A melhor tenente escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
A melhor tenente - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Esta é a minha primeira história de Harry Potter. Confesso que, quando pensei em criar algo para este desafio, das personagens de J.K. Rowling, vieram-me à mente primeiro Hermione Granger (minha segunda personagem preferida) e Gina Weasley (nona). Contudo, apenas esta história da tia Belatriz conseguiu vingar na minha cabeça.

E assim nasceu A melhor tenente.

Espero que gostem, pessoal o/



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Frio. Muito frio. O ar parecia sufocar, a atmosfera era demasiadamente pesada, como se a esmagasse. Ela jazia na escuridão, presa, enjaulada como uma besta selvagem — e de fato o fosse —, excluída nas trevas, separada da sociedade que a temia e a repudiava.

Insetos. Todos fracos, covardes, inúteis.

Vontade de viver era um luxo que poucos conseguiam sustentar naquele lugar. Uma vez cerrado lá dentro, as chances de escapatória tendiam a zero. Claro, ela sabia muito bem que, dois anos antes, seu primo conseguira fugir dali, logo, a inescapável Azkaban não era, realmente, tão inescapável assim, pensava ela.

Belatriz Lestrange, a Comensal da Morte mais poderosa, a mais leal ao Lorde das Trevas, a melhor tenente, fora condenada à prisão perpétua em Azkaban por ser participante do reinado de terror que Lorde Voldemort, o bruxo das Trevas mais poderoso da história, fez cair sobre o mundo. Fossem bruxos, fossem trouxas, ninguém estava livre do medo que Voldemort significava, e Belatriz foi parte disso. Ela também foi condenada por — ao certo, um de seus atos mais cruéis — lançar a Maldição Cruciatus, a Maldição de Tortura, nos aurores Longbottom, levando-os à insanidade.

Ah, os gritos de agonia deles foram tão divertidos para ela. Sim, decerto foram. Ela, com certeza, realizaria feitos muito mais vis que o incidente com os Longbottom durante o reinado do Lorde das Trevas. Muitos. Muitos mais que estes.

Mas ela não pôde saborear tais feitos. Não com a queda de seu mestre, a saber, o Lorde das Trevas. O Menino que sobreviveu, o filho dos Potter, sim, ela se corroia pela existência daquele que foi responsável pelo fim do reinado de Lorde Voldemort. O filho de Tiago e Lílian Potter, ela o detestava, tinha certeza. Era mais que correto afirmar que, se Harry Potter não tivesse sobrevivido miraculosamente naquela noite fria em Godric’s Hollow, ela jamais seria encerrada na prisão dos bruxos, Azkaban, jamais seria privada de fazer o que mais adorava: torturar e matar, e o mais importante: jamais seria privada de seu mestre tão idolatrado.

Agora lá estava ela, derrotada, aprisionada num lugar imundo. O rosto havia perdido parte da beleza, adquirindo uma feição insana que, pouco a pouco, tornou-se uma com ela. Os dementadores, criaturas malignas capazes de exalar terror e desespero, além de se alimentarem da felicidade, cercavam-lhe a cela. Ela odiava tudo aquilo, odiava estar separada de seu senhor, odiava muito estar longe dele.

E odiava Harry Potter, o menino que sobreviveu.

O olhar torto dela circundava o ambiente. Belatriz também ouvia, ao longe, gemidos e gritos de horror e desespero — ela já estava acostumada com tudo aquilo, afinal, há anos estava ali. Desinteressada, ela recostou-se sobre os farrapos que lhe protegiam do frio.

Perdera a noção do tempo. Adormecera. Só acordara, pois sentira um calor no ambiente — estava mais propícia a tal, uma vez que se acostumara ao frio exalado dos dementadores —, e Belatriz sabia o que iria acontecer. Indisposta, moribunda, ela caminhou até a entrada da cela especial — uma do tipo “solitária”.

As unhas pretas e sujas retiravam restos presos entre os dentes negro-amarelados. Ela usava a língua para terminar o que as unhas haviam começado.

— É hora do jantar, Bela — disse para si com voz pomposamente entediada.

Não demorou e o calor que sentira antes se intensificou. Um calor refrigerador. A sensação era boa, muito boa. Belatriz sabia: um dos guardas para se aproximar da solitária, evitando os dementadores, conjurara um Patrono.

