Um pequeno grupo de quatro pessoas, todos bem agasalhados e protegidos do inverno rigoroso, caminham lentamente dentro de uma cidade fantasma, essa cidade que está sem habitantes há muito tempo, desde que começou o apocalipse. Os telhados das casas dessa cidade estão completamente brancos, coberto de neve, que parou de cair do céu há algumas horas, e além dos telhados, todo o chão também está coberto de neve.

As pegadas dessas quatro pessoas são nitidamente visível na neve, que possui uma camada de aproximadamente cinco centímetros no chão. Desde o começo do inverno, não nevou o suficiente para acumular muita neve no chão para ser necessário o uso de equipamentos para remover todo o excesso. As quatro pessoas entram em uma casa e retiram o lenço que todos elas usavam no rosto, revelando suas identidades, eles são: Harry, Nadin, Thomas e Serena.

– Acha que essa é boa? – Perguntou Harry, olhando pra muçulmana.

– Sim... essa é a melhor de todas que olhamos até agora – Respondeu Nadin, após ter andado por toda a casa de cinco cômodos – Vamos ficar aqui mesmo. Pode chamar os outros.

Harry assentiu e então se retirou do local. Nadin voltou a andar por toda a casa, alguns cômodos estavam com a janela aberta e por isso esses cômodos tinham um pouco de neve. A paquistanesa fechou todas as janelas e ao fazer isso, naturalmente a casa ficou mais escura e Nadin teve que acender algumas velas que tinha encontrado em uma gaveta do armário da cozinha, fazendo assim, ter mais iluminação dentro da casa.

– É uma pena essa casa não ter uma lareira – Lamentou Serena.

– Verdade – Concordou Nadin – Iremos passar um pouco de frio durante as noites.

– Podemos pegar cobertores e coisas do tipo em outras casas – Disse Thomas.

– Sim, vamos fazer isso depois – Voltou a dizer Nadin – Primeiro precisamos cuidar do James e Benjamin que estão feridos, e do Dave que está desacordado.

Harry era o único homem adulto que estava bem, considerando que Thomas era um adolescente, e por causa disso o ex-professor se sentia responsável, ao lado de Nadin, por todo o grupo. Este grupo que é composto por Nadin, a líder; Harry, o braço direito da líder naquele momento; Benjamin e James, feridos; Dave, desacordado; Wendy, grávida; Emily, uma criança; Thomas e Serena, jovens.

James e Benjamin vinham caminhando com dificuldades, os dois com um braço apoiado nos ombros do outro, se ajudando a caminhar devido aos ferimentos que tinham. Harry fazia esforço para carregar Dave nas costas, e ao lado vinham Wendy e Emily, todos eles indo em direção da casa que Nadin, Thomas e Serena estavam.

– Temos apenas dois quartos, como iremos nos dividir? – Perguntou Nadin, assim que todos já estavam dentro da casa.

– Dave, Ben e Jim ficam em um quarto, você, Wendy, Emily e Serena em outro, enquanto eu e Tom iremos ficar na sala mesmo pra fazer vigia – Respondeu Harry.

– Certo. Ben, Jim, venham por aqui – Chamou Nadin, entrando dentro de um quarto que possuía três camas de solteiro, uma para cada um dos homens.

Harry levou Dave para dentro desse mesmo quarto e deitou o corpo do texano em uma das camas, se colocou entre a cama de Benjamin e James e ficou olhando para os dois. Por sorte, o tiro que acertou Ben não foi fatal e com os tratamentos de Nadin, ainda na outra casa, ele conseguiu resistir e sobreviver. Por outro lado, James resistiu e sobreviveu ao corte que sofreu de Charles porque o corte não foi profundo, e também pelo fato do ex-lenhador ser uma pessoa durona e casca grossa.

– Vocês estão bem? – Perguntou Harry. Ben e Jim murmuraram um "sim" – Se precisarem de algo, é só pedir – Completou, e os dois assentiram e agradeceram.

– Harry, você e Tom podem ir procurar por cobertores e coisas do tipo nas outras casas? – Perguntou Nadin, após o ex-professor sair do quarto e voltar para a sala – Também precisamos de suprimentos, o que temos aqui só iria durar por dois dias no máximo.

– Pode deixar, Nadin – Respondeu Harry – Vamos lá, Tom.

