All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 24
Greatest Hits – Part A: The Beginning of the End


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Os capítulos de hoje são bastante dolorosos, portanto me privarei de fazer qualquer tipo de piadinha por aqui... Serei também bastante breve, pois há duas partes de cinco mil palavras para vocês degustarem...

Bom, queria agradecer a Menta, minha amiga que contribui com comentários magistrais e ótimas sugestões! Kiitos! Usarei um termo seu agora, você é a ‘força motriz’ que move All Out War! Muito, muito obrigado por tudo!

Se você é um novo leitor, ou se acompanha a fic sem se manifestar, bom, tem aqui o meu aval para deixar um comentário quando quiser! Gostaria muito de ler a sua opinião, saber onde preciso melhorar...

O capítulo havia ficado gigante, coisa de quase onze mil palavras... Portanto, achei melhor dividi-lo em duas partes. “Greatest Hits – Part A & Part B” marca o fim da primeira temporada de AOW... Entraremos agora no bloco das últimas vinte e sete hq’s que escolhi para englobar esse universo, ou seja, a segunda e última temporada!

As duas partes são focadas na visão de Glenn, intercaladas com alguns flashbacks...

Sem mais...

Boa leitura!



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— Eu não parei de pensar em você, enquanto estava naquele lugar... Você precisava ter visto todo aquele gramado... Eu sei que temos um gramado aqui em Alexandria, mas... Lá era diferente, parecia mais verde, mais vivo...

Deitado em sua cama, Glenn matava a enorme saudade que sentira de sua esposa, após ficar quase três dias fora, quando saíra em missão ao Hill Top junto a Rick Grimes. Maggie, com sua gravidez já aparente, recostava-se sobre o peito do amado, que perdia-se em devaneios, tentando mensurar em palavras a epifania que tivera ao se deparar com o Alto do Morro.

Com um enorme sorriso estampado no rosto, os dois juntavam os corpos, em uma apaixonante simbiose, quase que formando um único ser. As silhuetas nuas, recobertas parcialmente pelo cobertor branco, trocavam mútuas carícias enquanto prosseguiam em uma amistosa conversa.

— Os muros são mais altos, as pessoas são mais unidas... Há mais tarefas, mais integração... E aparentemente não há nenhum maluco tentando dar um golpe! – Complementou o asiático, arrancando um risinho de sua esposa – Eu vi muitas crianças, de todas as idades... Tenho certeza que Sophia iria se adaptar muito bem ao Hill Top...

Passando a mão entre os lisos e negros fios de cabelo de Greene, o descendente de coreanos prosseguiu, admirando o teto como se nele contivesse todas as imagens de suas afortunadas memórias.

— Conhecemos um médico, o Doutor Carson, parece ser um ótimo sujeito... Ele tem um irmão, não lembro agora o nome, mas ele também é médico... Além disso, há uma enfermeira que os ajudam, e diversos equipamentos que o Vincent sempre quis que tivéssemos, mas nunca havíamos conseguido encontrar...

Maggie ergueu os marcantes olhos negros, fitando diretamente o marido.

— Você tem certeza?

Sua expressão duvidosa estava mais do que clara, afinal de contas, a decisão a ser tomada implicaria em gigantescas mudanças. Apesar disso, Glenn sabia que Maggie o amava, e por isso, o seguiria onde fosse.

— Eu sei que é difícil se imaginar fora de Alexandria, longe de todas essas pessoas... Longe do Rick, da Andrea... Mas eu só estou pensando no nosso futuro, no nosso bebê! Fomos atacados na estrada Maggie, Rick, obviamente, resolveu tudo do modo dele... – Suas feições cerraram-se brevemente – Mas sinceramente, eu tenho medo... Tenho medo que esses homens encontrem Alexandria, tenho medo de Rick estar errado quando ao poderio deles...

Maggie seguia admirando-o, captando cada palavra pronunciada.

— Alexandria não é mais segura, você viu tudo o que ocorreu, o que Goodwin tentou fazer... Pelo que sei, Hill Top e os Salvadores possuem um acordo muito bem estabelecido, esses homens nunca atacariam o Alto do Morro... Confia em mim, estaremos mais seguros partindo!

Greene respirou fundo, esticando o pescoço e tocando levemente os lábios do asiático, em um carinhoso beijo.

— Tudo bem então... – Seu rosto encheu-se de luz – Vamos para o Hill Top!

