Segunda chance escrita por Mary Jane


Capítulo 6
6. Ninguém além de você


Notas iniciais do capítulo

“Você me faz acreditar em manhãs melhores e em noites mais bonitas.”
— Clarissa Corrêa.



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~

Quando as portas da aeronave se abriram, Pepper conseguiu soltar a respiração que nem ao menos percebeu estar segurando, ela podia vê-lo, ele estava ali, tão próximo a ela.

Ele parecia tão bem, mesmo estando em uma cadeira de rodas e com o braço enfaixado, Rhodes o ajudou a ficar de pé. Ele não olhava para mais ninguém, só tinha uma pessoa em sua cabeça, e uma única pessoa em seu coração, e ele não conseguia tirar seus olhos dela.

Tony havia se esquecido de como Pepper era bonita. Havia se esquecido de qual tom de ruivo seus cabelos eram e qual azul eram os olhos grandes, ela se parecia tanto com uma das princesas da Disney, a sereia, com o seu olhar tão puro e sua beleza tão exótica.

Mesmo Pepper não querendo, ela não conseguia segurar as lágrimas que teimavam em cair de seus olhos. Culpou os hormônios por isso.

“Olhinhos vermelhos... Andou chorando pelo chefe?” Ele estava do mesmo jeito que ela se lembrava, a barba com o mesmo desenho, o cabelo com o mesmo comprimento, bonito igual.

“Lágrimas de alegria. Odeio procurar emprego.”

“É, as férias acabaram.” Ela poderia ter revirado os olhos para ele e assim ambos poderiam começar uma discussão. Pepper ansiava por isso.

Mas resolveu que Tony estaria cansado demais para tal ato. Enquanto Tony cumprimentava Happy, Pepper deu um abraço no Rhodes que sussurrou discretamente em seu ouvido: “Cuida dele”.

Ela sorriu. Cuidar de Tony era o que Pepper fazia de melhor. E o que mais ansiava em fazer novamente.

Entraram no carro, lado a lado. Os olhos dela se perdiam na imensidão castanha dos olhos dele. O tom chocolate predominava, mas havia também o café e o barro, as matizes bonitas do rosto anguloso. 

“Pra onde senhor?” Happy tirou Pepper da divagação.

“Direto para o hospital, por favor, Hap-“ Mas Tony a interrompeu.

“Não.”

“Não? Tony você precis-“ Ah! As discussões.

“Você não me convenceu...”

“Tomar remedi-“

“Eu não tenho que ir a lugar algum” Seus olhos se cruzaram novamente, um choque elétrico tomando lugar dentro dela.

“Nós precisamos levar voc-“

“Fiquei num cativeiro durante três meses, tem duas coisas que quero fazer, quero comer um x burger, e eu quero uma...” Pepper bufou, ele não mudaria nunca?

Ela não queria ouvir mais nada, revirou seus olhos na direção dele.

“Já chega disso”.

“Não é o que está pensando” Ele se jogou ainda mais contra o estofado de couro do carro. “Convoque uma entrevista coletiva agora.” Ele estava cansado.

“Convocar uma coletiva? Pra que?” Tony sempre deu direitos a Pepper, não se incomodava em compartilhar seus pensamentos e sentimentos com ela. Exceto talvez o sentimento que crescia em seu peito e o qual nem ele mesmo entendia.

“É, Rhodes, vai. O X-Burguer primeiro”.

“Você não pode estar falando sério, Tony você precisa de cuidados, por favor” Ele quase cancelou o pedido ao olhar nos olhos claros dela, de forma pidona. Mas, precisava parar com a criação de armas e precisava parar com isso agora.

“Você está bem?” A mão quente de Tony segurou a de Pepper de forma carinhosa.

“Eu que deveria estar fazendo essa mesma pergunt-“

“E o bebê?” Ela rapidamente se esqueceu do que estava falando. Quando tocava no assunto do seu filho, ela se esquecia de todo o resto.

“Está bem” A mão que estava livre acariciou a barriga discreta que sustentava.

