Contos da Noite escrita por Lady Pompom


Capítulo 1
1.Boa Noite




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Rute e seu marido, Orlando, vão passar um tempo fora de casa por causa do trabalho dele. Com a estressante rotina do trabalho e do cotidiano, os dois decidem mudar um pouco e passarão alguns dias numa pensão mais reservada ao invés dos luxuosos hotéis de cidade grande. Porém, esses dias se provarão verdadeiros pesadelos para Rute, que tem uma sensibilidade espiritual aguçada. E enquanto seu marido não acredita em espíritos, ela é assombrada.

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Era um dia claro, com o céu sem nuvens. Rute, uma baixinha de cabelos castanho-alaranjados presos num rabo de cavalo pequeno e com uma singela franja lateral que cobria parcialmente a testa, com sardas nas bochechas e ombros, e olhos castanhos, escutava o marido que acabara de chegar em casa e se arrumava para o café.

_Rute, vou ter que viajar de novo na próxima semana. –desatava o nó da gravata-

_Mas pra quê? Não já viajou semana passada? –ela ocupava-se em arrumar o lençol da cama-

_Eu sei meu amor, -ele deu um beijo na testa dela- Mas a empresa quer que eu vá, tenho que resolver umas coisas na sede.

O marido, Orlando, era cheinho, bochechudo, com uma barba baixa delineando o rosto, os cabelos castanhos arrepiados para cima com gel, camisa de algodão de manga curta, que ficava grudada no braço, e uma calça jeans. Os olhos castanhos dele brilhavam e o sorriso dele deixava covinhas divertidas no rosto.

Durante o café da manhã, enquanto ela coava o café na garrafa branca alta com tampa laranja.

_Quanto tempo vai ser desta vez? –ela colocou sua parte numa xícara e pegou uma bolacha num pote-

_Não sei alguns dias, talvez uma semana.

_Uma semana?!

_É, meu amor, tem muita burocracia envolvida.

_... –a mulher ponderou e disse- Então, eu vou também.

_O quê? –ele quase se engasgou com o café-

_Eu sempre fico aqui em casa, pelo menos se eu for, vou ver a cidade, e quando tiver um tempinho, podemos sair. É muito ruim ficar em casa e resolver tudo sozinha enquanto você está fora. –ela apontou o dedo para ele, franzindo as sobrancelhas-

_Ah...

Ele revirou os olhos, sabia que sempre que a mulher encucava algo na cabeça, ela o convencia a aceitar suas exigências.

_Tá bom, meu amor. Vou ficar numa pensãozinha, coisa pouca, não naqueles hotéis luxuosos. A empresa vai pagar minha estadia, mas será barato, então não tem problema pagar a sua.

_Será ótimo! Podemos... –ela se empolgou, imaginando como seria a viagem-

. . .

Na semana seguinte, ela o marido viajavam de carro para uma metrópole. Tudo já tinha sido organizado, o local onde iriam ficar era uma pensãozinha numa região mais tranquila, e não ficava muito longe do local onde Orlando ia trabalhar. Rute conversava com o marido sobre alguns assuntos arbitrários, para passar o tempo enquanto observava a paisagem: o canavial e serras bem ao longe, vez ou outra passavam por algum povoadozinho simples.

Ao chegar à pensão, a mulher pareceu um tanto decepcionada, era uma casa não muito grande, de primeiro andar de paredes creme descascadas e um baixo muro de pedra com grades em cima, e um portão de grade preto. Do portão de entrada até a porta, um espaço com grama e terra, havia algumas plantas ornamentando aqui e ali, e tinham até flores bonitas e coloridas, mas nada surpreendente.

Tocaram a campainha e puseram as malas de viagem pretas perto dos pés. Um casal de idosos veio atender a porta, olharam pelo olho mágico e depois abriram, com as mãos trêmulas e sorrisos tímidos, os rostos já marcados pela idade e cabelos brancos até o último fio.

_Bom dia. –disse a senhorinha com a voz tremida, ela usava um vestido floral de mangas curtas-

_Nós somos os hóspedes, o casal Silva.

