Quando Eu Me For, Não Deixe de Sorrir escrita por TimeLady


Capítulo 6
aprendendo a lidar com seu pai (por Hiro Hamada)


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Desculpe o sumiço, altas mudanças na minha vida no momento me impediram de escrever muito, sem falar de um gigantesco bloqueio criativo que eu finalmente consegui destruir. Espero que curtem o capítulo!



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Hiro, sem orgulho nenhum em admitir isso, escondeu-se no seu quarto por quase três dias depois do incidente da cozinha. Suas breves saídas foram para ir ao banheiro e para pegar comida escondido. O resto de tempo ele permaneceu vagando pelo seu/o quarto e 72 horas depois, ele seria capaz de desenhar aquele lugar por memória.

Não que tivesse muito o que memorizar. Tirando os móveis mais óbvios, não havia muita coisa ali. Visivelmente, o outro Hiro levara tudo o que podia, e tudo de interessante, exceto alguns livros que ninguém em sã consciência colocaria numa mochila, a não ser com o objetivo de entortar a coluna de alguém. Um inimigo talvez. Essa era uma ideia interessante.

O mais interessante, porém, foi quando descobriu uma meia dúzia de cadernos de ideias no segundo dia, todos largados em negligencia no fundo do armário (da qual ele roubou algumas vestimentas depois que o cheiro de suor e a sensação de sangue seco se tornou insuportável) enquanto limpava o quarto – o que ele culparia no absoluto tédio corroendo seus neurônios. Estudou-os de modo curioso, tentado em abri-los para ver o que sua versão alternativa estava planejando, mas decidiu contra no último segundo.

Educação, ok? Hiro havia prometido esperar até pelo menos uma semana para começar a fuçar pelo quarto de um rapaz morte. Um ele morto. Ele mesmo. Outro Hiro, sendo ele mesmo. Urgh, cérebro.

Deixou os cadernos ao lado das pilhas desajeitadas de folhas soltar, as quais ele havia recolhido antes de começar a tirar o pó do lugar, e tentou esquecer a curiosidade.

O que talvez não precise ser dito que não funcionou. Mesmo não querendo, de tempos em tempos Hiro se pegava pensando neles. Indagava internamente porque diabos só havia seis cadernos quando ele, aos 18 anos, possuía mais de 50; se o outro Hiro havia levado consigo o resto; talvez aqueles fossem as ideias ruins ou antigas; porque não havia nenhuma invenção naquele lugar, quando claramente houvera criação de projetos.

Havia milhares de perguntas coçando seu cérebro.

Quando completou 72 horas de isolamento, Hiro determinou que para poder cumprir sua promessa e evitar que ele acabasse se jogando da janela apenas para impedir o tédio comendo-o vivo, ele tinha que sair daquele lugar.

 ハマダ・タダシ

Hamada Tadashi.

Hiro encarou a madeira por um momento, sentindo-se ligeiramente indignado. Como ele não havia visto aquilo antes?

Em traços imperfeitos e bagunçados, o nome do seu irmão estava gravado em japonês na inocente porta. Era claramente a obra de uma criança e Hiro se sentia meio estupefato porque ele lembrava das aulas de caligrafia que Tadashi havia tentado lhe dar anos atrás, antes do rapaz mais velho se dar por vencido. Os traços dele eram invejáveis.

Aquele trabalho diante de si era tremido, as vezes engrossando na linha errada e afinando demais onde não precisava.

Entretanto, traçou o dedo por cima da tinta preta, ainda é possível reconhecer que é dele. O Ha do Tadashi sempre fora puxado demais.

O sorriso que surgiu nos seus lábios foi involuntário, mas não inesperado e antes que pudesse raciocinar se aquilo era uma boa ideia, sua mão caiu na maçaneta e ele abriu a porta.

Estava vazio.

É claro.

Suspirou, guardando as mãos na sua jaqueta. Já sabia que seria assim, mas isso não impediu o leve desapontamento que o atingiu. Fazia quatro dias que havia vindo parar aqui e não havia visto um único sinal de Tadashi pela casa, o que levava a poucas conclusões e todas desagradáveis. As mais entretidas eram: seu irmão havia desenvolvido habilidades ninjas naquela realidade e estava fazendo um trabalho majestoso de evita-lo pela casa; ou ele não estava na casa.