“Isso é muito bom.” Ele voltou novamente seus olhos para o fluxo de pessoas na rua e Pepper se perdeu ali, sentindo seu filho se mexer enquanto a mão dele segurava a sua.

“Você tem certeza de que não quer um pedaço desse X-Burger” Tony perguntou novamente, retirando do saco o terceiro lanche que ele comia em menos de cinco minutos.

“Não. Eu realmente não quero, obrigada”. Pepper estava a ponto de vomitar pelo cheiro forte dos molhos, continuava digitando furiosamente nas teclas do seu BlackBarry.

“Eu preciso falar com você, antes dessa coletiva”. Tony disse despreocupado olhando na direção de Pepper.

“Eu... Bem, no dia em que eu desapareci, uma bomba me atingiu”. Pepper já tinha os olhos marejados e Rhodes tinha os olhos presos no amigo.

“Tony?” O celular a muito tempo esquecido contra suas pernas.

“Eu estou bem, mas... Alguns estilhaços se instalaram ao redor do meu coração.” Pepper prendeu a respiração.

“O que isso quer dizer?” As mãos de Pepper tremiam contra o corpo.

“Quer dizer que eu estou bem, e que repensei muito sobre todas as coisas nos últimos anos da minha vida. Espero que vocês me apoiem em minhas decisões.”

“Como você conseguiu retirar esses estilhaços do seu coração preso dentro de uma caverna?” Rhodes perguntou.

“Conheci alguém lá, Yinsey. Ele me operou, estou usando um protótipo que isolou meu coração, impedindo esses estilhaços de me perfurar ainda mais...”

“Existem cirurgias...” Pepper começou a divagar, preocupada.

“Mas não irei fazer, ter esse reator em meu peito, me faz lembrar tudo o que vivi nesses últimos meses. E me faz lembrar ainda mais de tudo o que eu vivi nos últimos anos, não quero mais ser esse cara inconsequente.” Tony disse sorrindo.

Pepper sorriu doce.

“Você tem certeza?”

“Absoluta.”

“Tudo bem”. Pepper disse, entrelaçando seus dedos aos de Tony.

Quinze dias haviam se passado desde o dia em que Tony fora encontrado, eles ainda não haviam conversado sobre muitas coisas, mas Pepper estava sentindo que tudo estava enfim voltando aos eixos.

O tempo de Pepper era dividido entre trabalhar, reformar o quarto do bebê e as consultas médicas.

Era uma rotina gostosa, ainda mais sabendo que ela não estava sozinha.

Tony vivia dentro do seu próprio mundo desde que voltara.

O programa MAD MONEY continuava, o apresentador, diga-se de passagem um verdadeiro babaca, continuava a falar e a falar sem parar:

“Vou fala. Abandonar o navio. Vocês estão com a pulga atrás da orelha?” Pepper continuava a prestar a atenção no programa, suas mãos acariciando despreocupadamente seu bebê, tendo o notebook entre suas pernas.

“Deixa eu mostrar pra vocês o novo plano de negócio das industrias Starks” A coisa estava feia, eles haviam perdido cerca de 60% das ações e Tony se recusava a voltar a pensar nos armamentos. Sendo o sócio majoritário, a última palavra era sempre a dele. O homem careca pegou um bastão de beisebol e quebrou uma xícara. “Olha só, essa é uma companhia de armas que não faz arma.”

“Você tem mãos grandes?” A imagem e voz de Tony refletiram no controle universal da mansão.

“O que?”

“Ta com a mão limpa?”

“E-eu não to entendendo o porquê”.

“Desce aqui pra um servicinho”.

...

Pepper digitou sua senha e entrou na oficina de Tony, ela não conseguia tirar seus olhos do corpo exposto dele. Sem camisa, ele parecia um deus pagão, com os braços e ombros largos, os cabelos espalhados pelo rosto bonito, à barba característica, ele parecia tão à vontade que Pepper teve que se segurar para não esticar seus dedos e tocar a pele morena dele com as pontas dos dedos sensíveis.

 

“Deixa eu ver as suas mãos” Ela tremia, prendeu seu olhar no metal preso ao corpo dele, no centro do seu peito. Um espaço grande e oco. Ela imitou os gestos dele, segundos depois, mostrando as mãos. “Ah, são pequenas, pequenininhas. Me dá uma mãozinha aqui, um instante.”

