Transcendente escrita por Wina Hayate


Capítulo 7
Capítulo 7 - Raio de sol




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O relógio marcava quase onze horas da noite, ela havia cansado de esperar que Ethan aparecesse então leu um pouco do livro iluminando com seu celular, mas acabou por cair no sono. Pouco depois a porta abriu e Ethan entrou no quarto bagunçando seu próprio cabelo e suspirando.

– Desculpa An, tentei fazer ele ir embora, mas foi difícil – ele não recebeu nada em resposta – Sério que está tão chateada assim?

Ele caminhou até a cama e descobriu a menina, vendo-a dormir calmamente, como se fosse um anjo abraçado no livro. Sem nem mesmo perceber um sorriso surgiu em seus lábios, a pegou no colo colocando sua cabeça deitada no travesseiro e a cobriu.

– Você realmente me surpreende – ele puxou a poltrona que estava no canto do quarto e colocou ao lado da cama sentando nela, suas mãos faziam carinho nos cabelos de Anne, era estranho ter alguém em casa com ele, sua irmã até que ficava perto dele quando estava aqui na França, mas era algo completamente diferente ter ela ali, algo novo.

Perdido em pensamentos acabou adormecendo ali mesmo, sentado e com a mão na cabeça dela. O sol já estava no céu quando sentiu algo por cima de si, ao abrir seus olhos viu Anne arrumando o lençol no seu ombro e logo sorriu.

– Bom dia – o rosto de Anne corou na mesma hora.

– Bom dia – respondeu ela – Como foi ontem?

– Desculpa ter te deixado presa aqui – um singelo sorriso pareceu nos lábios dela como se dissesse “não se preocupe”- Bem... Não consegui tirar nada dele, nenhuma pista, temos que arrumar um jeito de descobrir onde é essa batcaverna dele.

– Batcaverna – ela riu com o comentário – Tudo bem, eu sabia que não ia ser fácil e obrigada pelo livro eu to gostando muito.

– Achei que fosse gostar – ele segurava o lençol se ajeitando.

– Posso te pedir uma coisa? – ela o olhava sem jeito.

– O que você quiser.

– Queria terminar de ler aquele mangá ali, parei no volume sete – ela apontava para a estante com o rosto vermelho.

– Você gosta de mangá? – perguntava ele surpreso.

– Gosto e de vídeo game também – ela passava o dedo pela estante de jogos parando em um título – Chorei muito com o final desse aqui, o soldier não tinha que morrer.

– Concordo com você, é uma história bem triste não acha? Ele morre e a amada dele também, mas em outro jogo – Ethan se levantava parando ao lado dela.

–É... – ela suspirava e ia olhar outros jogos.

– Tem algum aqui que não jogou? – perguntava ele com interesse.

– Tem sim, esse aqui – ela apontava para o último da prateleira.

– Hum... o que acha de um acordo? – ele sorria gentilmente atraindo a atenção dela- Você estuda um módulo por semana e aos finais de semana jogamos juntos, o que acha?

– Fechado! – os olhos dela brilhavam de alegria.

– E quanto aos mangás e livros, pode pegar o que quiser e quando quiser, não precisa bater na porta pra entrar no quarto e pegar.

Ela perdeu a fala e em um momento impulsivo o abraçou com força, era uma forma de agradecimento. Os braços dele a envolveu trazendo-a mais para o abraço e apertando ela mais contra si. Jamais tinha se sentindo daquele jeito, era como se o mundo fosse preto e branco e da noite para o dia tivesse ganhado cor. Quando ela percebeu o que tinha feito separou o abraço o mais rápido que pôde, mas ele a segurou pelo cotovelo.

– Desculpa eu... – ele a interrompeu.

– Não peça desculpas por uma abraço, abraços não são coisas ruins para serem desculpados – ele sorriu de canto deixando-a corada – E eu não me importo se você me abraçar.

– É errado – ela olhava agora para os próprios pés.

– O que é errado? – suas sobrancelhas se juntaram não entendendo o que ela quis dizer.

– Abraçar você ou falar com você dessa forma – ela mexia os dedos dos pés tentando se distrair – Você é um sangue-puro e nos livros diz que os ex-humanos devem obedecê-los e não podem tocar neles.