_Ah, sim, sim, entrem, por favor. –o Senhorzinho de óculos, usando calças sociais de cor caqui, bem altas, e uma camisa social branca arrumada pra dentro da calça-

Rute olhou o casal, pareciam idosos amáveis, mas ela continuava não gostando do lugar sentiu um calafrio quando passou pela porta, esfregou os braços, usando as mãos. Eles apresentaram a casa ao jovem casal, havia uma cozinha, um banheiro, uma sala de estar e a sala de jantar na própria cozinha, uma pequena sala de estudos, o quarto dos senhores, um quintal, no térreo, e no primeiro andar os quartos de hóspedes sendo um uma suíte, um banheiro social e um escritório com varanda. Algo que chamou a atenção foi que havia um velho relógio de pêndulo perto da parede da sala.

Os Senhores preferiam dormir no andar de baixo, por causa da escadaria que era difícil de subir pela idade, e a Senhoria ia fazer o café todas as manhãs, o quarto era perto da cozinha.

– 1º Dia –

Rute e seu marido organizavam as malas, estavam na suíte do primeiro andar.

_Meu amor, quero dar uma olhadinha na sala de estudos depois, a senhoria disse que tem alguns livros velhos, queria ver quais são.

_Tudo bem, mas lembre-se que vamos almoçar fora e depois, tenho que ir trabalhar.

_Certo.

Ela foi até a sala de estudos depois que terminou com as malas, e o marido foi se lavar, era quase hora do almoço. Na sala, havia duas estantes cheias de livros velhos, uma janela com cortinas de renda amassadas, uma mesinha central de madeira e duas cadeiras estofadas com um pano quente e impregnadas com cheiro de poeira. Rute olhou os livros, passando os dedos pelos títulos. Alguns romances antigos como Senhora, Lucíola e Marília de Dirceu, alguns de Machado de Assis, e uns títulos estranhos que ela nunca tinha visto, até que, na prateleira de baixo, bem no cantinho da estante, havia alguns livros, mais empoeirados, estes, eram no mínimo, suspeitos.

_“Projeção Astral?”, “Vozes espirituais?”. Que tipos de livros são esses? –franziu o cenho-

Quando foi pôr a mão nos títulos,

BAM

A porta se abriu, ela assustou-se e teve taquicardia, olhando para a entrada da sala.

_Olá? Senhorita, o seu marido a chama...

Ela tocou no coração quando viu que era apenas a velha senhora da pensão. Talvez ver aqueles livros a tenha assustado. Ela foi ao encontro do marido.

Durante o almoço, eles conversaram, riram, ele a levou na casa e na despedida, deram um rápido beijo, então ele partiu para o trabalho.

Quando desceu do carro, ela teve a impressão de estar sendo observada, sentiu um arrepio e um vento frio, esfregou os braços novamente, olhou para trás, e arregalou os olhos quando viu uma figura olhando-a da janela do andar de cima. Mas quando seus olhos piscaram, havia sumido, e não havia ninguém lá.

Ela viu o senhor e a senhorinha jogando xadrez na frente da casa, no pequeno jardim. Preferiu não comentar nada e cumprimentou os dois com um sorriso, mas não teve coragem de ir ao andar de cima. Foi para a sala de estudos e pegou um livro.

A tarde toda ela gastou lendo-o, e quando finalizou, o sol já havia quase desaparecido. O Senhorio assistia TV e a Senhoria preparava o jantar. Ela foi até o quarto e ligou para o marido.

Naquela noite, eles jantaram juntos. E depois de conversarem um pouco, foram dormir.

_Tenho que acordar cedo amanhã, vou trabalhar e não vou almoçar com você, mas volto a tempo do jantar.

_Tudo bem.

Os dois caíram no sono após trocar algumas palavras. Durante a noite, Rute acordou, mas não abriu os olhos, estava sonolenta. Podia ouvir, em meio ao silêncio, o pêndulo do relógio, pra cá, para lá, para cá, para lá. Era desconcertante. Quando estava quase caindo no sono de novo, ouviu mais um barulho, como se uma panela da cozinha tivesse caído no chão, e um gato grunhindo do lado de fora. Ela remexeu-se, e tentou voltar a dormir, mas novamente o som de uma panela caindo. Irritada, ela desceu as escadas e foi até a cozinha.

