Aquele navio balançava de um lado pro outro, a uma altura de mais ou menos 20 metros. Pedro estava mais apavorado que Bianca quando via uma barata e eu achando a maior graça. Não que eu tivesse detestado o beijo, longe disso, foi o melhor beijo que já dei, mas eu sabia que pra ele tinha sido só mais um e ainda na pessoa errada, precisava me sentir um pouquinho vingada, então a ideia do brinquedo foi perfeita. Não sei em que momento isso aconteceu, mas na hora em que o brinquedo parou eu queria mais, e Pedro ... Bem, ele estava agarrado à mim, como uma criança com medo de um monstro se agarra a mãe.

– Ér... Pedro ... o brinquedo já parou ... - vi ele se assustar e logo se afastou

– Ah... claro.... - ele estava sem graça, mas com uma aparência de raiva, provavelmente de mim - E você heim ? Precisava escolher um brinquedo desse ?

– Porque ? Você ficou com medo ? - ele passou as mãos nos cabelos em sinal de nervoso, tão lindo....

– Eu ? Claro que não ! Você acha mesmo que eu ia ficar com medo de um brinquedinho desse ? - ele falava muito rápido

– Era o que estava parecendo .... - me levantei do banco, e puxei sua mão - Fica tranquilo, não conto seu segredo pra ninguém ! - e o puxei

Depois daquele, fomos na roda gigante, contra a vontade de Pedro, mas a favor da de Bianca que achava aquilo "romântico". Pedro já estava mais calmo na roda gigante, talvez fosse porque ela quase não se movimentava, mas quando descemos pude perceber seu rosto pálido, e tentei não rir.

– Ta legal, eu sei que você ta segurando o riso, um garoto do meu tamanho ter medo de altura é uma vergonha - ele dizia em tom de derrota

– É eu quero rir mesmo - e gargalhei - Mas eu não acho isso uma vergonha... - vi seus olhos brilharem

– Sério ? - ele tinham aberto o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, como conseguia ser tão incrível?

– Gente, ta ficando tarde já né, o que acham de irmos indo ? - Bianca surgiu do inferno atrapalhando nossa conversa

– Acho ótimo Bi - Pedro se manifestou e apertou minha mão - Vamos Bella ? - eu assenti

– Foi ótimo sair com vocês ! - Henrique falou e Bianca assentiu sorrindo e grudou no pescoço do garoto, o beijando, e eu e Pedro ficamos lá olhando, e quando eu percebi, ele tinha uma expressão chorosa no rosto, eu tinha que fazer alguma coisa

– Vem Pedro.... você não precisa ficar assistindo isso ... - e o puxei pela mão em direção à saida do parque. Quando chegamos ao ponto, ele ainda estava com aquela expressão triste, e eu, queria poder tirar aquilo tudo que ele sentia

– Obrigada - ele falou, e eu sorri

– De nada - e ficamos em silêncio por um bom tempo. O ônibus chegou e continuamos em silêncio, na verdade ficamos assim até o Catete, mas isso não era novidade, eu e Pedro não costumávamos conversar muito, e nas poucas vezes, era ele quem puxava o assunto, e hoje ele não parecia muito a fim de conversa. Assim que descemos do ônibus ele foi pra casa

– Então... acho que é isso... foi legal até... - ele disse coçando a nuca e eu assenti

– Então...tchau...

– Tchau...

O vi entrar, e quando coloquei as mãos no bolso da calça jeans, lembrei que não tinha levado chave, afinal, mamãe estaria em casa. Chamei, chamei em frente ao portão, mas ninguém atendia, provavelmente Bianca ainda não tinha chegado, então resolvi ligar pra minha mãe

Ligação On

– Alô mãe ? Onde você ta ?

– Oi filha... já chegou ?

– Já mãe, eu não levei chaves lembra ?

– Ah claro ! Então... é que eu estou na casa do Gael e ...

– E vai dormir ai né ?

– É, mas se você quiser eu posso ir até ai e...

– Não mãe imagina, não quero atrapalhar sua noite, pode ficar, hoje é sábado né

– Tem certeza ?

– Tenho mãe, a Bianca chega daqui a pouco ela abre pra mim

– Mas não ta tarde pra você ficar ai na rua ?

