Segunda chance escrita por Mary Jane


Capítulo 3
3. Vida que segue


Notas iniciais do capítulo

É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.
Friedrich Nietzsche



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Ele não conseguia compreender o que se passava com Virgínia, não compreendia ela, não conseguia saber os medos ou desconfianças que sondavam a cabeça da ruiva. Ela era mais que uma simples empregada, mas agora, sentado na confortável poltrona do avião, Tony se pôs a pensar que mesmo conhecendo Pepper a mais de oito anos, não sabia nada dela. Sabia apenas que ela tinha um noivo que namorava desde a faculdade, e que ela havia cursado administração de empresas e seus pais haviam falecido quando ela ainda era criança. E nada mais.

Não que ele não desse alguma importância, mas é que Pepper nunca falou sobre si mesma com ele. E ele a admirava. E a achava bonita.

Talvez ele quisesse saber de algo mais, mas não conseguia compreender essa fascinação por Virgínia Potts agora. Talvez essa “fascinação” não fosse de agora, mas só agora ele sentia que deveria agir de alguma forma. Ela estava sozinha novamente, com uma criança no ventre e um mundo todo para combater.

Antes, quando conheceu a ruiva escultural de pernas estonteantes recém-formada da faculdade cheia de sonhos e planos ele pensou em se aproximar, mas o que ele viu nela foi algo muito além de beleza ou sagacidade, ele viu nela lealdade, integridade e inteligência. Ele nem ao menos era tudo isso, mas Virgína ou Gin lhe mostrou que ainda existia, mesmo que quase impossível, pessoas honestas e leais e ele desejou e tentou (fervorosamente), passar uma noite ao lado dela, assim como fazia com todas as outras, mas pela primeira vez dentro de sua empresa, sua casa, ou sua vida, foi rejeitado pela única mulher que um dia desejou de verdade.

Ele não insistiu mais quando conheceu Harry. E entendeu e até mesmo, em seu íntimo, sentiu uma pitada de inveja. Desejou um dia encontrar alguém como ela para si, para ter aquela felicidade que ele só via nos olhos dela quando ele estava próximo.

Ele se recusou a acreditar que o que estava sentindo era ciúmes. E nunca contou isso para ninguém. Ele não conseguia ver isso mais nos olhos dela, aquele riso fácil. Não quando era outro que possuía seu coração.

— Está tudo bem? - Rhodey perguntou se aproximando de Tony enquanto lhe servia um copo de uísque com gelo.

— Ah, claro, claro. Então ninguém fica pelada aqui? - Rhodey riu. Tony continuou com a expressão dura.

— Não até você me contar o que está deixando essa enorme ruga de preocupação em sua testa.

— O que? - Ele se levantou rapidamente e se aproximou do pequeno espelho acoplado ao móvel.

— Estou só brincando, mas me diga, vamos... O que acontece?

— Pepper está grávida. - Ele despejou as palavras que pareciam lhe queimar a língua. E tomou um longo gole da bebida em sua mão.

— Repete.

— Eu não sei muito bem, eu nem ao menos notei alguma mudança no corpo dela, mas aparentemente el-

— Você é o pai?

— Claro que não, seu idiota. - Tony revirou os olhos, mania que inocentemente havia herdado de Pepper.

— É que, eu não sei, ela passa muito tempo na sua casa...

— Rhodey, você sabe que ela é... Era noiva, não é? - Ele se sentou novamente na poltrona ao lado de Rhodey.

— Sim, mas a sempre tanta tensão sexual entre voc-- Ele foi interrompido novamente.

— Bem, não sei, isso é você quem esta falando, estou apenas te dizendo que Pepper está grávida do noivo morto e que eu não sei como devo tratá-la a partir de agora e... - Rhodey explodiu em uma gargalhada.

— Por que está tão preocupado?