Hiro não saberia dizer qual opção era pior.

Adentrou no recinto devagar, quase com cuidado de pisar. Girou a cabeça, observando.

Sua primeira impressão era... pequeno.

Ou talvez não pequeno, mas sim... cheio? Lotado? O quarto parecia uma garrafa prestes a explodir, só que de uma maneira que invocava conforto. Aconchegante seria o adjetivo.

Sim, aqui é bem aconchegante, pensou vendo as dezenas de estantes espalhadas perto do teto exibindo desde de livros até invenções. As marcas de uma bagunça organizada, como se alguém não estivesse terrivelmente preocupado em manter o local perfeito – era, em poucas palavras, o quarto de alguém. O chão era de carpete e a janela coberta com um pano fino, ao lado de uma cama de solteiro que mostrava que havia tido dias melhores. Havia uma mesa que parecia ter sido fundida a um armário, cercada de peças soltas.

 Hiro engoliu com dificuldade através do nó em seu pescoço, roçando os dedos de leve em uma jaqueta pendurada. Tão pequena que fez algo doer dentro de si. Era azul, branca e vermelha.

As cores do time de beisebol favorito do Tadashi.

Sua mão fechou involuntariamente no boné escondido no seu bolso, esmagando o tecido velho. Se acalme, respirou devagar e se afastou do armário. Ignorou o modo como seus dedos tremiam quando os trouxe para afastar os fios de cabelo do rosto. Só se acalme, seu imbecil, nada de surtar aqui de todos os lugares.

Piscou os olhos rapidamente, ignorando o modo como queimavam. Focou então na mesa coberta de coisas e se aproximou, afastando-se das roupas desconcertantemente pequenas e familiares. Hesitou por um momento antes de se sentar na cadeira, pousando os braços com cuidado sobre a superfície. Seus olhos varreram por tudo, tomando os detalhes famintos por reconhecimento – lápis, canetas, estojos de ferramentas, lâmpada com níveis de luz, lente cientifica de aumento... caderno de ideias.

Hiro era apenas humano, no final. E o caderno estava aberto, então tecnicamente não seria... abri-lo. Ou viola-lo.

Puxou a ponta do caderno antes que a culpa viesse chuta-lo na bunda e observou terrivelmente curioso o esquema disposto na página aberta. Suas sobrancelhas se ergueram sozinhas quando entendeu. Era um... helicóptero de lego, movido a pilha.

O riso escapou do seu peito, ele apoiando a testa na mão livre. Ele realmente tem 11 anos aqui, huh.

Esse pensamento era bizarro, mas ao mesmo tempo Hiro não podia evitar uma onda de afeição. Tadashi era apenas uma criança aqui, de verdade. Uma criança normal, se incrivelmente inteligente.

Ainda inexperiente. Pensou, vendo um pequeno erro técnico nas escolhas de peças. Isso provavelmente foi a causa do frustrante “não voa!” rabiscado no final da página. Soltou um som pensativo, batendo o dedo contra o erro. Era uma coisa tão pequena, facilmente não identificável para crianças (normais, porque nem todos eram anomalias como ele) de 11 anos.  Hesitou, sua mão pairando sobre uma caneta. E se eu...?

Mordeu o lábio inferior, indeciso. Talvez não fosse uma boa ideia interferir...

[A memória do rosto do seu irmão então surgiu, ridiculamente perto do seu próprio segundos antes do mundo então virar de ponta cabeça porquê de repente alguém o erguia pelas pernas. E em seguida era como se uma lâmpada acendesse dentro do seu cérebro.]

Sorriu para a lembrança, seus dedos se fechando ao redor da caneta. Certo, uma ajudazinha nunca faz mal.

Riscou a informação incorreta e rabiscou acima o nome da peça certa, tomando o cuidado de tentar manter as letras parecidas. A meticulosidade foi até exagerada, mas Hiro estava se sentindo detalhista. Se afastou e revisou seu trabalho, dando então um aceno satisfeito. Guardou o caderno aonde estava, não conseguindo impedir um sentimento meio estupido de excitação.

