All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 16
Hearts and Minds


Notas iniciais do capítulo

Hei! Bom, obviamente eu preciso iniciar essas notas com um pedido de desculpas... Sei que o capítulo atrasou bastante (acreditem, isso me incomodou demais), mas eu estava realmente sem condições de escrever qualquer coisa na semana passada. Fiquei doente e fui parar no hospital, voltei pra casa e fiquei de cama mais alguns dias... Bom, já estou totalmente recuperado e trago comigo um capítulo inédito, saindo do forno agora para vocês!

Ah, peço que relevem todas essas questões também, pois hoje é o meu aniversário! Na verdade foi na quarta-feira, mas ainda assim estou apto a receber congratulações! Hehehe...

Como sempre, queria agradecer a Rosie e Menta, que sempre deixam os seus maravilhosos comentários por aqui! Obrigado meninas, vocês são fodas! Notei também que o número de pessoas que acompanham a fic está crescendo, bom, não se acanhem em comentar, adoraria saber a opinião dos novos leitores sobre os meus escritos! Saibam que eu respondo com muita atenção a todos, portanto não se acanhem, deixem suas críticas e opiniões, vamos fazer essa fic juntos!

O capítulo segue o formato dos demais, tendo alguns núcleos de Alexandria sendo explorados, além de POVs bem interessantes...

Sem mais,
Boa Leitura!



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— Aqui está Carl... Tudo limpo! Tá se sentindo bem?

Vincent Hall terminara naquele instante mais uma troca de curativos de Carl Grimes. O garoto de olhar evasivo recuperara-se bastante rápido de um ferimento tão sério. Deixando de lado as possíveis sequelas psicológicas, o tiro não parecia ter afetado nenhuma outra região do cérebro, mantendo toda a parte motora intacta.

Como de costume, o filho do xerife dirigia-se todas as manhãs ao consultório de Vincent. Rick já havia admitido a Hall o quanto ainda era difícil encarar o rosto desfigurado do garoto, o buraco assustador que ali ficara, causava impacto a qualquer um que se deparasse com ele.

— Minha cabeça ainda dói um pouco, principalmente quando leio... Mas dá pra levar legal!

Carl passou a observar o cenário a seu redor. A enfermaria improvisada dentro de um dos quartos estava amarrotada de lençóis e toalhas, além de diversos tipos de bandagens, assemelhando-se bastante a um depósito.

Voltando o olhar para Hall, o filho do xerife parecia preparar-se para dizer algo.

— Quem é o moço que lá nos fundos?

Vincent pareceu assustar-se com o questionamento, balbuciando por alguns segundos antes de efetivamente responder.

— Bom... Ele é um visitante... Estamos mantendo-o em segurança.

— Estamos mantendo-o como prisioneiro. – Rebateu Carl sem pestanejar – Vamos matá-lo ou não?

O cirurgião jamais esperaria escutar tais palavras ditas daquela forma pelo garoto. Hall não conhecia o passado pregresso de Carl Grimes, e apesar de saber que ele era um garoto corajoso e endurecido pela nova vida, jamais imaginaria que tal ato pudesse surgir em sua mente de forma tão espontânea.

— Carl, o seu pai... – Hall não sabia o que dizer.

— Tudo bem Doutor Hall, eu mesmo pergunto a ele!

Colocando o seu distinto chapéu de cowboy e levantando-se da cadeira onde se encontrava, Grimes fez um pequeno gesto indicando que estaria se retirando.

— Você vai pra casa? – Hall mantinha os olhos arregalados, não conseguia esconder o desconforto e espanto.

Carl apenas respondeu de forma positiva com a cabeça antes de caminhar até a porta do quarto, deixando o cômodo. Após breves passos pelo corredor, o garoto repentinamente mudou sua postura, dobrando levemente o corpo e passando a caminhar de forma furtiva.

Olhando sempre para os lados e verificando se Vincent ou mais alguém notara que ele ainda permanecia na casa, o filho do xerife passou a se dirigir na direção do quarto dos fundos, o depósito onde os medicamentos eram guardados. Naquele instante a sala também era utilizada como cela para o visitante inesperado.

Carl não sabia o porquê de estar fazendo aquilo. Ele realmente não se importava com o prisioneiro, e não faria diferença alguma se ele iria viver ou morrer. O menino parecia não mais se chocar com algo que ele julgava agora como tão trivial. Esse é o novo mundo, a nova ordem, e é assim que ele gira agora.