_Esse gato... –resmungou acendendo a luz-

Mas... Não havia nada na cozinha. Ela resolveu olhar pela janela, que dava vista para o jardim da frente, olhou, não viu nada até que...

_AH! –gritou e tapou a boca em seguida-

Um vulto caminhou no jardim e passou pela grade da entrada. Um estranho vulto de cor preta. Ela lembrou-se da pessoa que viu na janela, e correu para o quarto.

_Orlando! Orlando! ORLANDO! –sacudiu o marido-

_Humn? Que foi, Rute? –ele coçou os olhos-

_T-tinha alguém no jardim da frente!

_O quê? –o homem saltou da cama-

Os dois desceram, a luz da cozinha ainda estava acesa. Orlando abriu a janela, a mulher se agarrava nas roupas dele, por trás do marido, ainda assustada. Ele pôs a cabeça para fora e olhou. Não havia nada ali, só o uivo dos cachorros da rua.

_Meu amor, foi golpe de vista. –suspirou abraçando a mulher- Deve ser porque estamos num ambiente estranho, mas está tudo bem. Eu vou estar do seu lado, qualquer coisa, pode me acordar, ok?

_Ok...

...

– 2º Dia –

Rute acordou cansada, quando desceu as escadas, seu marido já terminava de tomar café.

_Oi, querida, não quis te acordar. –ele sorriu lavando a louça que havia sujado-

_Pode deixar que eu lavo, se demorar muito vai se atrasar.

Ela cumprimentou o homem com um beijo e foi tomar seu café da manhã. Demorou, mastigando vagarosamente a comida, como se não tivesse vontade de engolir nada. Viu o marido sair pouco depois, o barulho do motor do carro se distanciando da pensão. Bem, o dia mal havia começado, foi o que ela pensou. Ainda tinha tempo para se divertir.

Decidiu mudar os ares, trocou de roupa e foi ver a cidade. Voltou na hora do almoço, renovada. Parece que ver o mundo era a melhor solução. Iria passar a tarde lendo, até a hora do seu amado voltar. Falou com a Senhoria enquanto ia para a sala de leitura:

_Desculpe Senhora, mas todos aqueles livros são seus?

_Ha, não minha filha, não são. Alguns são da minha filha que não mora mais na cidade e outros, do avô dela, o meu sogro.

_Entendo. Tem livros muito bons! Posso ler alguns?

_Sinta-se à vontade. Só tome cuidado.

_Cuidado com o quê? –perguntou apreensiva-

_Ah! –a velhinha deu uma tapa na própria testa- Com nada. Que cabeça a minha, cuidado só se for com a poeira, dá uma alergia danada.

_Sim...

Ela foi até a sala de leitura e leu um romance sobre um fantasma que se apaixonava por uma humana viva. Era um livro meramente sobre críticas sociais, falando daqueles considerados “fantasmas” pela sociedade enquanto a mulher era uma alusão às pessoas que se destacavam no mundo, um típico romance do século XIX. As páginas eram tão amareladas pela idade. Foi um livro pequeno, ao fim da tarde, já o tinha devorado.

Ouviu um barulho vindo da cozinha, novamente. O sol já se punha, ela pensou ser a Senhoria, mas ao ver a senhorinha sentada ao lado do marido na sala de estar, assistindo TV, ficou alerta. Andou a passos lentos, e cerrando os punhos, pronta para dar um soco na cara do primeiro que lhe aparecesse na frente, ela entrou na cozinha, fazendo um estalo com os pés.

_Ei! Quem está aí?!

Surpreendeu-se quando o homem que mexia no armário da cozinha parou e se virou para ela. Ele remexia numa das prateleiras do armário de madeira pintado de branco, o lugar onde havia algumas panelas e enlatados.

_Rute...?

_Orlando...? –ela tocou no peito, aliviada por ser apenas seu marido- Pensei que só chegaria de noite.