Espero que isso te ajude, bro.

Ergueu-se da mesa, dando um tapinha satisfeito na cadeira e se dirigiu para a porta. Olhou uma última vez para o quarto, absorvendo os detalhes caso não conseguisse voltar a visitar o lugar por um tempo – porque definitivamente iria ser temporário. Hiro ia voltar a ver esse quarto. E Tadashi. Dane-se o seu outro eu e seus problemas estúpidos, ele ia achar um modo de melhorar as coisas por aqui.

 “O que você está fazendo?”

... Ele só teria que descobrir como convencer o resto do mundo disso, é claro.

Era até engraçado como seu corpo inteiro congelou com essa simples pergunta, feita por uma voz que deveria ser familiar e reconfortante, mas que só trazia um profundo desconforto (e, admitidamente, medo) dentro de si.

“Nada.” Respondeu, tentando soar o mais honesto possível, enquanto se virava para encarar seu pai.

Tomeo franziu o cenho, olhos castanhos brilhando com suspeita por trás de óculos retangulares. Anos atuando como heróis o ensinaram muito sobre linguagem corporal e tudo sobre Tomeo gritava “eu sei que você está mentindo, você sabe que eu sei que você está mentindo e se você não parar com essa merda agora mesmo, minha paciência vai acabar e você não quer ver minha paciência acabando, acredite.”

Sim, com essas exatas palavras. Impressionante, não?

O homem mais velho o encarou, parecendo esperar por mais. Quando Hiro falhou em faze-lo, ele se aproximou devagar de si, olhos indo do quarto ainda com a porta aberta para si e então para sua mão na maçaneta para voltar para si no final.

Se rostos pudessem mudar de material, a expressão de Tomeo seria feita de diamante. “O que você estava fazendo no quarto do seu- do Tadashi?”

O cara podia usar um tom que não implicasse que ele havia acabado de implantar uma bomba de hidrogênio, com intenções terroristas. E ele ia dizer “irmão”, não ia? Por que ele se cortou?

Hiro lutou contra a vontade de cruzar os braços. Aquilo era um sinal de estar na defensiva e ele não ia ficar na defensiva. Em vez disso, forçou seu corpo a relaxar e encarou Tomeo de volta nos olhos. “Já disse. Não estava fazendo nada. Se não acredita em mim, pode olhar.”

Ok. Não. Boca estupida. Não usamos esse tom quando somos inocentes.

Imediatamente, Tomeo semicerrou os olhos e foi o único movimento no seu corpo, mas mesmo assim Hiro sentiu a sensação de estar andando sobre ovos se transformar em andando sobre cobras. Engoliu em seco. Entretanto, seguindo um instinto suicida, manteve o olhar erguido.

O homem então deu um passo para frente e olha o que você fez, seu imbecil, primeira vez que falou com seu pai em 24 anos e ele já está furioso. “Se você está pensando em prejudicar Tadashi só porque seu plano de fuga não deu certo, é bom mudar de ideia, rapaz.” Ele falou calmamente, um dedo esfaqueando seu peito a cada palavra.

Houve um flash de irritação que o pegou desprevenido e- “Ou o que?

Tomeo se aprimorou imediatamente, expressão de ferro rachando em fúria e Hiro arregalou seus olhos em choque quando seu cérebro finalmente alcançou sua boca.

Mas que porra-

“Você acha que ainda existe alguma ‘segunda chance’ restando para você, Hiro?” Congelou, encarando sem palavras seu pai. Não havia compaixão nenhuma no rosto de Tomeo Hamada. “Essa é a última vez que essa família vai estender a mão para você. Se você errar conosco de novo, nem Mary e nem Tadashi vão poder me impedir de expulsa-lo de vez de nossas vidas, fui claro?”

Quem disse que eu quero mais uma chance, velhote?

Trancou sua mandíbula rapidamente, mordendo sua língua para mantê-la parada. Quase não foi capaz de ouvir o outro homem diante do pânico em não deixar essas palavras alienígenas escaparem da sua boca. A única coisa que foi capaz de fazer foi acenar brevemente, ignorando o gosto de sangue.

