O rio de flores brancas (A viagem de chihiro) escrita por Spring001


Capítulo 11
O dragão branco e prata




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— Antes de começarmos o treinamento tem algo que precisa saber – Harumi falava com um tom mais severo que o comum, fazendo com que Chihiro estivesse concentrada completamente nela e estar em absoluto silêncio – Como você não é um ser mágico eu posso lhe ensinar magia simples, tem muito o que aprender, mas você verá que não fará tudo que os feiticeiros fazem.

— Entendo...– Chihiro perguntou.

— Perfeito – Ela respondeu enquanto desenhava alguma coisa no chão.

As garotas estavam sentadas em um círculo de pedra que havia no meio do riacho que se encontrava pouco após a entrada do mundo dos espíritos, Chihiro parou para pensar minimamente antes de aceitar a proposta de aprender magia, sabia que poderia ser útil apesar da dificuldade e quando Harumi disse que era a única vez que perguntaria aquilo, ela aceitou prontamente. Então desceram o caminho dos restaurantes até o rio para que ela obtivesse sua primeira lição, mas até então, estavam apenas paradas, não que fizesse muito tempo que estavam ali, mas para Chihiro, se assemelhava a uma eternidade.

Ela olhou em volta, sentia o vento tocar-lhe o rosto deliciosamente, e o aroma de água misturado a terra, tão bom quanto a paz que havia naquele lugar, ouvia hora ou outra o som distante do trem que passava nos trilhos tão próximos dali, havia tantas perguntas, e sentia como se pudesse fazer todas, mas não sabia se haveria resposta. Decidiu arriscar.

— Harumi? – Chihiro chamou bem mansa.

— Sim? – Falou a feiticeira que estava bem atenta a algo em sua mão.

— Posso fazer algumas perguntas?

Harumi parou instantaneamente o que fazia e olhou para a garota.

— Você tem direito a duas perguntas por enquanto, se fizer corretamente a tarefa que eu lhe der agora, poderá fazer mais uma.

— Entendi.

— Então diga.

— Por que o rio enche a noite? – Falou bem suavemente.

Ela elevou o olhar para Chihiro, e arqueou as sobrancelhas, parecia confusa e não parecia muito certa em dar a resposta.

— Acho que algum deus deve fazer isso – Falou finalmente.

Chihiro franziu as sobrancelhas e coçou a cabeça.

— Você não sabe? – Falou.

— Não – concluiu Harumi – Eu não sou deste mundo, não sei tudo sobre ele, sei o necessário.

— Entendo... - A garota disse finalizando a conversa.

— Chihiro – Harumi a chamou, ela por sua vez elevou os olhos para a feiticeira, que agora olhava distante para o prédio vermelho de onde haviam vindo anteriormente – As coisas que posso lhe ensinar, ou seja, que você pode saber, devem ser utilizadas em emergências, e lembre-se que elas não provavelmente não vão funcionar no mundo humano.

Ela assentiu e começou a ouvir Harumi, ela explicou como fazer o feitiço que utilizaram na noite que chegaram, era mais difícil do que parecia, as palavras que ela utilizava enquanto fazia o feitiço giravam na cabeça de Chihiro, mas depois de um tempo ela compreendeu.

— Palavras são mais importantes do que parecem – Harumi explicou enquanto Chihiro a observava – Pode parecer que nada está acontecendo enquanto eu junto essas peças e falo um dialeto incomum, mas quando se termina – Harumi deu um quarto nó na corda que terminava com o objeto enfeitiçado e nessa hora um tipo de bola de vento capturou o objeto e girou em torno dele, era o selo do feitiço – a mágica acontece.

O feitiço se tratava de um pedaço de bambu, uma pétala de flor e um tipo de corda. Harumi explicou com cuidado que a junção daqueles elementos os fazia vibrar e juntos eles eram capazes de tornar invisível quem o carregasse, isso sempre junto com as palavras corretas. Eram as palavras que energizavam os elementos a ponto de os tornar mágicos.

Para alguém como Chihiro, humano, era fascinante e ao mesmo tempo assustador essa capacidade dos objetos e das palavras. Isso bateu com força na mente de Chihiro e ela sem querer atirou uma pergunta:

— Por que Yubaba rouba nomes?

