O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 18
Divulgação e shows.


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo tem um videoclipe. É montagem.
Ao final do mesmo tem os devidos créditos.
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Poucos dias depois recebi em minha casa, os dois contratos de Regis; um de vencimentos a receber por vendas de discos e outro a pagar, por efeito de divulgação dos próprios discos. Ambos com valor de setenta mil cruzeiros mensais pela gravadora WSA. Os quais na verdade, como combinado com o produtor, só serviria para financiarmos um carro.

O mais rápido possível, passei na casa de nosso artista e juntamente com ele e seu pai fomos até o mesmo banco, no qual eu tinha conta corrente e por onde recebia meus vencimentos na Telesp, onde conseguimos um financiamento de duzentos e trinta e quatro mil e quinhentos cruzeiros, que somando a outros vinte e seis mil, dos dez por cento que eu deveria dar, totalizando o valor de um Ford Corcel dois, zero quilômetro. Este financiamento seria pago em vinte e quatro mensalidades de dezessete mil e setecentos cruzeiros.

Em vinte e cinco de Fevereiro adquiri na Telesp um terminal telefônico, o qual nos seria muito útil a partir de então.

Em um estúdio na capital paulista conseguimos com patrocínio de duas grandes empresas de nossa cidade montar o primeiro videoclipe utilizando as dependências de um cinema e a música “Estrela de meu Céu”

Videoclipe "Estrela de meu Céu" - Click para assisti-lo.

A partir desta data, estivemos viajando muito, começando por São José do Rio Preto, onde Regis se apresentou na televisão regional e a partir daí, por rádios e televisão, a fim de divulgarmos os shows e principalmente o disco, que como João Batista dizia, não seria fácil, por ser o primeiro. Tornar-se um artista conhecido, vender discos, conseguir apresentações em shows, concretizando a realização de um sonho, não cairia dos céus.

Graças a amizade com um amigo de Ribeirão Preto, da própria Telesp, conseguimos agendar o primeiro show, que fora marcado no circo Marcus Polo, na cidade de Cravinhos, em um sábado, quinze de Março.

Na data marcada, inclusive eu, por ser próximo à nossa cidade, estávamos lá e o circo estava quase lotado. Nós, principalmente Regis, estava muito ansioso e nossa parte na bilheteria do show, estava garantida.

O espetáculo do circo iniciou-se as vinte e uma hora e o primeiro show remunerado de Regis iniciou-se as vinte e duas horas, acompanhado pela banda do próprio circo e as trapalhadas do próprio palhaço Marcus, que graças a sua destreza e habilidade na arte de representar, ajudava o novato, imaturo, inexperiente Regis, naquele que deveria ser... o seu primeiro show oficial. Ou seja: o menino se apresentou cantando, enquanto Marcus encantava.

No início de sua apresentação, tudo seguia o planejado anteriormente: Regis cantava uma música e o palhaço, quase sério, fazia os devidos comentários, inclusive, conversando muito com o menino, especulando seu início de carreira, seus sonhos, suas batalhas, suas conquistas...

Depois da quinta música, inclusive com a participação de outros dois palhaços de sua equipe, que, baseados no que ocorrera há algum tempo no circo Real Americano, onde os palhaços atrapalharam o menino na canção “sonho de um palhaço”, eles também tentavam atrapalhar sua apresentação musical em diversas músicas, invadindo o palco, tomando-lhe o violão, depois o microfone, fazendo malabarismos em sua frente, ameaçando despi-lo, pegando-o no colo...

Ao final, quando Regis cantava sua última música, sendo a mesma apresentada no outro circo, os três palhaços pioraram ainda mais sua situação de principiante, vestindo-lhe um vestido cigano cheio de flores vermelhas e uma peruca ruiva feminina, pintando toda sua cara, inclusive com nariz vermelho, fazendo assim, com que ele, que havia iniciado seu show, praticamente em traje de gala, saísse do palco ao final, um verdadeiro palhaço em miniatura.

Resultado de tudo isso: o público adorou aquele espetáculo atrapalhado, diferente e animado, fazendo com isto, Regis ser convidado para outros shows, no mesmo circo, em outras cidades da região, faltando apenas marcar as datas corretas.

Regis, naturalmente, ficou animado e feliz. Reclamando apenas de:

— Em todos os shows vão me lambrecar assim?

— O público gostou! — retruquei. — Você não?

— Virar mulherzinha na frente de todos?! — protestou fazendo careta, ainda de cara lambrecada. — Não é meu estilo!