E então os dois saíram da casa e voltaram pra rua. Nadin e Serena se ocuparam em pegar toda a neve que tinha nos cômodos que estavam com a janela aberta e jogar para o lado de fora da casa, usando uma pá e balde de lixo para descartar a neve. Wendy e Emily estavam no outro quarto da casa.

– Mamãe, quando o titio Mark e os outros irão voltar pra casa? – Perguntou Emily, com toda a sua inocência.

– Não sei, querida. Eles podem demorar um pouco – Respondeu Wendy.

Ela simplesmente não tinha coragem de dizer a verdade pra garotinha, contar o que de fato estava acontecendo naquele momento, que eles tiveram que partir e deixar Mark e os outros para trás, pois eles não sabiam se seus amigos estavam vivos ou não devido ao que Charles disse para eles: "Eles devem estar mortos agora, Matt e Zack já devem ter matado todos eles."

– Sinto saudades deles – Disse Emily.

– Eu também, querida.

[...]

Harry e Tom andavam por uma rua completamente deserta, ambos com uma pistola em mão. Desde que o grupo chegou nessa cidade, que era uma cidade grande, a maior que estiveram desde o começo do apocalipse, eles não viram nenhum infectado.

Tom sugeriu a Harry para que eles pegassem primeiro cobertores e outras coisas para seus amigos que estavam na casa, e depois eles procurariam por comida. Harry concordou e então os dois entravam diretamente nos quartos das casas para saquear. Eles conseguiram achar alguns cobertores, agasalhos e outros tipos de roupas relativamente fácil.

Ambos voltaram pra casa depois de poucos minutos de terem saído da mesma, Harry e Tom distribuíram o que acharam nos dois quartos, avisaram Nadin que iriam voltar pra procurar suprimentos e então saíram da casa mais uma vez.

– Acha que Mark, Jones e todo o pessoal conseguiram sobreviver? – Perguntou Tom, caminhando ao lado de Harry no meio da rua.

– Não quero falar sobre isso.

Tom engoliu em seco e assentiu. Apesar de Harry ter sido um pouco arrogante na resposta, Tom entendia que o ex-professor podia estar passando. Tom sabia que Harry conhecia Mark há muito tempo, que os dois tinham uma boa relação, e que juntos construíram e mantiveram o grupo unido e sobrevivendo. E também tinha a Chelsea, que Harry conheceu no começo do caos.

Tom suspirou e permaneceu caminhando ao lado de Harry. Os dois procuraram por suprimentos em várias casas de quatro ruas diferentes, e só o que eles acharam foram milho, ervilha, tomate e sardinha, todos enlatados. Se passaram cerca de duas horas desde que Tom e Harry entregaram os agasalhos e cobertores para Nadin, e por causa da temperatura ambiente a noite chegava mais cedo do que o comum.

Harry percebeu que estava escurecendo mas não se importou com isso, ele estava determinado a achar mais suprimentos antes de voltar pra casa. Tom continuou em silêncio e não disse mais nada desde que ouviu a resposta do ex-professor. Os dois estavam aproxidamente duas milhas de distância da casa onde estavam hospedados.

Depois de todo esse tempo, o primeiro infectado foi visto por Harry e Tom, e logo atrás desse infectado vinham mais três infectados. Harry tomou a iniciativa, enquanto Tom ficou parado e olhando em volta pra verificar se não tinha mais nenhum infectado por perto. Harry guardou sua arma no coldre e sacou sua faca da bainha, eliminando o primeiro mordedor que se aproximava dele.

Tom estava com sua arma levantada e pronto para qualquer tipo de problema que tivesse, e Harry continuava eliminando as criaturas, que estava muito mais lentas do que o normal. Após ter eliminado os quatro mordedores, Harry viu que vinham mais seis da mesma direção que esses quatro vieram.

– Merda – Sussurrou Harry. Virou as costas e ignorou os cinco mordedores, fez um sinal com a cabeça para que Tom o seguisse.

Os dois saíram da rua que estavam e mudaram o percusso que estavam fazendo, caminhando por outro caminho, se distanciando cada vez mais da casa que iriam dormir nessa noite. Depois de alguns minutos, Harry e Tom encontraram uma rua que era repleta de estabelecimentos comerciais.

– Finalmente – Disse Harry, aliviado – Vamos, temos que olhar esses lugares rapidamente e voltar.