A portinhola na parte inferior da porta da cela se abriu. Ali, uma mão humana lhe entregava uma bandeja que continha o que Belatriz, querendo ou não, deveria chamar de jantar.

Não fora a primeira vez que comera ratos mortos. Desta vez, contou ela, eles haviam caprichado. Seis minúsculos ratinhos pretos, empapados de sangue, enchiam a bandeja de Belatriz. A bruxa olhou, olhou, resmungou algo e tomou a bandeja de metal, sentando-se com ela de volta em seus cobertores velhos e surrados.

Belatriz tomou um dos ratos com a mão. Ela, uma bruxa de sangue puro, uma filha de uma família nobre como os Lestrange, condenada a um destino tão repugnante, tão repudiável, tão patético. Às vezes, meditar na própria situação causava-lhe náuseas. Já pensara em morrer, era óbvio. Contudo ela sabia, também, que estaria tomando uma decisão mais que impensada se o fizesse. Belatriz acreditava, ela tinha certeza, o Lorde das Trevas retornaria. Tudo não passava de uma mera questão de tempo. Não seria um simplório garoto que daria fim a Lorde Voldemort, pensava ela. Não seria um mestiço imundo que a separaria definitivamente de seu senhor. Nada teria tal capacidade, ninguém teria tal capacidade.

Pensando nisso, que um dia estaria lado a lado com ele, Belatriz sorriu e, com gosto, mordeu a cabeça do rato morto, arrancando-a numa só dentada. O sangue lhe escorria pela boca e queixo, descendo e empapando as vestimentas.

Ela ergueu o braço esquerdo para se limpar. Os dedos retirando o excesso de sangue e, em seguida, sendo levados à boca da bruxa para que ela pudesse sentir o gosto salgado. Belatriz mastigava vagarosamente a carne crua e fresca do rato, os olhos fechados se abriram devagar e, de relance, fitaram o braço esquerdo dela.

A Marca Negra.

Por um instante Belatriz interrompeu a própria alimentação, contemplando com ar nostálgico o símbolo do eterno vínculo dela com o Lorde das Trevas. Ela largou o rato decapitado no chão da sela, desinteressada. Os dedos da mão direita acariciavam a pele do braço esquerdo, exatamente no lugar em que a Marca Negra de Lorde Voldemort estava impressa. Os toques eram vagarosos e até gentis; Belatriz parecia venerar o símbolo.

— Milorde, eu sei que voltará. — Fechou os olhos, ainda alisando a Marca Negra. — Não... Aquele sonho esquisito que tive há um ano... aquele que jamais esqueci... era real. Eu senti a Marca Negra me queimar, eu senti, não foi alucinação minha... O senhor voltou, não é, Milorde?

E riu de forma doentia. O barulho ecoando pelas quatro paredes da cela escura. De alguma forma ela sabia. Não fora sua mente arruinada por Azkaban que lhe pregara uma peça; o Lorde das Trevas havia retornado. Lorde Voldemort havia retornado.

Com satisfação, Belatriz devorou rato por rato. Já não sentia repugnância, pelo contrário, sentia prazer. Imaginava aqueles míseros animais sendo suas futuras vítimas, todas as vidas — bruxas e trouxas — que ela iria saborear antes de devorar.

Terminou de comer e se flagrou rindo. Respirava ofegante e ria, ria sem parar.

— Eu sei que o senhor virá para me buscar — Belatriz ergueu a voz, falando ao teto. — Eu fui uma serva leal, afinal. Eu fui sua serva mais fiel, não é mesmo, milorde? Eu sempre acreditei que um dia o senhor retornaria. Eu sempre acreditei que o senhor não foi derrotado naquela noite; é impossível derrotar o Lorde das Trevas...

Ao longe, um trovão ribombou. A Marca Negra ardendo com mais intensidade na pele da bruxa. Belatriz sentiu-se extasiada, aquela dor parecia deliciá-la. Era viciante, era bom.

— Mais uma vez estarei ao seu lado, milorde — continuou Belatriz. — Mais uma vez estarei ao seu lado, lugar de onde nunca deveria ter saído. Desta vez, nada irá me separar do senhor, milorde. — E frisou: — Ninguém irá me separar do senhor.

Mais ruídos trovejantes. Ecoavam no céu em um ritmo cada vez mais intenso e contínuo, quase simultaneamente. Belatriz sabia, os trovões eram arautos. Anunciavam a chegada de seu senhor.

O Lorde das Trevas estava a caminho, ela sabia.