“Ai meu Deus, é isso o que te mantém vivo?” Ela se aproximou dele, seus olhos se encontrando. Azul e amêndoas.

“É. E agora é uma antiguidade.” Ele parecia reticente em falar sobre aquilo com Pepper, ou qualquer um. Não queria ser motivo de pena de ninguém. “Isso é o que vai me manter vivo a partir de agora” A peça arredondada e de luz azul chamou a atenção de Pepper, estava no colo do Tony, que usava apenas um peça de pijama azul. “Estava fazendo uma atualização e encontrei um pequeno... Entrave” Ele parecia calmo.

“Entrave? Que entrave?” A preocupação na voz dela era notória. “Mas...”

“Nada. Nada, é uma dificuldade. Um fio exposto. Acho que esse dispositivo faz contato com a parede do soquete...” Tony começou a tirar o dispositivo do peito. Pepper neste momento já estava ao seu lado “... E está causando um pequeno curto”. Tony retirou o dispositivo do peito com um pequeno solavanco.

“O-o-o-o que?” O dispositivo foi entregue para a Pepper. “O que quer que eu faça?”

“Nada, não... Só coloque naquela mesa ali. Deixa lá” E assim ela o fez.

“Ai meu Deus”.

“Olha, eu quero que você alcance e retire o fio, ta bom?”

Pepper prendeu seus olhos durante um curto espaço de tempo no buraco instalado no peito de Tony, aquilo era o que mantinha seu amigo e chefe seguro, somente aquilo.

“É seguro?”

“É” Ele disse não muito seguro de si. “Va-va-vai dar t-tudo certo. É como a operação. Não deixe tocar na parede do soquete.”

“O que é, que operação?”

“É um...”

“O que quer dize-“ Eles falavam sempre juntos, assuntos diferentes ou discussões. Um conseguia compreender o ponto de vista do outro.

“Jogo”

“Dizer com isso?”

“Deixa pra lá”

“Levante o fio com cuidado...”

“Ta bom!”

“Ta bom? Vai lá!”

Pepper não conseguia entender o porquê de Tony estar pedindo a ajuda dela para isso. Ela não entendia nada sobre dispositivos, robótica ou reatores.

“Olha só, eu acho que não sou capac...” Ela estava completamente nervosa.

“Que que é?”

“Capacitada para fazer isso.” Pepper disse em pânico.

“O que que foi?” Como Tony podia confiar tanto assim na ruiva? Nem ele mesmo entendia isso. Pepper fazia parte de si. “Não, não... Você consegue. Você é capaz, você é capacitada. É a pessoa mais confiável que eu conheço. Vai dar tudo certo”. Ela queria poder sorrir, nunca antes seu chefe havia falado palavras tão doces e honestas para ela.

“Ta”

“Ta tudo bem eu te pedir isso? Porque...”

“Ta. Ta, ta legal...”

“Continue.”

A mão de Pepper tremeu antes de ela fazer uma nova tentativa. Seus dedos encontraram algo viscoso.

“Ai meu Deus, tem pus” Pepper disse fazendo uma careta.

“Que que foi filha, não é pus, é uma descarga plasmática orgânica do dispositivo, não é do meu corpo não...” Ele disse.

“Tem cheiro”

“É-é, é o fio de cobre queimado, tá?”

“Tá, ta... Entendi”.

“Tá, entendeu? Só não deixe tocar no...” O grito que Tony soltou fez Pepper querer recuar e soltar novamente o fio. Pepper havia encostado o fio na parede de soquete, causando um choque em Tony. “Ai, ai, ai, ai... Eu tava tentando dizer isso...”

“Desculpe, desculpe, desculpe” Ela estava apavorada.

“Isso, não faz... Não... Não puxa, tem um imã da ponta” Pepper já conseguia ver o fio fino e dourado que saia do buraco do peito de Tony. “Tá? Devagar, devagar” Pepper puxou um pouco mais o fio e no mesmo segundo o fio saiu inteiro na sua mão.

