachment? Havia muita água correndo por debaixo do rio.

Ela caminhava junto com Cato para a saída e fazia o possível para acompanhar o que o amigo dizia. Os dois tinham tido a mesma aula embora fizessem cursos diferentes. Cato fazia Ciências Jurídicas e ela Letras. Estava pensando em mudar para ciência sociais só que isso ela não contaria para ninguém.

O amigo falava sem parar sobre as aulas, sobre a vida dele no exército, sua nova namorada, Clove, que ele dizia parecer com uma candidata do Miss Universo (um programa que embora a mãe e a irmã adorassem ela odiava), e tudo o que Katniss conseguia escutar era o barulho do vento e sua mente lhe dizendo para descansar.

–Kat, você está me ouvindo? Sabia que eu fui promovido a Terceiro Sargento?

26 anos e ele chegara tão longe quanto poderia chegar. Katniss imaginou como estaria Cato daqui a alguns anos. E percebeu que seria a esposa de um militar se estivesse com ele. Cato fora o único homem que já fizera uma proposta séria para Katniss, o único que fizera qualquer proposta. Isso tinha sido há três anos, enquanto ela ainda estava no colégio. Mas ela sabia que ele não era sério e que eles nunca combinariam. Katniss era do tipo que gostava de ler, do tipo que odiava injustiça. Do tipo que não respeitava muito autoridade. Já Cato... acreditava na lei do mais forte.

–Nossa. Parabéns- cumprimentou com um sorriso vazio que Cato não pareceu notar.

–Espero ver você no protesto semana que vem- Falou Cato antes que ela pudesse ir embora. O interesse de Katniss se acendeu.

–Que protesto?- Perguntou, pela primeira vez sentindo um interesse genuíno na conversa.

–Contra o Jango claro. A favor da família brasileira, implorando por uma intervenção militar. Você vai, não vai Katniss?

Katniss fez um esforço para esconder a desaprovação.

–Você sabe que não concordo com isso Cato. Eu tenho lido algumas coisas....Uma intervenção militar, não sei como isso poderia ajudar o país.

Cato revirou os olhos. Katniss odiava quando as pessoas faziam isso com ela. Como se ela fosse uma menininha boba.

–Katniss, não entendo você. Tudo bem que tenha uma opinião errada sobre política, você é apenas uma garota. Mas Por que não percebe que seu lugar não é com esses pervertidos?- Ele indicou com a cabeça Johanna uma amiga de Katniss que estava sentada, fumando um cigarro calmamente, parecendo alheia a tudo.

–Cato, eu não concordo com esse protesto. Você sabe que eu não vou e pare de implicar com meus amigos.

Cato fez um gesto que queria dizer claramente 'como queira'. Um garoto loiro chegou finalmente interrompendo a conversa dos dois. Ele parecia com Cato, exceto pelos olhos. Eram de um azul profundo que lembrava coisas como céu, mar e um dia de verão.

–Ora, ora. Finalmente- comentou Cato- Katniss esse é meu irmão Peeta. Ele voltou dos Estados Unidos semana passada. Está cursando medicina aqui.

Katniss sabia que Cato tinha um irmão é claro, que ele morava nos Estados Unidos também, mas não fazia ideia que o garoto tinha voltado. Lembrava um pouco dele de quando eram crianças. Ele era um ano mais velho que ela. Devia ter 24, agora. O Garoto era calado e nunca aceitava os chamados para brincar dos outros. Katniss se lembrou de uma vez em que ela o pegara desenhando. Fora o desenho mais bonito que ela vira na vida. Quando falou isso ao garoto ele ficou tão vermelho que a Katniss achou que ele se fundiria ao por do sol no papel.

–Bom, tenho que ir. Meu amigo me espera- Aproveitou para se despedir quando percebeu que havia uma figura conhecida ali perto.