Sem nenhum resquício de pena, o pequeno Grimes imaginara em sua cabeça se o visitante preso estaria sendo torturado por seu pai, espancado até revelar as respostas necessárias. Isso era o que ele faria, sem pestanejar, jamais colocaria a segurança de Alexandria a frente de qualquer senso sem sentido. As coisas mudaram, e todos que ali vivem também precisam mudar.

“Fracos, um bando de fracos”. Grimes pensava assim todas as vezes que seu olho se cruzava com o de algum morador da comunidade. Carl via o quanto eles estavam assustados, o quanto temiam por suas vidas acima de qualquer coisa, e o quanto não possuíam forças para sobreviverem sozinhos.

“Todos aqui vão morrer... Bem que meu pai poderia enfiar uma bala na cabeça de cada um para lhes poupar o sofrimento”.

Sem ser notado, Carl prosseguiu em sua caminhada silenciosa até finalmente alcançar a porta que procurava. O depósito de medicamentos estava diante dele, e aparentemente, a porta estava destrancada. Ao girar a maçaneta, o menino pode perceber que suas suposições estavam corretas, e cuidadosamente, fora empurrando a porta até ter acesso total ao interior da despensa.

— Pode entrar... – Sussurrou uma voz em meio à escuridão – Eu não vou te morder...

O homem estava sentado em uma cadeira, totalmente amarrado e com as mãos presas às costas. Os cabelos longos caídos sobre o rosto, além da vasta barba grisalha, escondiam em parte o sangramento que brotava de seu nariz e lábios, causados pelo impacto da sola da bota de Rick Grimes contra o seu rosto.

Apesar disso ele sorria, estranhamente e forçadamente ele sorria. Olhava para Carl como se nada estivesse acontecendo e até parecia saber que receberia visitas naquela manhã.

— Quem é você?

O olho de Carl arregalou-se assim que ele sentiu uma presença às suas costas, alguém acabara de pegá-lo em flagrante. Ao virar-se para trás, observou a silhueta de seu pai, estático, olhando de cima para baixo com um olhar de reprovação. Apesar disso, ele parecia tranquilo, estranhamente tranquilo apesar de tantos problemas repentinos.

— Você não deveria estar aqui... – Pronunciou-se Rick olhando diretamente para o seu filho.

Carl ergueu o olhar.

— Se ele fosse um bandido, eu já teria atirado na cabeça dele!

Jesus riu secamente após ouvir a frase proferida.

— Ele está brincando, não é? – Indagou o prisioneiro de forma jocosa.

Rick Grimes ignorou, prosseguindo com sua atenção voltada a Carl.

— Me espera em casa, lá conversamos...

Sem mais poder fazer nada, o garoto apenas deu as costas, visivelmente descontente com o desfecho da coversa. Ao sair do local, bufando e pisando firme no chão de madeira, o filho do xerife deu espaço para que seu pai pudesse trocar algumas palavras com o integrante do Hill Top.

— Verificamos o perímetro... – Iniciou Rick – Mandei os meus melhores homens circundarem toda a comunidade em um raio de quilômetros... Não encontramos nada! Nenhum resquício de você mentia sobre o fato de ter vindo sozinho...

Jesus seguia observando-o atentamente. Rick então prosseguiu.

— Você vai continuar amarrado por conta de tudo o que eu ouvi sobre suas aparentes habilidades em combate corpo a corpo, mas... – Rick fez uma singela pausa, no fundo, uma demonstração de que não gostava de estar errado em suas avaliações – Vai nos levar até sua comunidade, o Hill Top, ou seja lá como for que você a chama!

O rosto do prisioneiro voltou a se ascender, um sentimento de alívio e conquista brotou em seu peito.

— Se eu não gostar do que vir por lá... – O xerife seguia impávido, decidido – Ou se você tentar qualquer tipo de gracinha... Eu mato você, sem pensar duas vezes!

O homem riu nasalmente, balançando a cabeça positivamente.

— Colocado dessa forma chefe... Que alternativa tenho?

Rick ergueu a cabeça, observando-o de forma altiva, sem esboçar nenhuma emoção em sua face.

— Nenhuma... E é bom que saiba disso!

[...]

Rick acabara de sair da casa do Doutor Hall após a breve conversa que tivera com o prisioneiro, aquele que preferira ser chamado de Jesus. Os passos dados pelo atual líder de Alexandria estavam sendo efetivados com enorme cautela. Os últimos acontecimentos fizeram com que Grimes precisassem traçar um novo plano para a comunidade, uma estratégia que pudesse eliminar todos os seus problemas.