Tomeo o encarou por mais alguns segundos, antes de se virar e entrar no quarto do Tadashi, batendo a porta sem olhar para trás.

Hiro piscou os olhos, atordoado. Não havia espaço para se sentir ofendido, porque todo o seu ser estava retorcido de horror.

Porque aquilo... aquilo havia sido o outro Hiro.

Gogo havia voltado da sua viagem naquele dia e como seus pais a deixaram livre para poder descansar, ela naturalmente pegou sua bicicleta e partiu em direção a casa do seu melhor amigo: Tadashi.

Duas semanas andando pelas praias do Brasil a fizeram sentir uma falta terrível do tempo de San Fransokyo e o vento frio e o cheiro do início do inverno por todo o caminho a deixaram com um humor espetacularmente bom. Tanto que quando finalmente alcançou a casa bege, deixando com cuidado sua bicicleta contra a arvore do quintal da frente (o pneu havia esvaziado um pouco e ela teria que arrumar isso logo, porque havia diminuído e muito sua velocidade hoje), ela sorria levemente ao tocar a campainha.

E ela culparia eternamente esse bizarro bom humor pelo atraso na sua reação quando um rapaz mais velho atendeu a porta e não Tadashi ou tia Mary ou tio Tomeo.

Um rapaz de cabelos escuros usando roupas largas e relaxadas, com a aparência de alguém que havia acabado de sair da cama.

Um adolescente. Japonês.

Na casa do Tadashi-

Seus olhos se arregalaram no segundo que o pânico percorreu seu corpo como um choque elétrico e imediatamente recuou, tomando a pose de alerta das aulas de muay thai. “V-você!

Hiro Hamada, o maior valentão que Gogo já havia tido a infelicidade de conhecer, pulou de susto com sua reação e piscou os olhos para si, parecendo extremamente confuso.

Confuso.

Gogo segurou a vontade de bufar. “O que você está fazendo aqui?” Indagou furiosamente, o achei que você tinha ido embora de vez pairando no ar não dito.

“Eu moro aqui.” Replicou o rapaz, cruzando os braços.

Rangeu os dentes. “Não pelos últimos dois meses.”

Hiro ergueu as sobrancelhas por um segundo, abrindo a boca como se para responder. Mas então pausou e a encarou com uma expressão estranha com o cenho franzido, curvando-se levemente para frente na sua direção. A garota ignorou a vontade de recuar e se manteve teimosamente no lugar, encarando nos olhos do mais velho com o queixo erguido. Não era a falsa noção de que Hiro jamais a atacaria em um local com várias pessoas ao redor que lhe deu a coragem – ele já havia provado que do que era capaz – mas sim uma questão de determinação pessoal.

Depois do que esse maldito havia feito com Tadashi, ela jurou jamais deixa-lo sair com as coisas do seu jeito de novo.

“Gogo? É você?”

Sua boca caiu sozinha, o choque a fazendo vacilar por um segundo. Então irritação inflamou como fogo no lugar e ela jogou a perna para frente com toda sua força, acertando a canela de Hiro. O rapaz soltou um grito de dor e recuou, agarrando o local atingido, pulando sobre uma perna só. “P-!” Se interrompeu, respirando duas vezes rápido antes de encostar contra a parede, massageando o machucado. Dois olhos castanhos se viraram para si, como fuziladoras. “Mas que merda-! Por que você fez isso?!”

“Não me chame de Gogo!” Gritou de volta, soando incrivelmente mais corajosa do que sentia. Adrenalina percorria seu corpo inteiro, deixando-a suando frio, enquanto encarava olho no olho a expressão irritada de Hiro.

“Eu vou te chamar do que, então?!”

Gogo chiou, apontando o dedo para o mais velho. “Não vai me chamar de nada, porque não somos amigos! E-e pare de mudar o assunto!”

Houve um flash de algo na expressão de Hiro, rápida demais para ela captar, mas o rapaz logo revirou os olhos e se ergueu da sua pose encolhida, ainda segurando a região dolorida. “O que?” Ele latiu, parecendo aborrecido.

