O rio de flores brancas (A viagem de chihiro) escrita por Spring001


Capítulo 8
Cidade Infinita




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Harumi começou a andar para perto de algumas casas que haviam ali, aquele lugar era diferente do que havia ao outro lado do rio, não haviam só espíritos ali, mas pessoas como ela e Harumi, algumas delas tinham marcas diferentes e usavam roupas estranhas, mas as estranhas ali, pelo jeito, pareciam ser elas. Chihiro com medo dos espíritos e das tais pessoas que tanto olhavam para ela, a garota se agarrou em Harumi que andava rapidamente no meio daquele lugar.

Chihiro se lembrava que quando estava na casa de banhos, Lin tinha comentado com ela que gostaria de conhecer aquela cidade, pensava se cinco anos depois ela teria conseguido aquilo, Yubaba não gostava de desfazer contratos, para convencê-la a deixar “Sen” partir levara uma eternidade, imaginava Lin, que já trabalhava ali há anos. O lugar era bonito, lembrava um Matsuri, mas devia ser assim o tempo todo ali, era como um mercado a céu aberto, percebeu que no caminho haviam casas que não eram comércio, tantas perguntas lhe vinham a mente.

— Onde vamos? – Ela gritou para Harumi.

— Tenho que encontrar alguém que pode nos ajudar – Ela falou, mas não parecia muito feliz com aquilo.

Vendo que a feiticeira parecia realmente tensa ela ficou em silêncio e passou a observar tudo a sua volta, o lugar era realmente muito bonito, parecia uma cidade de filmes onde tudo era iluminado por luminárias antigas, eram parecidas com lamparinas, mas as luzes que tinham ali não eram elétricas, mas também não eram de fogo.

— São mágicas – a garota pensou alto, Harumi ouviu e sorriu com a frase.

— São! – Ela exclamou continuando seu caminho – É uma bolinha de luz, muito comum para feiticeiros, é melhor do que fogo.

Ambas riram um pouco e continuaram o caminho. Elas entravam em pequenas ruazinhas e se aprofundavam na cidade cada vez mais, Chihiro foi percebendo que a cidade era grande demais para o que parecia, estavam andando há muito tempo e ela não deixava de ver apenas algumas casas, como ela via quando estava na casa dos banhos, agora a cidade parecia ainda maior que o lugar que morava. Elas não estavam dando voltas, cada casa era diferente, cada barra atrativa, cada restaurante, mesmo tendo entrado em três ruas, não fazia sentido que pareciam ter andado tanto. A cidade parecia infinita.

— Harumi? – Chihiro disse e viu que a garota estava ouvindo – Como a cidade pode ser tão grande?

— Ela é cheia de portais – A garota respondeu – Eles vão te levando para outros lugares dentro da cidade, até mesmo no subterrâneo, por isos parece que andamos tanto, ilusão. Mas, já estamos chegando.

Elas andaram mais algumas ruas, quando Harumi parou estavam meio sem fôlego, estavam em uma rua quase deserta e bem estreita, havia um espírito encostado na parede e para surpresa de Chihiro, um sapo fumando na porta do que parecia ser um restaurante, ela leu a placa e confirmou a suspeita, era algo com um nome parecido a comida alegre, não sabia dizer muito bem. A placa estava em inglês. Harumi andou naquela direção e pediu que Chihiro a acompanhasse, sem hesitar ela foi e a guardiã a surpreendeu ao entrar no restaurante.

Na porta do recinto ela hesitou, mas viu entre as miçangas que cobriam a porta que Harumi já falava com alguém de lá e entrou para ficar próxima a guardiã.

— Hiroshi! – Ela gritou de repente – Preciso da sua ajuda!

— Você quer que eu te ajude – Um homem estranho que estava atrás dela falou – Mas, trás uma humana aqui e ainda vem sem nenhum tipo de poder, sendo quase humana?

— Pensei que você pudesse me ajudar a converter a situação...- Ela falou parecendo meio desapontada e zangada ao mesmo tempo.

O homem com quem ela conversava ficava a todo tempo atrás de um balcão do restaurante, parecia ser o cozinheiro, na verdade havia umas cinco pessoas no restaurante, mas o lugar era tão pequeno que parecia estar lotado. Era uma coisa bem típica, tinha uma comida extremamente incrementada e cheirava muito bem, não melhor que a dos deuses que seus pais haviam comido na primeira vez, mas era bem gostoso.

— Eu só preciso chegar até Kamaji! – Harumi dizia – Sem que Yubaba me encontre.

— Fale com a Lin! – Disse o tal do Hiroshi – Ela sabe o caminho.