A questão do visitante estava se desenrolando da forma esperada, aparentemente ele falara a verdade, e se assim fosse, um possível acordo comercial com uma comunidade maior e melhor suprida, poderia ser bastante benéfico para Alexandria. Era preciso pensar no futuro, e como o arsenal de armas e suprimentos estava cada vez mais baixo, assim como encontrá-los tornava-se cada vez mais difícil para os coletores, essa poderia ser a solução para esse grande problema.

Restava agora lidar com a nova proposta duvidosa em questão, um problema que carregava consigo um triunvirato, Goodwin-Isaiah-Spencer. Um homem como Rick não chegara tão longe em sua trajetória sem criar um grande centro de percepção sobre tudo que o rodeia. Obviamente a cartada de James o surpreendera, mas o xerife sabia, ou pelo menos imaginava, quais seriam as reais intenções do aparente pacato cidadão da comunidade utópica.

Grimes não podia tomar nenhuma decisão precipitada, precisando inclusive controlar-se bastante para não utilizar a força na resolução dessa questão. Goodwin queria jogar um jogo de xadrez, e o xerife estava disposto a colocar suas peças no tabuleiro.

— Rick!

Os pensamentos do xerife logo são interrompidos pelo chamado de Aaron, que em um breve pique, prostrara-se a frente do policial. O falastrão namorado de Eric emitia o seu já habitual e simpático sorriso, estendendo a mão e tocando levemente o ombro do mandatário.

— Rick... – Sua voz ficou um tom mais baixo – Por quanto tempo pretende deixá-lo preso?

Grimes mantinha as feições fechadas, parecia estressado apesar de tentar não demonstrar.

— O quanto mais for necessário... Mas de que isso importa Aaron?

O tagarela pareceu baixar a guarda, tentando demonstrar não estar desafiando o comandante.

— Eu sei o quanto você só está tentando nos deixar a salvo, e por sinal, você tem conseguido fazer isso com maestria, mas... – A hesitação ficou aparente – Você me nocauteou quando eu convidei o seu pessoal para vir pra cá... É o seu jeito.

O xerife arqueou uma das sobrancelhas.

— Não confiei em você de primeira também... Onde quer chegar?

O homem simpático abriu os braços.

— Minha oferta se mostrou verdadeira, você estava errado ao duvidar de mim! Eu só me preocupo no que pode ocorrer caso a proposta desse homem também se mostre real... Com toda a sua rispidez, talvez isso o afaste... Talvez acabemos perdendo a oportunidade de criar laços benéficos com outra comunidade, ou pior... Talvez nos tornemos inimigos!

As palavras de Aaron reverberaram instantaneamente dentro da cabeça de Rick Grimes, ecoando por todos os seus neurônios e o fazendo repensar sobre muitas coisas em breves segundos.

— Talvez ele se torne justamente o que você teme que ele seja! – Complementou.

— Entendi o seu ponto.

Rick tentava se manter firme, apesar de estar bastante reticente internamente.

— Levarei isso até onde for necessário, não se preocupe... Apenas confie em mim.

Aaron balançou a cabeça positivamente, parecia insatisfeito com a resposta recebida.

— Eu confio Rick... Eu confio...

*****

O estampido da nove milímetros reverberou pelo ambiente até que o som se dissipasse completamente. O stand improvisado idealizado pelo grupo de planejamento, era comumente utilizado por Abraham e Andrea, para treinar os moradores de Alexandria menos aptos na utilização de armas de fogo.

O local afastado do limite das casas, encontrava-se próximo a um grande galpão, onde os carros maiores eram guardados, normalmente aqueles que eram utilizados pelos coletores e/ou caçadores. Alguns alvos em madeira foram preparados e colocados a diferentes distâncias, alguns deles sendo móveis, dando aos atiradores uma noção próxima ao perigo passado do lado de fora dos muros.

— Muito bem garota! Parece que você leva jeito pra coisa!

Leah sorriu ao ouvir os elogios proferidos por Tom. Price reservara aquela manhã para ensinar a garota a atirar, vontade já demonstrada por ela há algum tempo. Por conta da amputação de seu braço, o ex-soldador acabou afastado de suas atividades junto ao grupo de construção dos muros, estando temporariamente sem função alguma dentro da comunidade.

Proativo como sempre fora, o corpulento turrão resolvera atender aos pedidos de Fisher, passando um pouco de seus conhecimentos envolvendo armas de fogo, e aproveitando que o stand estaria vazio naquele horário.