_Eu vim mais cedo porque o trabalho acabou logo. –ele sorriu-

O sorriso dele parecia mais luminoso que de costume. E aquelas covinhas que se formavam quando ele sorria, ela adorava aquilo.

_Que bom, podemos até sair juntos para jantar! –ela se animou-

_Eu adoraria.

_Sabe, eu estou um pouco assustada com esse lugar, depois do que aconteceu ontem e a noite, e acho que te falei antes, que eu tinha visto alguém na janela do nosso quarto no primeiro andar, parecia um homem! Tá me ouvindo?

O marido se aproximou, abraçou-a por trás e deu um beijo no pescoço, depois voltou a mexer no armário da cozinha.

_Isso é imaginação sua, meu amor. Deve ter sido golpe de vista.

_Não, mas eu vi! E depois teve aquele episódio de ontem, que nós dois estávamos na cozinha, eu vi de novo aquele vulto passando pelo jardim da frente, mas ele sumiu justo quando você veio olhar! Tenho a impressão de que é para me fazer parecer louca! Ou talvez seja porque é um incrédulo quando se trata desses casos de sobrenatural.

_Meu amor, você é que acredita demais nisso. –ele riu-se- É por isso que eu te amo.

_Não me venha com essa! –ela bateu pé para fora da cozinha, irritada-

Assim que saiu sentiu um vento frio vir das janelas da cozinha, esfregou os braços, para se aquecer, e quando se virou, voltou para reclamar com o marido, ele não estava mais lá. Como ele poderia sumir assim? Assustada, ela correu da cozinha. Discou nervosa uma chamada para o marido.

_Orlando?! Orlando?! É você?!

_Oi, sim. O que foi Rute?

_V-você ainda está no trabalho?

_Claro que estou, vou ter uma reunião agora, não tinha te dito ontem que ia trabalhar até tarde?

_Orlando, volta logo. Por favor, não demora muito tá? Vem jantar aqui, por favor.

_Rute, o que foi que aconteceu?

_Eu te conto quando você vier! –ela desligou o celular, deixando a preocupação no ar propositalmente para que o marido voltasse logo-

Foi até a sala, com medo. Ficou ali fazendo companhia aos senhores da casa, ou melhor, pegando a companhia deles emprestada, com medo de ficar sozinha naquela casa escabrosa.

Depois que seu marido chegou em casa, ela correu e o abraçou, chorando contando isso. Ele, preocupadíssimo, achou que fosse por causa da noite de sono mal dormida, e insistiu na ideia de que ela estava vendo coisas. Ela desistiu de tentar convencê-lo. Dormiu agarrada com ele a noite toda, só para ter certeza de que não ia sumir do nada.

– 3º Dia –

No terceiro dia, ele foi trabalhar e passou o dia fora, ela não saiu da cama, desceu para comer, andou pelos cômodos da casa, com uma ansiedade ruim sobre o que poderia acontecer. Depois voltou para a cama. Quando chegou de noite, o marido ficou o tempo todo com ela, vendo que a mulher estava um tanto depressiva.

Enquanto dormia, ela pensou ter ouvido um barulho.

_Rute?

Ouviu a voz do marido lhe chamar. Novamente, ouviu o barulho oco de alguém batendo na porta. Ela abriu lentamente os olhos, as pálpebras tão pesadas que ameaçavam fechar. Cutucou o homem, ele se remexeu e grunhiu.

_Hum? Que foi?

_Orlando, por que me chamou?

_Não te chamei.

_Pare de brincar. Ouviu aquele barulho?

_Que barulho, Rute? –ele se virou para a mulher, mal humorado-

_... Esqueça.

Vendo a irritação do marido, fechou os olhos e ambos voltaram a dormir.

– 4º Dia –

Rute acordou e o marido ainda dormia. Ela se aprontou e desceu as escadas. Logo o esposo também se juntou a ela no café da manhã. Eles e os donos da pensão tomaram juntos o desjejum, e Orlando foi trabalhar.