Achegando-se ainda mais próximo a esposa, Glenn beijou-a no topo da cabeça, prosseguindo com suas carícias. Sua mente seguia viajando, conjecturando sobre a vida longe de Alexandria, longe dos perigos que iminentemente a comunidade utópica trazia a seus cidadãos. Durante o último mês, o descendente de coreanos pensava fixamente em encontrar uma solução para a segurança de sua esposa e seu filho ainda por nascer. Ele não conseguia esquecer o que ocorrera com Lori e Judith, não podia permitir que aquilo se repetisse.

Lembrava-se também de como aquele corpo social havia trazido estabilidade a seu relacionamento, exterminando todas as circunstâncias extremas pelas quais passaram quando ainda estavam na estrada. Ele jamais permitiria que retornassem aquele estado tão crítico, tão frágil. Suas ações giravam em torno de Maggie Greene, o amor de sua vida, a quem protegeria até o seu último suspiro.

...

— Eugene, tá tudo bem?

Sentados ao redor de uma fogueira, o grupo liderado por Rick Grimes ainda tentava se reorganizar, após tomarem a arriscada decisão de seguir Abraham, um ex-militar que surgira de repente bradando possuir uma maneira de encontrar a cura para todo o mal que caíra sobre a terra.

Desesperançados desde que perderam a prisão para o louco Brian Blake, em sua insana invasão há pouco tempo, o grupo ainda tentava se reerguer, e acabara encontrando na missão proposta pelo bigodudo, um pilar para se apoiarem.

Seguindo para Washington, lugar que aparentemente teria condições o bastante para que Eugene, o cientista do grupo, conseguisse realizar o seu trabalho, Grimes e seus liderados, estacionaram a van e o caminhão de seu pequeno comboio entre algumas árvores. Decidiram então passar a noite ao relento, trocando os turnos para mantê-los em segurança.

— Ainda estou pensando naquele andarilho que encontramos essa tarde... – Respondera o cientista ao questionamento de Rosita – Nunca havia visto um se comportando daquela maneira, preciso documentar isso!

O estranho homem tomou nas mãos um lápis e um pequeno bloco de papel, assinalando nele pequenas observações para seus estudos posteriores.

Sentando ao lado de Sophia, que recostava sua cabeça em seu torso, Glenn começava a sentir um pequeno calafrio, uma estranha sensação que lhe subia as costas, alcançando o pescoço. Levando uma das mãos até a nuca, o asiático tentou contornar o mal súbito, movimentando o pescoço de um lado a outro, tentando eliminar a tensão.

— Costumamos chamá-los de errantes, ou mortos-vivos... – Rick agora se manifestara, sua vasta barba grisalha reluzia à luz da fogueira – Os errantes estão sempre andando por aí, nunca cessam... Não importa o quanto você corra, ele continuará te perseguindo... Já os mortos-vivos são mais silenciosos, te espreitam... Só costumam reagir quando você está bem próximo!

O cientista observava atentamente os dizeres de Grimes, que intercalava sua explicação com mordidas em um pequeno pedaço do lombo de um cervo, caçado por Andrea naquela manhã.

— Isso é fascinante! – Exclamou Eugene.

Não mais conseguindo conter o incômodo aparente, Glenn ergueu-se, arrumando o boné sobre os curtos cabelos, ainda crescendo após serem raspados quando ainda sobreviviam na prisão. Sob o olhar de Dale, que também se alimentava com um bom pedaço da carne assada, enquanto acomodava-se ao lado de sua amada Andrea, o asiático decidira que era hora de agir.

— Será que vocês podiam ficar de olho na Sophia? Preciso ver como a Maggie está... Já faz um tempo que ela saiu...

O velho Dale o encarou, duvidoso. Parecia ser o único a ter percebido algo de estranho com o asiático.

— Quer que a gente vá junto? – Indagou o idoso.

Glenn sorriu brevemente.

— Não... Ela já vai ficar brava o bastante pelo fato de eu me esgueirar no mato atrás dela... Não preciso levar plateia comigo... – Disfarçou.

Rick dera o aval com um sinal positivo de cabeça. Despedindo-se de Sophia com um sorriso, Glenn, ainda tentando esconder a enorme preocupação que tomava conta de si, passou a caminhar em direção à mata mais afastada, distanciando-se da luz da fogueira.

