La moitié...#Emison escrita por Zangada Bond


Capítulo 2
Recomeço.


Notas iniciais do capítulo

Pra quem não entendeu muito bem, a fanfic é narrada pela Emily, quando for pela Alison,eu informarei. Espero que curtam e comentem o que acharam.



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Em meio ao choque de minha solteirice repentina, minha melhor amiga, Spencer, e nossos amigos em comum, Aria e Luiz, aparecem e fazem a pergunta dos verdadeiramente ridículos:

— Vamos todos sair e ficar bem bêbados?

Paige não se abstinha em relação a eles: sempre viu meus amigos como meus amigos. E costumava dizer que Aria e Luiz “falam como duas apresentadoras de programa infantil”.

— É contra intuitivo — ele sempre reclama. — Por que um homem cercado por mulheres tem que ser homossexual? Hugh Hefner, o dono da Playboy, não recebe esse tipo de tratamento. Com certeza, eu deveria usar pijama e chinelos o dia todo.

Mas, voltando ao assunto, como não estou pronta para encarar os bares, decido que podemos passar a noite bebendo em ambiente doméstico, invariavelmente mais letal.

A casa de Spencer, em Chorlton, é sempre o lugar onde nos encontramos, já que, ao contrário de nós, ela é casada, e tem uma maravilha de casa,não de marido, sem desrespeitar o Toby. Ele saiu para um de seus frequentes fins de semana de golfe com os amigos.

Spencer trabalha, e ganha muito bem, como contadora de uma grande rede de supermercados, e é uma adulta normal, mas sempre foi. Na faculdade, ela vestia coletes e fazia parte do clube de remo. Quando eu expressava minha surpresa às pessoas, dizendo que minha amiga conseguia acordar cedo e se exercitar depois de uma noite de muita bebedeira, Luiz dizia, meio grogue: “É uma coisa chique. Ela precisa sair e conquistar coisas”.

Ele podia até estar meio certo sobre a ascendência de Spencer. Ela é alta, morena, o perfil aquilino. Costuma dizer que parece uma comedora de formigas.

Minha tarefa em nosso encontro se resume a fatiar os limões e passar sal na borda dos copos no balcão preto e impecável de Spencer, enquanto ela bate gelo, tequila em um mixer vermelho. Entre os barulhos ensurdecedores, de seu berço esplêndido no sofá, Aria nos brinda em celebração.

A diferença entre 30 e 31 anos equivale à diferença entre um velório e o processo de luto.

Spencer começa a servir a mistura de margarita com uma colher.

— Fazer 30 anos é como um velório? – Pergunta Spencer a Aria

— O velório de sua juventude. Muita bebida, solidariedade, atenção e flores, e você encontra todo mundo que conhece.

— E por um momento ficamos com receio de a comparação não ter graça — diz Luiz, empurrando os óculos pela ponta do nariz. Ele está sentado no chão, pernas esticadas, um braço esticado na mesma direção, apontando um controle remoto para algo em forma de losango que parece um aparelho de som. — Você tem Lady Gaga aqui mesmo, Spencer, ou só tem piada de mau gosto?

— Trinta e um é como o luto — Aria continua. — Porque seguir em frente é muito pior, mas ninguém mais espera que você vá ficar reclamando.

— Ah, nós esperamos que você reclame, Aria — digo, passando a ela um copo raso que mais parece um pires com cabo.

— As revistas de moda fazem com que eu me sinta tão velha e irrelevante, como se apenas me interessasse em comprar fralda geriátrica. Posso comer isto? — Aria tira a fatia de limão da lateral de seu copo e a observa.

De modo geral, ela é uma mistura surpreendente de extrema aptidão e estupidez completa.

Aria fez faculdade de Administração e insistiu, ao longo do curso, que era totalmente inútil na área e que com certeza não levaria adiante os negócios da família, que vendia tecidos em Rosewood. Então, quando ela teve a primeira oportunidade, assumiu os negócios por um verão, criou mala-direta e vendas on-line, quadruplicou os lucros e aceitou, a contragosto, que talvez tivesse um certo jeito no ramo e fizesse carreira.

— Limão? Er... normalmente não se come — respondo.

— Ah, pensei que você o tivesse embebido em alguma coisa.

Pego outro copo e o entrego a Luiz, e, então, Spencer e eu levamos nossos ossos para o sofá.

— Saúde! — digo. — Ao meu noivado desfeito e ao futuro sem amor.

— Ao seu futuro — Spencer comemora.

Nós levantamos os copos, bebemos e fazemos uma careta: a tequila está tão forte que deixa meus lábios dormentes e o estômago quente.

Solteira. Faz muito tempo que essa palavra não se aplica a mim e ainda não me sinto nessa condição. Sou outra coisa, e estou no limbo: andando com cuidado na minha própria casa, dormindo no quarto de hóspedes, evitando minha ex noiva e sua decepção furiosa e ardente. Ela tem razão: é o que desejo e, portanto, meus motivos para estar triste são bem menos fortes que os dela.