— Ou faz sucesso cantando, ou faz sucesso sendo um lindo palhacinho! — ri, com sarcasmo.

Também, aproveitando a oportunidade, conseguimos vender vinte e oito, dos cem discos que eu comprara há poucos dias, direto da gravadora, com objetivo de ajudar na divulgação.

Graças à mágica da televisão, que, com certeza é o melhor veículo de divulgação, a cada dia que passava, Regis se tornava mais conhecido e os shows começaram a surgir rapidamente.

Geralmente estávamos ocupados em todos os finais de semana, de sexta-feira à domingo e muitas vezes, até mesmo durante a semana, em shows ou programas de televisão. Nesse caso, quando no meio da semana, José Leandro, amigo do senhor Pedro, que por estar desempregado, viajava com Regis, sua mãe e Tony, pois eu e seu pai trabalhávamos e não podíamos seguir com ele.

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Assim se passaram alguns meses, onde, com apenas um disco gravado, Regis, a cada dia se tornava um mito, com muito sucesso de venda e de apresentações. O carro que havíamos financiado estava sendo pago sem nenhuma dificuldade e ainda o dinheiro que sobrava, dava para que eles tivessem uma vida razoavelmente feliz financeiramente.

Mesmo eu, que, quando viajava, fazia a tipo de hobby, não recebendo nada por isto, mas também me beneficiava, pois como seu disco estava sendo bem vendido pelo Brasil, recebia um pequeno valor em forma de direitos autorais, sendo depositado em minha conta corrente, através do Sindicato dos Músicos de São Paulo.

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Às vezes nós, seres humanos, acomodados, nunca paramos para pensar e agradecer, os caminhos que um Deus Onipotente cria para nós, com os traços que o destino em si, nos proporciona anonimamente sem pedir gratidão ou reconhecimento. Sendo assim, este destino proporcionou a Regis, ajudando-o em seu belo dom divino, de levar mensagens de amor, através de suas canções.

Será que poderíamos deixar de agradecer a sua maior escola de aprendizagem, em estar diante de um público, que sempre demonstraria um amor incondicional, a um menino simples, de coração cheio de amor?

O Gran Circus Marcus Polo, com palhaços mestres, cheio de amor ao próximo, contratando o menino para diversas apresentações em sua turnê de espetáculos, transformava-o a cada um destes espetáculos, apesar de sua pouca idade, em um grande astro, cantor e animador de grandes plateias.

Em meu apartamento, deitado no sofá da sala, depois de longo tempo sozinho, me chamou:

— Willian, o meu próximo disco vai se chamar “Canarinho da Cidade”.

— Como assim? — estranhei, sentando-me no mesmo sofá.

— O nome do disco, ué! — sentou-se. — Todo disco tem um nome!

— O nome do disco costuma ser o nome de uma de suas músicas.

— Pois então crie a música! O nome já tem!

— Por que você quer este título?

— Uma vez minha professora disse que eu era um canarinho da cidade.

— Então você cria a música!

— Não sei fazer música! — protestou ele, bravo. — Ainda!

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Em Janeiro de um mil novecentos e oitenta e um, estivemos novamente nos estúdios da gravadora, onde, dia quatorze, Regis, próximo a completar seus dez anos de idade, gravou o playback do segundo elepê.

° Canarinho Da cidade - Celso Innocente.

° O filho do doutor - Willian Gustavo.

° Vitrine - Cido Malta

° Triste realidade - Willian Gustavo

° Planeta azul - Cido Malta

° Vida - José Fernandes

° Centenas do amor - Celso Innocente

° Aniversário de despedida - José Generoso

° O último julgamento - Léo Canhoto

° Amor de fã - Willian Gustavo

° Boiada assassina - Rei da Mata e Célio Pires

° O trombadinha - Pedro Moura

A cada dia que se passava, Regis se desenvolvia mais em sua carreira de artista. Embora eternamente grato, como parte de sua boa índole, devido mesmo a grande número de compromissos, já não se apresentava mais no circo Marcus Polo.

Também, embora não gostasse e até fazia careta, ou fingia nem ter ouvido, já não se sentia mais tão tímido, ao ouvir os adultos brincarem sobre sexo, mesmo na presença de seu pai. Palavras, às quais não ouso relatar neste livro, pois a censura prende o livro e a mim também. Ou seja: aquilo que João Batista lhe disse um dia, “para ser artista, você acabará perdendo sua inocência de criança”.