– Não mãe, pode deixar que eu espero ela aqui, beijo boa noite

– Beijo filha, se cuida

Ligação Off

Fiquei lá meia hora esperando a Bianca, e nada de ela aparecer, eu estava com sede, então fui na padaria que ficava a duas quadras de casa comprar uma garrafa de água, não sei como mas ainda estava aberta, mesmo sendo mais de 23:00. Quando voltei, vi as luzes do meu quarto acesas e deduzi que nesse meio tempo minha prima tinha chegado, então toquei a campainha, e nem sinal dela, toque mais duas vezes e enfim ela apareceu na sacada

– Que é hein ?

– Eu que te pergunto, pode abrir aqui ? Esqueci a chave

– Ah bellinha, você sabe o que eu sempre digo, precisa aprender a ter responsabilidade, se eu não voltasse pra casa hoje ? Você ia ficar pra fora ?

– Como assim Bianca ? O que você quer dizer ?

– Quero dizer que você precisa aprender a ser mais responsável

– Eu entendi errado ou você não vai abrir a porta pra mim ?

– Boa noite prima ! - e fechou a porta da varanda e as cortinas, eu gritei seu nome, mas ela apagou as luzes, e quando eu cansei, pude ouvir um trovão, seguido de relâmpagos. Não podia ligar pra minha mãe, não tinha o direito de estragar a noite dela com Gael, ele era um cara legal, meio bruto, grosso, mas ele era mestre de artes marciais, não podia ser diferente. Até cheguei a conhecer meu pai, tinhámos uma boa relação, sempre foi o que eu pensei pelo menos, ele dizia que me amava, e eu amava muito ele, mas teve um dia, eu ainda era nova, devia ter uns 9 anos, acordei e ele não estava mais lá. Mamãe disse que ele precisou ir fazer uma viagem, e eu acreditei que ele voltaria, o que obviamente, não aconteceu, então eu resolvi esquecer dele, e desde então não falamos mais sobre isso. Eu me sentei em frente a porta de casa, torcendo pra ninguém aparecer, e também pra louca da minha prima resolver abrir a porta. Passaram alguns minutos, e eu já estava com sono, apesar do frio e da água da chuva que batia com força no meu rosto, afinal eu estava apenas com uma regata preta e uma calça jeans, estava praticamente congelando aqui

– Bella ? Ta fazendo o que nessa chuva ? - Ricardo apareceu não sei de onde com um guarda-chuva gigante

– Ahn... Oi... tô trancada pra fora - não queria ter que contar que Bianca havia me deixado ali na chuva

– Sua mãe ta na minha casa.... e sua prima, cadê ela ? - eu já estava cansada de esconder as mentiras de Bianca e Cobra parecia tão confiável

– Ahn... ela ta lá em cima - no momento que disse sua expressão ficou confusa

– Ela te deixou sozinha aqui Bella ? Na chuva ? Me diz que eu entendi errado - sua cara de preocupado me deixou nervosa

(...)

Cheguei em casa e não tinha ninguém, o restaurante/lanchonete dos meus pais, o Perfeitão estava fechado, estranhei, a essa hora, era sábado, dia de movimento, fui até a cozinha e tinha um bilhete da minha mãe:

"Filho, sua tia Cris, entrou em trabalho de parto, e seu tio estava viajando, como não tinha ninguém pra leva-la até o hospital, e ajuda-la, estamos indo pra Niterói, e voltamos até a amanhã a noite, beijo, te amo, se cuida."

Minha tia, morava em Niterói, estava grávida, era irmã da minha mãe, e sempre vinha me ver, era a tia que eu tinha mais afinidade. Depois de ler o bilhete, fui tomar um banho, e depois eu fiz um sanduíche, quando ouvi raios e trovões vindo lá de fora. Olhei pela janela e um temporal caía, olhei bem pela praça, e quando parei os olhos pude ver Isabella toda encolhida sentada, e molhada, debaixo da marquize de sua casa. Não sei quando, nem como, mas em um instante eu estava olhando Isabella toda molhada na chuva pela janela, e outro eu estava no meio da chuva indo a "resgatar" por assim dizer.
Eu estava de guarda-chuva, e ela lá toda encolhida, sentada, com um olhar perdido, mas quando cheguei perto vi que ela não estava sozinha

– Ta fazendo o que ai nessa chuva garota ? Quer pegar uma pneumonia ? - perguntei quase gritando, o barulho da tempestade estava realmente alto, e ela quando me viu, pareceu assustada

– Eu tô trancada pra fora....minha mãe ta na casa do Gael e a Bianca ...- ela parou de falar de repente e me deixou curioso, será que a Bianca não tinha voltado ainda ? Será mesmo que ela ia passar a noite fora com o tal Henrique ?