– Isso é besteira – ele suspirava – Coisa de gente muito velha, eu odeio esse tipo de pensamento mesquinho que o Conselho tem, não se preocupe com isso, me chame pelo nome, não se curve para mim e me abrace e me toque quando quiser, você não é minha serva, é minha amiga.

– Obrigada – ela sussurrava e olhava nos olhos dele – Obrigada por tudo, não sei o que teria acontecido comigo se não fosse você.

– Não tem que me agradecer – ele soltou o cotovelo dela e deu um leve peteleco na testa dela, rindo baixo – Vamos tomar café.

As horas passavam rapidamente para Anne agora, Ethan era seu mais novo professor. Sua curiosidade a corroía por dentro, ele explicou sobre todas as famílias, menos a sua, algo estava muito estranho ali. Entretanto, não ia perguntar, ia descobrir sozinha. O mundo é globalizado não é?! Ela decidiu que procuraria na internet mais tarde. O sol já caia quando Anne suspirou apoiando a cabeça na mesa exausta.

– Tô cansada – ela resmungava com o rosto no livro.

– Por hoje já chega então – ele dava um discreto sorriso enquanto ele empilhava os livros na mesa – Ah, esqueci, isso aqui é seu? – ele retirava do bolso uma pulseira dourada e delicada.

– Minha pulseira! – Anne levantou a cabeça na mesma hora pegando seu pertence – Eu não percebi que tinha perdido.

– Estava na lavanderia – os olhos azuis olhavam fixamente a menina que tentava a todo custo pôr a pulseira, o riso baixo dele chamou a atenção da moça e com toda delicadeza ele pegou a pulseira da mão dela e prendeu no pulso da mesma.

– Obrigada – suas bochechas ficavam em tons vermelhos.

– Escute... Semana que vem tem o baile, acho que você já está preparada para ele, o que acha? Quer ir?

– Você acha que eles não vão me reconhecer? – ela desviava o olhar dele.

– É um baile de máscaras – Ethan pegou uma mecha de cabelo de Anne e enrolou no dedo atraindo mais ainda a tenção dela, fazendo os lilases fixarem nos azuis.

– O cheiro Ethan, vão me reconhecer pelo cheiro.

– Não vão... Não se você seguir meu plano, você confia em mim?

A ligação entre ambos naquele momento era tão forte, que Anne jamais poderia dizer que não confiava, que não queria nada daquilo, mas devia a ele. Devia muito a ele e se tem alguém nesse mundo que ela aprendeu a confiar era ele.

– Claro que confio – os caninos dele apareceram no sorriso deixando-a sem fôlego.

– Então vai dar tudo certo – um brilho de preocupação passou pelos olhos dele e ela conseguiu captar rapidamente – Quer jantar?

– Estou bem, acho que hoje vou deixar passar, só quero dormir.

– Tudo bem – sua mão recuou- Amanhã quero te ver acordada bem cedo, esgrima as 8 da manhã e sem discussão.

– Sim senhor capitão! – Anne brincava levantando da mesa e indo embora até sentir sua mão ser segurada – O que houve?

– Você esqueceu do seu beijo de boa noite – os lábios de Ethan encostaram na pele macia da mão de Anne e durante todo o beijo o rapaz fez questão de manter contato visual, tudo para vê-la ficar vermelha e foi o que conseguiu.

– Boa noite – em um sussurro ela desejou e assim que ele largou sua mão ela correu para seu quarto.

*~*~*~*

Kerberus olhava para o teto branco de seu quarto e contava quantos cristais tinha no seu candelabro de teto, era a quarta vez seguida que fazia isso, tudo para tirá-la da cabeça. Nada fazia sentido para si, nada. Estava péssimo, dentro de si os pensamentos o quebrava em pedaços, seu cérebro dizia que a culpa por Anne ter ido embora fora do irmão. Era culpa dele, sempre a tratando com objeto e alimento.

Desde pequeno ele tinha dificuldades para fazer amigos, sempre vinham na intenção de conseguirem vantagens por ser sangue-puro e ela... Ela foi a única que realmente não ligava para isso, tinha se apegado tanto que confessava sentir ciúmes do irmão quando via ele a mordendo e tomando todo aquele sangue para ele. Pontier deveria ser sua, o sangue dela deveria ser dele e de mais ninguém.