Com a mão direita sempre próxima a sua pistola, muito bem guardada em sua cintura, o batedor tentava não se deixar enganar pela escuridão, além é claro do medo, que já lhe pregara peças em outras ocasiões.

A passos lentos ia ultrapassando às árvores, pisando de leve na folhagem que tomava conta do solo. Não queria chamar a atenção de qualquer movimentação hostil que pudesse estar por ali, fosse ela viva ou morta. Sua única preocupação era em encontrar Maggie, que retirara-se do grupo há uns bons minutos, e não mais retornara até aquele momento.

— Maggie... – Sussurrou, não conseguindo enxergar muito em meio ao breu – Sou eu, você está aí?

Cobrindo os ombros com uma pequena coberta, protegendo-se da brisa fria daquela noite de outono, o asiático prosseguia em sua missão, verificando o perímetro, cada vez mais angustiado pelo desaparecimento de sua esposa.

— Maggie... – Sussurrou mais uma vez – Onde você...

Assim que girou o corpo em direção a uma das árvores frutíferas adjacentes, bem próximas ao lado esquerdo de seu corpo, Glenn sentiu o coração palpitar de forma fulminante. Sua garganta secara imediatamente, assim como sua respiração, que de tão descompassada fazia seu peito doer.

Aquele medo era real, o mais real de todos pelo qual havia entrado em contado. Muito mais do que qualquer errante lhe proporcionara, mais até do que quando o Governador lhe fizera prisioneiro, decepando a mão de Rick diante de seus olhos.

Era diferente... Com toda a certeza aquilo era diferente. Envolvia sua amada, a mulher que escolhera como companheira em meio ao mundo caótico que lhe fora jogado nas costas. Aquilo envolvia Maggie, a sua Maggie...

Pendurada em uma árvore, com o pescoço envolto em uma corda, Maggie Greene, aparentemente desacordada, balançava levemente de um lado a outro, como se estivesse sendo ninada pelo vento. Os braços paralelos ao corpo, assim como as pernas juntas, davam um ar de tranquilidade àquela horrenda cena. Ela não gritava, não esperneava... Era um corpo sem vida.

— MAGGIE!

A voz rouca do asiático quase rasgou sua garganta ao desferir tenebroso grito. O desespero passou a tomar conta de seu corpo, cada músculo, cada poro parecia momentaneamente paralisado. Aquilo não poderia estar ocorrendo, não poderia...

— Socorro! Por favor... Socorro!

Movimentando os lábios e produzindo um som quase gutural, Glenn conseguira clamar por socorro, chamando a atenção daqueles que conversavam ao redor da fogueira. Agarrando sua amada pelos pés, o coreano tentava impedir que ela se sufocasse ainda mais, erguendo parcialmente o seu corpo.

Sem base para conseguir um apoio, e equilibrando-se nas pontas dos pés, Glenn girava o corpo, tentando puxá-la, tentando fazer alguma coisa que pudesse impedir aquele fim trágico. Já aos prantos, o batedor nem percebera a aproximação de Abraham, que rápido e solícito como sempre se mostrara ser, subira rapidamente no famigerado galho, decepando a corda com seu facão e liberando Maggie das amarras.

Caindo sobre o corpo de sua amada, Glenn passou a verificar os pontos vitais, torcendo desesperadamente para que ela ainda respirasse. Os lábios arroxeados, os olhos cerrados e os batimentos cardíacos fracos, quase inaudíveis, sinalizavam que a situação de Greene era gravíssima. Talvez irreversível.

— Ela não... Ela não está respirando...

As lágrimas escorriam livremente por sua face, os seus lábios trêmulos, quase não conseguiam mais permitir que o som fraco produzido por suas cordas vocais, alcançasse os ouvidos da plateia inerte, já desacreditada. Rick, Andrea, Dale, Abraham, Rosita, Eugene, Michonne, Carl e os pequenos Billy e Ben, todos admiravam de forma estapafúrdia a imagem de Maggie, jogada ao solo, com Glenn sobre seu corpo, desesperado, desamparado.

Grimes parecia desacreditar no que seus olhos lhe mostravam, e tal reação se multiplicava em todos aqueles que nada mais podiam fazer. Insistente, não querendo aceitar a verdade absoluta que o novo mundo lhe mostrara, Glenn prosseguia, decidido, realizando as manobras de salvamento que conhecia, que aprendera ainda nos tempos de escola.