Quando se despedia, já entrando no carro, deu um beijo rápido e um breve aviso:
_Meu amor, vou ficar até tarde no trabalho, nem sei se volto hoje. Tente não ficar muito sozinha, saia da casa, vá se divertir em algum lugar. Não se preocupe comigo, tá bom?

_Certo...

Ela acenou desgostosa da situação. Ficou perambulando pela casa. Não se interessou por livro nenhum. Apagava as mensagens acumuladas do celular e conversava com algumas colegas pelo facebook. Não suportava o fato de estar assombrada, tinha um medo tão grande de assombração.

De noite, jantou junto com a senhoria e o senhorio. Subiu para o quarto. Foi dormir. Não queria mais focar acordada nem ver nada de estranho na casa. Amanhã, quando acordasse, o marido estaria lá e ela poderia ficar mais tranquila.

. . .

No meio da noite, Rute ouviu um barulho. Era o trinco da porta, se abrindo. A porta rangeu, a madeira velha fazia esse barulho desconfortável. Rute se mexeu na cama, mas ignorou. Ouviu passos, não se preocupou nem em abrir os olhos, lembrou-se que Orlando havia dito que poderia chegar tarde da noite se não chegasse de manhãzinha.

Sentiu a cama afundar e alguém deitar-se a seu lado. Depois, só sentiu o abraço do homem que deitava a seu lado.

_Vamos jantar, meu amor? –disse num tom suave-

_Já passou da hora do jantar, Orlando. –respondeu num tom de reclamação, sem abrir os olhos-

_Então, que tal amanhã? Posso chegar mais cedo e passar pra te buscar pra jantar em outro lugar?

_Eu adoraria. Mas amanhã combinamos, ok?

_Tudo bem. Boa noite.

E ouvindo as doces palavras do marido, ela adormeceu, num profundo sono. Teve um sonho, mas não lembra direito como foi, quando acordou com o barulho do celular vibrando, ainda na madrugada, as memórias sobre o sonho sumiram todas.

Quando pegou o celular, viu o nome do marido no identificador, franziu o cenho, confusa. Olhou para o lado, não havia ninguém na cama. Pensou que ele tinha voltado e saído de novo.

_Alô? Orlando?

_Sim, liguei só pra avisar que estou indo agora, certo?

_Agora? Não voltou para casa hoje? Você já voltou certo?

_Não, claro que não querida. Não acabei de lhe dizer que estou indo agora?

_...

Deixando o celular cair nos lençóis, as mãos dela tremiam. A porta do quarto estava aberta, mas ela tinha certeza de que havia fechado. Aquela pessoa que entrou no quarto, no meio da noite... Se não foi o marido, quem era? Pegando o celular.

_Orlando, fique aí mesmo, eu vou para aí!

_Espere, do que está falando?

_Te conto quando estiver aí!

Ela pôs uma roupa e correu, fugiu da casa, pegou um táxi no meio da estrada e não quis mais saber de voltar ao local. Orlando diria que era alucinação, mas ela tinha certeza do que viu e sentiu. Não iria esperar para descobrir o que havia ali. Queria levá-la.

_Ela vai embora assim? – O senhorio perguntou à esposa-

_É, não se agradou da história.

_E qual livro ela escolheu?

_Aquele sobre o fantasma que se apaixona... Se tivesse escolhido outro com vivos...

_É uma pena que ele vai ter que ficar sozinho agora.

_Bem, nunca se sabe... Vai que alguma outra moça se interesse pela história...

A última vista que Rute teve, foi os dois senhores da pensão olhando sua partida com sorrisos singelos e um aceno de leve, fingindo-se de desentendidos da situação, e atrás, bem atrás, no fundo da casa, um vulto de um homem, com uma expressão triste. Ele estava imitando o marido para levá-la? Não entendia muito bem e nem queria entender.

Rute não voltou nem para buscar as malas. Ela e o marido ficaram o resto da semana num hotel. O que havia na casa? Não se sabe. Só sei que nunca mais ela viajaria para aquele lugar, mas aquelas palavras que ouviu, ficariam guardadas em sua mente para sempre:

Boa noite.


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