Cato olhou para Gale com desprezo. Os dois nunca tinham se dado bem. Eram como dois universos colidindo. Katniss sabia que era bom manter os dois afastados. Cato tinha vindo de uma família poderosa. Não judia como Katniss, mas de autênticos porto alegrenses. Uma longa lista de militares que remontava a revolução farroupilha.

–Pense nisso Katniss. Semana que vem, na frente do palácio Piratini. Quem sabe você não arranja um par para o baile do clube juvenil lá?

Katniss apenar revirou os olhos.

–Cato, ela não deveria ir. Mulheres não devem ir a protestos- comentou Peeta, avaliando Katniss- É perigoso.

Katniss olhou para ao garoto com desagrado e saiu. Peeta era com certeza mais um machista e aquela fachada quieta só servia para esconder alguém perigoso. Ela ficou consciente dos olhares que ele lhe lançava enquanto caminhava em direção até Gale, mas fingiu não se importar.

A garota esqueceu a política, as aulas chatas e até mesmo o baile da sociedade do clube juvenil no próximo mês quando viu uma silhueta conhecida debaixo de uma árvore. Ele fumava um cigarro calmamente enquanto observava os estudantes com um olhar desinteressado. Os olhos cinzentos do garoto se acenderam assim que a viram.

–Gale!- Disse ela meio ralhando meio se divertindo assim que alcançou o amigo- Você não precisava ter vindo me buscar. Sou perfeitamente capaz de ir para casa sozinha.

Ele revirou os olhos e a abraçou. Katniss e Gale se conheciam desde que eram crianças. Vizinhos, melhores amigos, quase irmãos. Gale nunca esquecera o modo como Katniss fora uma das poucas crianças a proteger o único menino muçulmano do bairro mais judeu de Porto Alegre, o Bom Fim. Katniss estava tão acostumada a presença de Gale que não saberia dizer como seria um dia sem ter ele por perto.

–Já está escurecendo, não é bom uma moça voltar sozinha.

Katniss deu um soco fraquinho nele.

–Sabe, minha mãe já está achando que vamos nos casar. Se você vier me buscar todo dia, ela é capaz de mandar fazer o vestido amanhã mesmo.

Gale olhou para ela um sorriso debochado, mas antes que ele pudesse responder Katniss foi atingida por uma massa de cabelos negros e cheiro de cigarro. Mais um abraço de sua amiga moralmente insana, como Johanna gostava de se definir.

–Johanna- ela se conteve para não rir- Se acalme menina.

–Não posso, tenho que ir pagar o aluguel e estou sem dinheiro- disse ela suspirando- Vejo você depois.

Ela olhou para Gale e saiu cantando a nova música dos beatles. Johanna era aficionada por essa banda, além do Elvis é claro. Katniss ouviu um "I Wanna hold your hand, i wanna hold your hand" e revirou os olhos para Gale.

–Ela é maluca- comentou enquanto seguia com Gale para o fusca que estava estacionado ali perto.

Gale fez um muxuxo que pareceu muito com reprovação.

–O que foi?- perguntou ela observando a cara fechada de Gale.

–Sua mãe sabe que você anda com uma garota desse tipo? E ela está cantando música americana Katniss. Achei que você era contra ouvir música americana.

–Para sua informação os Beatles são ingleses, não americanos. E ela é ótima. E a banda também.

Gale apenas fez um gesto para que entrassem no carro. Os dois se dirigiram a beira do rio da cidade. Dizem que o por do sol do Guaíba é um dos mais bonitos do Brasil. Naquele momento Katniss podia acreditar.

–Achei que você ia me levar para casa- disse ela sorrindo. Gale deu um sorriso e pegou a mão da amiga.

Quando os dois chegaram lá, já eram cerca de sete horas e o sol ia se pondo. O tom do céu era lindo e Katniss se viu segurando a respiração com a beleza de tudo aquilo, por mais que já tivesse visto isso milhares de vezes. Gale e ela se sentaram quase na margem do rio.