– Fala Isabella ! Ta com medo de dizer onde a Bianca se meteu ? Pode falar que ela está com o tal Henrique, que ainda não chegou em casa ! - disparei e ela não respondeu, apenas abaixou a cabeça e se encolheu ainda mais.

– Não grita com ela moleque, ta achando que é quem ? - O ridiculo do Cobreloa gritou achando que me assustava

– Tô achando que eu sou o namorado dela, e falo como eu quiser, vem comigo, não vou te deixar pegando chuva aqui sozinha, está tarde... - e fui em direção à ela mas Cobra me empurrou

– Enquanto eu tiver aqui, não vou te deixar tratar ela mal, não se fala assim com uma garota, muito menos sua namorada ! - minha vontade era de socar sua cara, mesmo que ele fosse lutador profissional e pudesse acabar comigo

– Cara na boa, eu tô perdendo a paciência com você já, para de se meter e deixa que eu cuido dela ! - gritei e ele olhou pra Isabella

– Bella ... tem certeza de que quer ir com ele ?

– "ele" o cassete ! Sou namorado dela, e o nome dela é Isabella pra você ! - gritei e ele pareceu ignorar e voltou a esperar a resposta de Isabella

– Eu.... eu... vou com ele... - ela disse tremendo, devia estar congelando

– Então vem - a puxei pela mão, e a abracei bem forte, ela estava gelada, e tremia muito, a encarei e vi seus lábios roxos, é ela realmente precisava sair dali.

Entramos em casa, e ela ficou parada, e eu fui no quarto buscar uma toalha pra ela

– Não precisa ficar assim Isabella, sei que você já veio muito aqui - disse quando desci as escadas e lhe entreguei a toalha

– É que.... a casa está vazia, cadê seus pais ? E a Maria Antônia ?

– Foram pra Niterói, minha tia que estava grávida entrou em trabalho de parto...

– Ahn... sim... - por alguns minutos o silêncio imperou ali

– Tem um banheiro no meu quarto, se quiser pode tomar banho lá, eu vou fazer alguma coisa quente pra te dar, antes que você fique gripada, pode subir... - disse e ela assentiu. Enquanto ela subia, eu preparei um café, peguei algumas roupas no quarto da TomTom e levei pra ela. Depois que eu desci, passaram alguns minutos e eu ouvi meu celular que estava em cima do criado mudo carregando, no quarto tocar. Subi até lá e desconectei meu celular do carregador, quando passei pelo banheiro ele estava com a porta aberta e ela estava lá dentro de costas, apenas de calcinha. Nunca tinha visto um corpo como aquele, as curvas pareciam desenhadas, e quando ela se abaixou pra colocar o short, deu pra ver como ela tinha uma bunda maravilhosa ! Não sou de ferro, ela colocou a blusa e estava sem sutiã, e só de imaginar ela de frente, ficar duro foi inevitável. Percebi que logo ela sairia do banheiro então, tratei de descer, mas depois daquele beijo, e da cena que eu acabei ver, deu pra perceber que ela não é apenas uma loira "aguada".

(...)

Eu desci as escadas com mais vergonha que o normal, ou o Pedro era muito desatento ou estava querendo me sacanear. O "pijama" da Maria Antônia que ele deixou pra mim, era simplesmente minúsculo, tudo bem que ela era magrinha e eu bem mais gordinha, mas não era possivel que não tivesse algo maior. Quando cheguei a cozinha ele estava entretido no celular, e eu nem fiz questão de puxar assunto, não queria atrair sua atenção, mas foi só eu me aproximar da mesa ele me notou e me olhou de um jeito que me deixou mais que envergonhada, me deixou intimidada

– Acho que o café já esfriou... - ele disse sentando-se a mesa de frente pra mim

– Está quente ainda... - ele assentiu e o silêncio retornou então respirei fundo, engoli aquele bolo que se instaurava na minha garganta, toda vez que eu pensava em dirigir a palavra à Pedro e resolvi fazer o que TomTom me aconselhou, puxar assunto, apesar daquele beijo, que me deixou totalmente sem graça e mais apaixonada ainda, mas era preciso tentar... - Seus pais... e a TomTom... voltam quando ?