A menina realmente se saíra bem em seus primeiros disparos, acertando três alvos diferentes a uma distância razoável. Sua postura também era admirável, visivelmente a menina possuía todo um porte que facilitava o seu manuseio com armas de fogo. Além disso, estar realizando tal atividade a fazia esquecer-se do turbilhão de problemas e sentimentos conturbados que ainda preenchiam o seu peito. Estranhamente estar na companhia de Price realmente a fazia bem.

— Já estou melhor que você! – Gabou-se a garota loira, sorridente – Quem sabe eu não fico tão boa quanto a Andrea!

— Não tenho dúvidas quanto a isso! – Price também sorria, incentivando-a – Vai lá pistoleira, tenta aqueles três agora, os mais distantes!

A garota ergueu a arma, apoiando-a com as duas mãos, exatamente como fora instruída. O primeiro disparo, visando acertar um alvo posicionado em uma árvore, acabou ricocheteando em um dos galhos. A segunda tentativa também fora desperdiçada, já que a bala acabou sendo baixa demais, perfurando o gramado. Na terceira Leah passou perto, acertando o troco, bem próximo ao alvo principal.

— Calma Django! Precisa melhorar a sua postura!

Tom achegou-se a Leah por trás, aproximando o seu corpo do dela para que com a mão esquerda pudesse posicioná-la da maneira correta. Tocando levemente em sua mão e erguendo-a alguns centímetros, Price movimentava-se lentamente, acertando todos os detalhes da postura correta para o prosseguimento do treinamento.

— Mas que porra tá acontecendo aqui?

Leah e Price viraram os rostos automaticamente assim que ouviram a já conhecida voz. Vincent estava parado diante dos dois, manqueteando ao mesmo tempo em que apoiava-se em uma bengala para movimentar-se melhor. O cirurgião parecia espantado com a cena que acabara de presenciar, vide os olhos arregalados e as sobrancelhas arqueadas.

— Tom... O que você tá fazendo? – A voz de Hall parecia mais grave que o normal.

— O que quer Doc?

Price parecia querer evitar qualquer tipo de conflito, sabia muito bem de todos os problemas que o médico trouxera a Leah, e justamente por isso queria impedir qualquer tentativa de aproximação de Vincent.

— Você está ensinando Leah a atirar?

A garota não dizia nada, nem sequer olhava para Hall.

— Estou sim, algum problema quanto a isso?

Tom posicionava-se firmemente, não arredaria um só centímetro.

— Muitos... Nem sei por onde começo! – Os dois se encararam, nenhum aparentando querer recuar – Por hora, queria saber o que você quer com ela?

“É isso mesmo que eu to ouvindo? Esse filho da puta comedor de adolescentes está realmente insinuando que eu quero alguma coisa com Leah?”. Price sempre teve o pavio curto, nunca gostou de ser desafiado e principalmente acusado de algo que não fez. Em nenhum momento passou por sua cabeça qualquer possibilidade de tentar seduzir a garota. Tom sentiu-se enojado, ofendido profundamente por aquele homem.

— Vai embora Vincent! Ninguém aqui quer conversar com você... Vamos evitar que as coisas fiquem feias!

Price não fazia o estilo apaziguador, e provavelmente se Leah não estivesse ali presente, o soldador não hesitaria em resolver suas pendências com o cirurgião de uma vez por todas.

— Eu bem que imaginei... – Hall sorriu ironicamente – Então era por isso que você passou a rondar a Leah nos últimos dias... Me responde Tom, o que você quer com ela?

“Mais um passo Doc, dê mais um passo e eu acabo com você, perneta de merda! Um braço basta para eu partir sua cara ao meio!”.

— O que você tá insinuando Doc? Vamos, quero ver se você terá coragem de dizer!

Tom aproximou-se de Vincent que pareceu não se intimidar.

— Eu não preciso dizer... Você sabe do que estou falando! Quer se aproveitar dela... Eu não vou permitir isso, não vou deixar que encoste um dedo nela!

“Pedófilo de merda, do que você tá falando seu filho da puta?”.

— Que direito acha que tem sobre ela? – Price exaltara-se completamente – Você abandonou a menina pra viver com a mexicana gostosa! Se alguém aqui se aproveitou dela, foi você... Aproveitou a inocência de uma adolescente para abusar da menina! Seu lixo escroto!