Uma, duas, três vezes ele realizara a sequencia de reanimação, tentando levar oxigênio de volta aos pulmões de sua esposa, e também insistindo para que o seu coração voltasse a pulsar sangue para o restante do organismo. Não havia resposta. Talvez fosse tarde demais...

— Japa... Ela já era! – Manifestou-se Abraham, com seu típico jeito ácido de falar – Precisamos acabar com isso agora, antes que ela retorne... Acredite, será bem pior!

O asiático não ouvia nada a seu redor, sua atenção estava totalmente voltada para os repetitivos movimentos no tórax de Maggie, incontáveis vezes, ainda tentando agarrar-se em um pequeno fio de esperança que persistia em morar dentro de si. Rick apaziguara a situação, não permitindo que o militar se aproximasse, provavelmente para deixar que Glenn pudesse aproveitar aqueles últimos instantes.

Chorando de forma copiosa, o coreano não continha mais forças em seus braços, e nem em sua mente. Deitando sobre o colo da amada, o asiático apenas pôde prosseguir com o seu pranto desconsolado, sem conseguir aceitar o que havia ocorrido. Porque ela fizera aquilo? Porque tirara sua própria vida?

Em um salto, o corpo fito de Greene entrou em um momentâneo colapso, tremelicando-se por poucos segundos. Buscando o ar de forma sôfrega, Maggie levara as mãos à garganta, arregalando os olhos, despertando daquele aterrorizante pesadelo. Tão rápido quanto ela, Glenn movera-se como um raio, apoiando a nuca da esposa em suas mãos e erguendo levemente sua cabeça, permitindo que aos poucos sua respiração começasse a se normalizar.

Tudo ficaria bem... Por Deus, tudo enfim ficaria bem...

...

[DOIS DIAS DEPOIS]

O som da espada de Michonne atravessando a membrana de mais uma cabeça assemelhava-se a um taco de baseball acertando uma bola molhada. O silêncio no campo gramado só era interrompido pela ação da samurai, que com sua katana, tratava de exterminar mais uma pequena leva de errantes que se aproximara do comboio.

Rick, Carl e Abraham havia deixado o grupo, rumando até a cidadela mais próxima, em busca de suprimentos e água. Nesse meio tempo, Dale encontrara uma fazenda abandonada, e levara consigo Andrea, Billy e Ben, para que pelo menos pudessem passar uma noite de forma confortável.

Fazendo companhia para a espadachim, ainda tentando contornar o pesado clima que se instaurara desde que Maggie tentara o suicídio, Glenn e sua esposa agiam como se nada demais tivesse ocorrido, ambos fugindo do tenebroso assunto que não lhes saía da cabeça.

— Ainda bem que ela ficou com a gente... – Exclamou Maggie, admirando-se com a destreza de Michonne. Sua voz ainda saía rouca, dificultosa – De qualquer forma, espero que Rick não demore...

Escovando um dos cavalos que levavam consigo, Glenn fechara os olhos, respirando fundo antes de se manifestar. Sabia que precisavam resolver aquela situação, seu coração se corroia a cada dia que passava.

— Maggie... Precisamos conversar...

Cruzando os braços, a esposa do asiático virou-se imediatamente, abaixando a cabeça, fechando-se em seu próprio casulo. O descendente de coreanos sabia o quanto era difícil para ela, ao mesmo tempo em que tinha ciência de que não podiam mais fingir que nada se modificara desde aquele fatídico dia.

— Não precisamos... – Disse ela – Eu estou bem, Glenn... Estou bem...

Tocando o ombro de sua amada, Glenn refutara.

— Não, não está tudo bem! Você tentou se matar Maggie, não é algo que possamos ignorar!

Deixando-se agarrar pelos braços do marido, Greene recostou seu rosto no peito do rapaz, derramando as lágrimas que ainda lhe restavam. Glenn precisava daquilo, precisava ter certeza que Maggie ainda encontrava conforto nele, que ele ainda representava algo para ela.

— Eu estava em um lugar sombrio... – Grenne cerrara os olhos, enterrando ainda mais o rosto no peitoral de Glenn – Eu pensei nas nossas inúmeras tentativas de ter um bebê, no quanto nós queríamos... Seria uma ponta de esperança, algo para nos tirar desse inferno...

Glenn sentia sua respiração acelerada.