–Sobre o que você e Cato conversavam?

Katniss olhou para Gale, tentando decifrar o amigo.

–Nada em especial. Ele quer que eu vá com o pessoal naquele protesto idiota.

No chão havia inúmeros folhetos, todos dizendo a mesma coisa "Impeachment já " "Fora corrupto" e "Intervenção militar, a salvação do Brasil". Tudo para lhe lembrar da conversa que tiver com Cato e de que os ânimos do país estavam exaltados.

Gale assentiu, ele estava estranhamente sério.

–O que foi Gale? Você está tão sério- provocou Katniss, tentando fazer o amigo se abrir.

–Eu não consigo parar de pensar sabe. Eu estou com um pressentimento- Confessou pegando um dos folhetos- Todo mundo está falando sobre isso. Sobre tirar Jango do poder, sobre uma intervenção militar...O que acontece se eles tomarem o poder Katniss?

Era essa pergunta que ela vinha se fazendo há tempos. Desde que as pessoas começaram a sair nas ruas apoiando esses protestos. Ela se lembrou do pai contando das prisões getulistas. Dos gritos, das mulheres chorando sendo estupradas, dos pais sem noticias dos filhos. Ela se obrigou a sorrir.

–Não vai acontecer nada Gale. Você vai ver. Talvez Jango saia do poder. Outro idiota assume. E nós continuaremos com nossas vidas patéticas observando o por do sol do guaíba.

Gale sorriu para ela e assoprou um dente de leão no rosto da garota que ficou com pedaços no cabelo. Ele se levantou e saiu correndo enquanto Katniss o perseguia.

–Volta aqui isso não é justo.

Ela correu para perto do porto que ficava perto da usina. Gale se voltou de repente e a segurou de modo que ela ficasse de frente. Gale era uma pessoa séria, mas hoje havia uma nuvem sobre ele.

–Me prometa- ele a segurou mais apertado- Aconteça o que acontecer você vai se manter segura. Aconteça o que acontecer vamos continuar juntos.

Katniss assentiu entendendo exatamente o porque de Gale estar implorando por essa promessa.O amigo tinha crescido ouvindo histórias de regimes totalitários. Sua família fugira do Irã em 1945, logo depois da guerra, quando os aliados tinham invadido o país e deposto o Xá e o pai dele achara que não era mais um lugar seguro. Acima de tudo Gale era o diferente. O diferente sempre é a primeira vitima. A Garota apenas assentiu, não havia porque falar. O sol já havia se posto.

Quando chegou em casa aquela noite Katniss estava tão cansada que acabou dormindo logo depois do jantar. Teve um sonho terrível em que alguém gritava e implorava para que ela ajudasse, mas ela simplesmente não conseguia.

Ela corria em um corredor escuro. Estava diferente e havia sangue em suas mãos e uma dor aguda no peito. Ele pode sentir algo úmido correndo por sua bochecha. Lágrimas. E ela ouviu os gritos. Gale. Era Gale quem estava gritando.

O Corredor ia se estreitando cada vez mais e os gritos ficando mais fortes. Ela ouviu botas. Soldados. Eles pareciam vir de todas as direções. Alguém a segurou forte. Ela se virou e deu de cara com o garoto de olhos azuis. O irmão de Cato.

–Não Katniss, corra, saia daqui.

A voz dele parecia desesperada, implorando até. Ela nunca tinha ouvido uma voz como aquela.

–Corra- ele repetiu-Katniss, Katniss

Ela acordou com os olhos de Gale assustados, dentro do quarto dela.

–Katniss

O barulho era ensurdecedor. A Garota foi até a janela. Carros blindados passavam a toda velocidade. Furgões do tipo que ela nunca tinha visto na vida. Soldados por toda a parte.

–Eles conseguiram Katniss. Eles tiraram jango do poder


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Devo continuar, devo apagar isso e queimar... por favor me digam o que acharam. Beijos seus lindos. Red ama vocês



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