Harumi, fez mais algumas perguntas só que Chihiro não escutava mais, uma garota apareceu dos fundos do restaurante e ela a conhecia, Lin. Elas ficaram apenas se olhando por algum tempo. Lin estava diferente, seu cabelo estava curto, tocando nos ombros, não usava as roupas da casa de banho e sim o uniforme das meninas que trabalhavam naquele lugar, era algo como uma saia e uma camisa social comum dos humanos, mas um pouco adaptado. Lin olhou com tanta atenção para Chihiro que a garota achou que ela fosse ter um ataque.

— CHIHIRO?! – Lin gritou surpresa, e ela ficou ainda mais surpresa, o nome que citaram era o dela e não de Sen.

***

Depois de um longo abraço e algumas lágrimas, os ânimos se acalmaram. Lin as levou para o fundo da loja e enquanto fazia um chá contou o que aconteceu após a ida de Chihiro. Ela tinha saído da casa de banho no mesmo momento que seu contrato acabou.

Quando isso aconteceu ela se lembrou de seu nome, Yukiko. Juntou todo o dinheiro que tinha ganhado e veio para a cidade, mas continuou usando Lin como o nome, para que não pudesse ser roubada de novo. Ela arrumou uma casa e agora guardava dinheiro para sair do restaurante, disse que só tinha conseguido voltar a trabalhar porque teve a certeza que poderia sair quando quisesse.

Harumi pareceu cautelosa ao olhar e um pouco questionadora, mas em primeiro momento não perguntou nada a nenhuma das duas. Apenas se sentou e esperou que Lin e Chihiro se cumprimentassem e em seguida Lin começou a preparar um chá. 

— O que veio fazer aqui? – Lin perguntou enquanto entregava uma xícara de chá à Chihiro e outra a Harumi que parecia estar nervosa, fora de seu habitual.

— Eu encontrei Harumi e a levei para o mundo humano agora retornei para ajudá-la – Chihiro respondeu sendo o mais sincera possível, Lin sequer mencionou Haku o que foi uma grande ajuda.

 — Lin, preciso que me leve até Kamaji – Harumi falou de repente. Instantaneamente Lin ficou assustada e depois revirou os olhos.

— Enlouqueceu? – ela respondeu - Não posso voltar para lá.

— Mas pode nos dar o caminho! – Harumi insistiu. Lin a olhou torto e franziu as sobrancelhas em negação.

— LIN! – Harumi gritou – Não posso ficar aqui! Hiroyuki vai chegar a qualquer momento e ele não pode me ver! Eu não consigo nada sem o Kamaji!

Lin suspirou profundamente e lançou um olhar cortante à Harumi, que respondeu ainda mais afiada, apesar da curta briga de olhares Lin revirou os olhos e começou a procurar alguma coisa. Entregou a Harumi um pergaminho dobrado que tinha um tipo de tubo dentro.

— A que horas sai? – Harumi perguntou.

— Daqui 15 minutos – Lin respondeu – Tem que correr.

Harumi deu um abraço em Lin e rapidamente a soltou.

— Boa sorte! – Lin falou – E Chihiro...

A garota levantou a cabeça para Lin.

— Cuide dela – ela continuou – E cuidado você também.

— Vamos Chihiro! – Harumi gritou – Lin! Obrigada, voltamos logo!

— Até – Lin respondeu – Vai!

Chihiro correu atrás de Harumi, esta já estava na porta de saída do restaurante, só parou ali para esperar Chihiro, então foram juntas em um passo apertado para o caminho contrário ao que tinham vindo.

— Quem é Hiroyuki? Por que precisa falar com Kamaji? Por que Yubaba não pode te ver? Para onde estamos indo?! – Chihiro a lotou de perguntas.

— Silêncio! – Gritou Harumi, assustando o espírito que estava ali – Chega de perguntas! Eu as responderei, todas, eu juro, mas agora fique quieta e me siga!

Ela simplesmente continuou andando e em algum momento entrou em uma das casas abandonadas que estava lá, Chihiro foi finalmente capaz de notar os portais, pois daquele buraco que era a casa elas conseguiram voltar a rua principal da cidade, onde estava a construção vermelha e o porto que dava para os barcos.

Harumi foi nessa direção.

— Pegaremos um barco? – Chihiro perguntou, Harumi apenas sacudiu a cabeça assentindo. Sem falar nada entregou o tubo que estava no meio do pergaminho ao homem que olhava as passagens do barco, ele autorizou a entrada e assim fomos.

— Chihiro, esse barco é cheio de espíritos e deuses – Harumi a alertou – Não saia do meu lado se não quiser encrenca, ok?

— Entendi.

— Ainda está com o feitiço que eu te dei?

— Sim!

— Ótimo – ela falou – Eles não podem te ver, vamos.