— Só que, quando nada aconteceu, eu acabei ficando muito abalada... Nós somos jovens Glenn, eu não deveria ter tanta dificuldade assim para engravidar... – Suas sinceras lágrimas já molhavam o casaco de Glenn – Eu não consegui ignorar todas as coisas horríveis que aconteceram em tão pouco tempo... Eu perdi meu pai e todos os meus irmãos... Não é algo que eu consiga superar assim, em um estalar de dedos!

— Mas quando eu estava me enforcando com aquela corda, eu acabei aprendendo uma coisa...

Os olhos amendoados da jovem se encontraram com os orbes de Glenn.

— Não há nada nos esperando do outro lado... Meu pai estava errado! Não há luz e nem vozes, apenas escuridão... E sabendo disso, sei que quero aproveitar o tempo que ainda me resta com você... Com Sophia... Eu te amo Glenn! Você faz a vida, mesmo essa vida, fazer sentido!

Tocando carinhosamente o rosto da esposa, Glenn sorrira, fechando os olhos brevemente e aproximando-se de sua amada, dando-lhe um apaixonado beijo, tão intenso quanto o dado na primeira vez.

Ele sabia que aquele era um ponto de virada, que sua relação alcançara um novo patamar. Glenn a protegeria com sua vida, nunca mais queria passar por uma sensação semelhante, não queria perdê-la, não poderia perdê-la... Não outra vez.

...

— Você tem certeza disso, Glenn?

Rick fitava o amigo, ainda tentando compreender a decisão tomada. Estava claro que era difícil para ele se imaginar longe de alguém que esteve a seu lado durante mais de dois anos. Os dois anos mais difíceis e conturbados de toda a sua vida.

Glenn estava decidido, era o melhor para ele, o melhor para a sua esposa, sua filha Sophia e também o bebê que estava por vir. Ele já conseguia enxergar o seu futuro no Hill Top, e era lá que tocaria sua vida a partir de agora.

O policial já o ajudara com algumas caixas, os poucos pertences que o casal levaria para a nova moradia. Grimes os acompanharia nessa viagem, também tinha negócios a tratar no Alto do Morro, principalmente após o encontro nada amistoso com os Salvadores. De qualquer forma, era perceptível que o xerife não queria que o amigo partisse.

— Tenho sim... Sinto que estou fazendo o certo Rick, eu sinto, entende? – O asiático recostara a palma da mão sobre o peito. Rick abrira um sorriso, compreendo o que ele queria dizer – Não é um adeus... Com a aproximação entre as duas comunidades, tenho certeza que ainda nos veremos muitas outras vezes!

Grimes estendera a mão esquerda, tocando o ombro do amigo e balançando a cabeça positivamente, mantendo o sorriso no rosto.

— É claro que vamos... Você acha que não vou querer ser o padrinho desse menino que vai nascer?

Agora fora o asiático quem sorrira de orelha a orelha.

— Acha mesmo que será um menino?

Os olhos de Glenn moveram-se em direção a esposa, que recostada na lateral da van, trocava palavras amistosas com Michonne, que também os ajudava a acomodar os pertences no interior da van.

— É claro! O Hill Top precisará de futuros batedores!

Os dois riram alto. Glenn só tinha agradecimentos a Grimes, afinal de contas, os dois se ajudaram mutuamente durante toda a sua trajetória. Provavelmente fora a amizade mais sincera que o asiático já cultivara, e apesar de ser difícil deixar algo tão forte para trás, ele sabia que era necessário. Sua saga pela sobrevivência estava desabrochando, alcançando um novo patamar.

Fora preciso superar muito sofrimento, transpassar por enormes barreiras. As cicatrizes em Grimes eram aparentes, mas nem por isso maiores dos que a do asiático. Os dois continham marcas invisíveis, fardos que apenas eles, em seus íntimos poderiam mensurar. Ninguém que chegara até aquele momento conseguira escapar da crueldade do novo mundo. O que Gleen queria era apenas um descanso, uma folga, uma muda de esperança que pudesse plantar.

Uma muda que talvez futuramente se tornasse uma grande árvore frutífera.

...

— Então é isso? Vai nos dar de comida para os seus zumbis de estimação? Foi isso que você fez com as pessoas do helicóptero?

O homem gordo que os levara até o escritório daquele que se nomeara como Governador, seguia apontando sua pistola automática em direção a cabeça de Rick Grimes, que não parecia abalado com a situação vigente.