Vincent não conseguiu se controlar, assim que a última frase deixou os lábios de Price, o cirurgião desferiu um potente soco, com toda a força que conseguiu juntar. O punho cerrado atingiu em cheio a ATM de Tom, que bambeou, dando alguns passos para trás. Como resposta, o soldador partiu para cima de Hall, desferindo um chute contra a sua prótese, partindo-a ao meio e fazendo com que o médico caísse de costas no solo gramado.

Alguns chutes contra o rosto do cirurgião foram desferidos antes que o próprio Hall sacasse sua arma, apontando-a na direção da cabeça de seu agressor.

— Atira Doc! – Tom provocava-o, tinha certeza que o médico não teria tal coragem – Vai em frente, atira! Esse é você, todo mundo está vendo agora! Esse é o verdadeiro Doutor Vincent Hall.

O sangue escorria pelo nariz e lábios de Hall, além de alguns cortes em seu supercílio, que também geraram um pequeno sangramento. O médico respirava profundamente, suas mãos tremiam, ainda assim, ele mantinha Price sob sua mira. Precisava decidir naquele instante o que valeria mais a pena, seguir sua fúria ou seguir sua racionalidade.

— Parem! Pelo amor de Deus, parem!

Leah chorava, pela primeira em muito tempo a garota deixou-se tomar pelas emoções. Lágrimas escorriam por seus olhos, enquanto ela observa a tudo assustada, temendo pelo pior. Um aperto tomou conta do peito de Vincent, seus tremores se ampliaram, ele não conseguiria, não resistiria. Lentamente, o cirurgião fora abaixando sua pistola, lentamente fora deixando a racionalidade tomar conta da situação.

*****

— Gabriel pediu que eu te avisasse sobre o andamento dos preparativos... A igreja já está pronta para o funeral. Tem certeza que não é melhor adiar isso para amanhã?

Andrea e Rick caminhavam na direção dos portões, onde uma van já aguardava pelo xerife pronta para partir. Chegara a hora de conferir se o Hill Top realmente era real, ou se tratava apenas de uma fantasia mirabolante com segundas intenções. O grupo tentara não criar muito estardalhaço dentro de Alexandria, levando discretamente o homem amarrado aos fundos do veículo.

— Temos que aproveitar o tempo bom... – Rick parecia um pouco mais tranquilo que outrora – Além, disso, preciso ver essa comunidade com os meus próprios olhos, há muitas coisas envolvidas, não posso me dar ao luxo de não estar presente.

— Sabe o que vão pensar sobre essa sua ausência no cerimonial em homenagem ao Spencer... – Andrea parecia preocupada – As pessoas estão comentando Rick, e você deve imaginar sobre o que estão falando...

— E é por isso que você vai ficar e discursar de forma emocionada, como eu lhe pedi... – Rick passara a falar um pouco mais baixo – Os veteranos estão sendo envenenados aos poucos, o ódio velado que já nutriam por mim tem se ampliado nos últimos tempos... – Grimes respirou fundo – Eu deixei aquele cara entrar, permiti que ele se estabelecesse por aqui...

Andrea levou sua mão de encontro à do xerife.

— Você não sabia que ele poderia ser uma ameaça, aliás, nós somos as únicas pessoas que conseguem enxergar isso... Ele tem seduzido muita gente com esse jeito de cidadão exemplar... – O rosto da sniper avermelhou-se – Deveríamos cortar esse mal pela raiz!

— Não podemos... – O xerife demonstrava-se bem mais racional – Goodwin tem a seu lado grande parte dos veteranos, essas pessoas, que ainda possuem grande influência sobre os demais moradores, veriam qualquer atitude que envolvesse a força como uma grande atrocidade... Não Andrea, teremos que jogar o jogo dele! Isso está só começando... Precisamos agora ficar atentos aos próximos passos dele, aproveitar o menor deslize para desbancá-lo de uma única vez, uma queda definitiva!

— Não se preocupe... – A loira parecia mais convencida após ouvir as palavras do amante – Eu mesma cuidarei disso! Já pedi que Magna fique na cola do Isaiah discretamente, ele provavelmente é o braço direito do Goodwin... Se conseguirmos provas contra um, o jogo acaba automaticamente, e nós vencemos!

O policial sorriu, estava satisfeito com a atitude de Andrea, que parecia tornar-se cada vez mais racional, deixando de lado parte de sua agressividade e impulsividade, características que poderiam atrapalhar os planos do xerife.

— Precisamos de cautela. Não quero criar uma guerra dentro desses muros... O nosso inimigo está lá fora, e precisamos estar unidos para enfrentá-lo e superá-lo todos os dias!

