Ela nunca foi adepta a questão da vingança propriamente dita, mas os últimos meses a fizeram repensar muitos pontos da vida e muitos princípios e crenças. Porque aquele acidente fora capaz de dividir muitos pensamentos na cabeça daquela jovem. Porque parte dela ainda continuava lá, naquele asfalto. Alguma parte dela ainda estava naquela cama de posto de urgência. Ela perdera muito e perdera uma boa parte de si. Ao motorista daquele carro ela gostaria de ter dito e dizer muitas coisas. Porque a incompetência dele estivera muito longe do imaginável. Por quê? Porque ele não fora capaz de fazer o serviço completo. Que houvesse sido capaz de matar e não apenas causar prejuízo irreparável, que no caso dela fora o mesmo que morrer em partes. Porque a morte de muito nela viera aos poucos, de mansinho, vagarosamente. Ela tinha plena consciência de que não deveria pensar assim e de que não deveria pensar em algo como vingança, mas ela é humana demais. E que ela fosse perdoada por aquilo, ou talvez não, mas ela não podia controlar os pensamentos e sentimentos. Porque se, algum dia, por algum acaso do destino, recebesse a oportunidade de causar àquele homem um dano de igual ou semelhante valor, ela aproveitaria essa oportunidade. E com um prazer intensamente sádico ela olharia para dentro daqueles olhos e pronunciaria a frase que a aliviaria: Aqui está o seu troco.

Mariana Neves

17-09-2014

19h50min