Nesse segundo Gogo vacilou, porque o que diabos-?

Desde quando Hiro ignorava um ataque seu? Ou... ou se dispunha a responder qualquer pergunta sua?

Encarou atentamente o irmão de Tadashi, hesitante, beirando a suspeita. Pensando bem, agora que não estava tão surpresa, Hiro parecia bizarramente... calmo. Ainda irritado, é claro, mas faltava aquela acidez de sempre, como de uma bomba prestes a explodir.

Sem falar que nesses cinco minutos de interação, ele ainda não havia feito nenhum comentário sarcástico ou maldoso.

E isso era simplesmente não-Hiro.

Gogo semicerrou os olhos, apertando os punhos. “O que é que você tem?”

O rapaz piscou os olhos. “Como assim?” Replicou, soando genuinamente confuso e era como se já não estivesse mais irritado.

Ok, aquilo era totalmente perturbador. “Você está agindo estranho.” Murmurou, cruzando os braços, mas então era como se uma lâmpada surgisse no seu cérebro e ela imediatamente voltou a sua pose original. “Se você pensa que vai me enganar, você pode-!”

“Eu não estou tentando te enganar! Por que todo mundo pensa isso?” Exclamou Hiro, erguendo os braços num gesto indignado, finalmente soltando sua perna. Virou-se para ela, erguendo um dedo acusador. “Por que eu iria querer te enganar?”

“Por que você faz qualquer coisa? Só você sabe.”

“Esse é um belo modo de evitar responder uma pergunta.”

“Diz o cara que até agora não me respondeu, contornando com artimanhas e distrações e-!”

Você me chutou!

“Porque você mereceu!”

“Porque eu te chamei de Gogo? De jeito nenhum que isso é motivo para ser atingido com a guarda baixa! Foi totalmente um golpe baixo!”

“Não é golpe baixo só porque você foi burro e não reagiu a tempo!”

Hiro a encarou de boca aberta, parecendo indignado além das palavras e Gogo se permitiu um pequeno sentimento de vitória ao mesmo tempo em que se preparou para correr.

Mas mais uma vez Hiro provou o quão estranho estava sendo quando simplesmente soltou aquele som entre o gemido e o suspiro que só os adolescentes pareciam conseguir produzir, e pressionou a região entre os olhos por um momento antes de falar, parecendo ter desistido de algo. “Olha, G-... Ethel, ou como você quiser ser chamada, eu realmente não estou com a cabeça para isso, então... o que você quer?”

 Gogo franziu o cenho, tentada a apontar de novo o quão bizarro Hiro estava agindo, mas sentindo que isso só serviria para deixa-lo mais irritado. E quem sabe? Talvez os deuses tenham feito algo e Hiro tivesse acordado num raro e único dia de um bom humor excepcional. Era melhor não provocar a sorte... pelo menos não mais do que já tinha feito.

“Onde está o Tadashi?” Indagou, cruzando os braços.

“... huh? Meu irmão?” Hiro deslizou os dedos pelo cabelo, parecendo distraído e não notou o modo como Gogo paralisou abismada. E seu choque só foi crescendo conforme o mais velho continuava, a voz casual e calma. “Hmn, meus pais não disseram nada. Imagino que Tadashi deve ter ficado na casa de alguém nesses últimos dias. Não o vi desde que eu... voltei, acho. Talvez seja melhor você perguntar para meu pai e... você vai acabar comendo uma mosca se continuar com a boca aberta assim.”

Gogo fechou sua boca com um estalido, dentes doendo com a força. O você bateu a cabeça? estava na ponta da sua língua quando uma voz familiar a interrompeu, vindo de dentro da casa. “Ethel?”

“Tomeo-san!” Exclamou, vendo o pai do Tadashi surgir por de trás de Hiro, lançando um olhar cuidadoso para seu filho mais velho antes de se virar para si e sorrir gentilmente. Hiro ignorou o homem mais velho, cruzando os braços, mas não saiu.

Em todos os anos que viera a conhecer Hiro, Gogo tinha certeza que jamais o vira ao lado do seu pai – ou qualquer membro da família Hamada – por mais do que dez segundos.