Glenn seguia inerte, suando frio, tão tenso quando poderia estar naquele momento. Apenas com a viseira de seu capacete levantado, a asiático que assim como Rick e Michonne, vestia-se com as armaduras da polícia de choque, encontradas no interior do presídio que utilizavam como morada, observava todo o cenário a seu redor, tentando encontrar uma saída para a armadilha na qual haviam caído.

— Exatamente... – O homem de feições tipicamente mexicanas, com seus longos e lisos cabelos negros, além do bigode cultivado ao estilo fumanchu, pronunciava cada frase de forma calma e serena, como se toda a barbárie descrita fosse meramente natural – Eles estão sendo picados nesse exato momento... Logo, logo serão transformados no banquete que serviremos para os zumbis após as lutas!

Sendo segurada por dois dos homens do Governador, Michonne esperneava, incrédula com o que havia acabado de escutar.

— Seu doente de merda! – Bradara a espadachim.

O Governador voltou-se em sua direção.

— Por gentileza... Cale a porra da boca! – O homem aparentava estar enfurecido – Vai ser difícil com vocês usando essas armaduras, mas tenho certeza que após alguns tiros, todos irão ficar muito calmos!

Glenn recostou-se à parede, assustado, tentando se distanciar-se de tudo aquilo. Voltando a exprimir uma feição mais amistosa, o líder de Woodbury sentou-se sobre sua mesa, afastando alguns papéis que ali se encontravam.

— É claro que não precisamos que seja assim... – Brian abrira os braços – Nós temos suas armas, e obviamente se algum de vocês tentar reagir, será morto sem pestanejar, portanto, sejamos sensatos... Quais as suas chances?

Rick seguia encarando o sujeito.

— Veja bem forasteiro... Eu não me importo se tiver que matar todos vocês agora mesmo... Na verdade, quero deixar bem claro que estou pouco me fodendo para o que irá acontecer aqui, então, por favor, peço que não mais me interrompam...

Grimes olhou ao redor de onde estavam, totalmente cercados, com armas apontadas para os três forasteiros. Não havia como reagir, estariam mortos em segundos se tentassem.

— Já tem a nossa atenção, pode continuar...

O Governador sorriu, retomando seu eloquente discurso em seguida.

— Aquelas pessoas no helicóptero... Eu não queria nada delas, não havia nada que elas pudessem me oferecer! A mulher que sobreviveu nos contou tudo o que precisávamos saber, obviamente, após eu utilizar os meus métodos de entrevista...

Glenn girara os olhos, voltando o olhar para a porta. Naquele momento, não conseguia parar de pensar em Maggie, na preocupação que ela deveria estar sentindo. Hershel, Carl, Lori... Todos já deveriam estar pensando no pior. Não podia acabar ali, não daquela forma.

— Ela me disse que eles estavam enfurnados em alguma estação de notícias em Atlanta – Prosseguiu o mandatário – Canal nove, ou qualquer coisa parecida... Ela e o resto de seu pessoal se refugiaram por lá, tentando sobreviver a esse inferno... É claro que o mundo acabou consumindo a todos, um por um, brigando entre si, matando... Quando ela conseguiu fugir, acabou caindo com o helicóptero... Digamos que ela não era lá muito sortuda!

O homem riu, solitário.

— A lição que podemos tirar disso é que precisamos manter as pessoas ocupadas ou elas acabarão se voltando contra você... Por isso criei essas lutas, esse espetáculo todo que viram lá fora! – Com a mão direita ele apontara em direção à porta – Só ler e transar não são mais suficientes... Eles precisam de mais, sempre precisam de mais!

Descendo da mesa, o facundo sujeito passara a caminhar em círculos, prosseguindo com sua fala, enquanto gesticulava os braços de forma ampla.

— Aquelas pessoas viraram comida de zumbi por não terem nada para me oferecer... Eu bem que queria os pertences deles naquele prédio, mas... Porra, fica no centro de Atlanta, eu jamais conseguiria chegar até lá! Essa é a lei forasteiro – Pela primeira vez ele olhara diretamente para Glenn, que abaixara a cabeça – Alguém sempre vai virar comida de zumbi!

— Mas vocês... – Prosseguiu – Sinto que vocês sim, poderão me ser úteis... Acham mesmo que eu acreditei em toda aquela balela que me contaram? Porra, é claro que não! Ninguém consegue sobreviver tanto tempo assim na estrada, não sem ter um acampamento como base!