— Isso irá afetar nossa rotina diária, ela não poderá mais viajar comigo, nem ficar até tarde na minha casa. Seu corpo irá mudar, ela vai ter que tirar aquelas licenças de sei lá... Três meses. Eu não posso ficar sem Pepper, ela-ela cuida de tudo. Ela cuida de mim! - Explodiu Tony como se tudo aquilo fosse óbvio e Rhodey não tivesse compreendido.

— Ai está. Tony cresça, Pepper já é uma mulher adulta, você acha que se ela tivesse tempo de casar com Harry ela continuaria trabalhando para você? O noivo dela tinha restaurantes por toda Malibu, ele provavelmente pediria para que ela o abandonasse, você é insuportável demais, infantil demais. E bem, essas licenças chamam-se "Licença Maternidade" e não duram três meses, duram seis meses e bem... Acho que você está sendo um idiota. - Tony olhou para os próprios pés.

— A questão é, o noivo dela morreu, ela vai ter que criar um filho sozinha...

— Isso eu já entendi. - Rhodey sabia onde Tony queria chegar.

— Essa criança vai crescer sem o pai.

— Hmm.

— É difícil para uma mulher criar uma criança sozinha.

— Está se candidatando para ser o pai do filho dela? - Zombou o moreno.

— Cruzes Rhodey, mal cuido de mim, imagina um ranhento... A questão é...

— A questão é que só agora você percebeu que tem sentimentos pela ruiva.

— Eu não tenho sentimentos pela Pepper, bem - Tony gaguejou um pouco - Ela é uma ótima camarada... E...

— Camarada? Assim como Betany Cabe? - Rhodey riu do embaraço de Tony.

— Ela é meu braço direito, administra minha empresa, cuida das minhas roupas, dos meus compromissos, da minha alimentação, é uma amiga para qualquer hora, é linda...

— Ela é uma esposa com greve de sexo.

— O que?

— É, vocês são aqueles casais que se amam, cuidam um do outro, mas que não fazem mais sexo.

— Rhodey essa sua mente pervertida ainda não assimilou que Pepper acaba de perder o noivo vítima de um assalto e que espera um bebê? Você não pode estar falando de sexo... Você está sendo patético.

— Tem razão, vamos fingir que essa conversa nunca existiu, que você não me contou que Pepper está grávida e nem que seus olhos brilham quando você está perto dela. Tudo bem? Claro... - Ela bateu com a mão aberta sob a testa. - Nunca mencionaremos a maldita tensão sexual que existe entre você dois, com noivo ou sem noivo ou com bebê ou sem bebê.

— Rhodey, só... Cale a boca, sim? - Tony estava nervoso, aparentemente Rhodey era um idiota.

— Você é quem manda.

UM MÊS DEPOIS.

A ficha ainda não havia caído.

Nem que esperava um bebê. Nem que completava dois meses de gestação hoje. E nem que Tony havia sumido.

Eram coisas demais para sua cabeça preocupada.

James Rhodey ainda continuava as buscas, mas em toda a rede de telecomunicações só davam uma notícia "Tony Stark, morto". Não havia muito que ela pudesse fazer, consentia algumas entrevistas, participava de algumas reuniões na empresa, não que tivesse muita coisa que ela poderia fazer, mas tudo o que fazia era para distrair sua cabeça. Ela tentava convencer a si mesma que Tony voltaria para Malibu, para sua casa e consequentemente para perto de si.

Tony era fácil, engraçado e ela gostava de estar na companhia dele. Ela relaxava e se estressava ao mesmo tempo. Era bom e complicado, mas nunca monótono.

Nenhum dia era igual ao outro. Mas agora ela estava só, mas uma vez. Perdera Tony tão poucos dias depois que perdeu Harry.

Seu coração tinha uma ferida aberta que somente com a presença do seu chefe seria selada novamente.

Quanto a sua gravidez, Pepper se sentia péssima. Mesmo quando dormia oito horas por noite, nunca estava descansada o suficiente. Estava sempre fadigada. Seus seios haviam crescidos consideravelmente, tanto que Pepper teve que trocar dois números de sutiã. E havia também os imprevisíveis desmaios e crises de vômitos. Essa era a pior parte.