Os dois já se aproximavam da van, quando foram abordados por Abraham, que os aguardava em frente ao veículo. No local também estavam Glenn e Maggie, além de Michonne, ambos ajudando na colocação de alguns poucos equipamentos e suprimentos dentro do veículo, já que se tratava de uma missão curta.

— Vai mesmo fazer isso xerife? Vai confiar nesse cara a ponto de segui-lo até essa suposta comunidade?

O bigodudo, como de costume, falava de forma firme, quase como se estivesse dando ordens ou esbravejando.

— Não vamos demorar... De qualquer forma, eu espero sinceramente me livrar de um prisioneiro e retornar com suprimentos e munição!

Maggie também se aproximara assim que notara a presença de Rick.

— Não deixa o Glenn fazer nenhuma bobagem! – Exclamou a jovem com um sorriso no rosto – Ele precisa voltar intacto, será pai daqui a pouco tempo e em hipótese alguma me deixará cuidando de duas crianças sozinha!

O asiático que também estava próximo aos dois, riu enquanto ajeitava o boné sobre a cabeça.

— Não se preocupe... – Grimes também sorria, o clima estava visivelmente mais ameno – Ele ainda terá muito tempo para curtir o pequenino que está por vir... Eu prometo Maggie!

Greene acenou positivamente com a cabeça, demonstrava acreditar no sinal de confiança dado pelo mandatário de Alexandria.

— Ei! Eu estou aqui esqueceram? – Glenn abriu os braços, ainda sorrindo – Posso cuidar de mim mesmo perfeitamente bem! Vocês não vão se livrar de mim tão cedo assim... – O rapaz dirigiu-se até sua esposa beijando-a enquanto tocava sua barriga de forma suave – Ainda vou curtir muito essa barriga, vê-la crescer com o nosso filinho aí dentro! Vai dar tudo certo meu amor!

Maggie sorriu, respirou fundo e olhou profundamente nos olhos de seu amado.

— Eu sei que sim...

— Se você puder ficar de olho no Carl, eu agradeceria bastante! – Grenne respondeu de forma positiva ao pedido de Rick – Ele me disse que não estava se sentindo muito bem... Pedi que Vincent verificasse o seu estado, mas ele me disse que vertigens e estados febris são comuns em casos como o dele...

— Ele está em boas mãos! – Os amendoados olhos da esposa de Glenn demonstravam esperança e serenidade, ela parecia muito bem disposta – Tenho certeza que ele só deve estar cansado... Sophia também fica assim às vezes, só precisa recarregar as energias e tudo volta ao normal!

Grimes sorriu, sabia que poderia confiar plenamente em Maggie Greene, a jovem nunca lhe decepcionara e Rick sentia que ela estaria sempre do seu lado.

— Obrigado Maggie! – Disse agradecido.

— E então, estão todos prontos?

Michonne precisou interromper a pequena confraternização ao perceber que algumas nuvens já começavam a cobrir o sol, o que poderia atrapalhar a missão do grupo. Entendendo que aquele era o melhor momento para partir, Rick, Glenn e a própria samurai adentraram o veículo, realizando os últimos ajustes antes de pegarem a estrada.

— Fique alerta! – Asseverou Grimes a Andrea – Não confio na maioria das pessoas desse lugar... Faça o que combinamos, eu não irei demorar!

A loira acatou ao pedido, despedindo-se de seu amante e o deixando partir junto aos outros. A van passou pelos portões de Alexandria guiada por Glenn. O automóvel seguiu a rodovia, dirigindo-se a principal via de acesso a Washington.

*****

— Eu estive lendo alguns livros que consegui na biblioteca do finado Douglas, e creio que tenha encontrado uma solução para o problema de nossas munições!

Eugene parecia animado, entrara no escritório repentinamente, com um emaranhado de papéis embaixo do braço, além de sua tradicional caderneta e alguns livros aparentemente antigos. Goodwin já se encontrava por lá desde cedo, sentara-se a mesa de projetos e passara a realizar alguns cálculos, além do desenho de algumas torres que planejara desenvolver do lado de dentro dos muros, facilitando o trabalho dos sentinelas.

— Que ótimo Eugene! – James não tirou os olhos de seu projeto, parecia bastante concentrado.

O homem de mullet puxou rapidamente uma cadeira, sentando-se bem próximo ao empresário.

— Não é nada concreto, são apenas ideias... Mas acredito que possa ser uma opção para longo prazo!

Goodwin sinalizou com a mão esquerda para que ele prosseguisse, ainda com os olhos atentos apenas em seu desenho e cálculos.