Tom assentiu novamente e acompanhou Harry para dentro de um mercado que tinha naquela rua. Ambos entraram no estabelecimentos e já puderam perceber que não tinha muita coisa no local, mas ainda assim eles procuraram por suprimentos e acharam algumas barras de cereais e biscoitos.

Os dois saíram desse mercado e entraram em outro que tinha do lado, todos os estabelecimentos desta rua eram pequenos e por isso tinha vários. A iluminação dos mercados estavam um pouco escuro justamente por causa do horário, por isso Harry e Tom tiveram que acender suas lanternas.

– Olha só, a Emily vai adorar isso – Disse Tom, mostrando uma caixa de cereal matinal em sua mão.

– Com certeza – Concordou Harry, enquanto pegava suprimentos e colocava dentro da sua mochila.

Tom não estava carregando uma mochila, e por isso colocou a caixa que achou na mochila de Harry. Os dois continuaram procurando por suprimentos até o último estabelecimento da rua, todo o processo de saqueamento durou uma hora e por causa disso a noite chegou de vez.

A lanterna não era o suficiente para enxergar na escuridão das ruas, a luz que a lanterna fazia era muito pequena e o máximo que dava pra ver adiante era apenas dois metros de distância. Harry e Tom perceberam que era perigoso demais voltar pra casa nessa escuridão, sem falar o fato de que eles não podiam refazer o caminho pra voltar justamente por causa da falta de luz, ou seja, os dois estavam em um labirinto das trevas.

– Merda! – Disse Harry – Temos que achar um lugar pra passar a noite, não podemos voltar.

– Que tal um desses mercados? – Sugeriu Tom, olhando em volta com sua lanterna.

– Sim, é melhor ficarmos por aqui mesmo do que procurar uma casa pra dormir. Boa ideia, garoto – Disse Harry.

– Cuidado! – Gritou Tom, ao ver um mordedor próximo de Harry.

Harry virou o seu corpo e tropeçou na sarjeta, caindo no chão com o mordedor se debruçando por cima dele. Tom apontou sua lanterna na direção de Harry e do mordedor, sua mão que segurava a arma estava tremendo de frio e também por causa do nervosismo. Harry lutava contra o mordedor desesperadamente, tentando empurrá-lo para trás sem sucesso, então a única coisa que o ex-professor podia fazer era segurar os ombros do mordedor para impedir que o mesmo conseguisse mordê-lo e esperar a ajuda de Tom.

Tom respirou fundo e atirou no mordedor, acertando a cabeça do mesmo, o eliminando de uma vez por todas. Harry se levantou, pegou sua arma e lanterna que tinha derrubado quando se assustou com o mordedor, e agradeceu ao garoto por ter salvado sua vida. Com a luz que vinha da lanterna de Tom, Harry pôde ver suas roupas sujas de sangue do mordedor.

– Vamos logo antes que outro apareça – Disse Harry, dando um tapinha no ombro de Tom em forma de agradecimento, e caminhando em direção do último mercado que eles saquearam.

[...]

Benjamin e James estavam dormindo em suas respectivas camas, Dave, que estava no mesmo quarto que os dois, também estava dormindo em sua cama, porém ele estava agitado na cama, se mexendo bastante. Serena, Emily e Wendy dormiam no outro quarto, portanto, a única pessoa acordada na casa era Nadin, que estava sentada no sofá da sala, olhando diretamente pra porta, esperando que Harry e Tom voltasse a qualquer momento.

Porém, não foi Harry e nem o Tom que entrou na sala, mas sim o Dave. Ele estava cambaleando um pouco por ter acabado de acordar, e com a mão direita em seu rosto. Nadin deu um pequeno pulo no sofá ao ver a figura de Dave em pé, ela não esperava que seu amigo iria acordar naquele momento.

– Dave! – Disse Nadin, animada por ver o texano acordado – Você está bem? Precisa de alguma coisa? – Perguntou, se levantando pra se aproximar do rapaz.

– O que? – Dave tirou sua mão do rosto e olhou pra Nadin – Quem é você, e quem são aqueles dois rapazes dormindo? Que lugar é esse? Onde estou? Cadê minha família?

Nadin arregalou os olhos de forma assustada ao ouvir todas essas perguntas de Dave. Ela não conseguiu responder o texano, apenas gaguejou e entendeu que seu amigo havia perdido a memória.