Ela odiava.

E acontecia a qualquer momento, não importava que ela estivesse no conforto de sua casa ou numa sala de reunião com 32 acionistas.

— Senhorita Potts? - Ela foi retirada de seus pensamentos quanto uma moça vestida de peças brancas e com um avental rosa se aproximou.

— Isso mesmo. - Sorriu.

— Bom dia, sou a enfermeira Julia, vou leva-la até o médico. - Em sua mão ela segurava uma prancheta e no bolso do seu avental se encontravam algumas canetas azuis. Ela parecia simpática. - Por aqui.

Pepper a seguiu meio apreensiva. Os casais ao seu redor não tinha mais olhos que não para si, e ela teve vontade de chorar por não ter Harry ao seu lado.

— Olá, sou seu médico, Dr Augustos - A sala era espaçosa e consistia em dezenas de aparelhos, as paredes eram pintadas de brancas com detalhes rosas e o médico era um senhor de meia idade com os cabelos grisalhos - Julia você pode levá-la para se trocar? - Pepper a acompanhava, tudo o que ela fazia era muito mecânico, o aperto de mão com o médico, retirando suas roupas, vestindo aquele vestido ridículo de hospital azul, se sentando naquela "cadeira" vergonhosa.

Era tudo demais para ela.

— Querida, preciso que você relaxe. Tudo bem? - Os olhos azuis do velho médico lhe transmitiram a calma que Pepper tanto precisava. - É sua primeira gestação? Você sabe de quantos meses está?

— Sim, ac-acho que de dois.

— Certo. Precisarei fazer um exame um pouco evasivo, pois o feto é ainda muito pequeno para o ultrassom, tudo bem?

Que opções ela tinha?

— Tudo bem.

Doutor Augustos ligou o aparelho de ultrassom vaginal, cobriu o bastão com o preservativo, o lubrificou e inseriu em Pepper. Naquele segundo ela fez jus ao apelido idiota que Tony colocara nela anos atrás, suas bochechas eram duas bolinhas rosadas. Imediatamente o som do coração acelerado preencheu a sala. - Aqui esta o seu bebê. - Augustos lhe indicou com os dedos na tela. - E esse som é o seu coraçãozinho.

— Bate tão rápido e ele é tão pequenininho. - Ela disse já com os olhos marejados.

Era o pequeno grão de feijão mais lindo do mundo. E Pepper não conseguiu não se emocionar ao ver, que dentro de si havia um pedaço de Harry que se mexia tão desesperadamente quanto possível.

Ela sorriu novamente, um sorriso tão grande e sincero que se sentiu em paz.

— O seu filho, nesse período, deixa de ser um embrião e passa a ser um feto. Essa fase é importante, pois é nela que os órgãos dele se formarão e começarão a se desenvolver. Os braços dele cresceram e as mãos estão flexionadas nos pulsos, juntas sobre o coração. As pernas estão ficando mais compridas e os pés podem ser longos o suficiente para alcançarem a frente do corpo. É quase impossível, pelo ultrassom, determinar se você está esperando um menino ou uma menina. - O médico continuava a apontar para o pequeno amendoim explicando a Pepper tudo o que acontecia com o seu filho.

— Então, está tudo bem? - Ela estava emocionada demais.

— Esta tudo mais do que bem, que tal você se trocar primeiro e então conversamos melhor?

Quando Pepper voltou encontrou o doutor da mesma forma que cinco minutos antes, ele lhe indicou a cadeira para que ela se sentasse.

— Eu só preciso que você faça mais alguns exames e tome todas as vitaminas e os alimentos descritos aqui na receita, voltamos daqui um mês, tudo bem?

— Tudo bem Doutor. Obrigada.

Ao sair da sala do médico e voltar para a recepção onde casais de futuros papais apaixonados se encontravam, Pepper não se sentia mais sozinha, ela nunca mais estaria, tocou somente com as pontas dos dedos sua barriga ainda inexistente e se alegrou por ter a capacidade de criar vida.


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