Ele, um menino bonito, bom e educado, me trazia muito orgulho, por ser um excelente artista. Mais do que isto: excelente amigo e ser humano. Mas eu sabia também, que o preço daquilo tudo era muito alto. Ele estava ficando a cada dia mais famoso, mais rico e de certa forma muito feliz. Mas estava deixando a cada dia mais, de ser criança e só convivia com adultos, de certa forma maldosos, com suas brincadeiras repugnantes, agressivas à moral em formação de uma simples criança.

Agora ele já se tornara profissional em violão e acordes de voz. Se bem que violão a gente nunca termina de aprender.

Nosso Carro, fora agora trocado por uma Chevrolet Caravam zero quilômetro, em cor creme.

Regis, geralmente usava um tipo de roupa de show padrão, tipo social, com calça comprida em cor creme, camisa branca de manga longa e um colete da cor da calça e às vezes também, um blazer da cor da calça. Porém, nas viagens, apesar de apertado em um simples carro de passeio, costumava levar outras roupas, por precaução e diferenciação. Seus shows, principalmente por ele ser criança, sempre lotados. Sua caixa postal, abalroada de correspondências e seu telefone, que já fora meu, sempre chamando.

Apesar do cansaço de muitos compromissos, em seu rostinho infantil sempre havia um sorriso presente; em seu coraçãozinho de criança sempre batia a bondade e honestidade; em seus olhinhos pequenos a simplicidade de um menino pobre; seus lábios pequenos e finos mostravam a meiguice e sua pouca idade a inocência. A fama e o sucesso que surgia a cada dia, não fazia dele um menino esnobe, porém, talvez mesmo por ser hiperativo, muito responsável.

Só que neste período, as coisas se tornaram bem mais difíceis, em se tratando de fase escolar e infantil, se vendo a ser obrigado a abandonar os estudos e as brincadeiras com outras crianças de sua idade.

Porém havia outras vantagens. A carne e o refrigerante dos finais de semana se tornaram diários, apesar de que ele não tomava refrigerantes: preferia bem mais um suco natural, tendo como preferido o de abacaxi com hortelã. O desconhecido Regis de Assis Moura do interior, se tornou em famoso menino cantor do Brasil inteiro e o pobre menino pobre, se transformou em “O pobre menino rico”. Posso ter copiado a frase do gibi “Riquinho”. Mas é real.

Dez de Fevereiro, estivemos novamente nos estúdios da gravadora, onde, no período da tarde, Regis gravou a voz no playback, para o disco matriz.

— As fotos para este disco pretendo fazer em uma fazenda na cidade de Penápolis. — Falei a João Batista.

— Nessa fazenda tem cabrita, Regis? — perguntou o produtor ao menino.

— Sei lá! — exclamou Regis.

— E bananeira?

— Como vou saber? Nunca estive lá!

— Tem Willian? — perguntou-me João.

— Claro que tem!

— Então tome cuidado com o tocador! Não deixe que ele chegue perto.

— Não entendi a piada! — Deu de ombros, o menino.

— Pede ao Willian que ele te explica!

— Obrigado! Vindo do senhor só pode ser repugnante!

— Repugnante! — fez careta o produtor. — Você sabe o que é essa palavra?

— Nojenta! Ofensiva! Pornô! Sexo sujo! Agressiva à minha moral!... Quer mais?

— Quero! — fingiu raiva, João Batista. — Lembre-se que tenho o poder de bloquear seu novo disco!

— Eu troco de gravadora!

— Ah é assim? Depois do nome feito?! Tá podendo bem!

— Claro! Qualquer uma me aceita agora!

— Acho que ouvi você falar uma vez, que jamais menosprezaria quem lhe apoiou em seu início de carreira. Eu sou meio bobão, mas creio que sou um dos que lhe apoiou quando todas as portas estavam fechadas!

— Concordo que o senhor me apoiou e sou grato a isso. Mas não posso ser fiel caso o senhor queira fechar as portas agora. O senhor segura meu disco e eu vou pra outra gravadora.

— E eu corto sua baginha de amendoim!

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Como planejado, dia quatorze, sábado, estivemos em Penápolis na fazenda Carrier, aonde fizemos diversas fotos, a serem selecionadas para o fotolito do segundo disco.

As fotos foram:

* usando apenas sunga, com violão, diante da piscina;

* vestido para show, sentado à frente da mansão;

* com roupa esporte, caminhando pelo pomar;

* com roupa esporte, caminhando pelo jardim;

* com roupa esporte à frente de uma figueira, no campo;

* com roupa esporte à frente da mansão;

* usando apenas sunga, abraçado à Regina, uma garota que mora na fazenda.