— Bom, eu cheguei à conclusão de que talvez não seja impossível construirmos as nossas próprias balas... Isso levaria bastante tempo e precisaríamos de materiais que talvez sejam difíceis de encontrar, mas... O fato é que isso é sim possível!

James interrompera o que estava fazendo, retirando os óculos que utilizava para enxergar melhor de perto.

— Sugiro que comecemos a guardar os invólucros descartados... Descobri algumas coisas sobre recarregar projéteis, e os invólucros serão parte integrante desse processo.

Eugene finalmente ganhara a total atenção de Goodwin que, interrompendo o processo que iniciara, passara a refletir sobre todas as palavras ditas pelo professor de Ciências. Seria realmente possível produzir novas balas? James imaginava um futuro a longo prazo em que sua comunidade teria de desenvolver novos tipos de armamentos, já que as munições hora ou outra se esgotariam. Remoldando essas ideias na cabeça, o ex-empresário encheu-se ainda mais de esperança, cofabulando sobre o que Alexandria poderia se tornar, assim que os poderes se invertessem.

— Isso é esplêndido Eugene! Se isso for realmente viável, poderemos manter um arsenal de defesa independente do que os grupos de busca nos conseguirem... Autossuficiência! – O homem sorri, satisfeito com as conclusões – Alexandria se tornará uma comunidade quase impenetrável... Temos que colocar em prática a ideia das torres, assim teremos guaritas acima dos muros, tendo mais de um ponto para posicionarmos snipers...

Seus olhos brilhavam, agora mais do que nunca, Goodwin sentia que Alexandria era o lugar certo para criar o seu filho, que lá ele poderia dispor da segurança necessária para finalmente pensar em longo prazo. Só havia um problema a ser reolvido, e tal mazela possuía nome e sobrenome... Rick Grimes.

Não há futuro para Alexandria com Rick Grimes no comando”, pensava James. Algo precisava ser feito, na verdade, algo já estava sendo feito. Seria necessário escolher os aliados certos, moldar as pessoas ainda mais para que ficassem cem por cento do seu lado. A partir daí, bastaria dar o bote certeiro, sem erros, sem chances de defesa para o policial.

— Você já contou isso ao senhor Grimes? – Indagou James.

Eugene coçou levemente a cabeça.

— Não... Resolvi te contar primeiro já que é o meu parceiro no planejamento... O seu conhecimento de engenharia pode nos ser útil para a resolução de alguns problemas técnicos... – O ex-professor falava rápido demais, quase tropeçando nas próprias palavras – De qualquer forma, Rick saiu com um pequeno grupo, acredito que tenham ido verificar a comunidade do prisioneiro.

Goodwin franziu levemente a testa.

— Então o funeral foi cancelado?

Agora era Eugene quem voltava à atenção para a papelada sobre a mesa.

— Não, o cerimonial ocorrerá essa noite, mesmo sem ele.

Goodwin tentou compreender todos os sentidos que aquela frase poderia representar, ao mesmo tempo em que passou a interpretar qual ardilosa estratégia poderia estar interligada àquele movimento. Ele sabia que Rick estava a sua espreita, que sua desconfiança sobre ele se ampliava a cada dia, mas nada daquilo o preocupava, bastava seguir o plano corretamente que tudo daria certo.

“O que você está pensando xerife?”, “o que pretende me deixando fora de sua asa?”. O cerimonial sem Rick Grimes poderia ser a grande chance que James esperava para por em prática a nova etapa de seu plano. Chegara a hora de mover mais uma peça no tabuleiro, aproximar-se ainda mais da vitória definitiva.

Um barulho na porta do escritório acabou por tirar James de todos os seus devaneios. As batidas nervosas, anunciando a pressa do solicitante, reverberavam de forma altiva na superfície de madeira. Eugene então levantara-se, girando a maçaneta e permitindo que aquele que batia ininterruptamente entrasse enfim.

Nicholas, com as feições fechadas e parte do rosto recoberto pelo capuz de seu casaco, adentrou o lugar sem se preocupar com nenhuma interação social automática. O homem parecia nervoso, agitado, visivelmente não estava em seu estado normal. Ele olhava diretamente para Goodwin, e parecia decidido.

— Goodwin, eu preciso falar com você!

James esticou o pescoço, olhando-o com certo desprezo no olhar, não lhe agradara em nada o tom de voz do sujeito, muito menos a forma como fora abordado.

— Olá senhor Nicholas! – James sorriu brevemente – Eu estou bastante ocupado no momento, como pode observar, então acredito que possamos deixar essa eventual conversa para depois...