O soco dado na cama foi abafado pelo colchão e travesseiros, estava com raiva de si por pensar essas coisas. Mas queria ela ali com ele, para abraçá-la como sempre fazia nas noites de tempestade, para sentir aqueles fios dourados se emaranhando em seus dedos e ouvir aquela respiração próximo a si.

– Droga – ele sentou na cama colocando a mão no rosto e jogando um travesseiro na parede – Droga! Você não tinha que ir embora! Eu não tinha que ter saído para a reunião naquela noite...

Uma lágrima desceu pelo seu rosto e caiu em seu pulso, aquilo lembrou da pulseira dourada que dera a ela. E junto com a pulseira, prometeu protegê-la, entretanto ele tinha falhado miseravelmente e agora ele não tinha ideia de onde procurá-la.

A lembrança invadiu sua mente como se estivesse vivendo-a aqui e agora.

–-------------------------

Era uma manhã preguiçosa, o sol estava com preguiça, os pássaros estavam com preguiça e somente as nuvens negras tomava conta do céu. Anne estava deitada no sofá lendo algo, mas seus olhos não conseguiram ver, pois assim que o viu, ela fechou e colocou o título para baixo.

– Bom dia – mas se tinha algo naquele dia que não estava preguiçoso era o sorriso radiante que ela havia dado.

– Bom dia, que felicidade é essa? – Kerberus sentou no chão ao lado dela.

– Vai chover, não acha bonito as gotas de chuva? – os olhos lilases brilhavam de satisfação – E o cheiro? É uma delícia.

– Mas não parece que o céu está chorando? – ele olhava confuso.

– E qual o problema em chorar? É sempre bom poder limpar a alma e recomeçar tudo de novo não acha?

– Nunca vi por esse lado – seus olhos azuis se arregalaram pela surpresa.

– Esse óculos é teimoso não acha? – em um movimento gracioso ela empurrou o óculos dele, que estava ameaçando a cair, o colocando no lugar.

– Obrigado – seu sorriso espalhou por todo o rosto deixando-a radiante.

– Acha que terá trovão? – ela o olhava séria, como se ele realmente soubesse o que iria acontecer.

– Eu acho que vai – ele respondia com a mesma seriedade – Vamos deixar essa preocupação para mais tarde, quero te dar algo.

– Me dar algo? – Anne apoiou o rosto em sua mão olhando-o curiosa.

– Um presente – Kerberus tocava a ponta do nariz dela tirando uma risada da mesma, de seu bolso ele retirou uma pulseira dourada com um pingente pequenino e singelo em formato de um sol.

– Que gracinha – Anne olhava admirada para a pulseira e seu pingente

– Gostou? – ele ria e a fazia sentar no sofá, sentando ao lado dela – Me dá o braço.

– Kerberus... Eu agradeço, mas não posso aceitar – ela o olhava cabisbaixa – Não quero que compre coisas caras pra mim.

– Pra mim não foi caro pequenina, só quero te dar um presente – Kerberus colocou a pulseira no pulso dela e beijou a mesma no rosto deixando-a vermelha.

– O-obrigada – seus olhos não sabiam para onde fitar, resolvendo olhar a pulseira.

– É para você sempre lembrar, que mesmo nos dias mais escuros, sempre há uma luz para te ajudar – ele segurava o queixo dela – Ouviu?

– Sim, obrigada – ela sorria envergonhada – É lindo demais.

– De nada – Kerberus a abraçava e sussurrava – Meu raio de sol.

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As lágrimas desciam, elas teimavam, mas ele sabia que estava lavando sua alma, era para seu próprio bem.

– Meu raio de sol, por favor, brilhe e me deixe te encontrar.


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Notas finais do capítulo

Olá meu lindos e lindas! Aí está mais um capítulo hehe
Acho que vocês não contavam com os sentimentos do Kerberus né? E acho que exagerei no tamanho desse capítulo, mas quando vi já tinha ido e_e
Vejo vocês pela semana, com esse hiper feriado acho que vai sair um outro capítulo *festeja*
Bye bye :3