Bizarro. Cada vez mais bizarro.

“O que você está fazendo aqui, Ethel? Pensei que estivesse viajando.”

Uma careta surgiu diante o uso do seu nome verdadeiro, mas ignorou. “Eu voltei hoje. Meus pais me derem o dia livre, então eu vim ver o Tadashi.”

“Oh, sim, entendo.” O homem acenou. Houve uma breve pausa em que ele olhou para Hiro firmemente, a expressão dura. O rapaz demorou um momento para notar o olhar, mas quando notou encarou o pai parecendo incrédulo por um total de cinco segundos antes de revirar os olhos e sair, entrando na casa resmungando incompreensivelmente. Tomeo visivelmente relaxou quando Hiro saiu de cena e voltou-se para Gogo com um sorriso de desculpas. “Me perdoe. Eu não imaginei que Hiro iria... atender a porta, senão eu teria vindo mais rápido. Ele te fez alguma coisa?”

Era com certa aturdo que Gogo se tocou que estava dizendo a verdade quando negou com a cabeça. “Não, ele... nós apenas conversamos.”

O homem mais velho a observou hesitante por um instante, parecendo debater se ela estava dizendo a verdade. Por fim, apenas suspirou, empurrando os óculos para cima do nariz. “Tadashi está na casa da tia dele, Cassandra. Como hoje é sábado, a cafeteria deve estar cheia, então os dois provavelmente devem estar em casa.”

“Oh, ok. Obrigada, Tomeo-san.” Agradeceu e pausou. Olhou ao redor de Tomeo em procura da figura de Hiro e quando não a viu, ergueu os olhos para o pai de Tadashi, que a olhava curioso, e indagou com a voz baixa. “Quando... quando foi que ele voltou?”

Imediatamente a expressão do homem perdeu o ar leve. Ele olhou por cima do ombro, provavelmente procurando a mesma coisa que ela e quando não a achou, voltou-se para Gogo. “Nós o encontramos quatro dias atrás... Gogo, escute.” Replicou também em um tom baixo e então Tomeo se agachou, pousando uma mão gentil sobre seu ombro. Desse jeito, ambos estavam no mesmo nível e ela podia vê-lo bem mais de perto. Ele tinha olhos cansados. “Não diga... não diga nada ao Tadashi sobre o Hiro, ok? Ele... nós queremos que as coisas se acalmem primeiro e você sabe como Tadashi fica quando o assunto é o irmão dele. Se ele souber que Hiro voltou-”

“Eu não vou dizer.” Gogo interrompeu, séria.

Sim, ela e todo mundo sabia como o Tadashi iria reagir se ele descobrisse que Hiro havia voltado. Mentir iria valer a pena se significasse poupar seu amigo de mais magoas.

Tomeo sorriu uma vez, rápido, apertando de leve seu ombro. “Você é uma boa amiga, Ethel. Pode ir, eu não vou te segurar mais.” Disse, erguendo-se novamente.

Gogo acenou, dando uma leve reverencia de despedida e disparou em direção a sua bicicleta, montando-a já em movimento. Deu um último aceno para Tomeo antes de começar a pedalar em direção a calçada.

Não pode evitar, entretanto, lançar um olhar rápido em direção a casa Hamada ao sentir alguém a observando e quase caiu da bicicleta quando viu Hiro na janela, observando-a ir embora com uma expressão estranha. Mas ao perceber que Gogo o havia notado, o rapaz dissolveu a expressão e bateu uma continência informal, um sorriso divertido nos lábios.

Imediatamente voltou-se para frente novamente, acelerando ainda mais nos pedais.

Muito bizarro.


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Notas finais do capítulo

A Gogo ficou meio OOC, mas apenas porque eu imagino que aos 11 anos ela ainda não tinha aquela personalidae "Big Sister" do filme.

Bom, eu não pudo revisar o capítulo, então qualquer erro me avisem que eu concerto. E um pequeno tease do próximo: vai ter Tadashi (uhuu!)

Bjs e até! Obrigada por lerem e tenham um ótimo dia!



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