Harumi olhou para a garota com a sobrancelha franzida e depois de alguns instantes ela respondeu tirando o olhar dela.

— O nome é a sua identidade, e todos tem um significado, podem existir nomes iguais, mas não há pessoas iguais, e seu nome mostra essa diferença nesse mundo. Quando roubado, aquele que a roubou toma a pessoa como dela.

Fora isso que acontecera com Kohaku, pensou Chihiro, em sua mente um batalhão de pensamentos tentava compreender por que todos lembravam dela como Chihiro e não como Sen, mas no momento o mais importante era entender o que Harumi a ensinava. Tomou o pensamento de que era bom aprender magia, se precisasse enfrentar alguém, mesmo que Harumi, alguma proteção ela teria e estando invisível poderia fugir se necessário, mas tudo era muito complicado.

— Difícil? – perguntou a feiticeira.

— De lembrar – respondeu Chihiro – como consegue decorar tantos nomes?

— Para mim é mais fácil – Ela falou olhando para Chihiro – Mas, para você, tem um pequeno truque.

Harumi aproximou uma mão do rosto de Chihiro e encostou o dedo indicador em sua testa, então disse:

— Pelos poderes do vento e da água que há em ti, lembre-te do que aprender e de tudo aquilo que não quer esquecer.

As primeiras palavras, atordoaram a garota, Haku as dissera quando encontrou Chihiro desaparecendo, sentada na noite que chegou aquele mundo. Ele dera uma frutinha para comer e com aquelas palavras desatara suas pernas, ela tinha alguma relação com Haku e a hora de perguntar era aquela.

— Harumi, você conheceu Haku? O aprendiz de Yubaba...

— Não – Harumi disse – Não sei quem ele é, mas preciso encontrá-lo, ele sabe onde meu irmão está...eu preciso dele para encontrá-lo...

— O que houve com ele? – Perguntou Chihiro.

— Ele sumiu, uma noite, e nunca mais voltou – Ela disse olhando para o horizonte – No nosso mundo o filho mais velho da geração familiar aprende magia com os magos protetores daquele mundo, mas o filho mais novo não, ele tem que buscar seu destino para aprender magia, se quiser, e meu irmão não concordava com isso, então fugiu.

Chihiro olhou para a feiticeira, pensativa, ainda tinha dúvidas e precisava saná-las.

— E porque Haku poderia saber onde ele está?

— Eu não acho que ele saiba onde ele está – Ela falou – Eu acho que ele está com o contrato dele, sem o contrato, meu irmão perdeu o nome e por isso não falo o nome dele, não me lembro e Haku pode saber, mas ele não me pareceu muito compreensivo...

— Então você já o viu? – Chihiro perguntou, e a outra fez menção de responder, no entanto, uma mulher a chamou de longe.

— HARUMI! – Disse uma das empregadas de Zeniba – Kamaji está te chamando.

— Já vou! – Ela respondeu e depois voltou a atenção a Chihiro – Depois eu continuo, lembra-se do feitiço?

— Sim – Chihiro se deu conta de que lembrava todas as palavras e movimentos que ela fez para preparar o feitiço e isso a espantou um pouco, mas também a alegrou – Incrível!

Harumi sorriu e foram juntas em direção a Kamaji.

***

— Como as conseguiu tão rápido? – Harumi perguntou enquanto segurava as passagens de trem.

— Não fui eu... – Ele respondeu.

Harumi olhou para Kamaji com a sobrancelha franzida e depois olhou as passagens novamente.

— Quem conseguiu isso? – Ela disse.

— Hiroyuki – Ele respondeu baixinho.

Harumi reclamou com Kamaji, Chihiro a ouviu falando sobre como era importante que Hiroyuki, seja lá quem fosse, não soubesse que ela estava ali, ela fez menção de devolver as passagens, mas respirou e ouviu Kamaji dizer que se o fizesse teria de ir a ilha andando. Enquanto isso Chihiro observava a porta para o lado de fora da casa de banho.

— Está chovendo! – Chihiro falou.

— O que? – Disseram Kamaji e Harumi ao mesmo tempo.

 Os três olharam pela porta da sala das caldeiras, Harumi no entanto saiu da sala e ficou olhando para a linha do trem, que agora estava começando a inundar. Chihiro foi atrás e viu que ela estava observando uma sombra, lembrava o Sem-rosto, mas não era. Era um ser mais assustador.