— Vocês estão bem vestidos, limpos e bem alimentados... Provavelmente estão morando em algum lugar bem suprido, com fonte de água... Talvez até uma plantação, vai saber! Vocês tem o que me oferecer, e se me disserem onde fica esse acampamento, prometo tratá-los da forma mais educada possível!

Ainda portando-se firmemente, Rick tentava não demonstrar medo ante ao sádico homem que os ameaçava. Não podia arriscar tudo o que havia construído, Glenn via em seus olhos que ele jamais entregaria a localização da prisão. Lori estava grávida, Carl era apenas uma criança... Havia muito que perder.

— Terá que nos matar então! – Vociferou Grimes – Não temos nada pra você! Encontramos essas roupas em alguns cadáveres, sobrevivemos na estrada, seguindo de cidade em cidade! Não há acampamento, não há nada pra você!

O Governador balançou a cabeça negativamente, passando as mãos nos cabelos logo em seguida, visivelmente irritado.

— Bruce!

Assim que solicitara, um dos corpulentos capangas de Brian agarrara Rick, jogando-o contra a mesa, batendo o seu rosto com toda a força contra a dura madeira do móvel. Caminhando em direção a Glenn, o Governador sacara sua pistola, encostando-a na testa do asiático.

Olhando fixamente nos olhos assustados do descendente de coreanos, o louco Brian Blake parecia alimentar-se do medo do asiático, esperando alguns segundos antes de voltar a se manifestar.

— E então, china? Pronto pra me dizer onde fica o acampamento de vocês?

Suando de forma copiosa, Glenn nada dizia, apenas tentava controlar o nervosismo que lhe tomara conta do corpo inteiro. As pernas trêmulas, a garganta seca, estava difícil manter-se de pé. Olhando para o amigo, preso entre os braços do enorme corpanzil de Bruce, um único pensamento reverberava na cabeça do asiático.

Maggie... Maggie...

— Nada? Não vai dizer nada? – Insistira o Governador – Pois bem então...

Afastando-se de Glenn, o louco mandatário caminhara na direção de Grimes, retirando da cintura um afiado facão.

— Talvez isso ajude!

Fazendo questão de olhar diretamente para Glenn, Brian erguera sua faca, desferindo um potente golpe contra a mão direita de Rick, decepando-a de uma única vez. O grito do amigo reverberara por toda sala, ecoando nas extremidades das paredes. O sangue que jorrara atingira o chão, manchando-o em uma tonalidade viva, pulsante. O sorriso no rosto do louco homem ficara registrado em sua mente.

Uma imagem que jamais se apagaria de sua cabeça.

...

Rick seguia ao volante, já habituado a utilizar apenas uma das mãos na direção. O furgão ultrapassava a estrada de asfalto, o mais rápido que o entulho e destroços espalhados lhes permitiam avançar.

Glenn sentava na parte detrás do veículo, ao lado de Sophia e Maggie, recostada na janela, observando a paisagem que ia sendo deixada para trás. Do outro lado, Susie, calada desde que adentrara a van, fixava os tristonhos olhos no banco a sua frente, visivelmente perdida em seus próprios pensamentos. Com o pequeno Jacob nos braços, a jovem mãe também decidira deixar Alexandria, recomeçando sua vida longe de qualquer resquício de Goodwin, o traidor da comunidade.

No banco do carona, Carl, com o seu típico chapéu de cowboy, admirava atentamente todos os movimentos do pai, como se ali estivesse aprendendo algo. Glenn pensara momentaneamente consigo mesmo, Será que o meu garoto um dia irá me olhar assim? Será que ele conseguirá se adaptar a esse mundo?

O asiático também notara a ausência de Heath e Abraham, que ainda não haviam sido vistos naquele dia. Rick lhe dissera que enviara os dois em uma importante missão externa, mas não explanara muita coisa a respeito. Era uma pena, Glenn queria ter tido a chance de se despedir dos dois antes de partir.

Michonne e Andrea ficaram em Alexandria, cuidando da comunidade na ausência do mandatário. Olhando pela janela, o asiático conseguia enxergar o céu, nublado, denso, trazendo consigo a escuridão daquele fim de tarde. Era pouco provável que chovesse, mas havia a certeza de que a noite seria cinzenta.