O olhar de Nicholas parecia queimar, o homem que tremia levemente, mordeu o lábio inferior, nitidamente tentando controlar-se.

— Eu acho melhor você vir comigo, não vai querer que eu fale tudo aqui, na frente do Eugene! Ou vai?

James cerrou um dos punhos discretamente, precisaria de paciência para lidar com aquilo, bastante paciência. Ainda mantendo o sorriso simpático, o empresário ergueu-se de sua cadeira e prosseguiu agindo normalmente.

— Bom, pelo que vejo os seus ânimos estão um pouquinho exaltados... Acho que podemos conversar lá fora, já que insiste tanto – Eugene olhava para os dois, intrigado – Já volto.

Os dois homens dirigiram-se então em direção à saída, cerrando a porta e caminhando pelo corredor. Após darem cerca de dez passos, Goodwin interrompeu o trajeto, visivelmente irritado.

— Que porra foi essa Nick, tá maluco?

O homem seguia decidido em suas feições, não intimidando-se com a mudança repentina de humor de James.

— Você é que tem que me dizer... Você pediu a minha ajuda, disse que só queria conversar com ele!

— Do que você tá falando? – Indagou James.

Nicholas deu um passo à frente, aproximando-se ainda mais de Goodwin.

— Eu disse que iria te ajudar, disse que também não concordava com a forma que o Rick tem levado Alexandria, mas isso... Você me usou Goodwin, me usou pra matar o Spencer!

Goodwin respirou fundo, controlando-se para se manter calmo.

— Ainda não sei do que está falando...

— Não se faça de inocente porra! – O rosto de Nick estava avermelhado, o homem parecia extremamente estressado – Você me pediu para destrancar a janela da casa onde o Spencer estava, e de uma hora pra outra o cara aparece morto! Porque você fez isso? – O homem fez uma breve pausa, olhando diretamente para os olhos de James – Acabou, eu vou contar tudo!

Goodwin contou até dez em sua mente, novamente controlando-se para não tomar nenhuma decisão precipitada. Seria fácil demais acabar com a vida de Nick ali mesmo, naquele corredor. Bastavam rápidos movimentos, e o homem de bigode ralo não teria a mínima chance contra as habilidades adquiridas por James após tanto tempo sobrevivendo na floresta e na estrada.

— Presta bem atenção seu filho da puta, porque eu só vou repetir uma vez... – Goodwin falava em tom baixo, de forma calma e firme ao mesmo tempo – Você vai manter a porra dessa boca fechada se não quiser problemas maiores...

Dessa vez fora James quem se aproximara de Nick, praticamente colando o rosto contra o do homem.

— Você tem tanto sangue nas mãos quanto eu, e não será nenhum problema pra mim me manchar ainda mais... Acha que o seu filho tá seguro? Acha mesmo que nada pode acontecer com a sua mulher?

Nicholas impactou-se com as últimas frases ditas, recuando o corpo e respirando de forma ininterrupta.

— Eu posso acabar com vocês em um estalar de dedos, e nunca, nunca ninguém saberia o que aconteceu... Até porque, ninguém se importa com um fodido como você! E então, você preza pela vida do seu filinho? Ou quer que ele acabe amarrado em uma árvore no meio da floresta sendo devorado por um bando qualquer de errantes, ou pior, sendo estuprado por algum grupo de milicianos...

Os lábios do homem que ouvia a tudo passaram a tremer, ele parecia querer gerar forças para dizer algo, mas seguia paralisado.

— E então? Eu posso providenciar isso agora mesmo! – Goodwin fez uma breve pausa, como se aguardasse a resposta para o seu questionamento retórico – Eu pensei que não! Mantenha essa sua boca fechada, e tudo irá prosseguir como era antes... Todo mundo sai ganhando!

James Goodwin deu dois tapas de leve no ombro de Nicholas, voltando a sorrir e dando as costas ao aterrorizado homem, retornando assim ao escritório de onde saíra. Nick permaneceu parado, imóvel, sem esboçar nenhuma reação ao emaranhado de palavras horrendas deferidas contra ele.


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Notas finais do capítulo

E então gostaram?

Particularmente estou curtindo demais toda essa saga do Goodwin dentro da fic, além é claro do desenrolar da história do doutor Hal... Ah, ele passará por uma grande reviravolta, vocês nem imaginam o quanto!

E o Hill Top, acontecerá alguma coisa no trajeto até lá? Hehe...

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