Se afastaram e se mantiveram paradas em um canto do barco, tentando não ser tocadas, os deuses ainda assustavam Chihiro, parecia não haver espírito algum dentro do barco, Chihiro só os viu quando o barco começou a andar, as margens não eram muito afastadas, mas o barco era extremamente devagar e isso deixava a viagem mais tensa. Os espíritos que ela viu, estavam na água. A viagem estava sendo tranquila até um deus enorme, que se assemelhava a um nabo passar perto das garotas e um grito surgir.

— CHIHIRO! – gritou Harumi.

Foi a última coisa que ela escutou, enquanto estava sendo puxada para debaixo da água, ela não enxergava nada além de uma luz muito forte e borrada acima de seus olhos, sentia as mãos dos espíritos nela, mas não os via, a água era tão escura quanto eles. De repente ela piscou e tudo ficou muito claro. O céu era extremamente azul, era um lugar com a grama verde, parecia brilhar como esmeraldas, havia flores e um rio. O rio era cheio de lírios brancos, parecia outro mundo, aquela paisagem fez com que a garota sorrisse e se acalma-se, jogou a cabeça para traz, fechou os olhos, abriu os braços, começou a girar. Sentia-se um pássaro. E de repente, ouviu alguém a chamar.

— Chihiro! – Era uma voz masculina – Chihiro! Ela se virou, era ele, Haku. Estava exatamente igual ao que era antes, decidiu correr para ele, e o fez, na verdade, tentou. Suas pernas se mexiam, mas ela não saia do lugar. Pouco a pouco a voz de Haku foi ficando mais longe e mais longe e outra voz surgiu. Feminina, suave, mas extremamente preocupada. Gritava.

— CHIHIRO! CHIHIRO!

Chihiro abriu os olhos e estava embaixo da água, por impulso a garota respirou e sentiu os seus pulmões serem tomados pela água e o pânico tomou seu corpo. Os espíritos a haviam libertado, mas não a água, tudo ficou preto novamente e tinha acabado as esperanças até que algo segurou seu pulso. Memórias surgiram, um dragão prateado, um rio, seu sapato, Haku!

Tossiu toda a água que podia.

— Chihiro! – perguntou Harumi que estava ao seu lado, encharcada como ela e tossindo um pouco também – Chihiro! Você está...bem?

A garota tossiu mais um pouco, mas conseguiu sacudir a cabeça afirmando. Harumi se levantou, encostou as mãos nas costas de Chihiro e essa sentiu um grande alívio, toda a água estava saindo de seu pulmão e finalmente conseguiu respirar normalmente.

— O que foi isso? – Ela conseguiu perguntar, um pouco ofegante.

— Sombras! – Harumi falou se sentando ao lado dela, estavam na superfície, do lado do rio que ficava a casa de banho – São espíritos ruins, tem sorte de estar viva...

— Obrigada pela ajuda – Chihiro falou.

— Não precisa agradecer – Harumi disse sorrindo para ela – Consegue andar? Temos que achar o Kamaji...

“Kamaji” pensou Chihiro, viu que Harumi tinha estendido a mão para ajudá-la a levantar, segurou e ambas começaram a subir as escadas que dariam na casa de banho. Ela não recordava o quão longo era.

— As sombras não são como estes que ficam no restaurante? – Chihiro perguntou.

— Não – Ela falou – Eles são protetores, “seres agradantes”, as diferentes funções fazem com que eles exerçam diferentes reações. As sombras são espíritos perdidos, fazem de tudo para que ninguém ultrapasse para o mundo dos deuses até mesmo matar. Mas os agrandantes não são bons em tudo, eles fazem de tudo para agradar aos deuses, mesmo transformar pessoas em animais, para cozinhar mais tarde.

— Entendi... - Disse Chihiro se lembrando dos pais.

Elas andaram por um longo tempo até chegarem na ponte que dava entrada a Casa de Banho, Chihiro olhou aquele lugar e num piscar de olhos, tudo o que tinha vivido ali voltou, um arrepio desagradável tomou conta de seu corpo, mas ao mesmo tempo sentiu um incomum aconchego.

— Ainda estou invisível? – perguntou Chihiro a Harumi.

— Sim – Ela respondeu – Enquanto ficar com isso, estará invisível.

Chihiro apenas sacudiu a cabeça e seguiu Harumi pela ponte, lembrou-se de como foi atravessá-la com Haku e a lembrança, na hora, lhe fez sorrir.

Haku era mais acolhedor pra ela, no entanto, ela sabia que isso se dava por ele a conhecer desde criança e não podia negar que ambos tinham um sentimento muito forte um pelo outro, quanto a Harumi, mal se conheciam e ela parecia muito mais determinada a seja lá o que estivesse fazendo.

A garota sacudiu a cabeça e se apressou para ficar próxima a feiticeira. Atravessaram a ponte sem problemas, desceram as escadas devagar e pararam em frente a porta de trás da casa de banhos. O coração de Chihiro apertou.


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