Cortando a estrada com o furgão, Grimes fixava os olhos no caminho, desviando o olhar hora ou outra para as laterais, atento a qualquer movimentação não natural. O instinto daqueles sobreviventes havia se aguçado bastante, acostumados a enxergar sempre o perigo, a sempre aguardar algo de ruim na próxima esquina. Era isso que os mantinha vivos, isso os guiara até onde chegaram.

Será que todo esse medo e tensão também seriam constantes no Hill Top? Ou será que finalmente Glenn conseguiria tocar sua vida da maneira mais natural possível, criando os seus filhos e dedicando-se a sua esposa? Um gostoso calafrio tomava conta de sua espinha, uma ansiedade boa, que o levava a diversos devaneios sobre o seu futuro. Sobre um feliz futuro.

Estava chegando a hora. Perto... Cada vez mais perto...

— Pai, o que tá acontecendo? Já não deveríamos ter chegado lá?

Rick voltou-se para Carl, que dobrava o corpo, esticando-se para enxergar a frente do vidro dianteiro.

— Carl, por Deus, coloque a droga do cinto! – Exclamou, sendo atendido prontamente pelo garoto – Eu não estou reconhecendo esta região, sei que estamos na estrada certa...

O xerife parecia hesitante.

— Estamos indo mais rápido do que quando Jesus nos guiou... Não sei, acho que teremos que passar a noite aqui... Seguiremos pela manhã, logo cedo chegaremos ao Hill Top!

Aquela não era uma boa notícia. Será que Rick estava perdido? Glenn já havia passado noites ao relento em suas missões com Heath, isso com certeza não seria um problema, só que dessa vez ele trazia Maggie e Sophia consigo, e é claro, o bebê que sua esposa carregava no ventre. O asiático começava a ficar levemente preocupado.

— Eu não achei que iríamos precisar dormir na estrada... – Manifestou-se Maggie, visivelmente apreensiva – Tem certeza que não há como chegarmos ainda hoje?

A jovem envolveu Sophia em seus braços, avizinhando-se ainda mais a sua filha adotiva.

— Nós vamos ficar bem, eu já fiz isso outras vezes! – Exclamou Glenn, tentando acalentá-la – Seguiremos viajem bem cedo... Quando menos esperarmos, já estaremos no Hill Top!

Maggie sorrira brevemente, confiando no lhe dissera o marido.

O furgão seguia velozmente por um viaduto, deixando entulho e lixo para trás. O deslocamento se dera até o grupo alcançar um posto de gasolina abandonado. O local, totalmente depredado, trazia intrinsecamente as marcas do inferno que tomara conta do mundo. Fossem nas vidraças despedaçadas, nas portas arrombadas ou nas paredes pichadas com palavras de ordens, tudo revelava a verdadeira faceta do novo ser humano. O homem involuído, que acabara se readaptando a barbárie.

— Os faróis estão funcionando e o tanque tá cheio... – Dessa vez fora Susie que saíra do casulo, emitindo sua opinião – Tem certeza que não podemos continuar agora à noite? Pelo que você falou, é provável que cheguemos antes da meia-noite...

Grimes parecera balançado com a proposta, analisando profundamente cada palavra dita pela esposa de seu opositor.

— Não, é muito arriscado! – Respondera finalmente – Pode acontecer alguma coisa na estrada... Mesmo com os faróis altos, a visibilidade nessa noite nublada será bem precária... Não quero arriscar um acidente automobilístico no meio da madrugada! – O xerife virou-se rapidamente, encarando os que estavam na parte traseira do veículo – Você está com o seu bebê, Maggie está grávida... Esse é um risco que não irei correr!

Olhando por aquele prisma, Rick estava certo. O mandatário de Alexandria sempre zelara pela segurança de todos, e sempre acertara. Se não fosse por ele, provavelmente Glenn teria sucumbido em diversas situações. A confiança era mútua, e o asiático estava disposto a depositar mais uma ficha no xerife.

— Melhor pararmos agora então! – Pronunciou-se Glenn – Vamos aproveitar esse posto, tem uma boa visão do perímetro, e não parece ser um foco de errantes... Há algumas ruas adjacentes, teremos bastante espaço caso seja preciso fugir no meio da noite... – A asiático fizera uma breve pausa, tomando fôlego – Vamos lá, eu fico com a primeira vigília!


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Acho melhor irem logo para a segunda parte... Sim, lá acontecerá o que todos estão aguardando...

Cliquem nesse botãozinho aqui em baixo para ler a segunda parte...

Nos vemos por lá!



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