“Ai...”

“Olha só. Tirou, olha só o que ‘cê fez.”

“Ai meu Deus, o que eu faço?” Ela não conseguia racionalizar direito e então, resolveu colocar o fio novamente do peito de Tony.

“Não, não põe de volta, não. Leva, leva”.

“O que foi?”

“Nada. Eu vou ter uma parada cardíaca. Você puxou com muita violência”.

“O que? Mas você disse que era seguro”.

“Tem que ser rápido. Pega, pega, pega lá”. Tony disse entregando o novo dispositivo para Pepper, um mais moderno e mais bonito visualmente.

“Ta bom” Pepper estava em choque. “Tony, vai ficar tudo bem? Vai ficar tudo bem e-eu...”

“É...Vamos torcer”.

“Eu vou conseguir fazer direitinho”.

“Ta bom, você vai prender isso na placa de base. Faça com que...” Pepper conseguiu conectar.

O grito de Tony deixou Pepper ainda mais nervosa.

“Mãozinha pesada... Foi divertido, né? Ahãm, ótimo”.

Pepper conseguiu enfim, se acalmar.

“Você ta bem?”

“Tô, eu to me sentindo bem. Cê ta bem?”

Tony riu diante do pânico de Pepper, que acabou se acalmando e rindo também.

“Nunca mais, nunca mais mesmo me peça pra fazer uma coisa desse tipo”.

“Eu não tenho ninguém, além de você” Pepper congelou no lugar, Tony suspirou frustrado, uma coisa era sentir algo pela ruiva, outra ela falar sobre isso em voz alta.

“Enfim...” As mãos de Pepper ainda estavam com o líquido gosmento enquanto ela balançou-as tentando retirar um pouco do excesso. Tony se levantou.

“É pra fazer o que com isso?” Ela perguntou se referindo ao dispositivo que estava em cima de bancada e que há poucos minutos atrás estava retirando do peito de Tony.

“Isso? Destrói. Incinera.”

“Não vai querer guardar?” Ele agora tinha total atenção ao rosto pequeno e oval de Pepper.

“Pep, já fui chamado de muitas coisas, mas nunca de nostálgico”.

“Tudo bem” Pepper continuou segurando o dispositivo em suas mãos e Tony continuou olhando para ela, com total atenção.

“Como vai o bebê?” Ele às vezes se esquecia que Pepper estava grávida, ela sempre agia de forma normal quando estava na presença dele.

“Está bem” Ela tentou disfarçar a felicidade que sentiu a curiosidade de Tony.

“Vo-você já sabe o sexo?” Ele perguntou secando suas mãos na toalha azul.

“Ainda não. Eu acho que é-“

“Se fosse menina poderia se chamar Íris”. Ele disse olhando para a barriga dela, ainda muito discreta, mesmo em seus quatro meses de gestação.

“Íris?”

“Na mitologia grega Íris era uma deusa mensageira dos outros deuses e se manifestava como um arco-íris colorido no céu, simbolizando sua ligação entre o Céu e a Terra. Seria um nome legal para homenagear Harry”.

Ela sorriu, era verdade “Você tem razão, é um nome muito bonito, com um significado muito importante”.

“Bem...” Ele estava começando a se sentir estranho. A presença dela mexia muito com Tony.

“Isto é tudo Senhor Stark?”

“Isto é tudo senhorita Potts.” De frente para Tony, Pepper parecia uma criança, ele era muito alto e musculoso.

“O dedinho de manteiga, vem cá” Tony já não prestava mais atenção em Pepper. Naquele tempo em que ambos conversaram tão próximos, Pepper havia sentido seu bebê se mexer sem parar. “O que essas coisas estão fazendo em cima da minha mesa, em? Este aqui é meu telefone, essa aqui é a minha foto com o meu pai...”

Pepper continuava a acariciar, mesmo sem intenção a peça que antes habitava o peito de Tony.

Entretanto, antes de Pepper sair da oficina, Tony a olhou e soube que nunca viveria num mundo onde Pepper não estivesse.


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Notas finais do capítulo

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