Após as fotos que eu mesmo fiz, graças a uma câmera profissional emprestada, o menino quis aproveitar o tempo, a oportunidade e o calor de tal período de verão, para se divertir, mergulhando na grande e bonita piscina daquela riquíssima fazenda, que nos foi emprestada para este fim.

— Regis, você agora se considera feliz? — sempre lhe quis perguntar isso.

— Depende — disse ele. — Às vezes me sinto feliz, outras vezes fico triste.

— Quando você está feliz?

— Hoje, por exemplo, estou feliz. Pois estou passeando, me divertindo… Sou feliz também quando estou fazendo shows; principalmente quando está lotado. Isso me deixa feliz, pois sei que sou conhecido.

— E quando você é infeliz?

— Quando lembro de meu passado.

— Deixa de ser bobo, garoto! Afinal, você era pobre, mas não passava necessidades.

— Pois é! Mas lembrando de meu passado, lembro que existem muitas pessoas que passam fome. Eu não passei! Mas existem pessoas que passam!

— Mas de nada adiantará você ficar triste por causa disso!

— Se eu pudesse não deixaria ninguém passar necessidades. Sabe, há tempos atrás eu queria ser rico, hoje, ao contrário, tenho vergonha de ser rico. O engraçado é que as pessoas acham que tenho vergonha de meu sexo, de ouvir falar em garotas, de falarem besteiras pra mim na presença de papai ou de você. Ora Willian, se papai também não fizesse bobagem com minha mãe, eu não teria nascido!

— Aí eu não teria um amigo famoso! — ri.

— Sinto que nosso mundo seja podre, pois os ricos estão cada vez mais ricos, enquanto que os pobres passam cada vez mais necessidades.

— Tem um ditado que diz que dinheiro faz dinheiro...

— Claro! Quem tem dinheiro investe o que tem e ganha muito mais! Enquanto que o pobre só tem mesmo são dívidas!

— Gosto de você do jeito que você é. Você é um menino incrível!

— Sabe, eu sou feliz! Sou e não sou! Entende?

— Claro! — exclamei. — Acredito que eu seja igual a você.

Dalí fomos passar o resto do final de semana na casa de meus pais, que gostavam daquele menino como se já o conhecesse a muito tempo.

— Dona Maria, posso tomar um pouco de água? — Pediu ele à minha mãe, logo que chegamos e a cumprimentamos.

— Claro que pode! Nem precisa pedir. Se quiser, tem refrigerante na geladeira.

— Obrigado! — agradeceu ele. — Vou tomar água do pote.

— Pega na geladeira! — insistiu minha mãe.

— Regis não toma refrigerante mãe! Nem água gelada!

— Nunca? — admirou ela.

— Nunca!

— O que ele toma então? Só água?

— Às vezes toma suco natural, sem gelo e sem açúcar.

— Tadinho! — comoveu-se ela.

— Não precisa ter pena de eu, dona Maria — insinuou ele. — Estou bem, assim.

— Nem sorvete!?

— Sorvete sim! — prontificou-se na hora. — Não tem criança que não toma sorvete!

— Também é gelado e pode prejudicar a garganta — explicou minha mãe.

— Azar da garganta! — riu ele.

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Naquela mesma tarde, peguei um coco maduro, retirei sua castanha, bati no liquidificador, coei com pano lavado só com água, acrescentei pedaços de gengibre e algumas ameixas pretas sem semente, tornei bater e coar, formando um tipo de vitamina grossa e então, chamando-o lhe pedi:

— Quando tiver vontade tomar sorvete, tome um desses que não prejudicará sua garganta.

— O que é isso? — Questionou-me precavido.

— Experimente. Se não gostar eu tomarei em seu lugar.

Experimentou, estalou os lábios e riu:

— Delicia!

— Coco, gengibre e ameixa. Tudo natural e saudável.

— Faz bem?

— O coco fortificará seus ossos, o gengibre ajudará em sua garganta fortificando suas cordas vocais e a ameixa ajudará a regularizar sua flora intestinal.

— O que é flora intestinal?

— São os microrganismos que estão presentes no seu sistema digestivo, responsável pela fermentação dos carboidratos...

— Pode parar — interferiu ele. — Já me perdi todo! Você é médico?

— Não. Sou curioso.


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