A figura deu arrepios em Chihiro e parecia ter feito a respiração de Harumi ficar ofegante, então ela começou a descer o resto das escadas, com Chihiro atrás, foi andando em direção a sombra.

Era mais escura que um espírito e não tinha a máscara do Sem-rosto, tinha forma humana, mas parecia estar derretendo. Não tinha frente e trás, não tinha olhos, boca, nariz, rosto. Era mais escuro que a própria escuridão e estava olhava para elas, as observando mesmo que sem olhos. Até que começou a se arrastar, muito rápido na direção delas.

— Kamaji – Disse Harumi, ele a observou também apavorado – Vá para dentro e se tranque.

Ele imediatamente se fechou atrás delas enquanto a criatura se aproximava cada vez mais rápido.

— Chihiro... – Harumi a chamou aflita. Chihiro levantou o olhar para a garota, que estava com a mão empunhada. - Quando eu contar até três Você segura na minha cintura, entendeu?

Chihiro assentiu e se manteve preparada para fazer.

— Um... – Ela contou enquanto fechava a mão cada vez mais forte. Chihiro observou que a sombra meio que tirava a forma de mão que tinha do seu bolso.

— Dois...- Ela estava elevando a mão, a voz era ainda mais tensa. Enquanto a sombra estalava os dedos...

— TRÊS! – Ela gritou enquanto jogava uma esfera de luz na sombra.

Ao fundo Chihiro escutou um grito colossal e amedrontador, então segurou firme na cintura da feiticeira, depois disso sentiu seus pés saírem do chão, antes de olhar para Harumi olhou para trás a massa negra as seguia na mesma velocidade, só que com um buraco no lugar que deveria ser o estômago, Harumi havia usado o que estava sobrando de seus poderes. A massa queria alcançá-las e engoli-las, mas Harumi estava cada vez mais rápida.

Sem entender o motivo da velocidade Chihiro se virou para perguntar a Harumi o que estava acontecendo e quando se virou notou que estava em cima de um dragão. Suas escamas eram prateadas e a crista e a cauda brancas. Finalmente conseguiu ligar os pontos, Harumi era o dragão que brigava com Haku quando Chihiro a encontrou e Haku era o dragão que a mordera, não ela e sim sua forma de dragão.

Devido ao susto e ao choque Chihiro segurou com firmeza nela, enquanto isso Harumi se virou para as sombras e novamente atirou uma esfera de luz, igual à que saíra de sua mão há alguns momentos. Essa esfera fazia buracos nas sombras, mas não as deixava mais lentas. A chuva apertara e Chihiro não conseguia enxergar muito bem, mas conseguiu ver as sombras segurando a calda de Harumi e um urro muito forte do dragão, em seguida Harumi começou a cair.

— HARUMI! – gritou Chihiro, a reação do dragão foi olhar para baixo e acelerar a queda.

Elas caíram em alta velocidade e as sombras continuavam atrás, a sorte delas foi que o mar que já havia se formado e elas estavam caindo na água, próximas de encostar o chão, Harumi puxou Chihiro para cima, impedindo que a garota batesse com tudo na água, tomando o impacto todo em sua forma de dragão. No momento que encostaram na água, a forma humana de Harumi volto e ela se segurou com Chihiro embaixo da água, que era intocável para as sombras. Elas esperaram um bom tempo para sair, obviamente Harumi estava usando magia, pois as sombras demoraram para partir e quando as foram para a superfície do mar formado pela chuva, ainda estavam com fôlego

Elas nadaram sem rumo para a direção que parecia ser a do trem, e quando avistaram o pequeno pedaço de cimento que formava uma estação se entreolharam quase que aliviadas, então começaram a nadar para a borda. Chihiro conseguiu ver a placa ao se aproximar, estava escrito: “Terceira parada”.

Ainda era muito distante de Zeniba, mas talvez conseguissem andar, pensou Chihiro, quando fez menção de perguntar a Harumi ela desmaiou. Chihiro desesperadamente a puxou para fora da água, olhando antes para garantir que não havia mais sombras e esperou por algum sinal de vida, enquanto pensava e repensava no que tinha descoberto e no que havia acontecido.


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