Belatriz se ergueu. Os olhos fitos no céu. Ela podia sentir os dementadores agitados do lado externo de sua cela. Confusos? Não, ela sabia que não. Estavam apenas trocando de lado, servindo a quem deveriam, de fato, servir.

E então aconteceu.

A parede posterior da solitária explodiu. A fumaça encheu o local, impregnando o ambiente com o cheiro desagradavelmente típico. Mas não para Belatriz, que inspirou como se cheirasse o ar perfumado — e talvez, para ela, o fosse. Belatriz sentia o perfume da liberdade. Liberdade após catorze anos trancafiada em Azkaban.

O céu estava negro e tempestuoso. Raios rasgavam o negror da noite gelada. Os dementadores voavam aos montes por todas as direções — não pareciam preocupados com o fato da cela da Comensal da Morte mais perigosa estar violada, antes, ignoravam-na.

E então, Belatriz o viu.

As vestes negras dançavam com o vento à medida que ele flutuava em sua direção — imponente, frio, onipotente. A pele pálida contrastando com a noite escura, o rosto ofídico, os olhos vermelhos e penetrantes.

— Milorde, eu estava certa! O senhor retornou! — A voz de Belatriz detinha uma felicidade embriagada.

— Belatriz. — Voldemort pairava no ar, diante da serva. A voz arrastada, fria e aguda. — Já faz catorze anos.

— Sim, meu senhor. Eu estive tão sozinha aqui, tão sozinha...

Voldemort sorriu satisfeito. Das vestes ele retirou um objeto que encantou os olhos de Belatriz Lestrange.

— Minha varinha! Obrigada, milorde! — A bruxa segurou firme o objeto lançado por Voldemort. Lá estava ela. Nogueira, 30 centímetros, núcleo de fibra de coração de dragão, inflexível, um pouco encurvada; a varinha de Belatriz Lestrange, a melhor Comensal da Morte.

— Vá e faça o que sabe fazer melhor, Belatriz. Quando terminar, liberte os outros. Encontre-me na casa de Lúcio Malfoy.

— M-mas meu senhor — Belatriz se amaldiçoou introspectivamente por questionar o Lorde das Trevas —, é impossível aparatar aqui em Azkaban. Como eu...

Era impossível, Belatriz. Aquele que conjurou o feitiço antiaparatação já não existe mais. Agora faça o que ordenei.

— Imediatamente, milorde. — Ela gargalhou como uma louca sádica assim que Voldemort desapareceu de sua vista. Estava livre, livre para ser ela mesma, a mais cruel dos Comensais.

Ela destruiu a porta da própria cela e, cantarolando, acessou o corredor do andar. Um dos guardas — provavelmente o que viera lhe dar os ratos para comer momentos antes — a viu fugir e tentou atacá-la com um feitiço estuporante. Belatriz se desviou com imensa facilidade, gargalhando do fracasso do inimigo.

— Minha vez! — A voz sarcástica e melosa deu lugar a um grito triunfante. Com júbilo, Belatriz usou seu feitiço preferido. — Crucio!

O homem foi levitado no ar, debatendo-se e urrando de dor. Desabou no chão logo em seguida sob a risada alarmante de Belatriz. Ela caminhou a passos lentos até o guarda que, ainda gritando, sentia os próprios olhos marejarem.

— Catorze anos longe do meu senhor... — Belatriz sussurrava no ouvido dele. — Nunca mais, seus imundos! Nunca mais vão me separar dele! — O tom de voz dela se elevando em uma abrupta irritação.

Belatriz se afastou do guarda que ainda sofria com a Maldição Cruciatus. Erguendo a varinha, ela anunciou com prazer:

— Avada Kedavra!

Após o lampejo verde, a vítima de Belatriz parou definitivamente de se mover. A Comensal levou a ponta da varinha à boca, esfregando-a nos dentes.

— Odeio essas sujeiras — disse. — Bem, agora resta matar mais alguém e depois libertar todo mundo, mas primeiro...

Voltou à ruptura da própria cela, contemplou mais uma vez o céu noturno antes de gritar com alegria:

— Morsmordre!

Como há muitos anos, lá estava ela. Belatriz sorriu.

— Eu adoro esse feitiço.

E deu às costas, continuando a missão dada por Voldemort. No céu, a Marca Negra brilhava soberana.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem. Espero que tenham gostado.

Até mais, pessoal o/