– Amanhã à noite - ele respondeu simplesmente

– Ahn.. - mais silêncio

– Bom, você pode dormir no quarto da minha irmã ok ? Fique à vontade, eu vou subir, o dia foi longo... boa noite - eu só soube assentir e olhar ele subir, e ficar imaginando como seria se eu fosse dormir no mesmo quarto que ele. Mas pra variar eu o deixei escapar mais uma vez.

(...)

Subi pra evitar uma desgraça. Aquela loira aguada vai acabar explodindo minha cabeça ! Primeiro se faz de tímida, nem abre a boca pra falar, depois vem aquele bendito selinho, e ela me encarando com aqueles olhos... aqueles olhos.... daí vem o beijo, aquele beijo, que praticamente me enlouqueceu, e então pra terminar de comer meu juízo, à vi se trocando no banheiro, e depois descendo com aquele "mini" pijama e aquele rostinho de inocente. Nunca vi nada igual, cada movimento que ela faz parece calculado, nunca senti a sensação que senti quando à beijei, que coisa mas louca ! Eu detesto ela, com aquele ar de inocente, toda nerd e inteligente, tem que sempre me responder sendo sutil e abusada... Argh ! Essa menina vai me fazer surtar ! Cheguei no quarto e botei os fones no volume máximo, o problema é que a música aleatória que caiu foi justamente uma que me deixou mais perdido...

"Ela é só uma menina,
e eu pagando pelos erros, que eu nem sei se eu cometi

Ela é só uma menina,
e eu deixando que ela faça, o que bem quiser de mim

Se eu queria enlouquecer, essa é a minha chance, é tudo que eu quis
Se eu queria enlouquecer esse é o romance ideal..."

Realmente se eu queria enlouquecer, essa era minha chance, mas romance... Não, ela não era meu romance ideal, ideal pra mim é a Bianquinha, a minha Bianca.

Dormi feito uma pedra, acordei no outro dia e nem sabia que horas eram. Olhei no relógio, nove horas, pra mim, em um domingo é bem cedo, fui pro banheiro, me troquei, fiz minhas higienes e foi ai que me toquei, Isabella tinha dormido aqui. Fui pro quarto da Maria, mas estava tudo em ordem, cama arrumada, e o pijama dela dobrado em cima da cama, será que a loira aguada já tinha ido embora sem nem dar tchau ? Desci as escadas correndo, mas quando cheguei à sala ouvi um som, vindo da cozinha, e um cheiro irresistível...

"Tento te encontrar, tanto pra dizer, meu amor, tudo bem...

Sorte de nós dois, quero te fazer feliz, meu amor, sempre quis...

Seus olhos certos, mas não sei o que dizer, eu não vou mais o tempo vem...

Ta tudo certo, mas não sei o que dizer, eu não vou, mas o tempo vem aqui...

Tento te encontrar, tanto pra dizer, meu amor, tudo bem...

Mesmo sem te ver, não chegou ao fim, seu amor, tudo em mim...

E se não for, mas do que tento ser...

E se não for mais...

E se não for, mas do que tento ser...

E se não for mais...

E se não for..."

Ela cantava com uma paz e uma certeza que eu nunca tinha ouvido. Com uma doçura e uma força que eu nem desconfiava. Eu conhecia muito bem aquela música...

"Seus olhos certos, mas não sei o que dizer..."

Era isso, aqueles olhos azuis eram tão certos que me deixavam ser ter o que dizer... Perdido. E Bianca ? Mesmo sem vê-la eu sabia que não tinha chegado ao fim, eu não queria isso, não mesmo. Essa música me dizia tudo e nada ao mesmo tempo, esse era o pior. É eu esperava mesmo que o tempo viesse, e que me dissesse o que fazer, porque se eu queria enlouquecer, essa era a chance ideal.