— Como está sendo vocês duas morando juntas? — pergunta Spencer, com cuidado, como se conseguisse me escutar pensando.

— Ainda não estamos nos matando. Tentamos nos manter afastadas uma da outra. Mas preciso procurar uma casa. Estou inventando desculpas todas as noites para não fazê-lo.

— Como sua mãe recebeu a notícia? — Aria morde o lábio.

Aria sabe que, como uma das duas madrinhas convocadas, ela era a única pessoa, além de minha mãe, que se sentia muito animada com o casamento.

— Não muito bem — respondo, praticando minha capacidade de aliviar as coisas. - Foi terrível. O telefonema aconteceu em fases. A parte do “pare de piada”. A parte do “você está com medo, é normal”. A parte da sugestão do “espere algumas semanas, veja como se sente”. Raiva, negação, tentativa de acordo e então — espero — um tipo de aceitação. Meu pai pegou o telefone e me perguntou se o rompimento era pelos custos, afirmando que eles pagariam tudo se fosse preciso. Foi aí que eu chorei.

— Espero que você não se importe por eu estar perguntando, é só que você nunca contou... —Aria diz. — O que fez você e Paige terminarem?

— Ah... — eu começo. — Foi Elvis.

Uma pausa. Ridícula nossa situação aqui. Como o fim de meu relacionamento super longo aconteceu há apenas uma semana, ninguém sabe bem como se comportar. É como quando acontece uma baita tragédia: qual o momento adequado para começar a fazer piada?

— Você transou com Elvis? — Luiz pergunta. — Como foi ser cutucada pelo Rei?

— Luiz! — Aria grita.

Eu dou risada.

— Ooooh! — Spencer exclama repentinamente, de um modo muito diferente do normal.

— Foi de comum acordo? — Aria pergunta.

— Eu me esqueci de dizer. Adivinhem quem eu vi esta semana. – Dispara Spencer.

Tento pensar em um famoso de quem gosto. A menos que seja alguém sobre o qual já escrevi, ainda que passe o dia todo analisando pessoas que só são celebridades pelos motivos errados. Duvido que um tarado provocaria essa alegria.

Nelson Rubens ou Leão Lobo? — Aria pergunta. São as duas fontes de pessoas famosas na cidade, é verdade.

Nenhum dos dois — Spencer diz. — E é uma pergunta para Emily.

Balanço os ombros, mastigando um pouco de gelo com os dentes do fundo.

— Hum......Maya ?

— Não.

— Mona?

— Não.

— Meu pai?

— Por que eu encontraria seu pai?

— Ele poderia ter vindo de Rosewood, mantendo um caso extraconjugal.

— E, nesse caso, eu contaria a coisa toda no meio de uma brincadeira?

— Certo. Eu desisto.

Spencer se recosta com um olhar triunfante.

— Ali, da faculdade.

Sinto frio e calor ao mesmo tempo, como se de repente estivesse com gripe. Uma leve náusea acompanha a mudança de temperatura. Sim, com analogia e tudo.

Luiz se vira e olha Spencer.

— Ali da faculdade? Que tipo de apelido é esse?

— Alguma relação com a ‘Big A’? — Aria pergunta.

— Ali da faculdade — Spencer repete. — A Emily sabe de quem estou falando.

Eu me sinto como Alec Guinness em Guerra nas Estrelas, quando Luke Sky Walker aparece e começa a perguntar sobre Obi Wan Kenobi. É um nome que não escuto há muito, muito tempo...

— Onde ela estava? — pergunto.

— Entrando na Biblioteca Central.

— O que acham de contar ao “Luiz de duas pernas” de quem vocês estão falando? — Luiz pergunta.

— Eu queria entender — Aria diz, e Luiz parece prestes a lhe explicar algo, mas muda de ideia.

— Ela era uma amiga da faculdade, vocês se lembram? — pergunto, cobrindo a boca com o copo para o caso de meu rosto estar demonstrando mais do que quero. — Do meu curso. Por isso ela é a Ali da faculdade ou ‘Big A’.

— Se ela era amiga sua, por que a Spencer está toda... alegrinha? — Aria pergunta.

— A Spencer tinha uma ‘certa’ admiração por ela — explico, feliz por ser verdade, nada mais do que a verdade, juro por Deus.

— Ah.... — Aria me lança um olhar. — Você não podia ser a fim dela, porque o seu gosto e o da Spencer em relação a essas coisas nunca combinaram.

Tive vontade de beijar a Aria por dizer aquilo.

— Verdade — concordo de modo enfático.

— Ela continua bonita — Spencer diz, e meu estômago começa a revirar como um crustáceo vivo a caminho da panela na cozinha de um restaurante de frutos do mar. — Ela era bonita, toda bem vestida, seguindo a moda.

— Bonita? Aquela mulher é fascinante — Luiz diz. — Que presença. Quero conhecê-la melhor. Ah, não, esperem... não quero.

— Você e ela já...? — Aria pergunta a Spencer. — Estou tentando localizá-la na minha mente...

— Meu Deus, não. Eu não era suficientemente charmosa para ela, e acho que nenhuma de nós, não é, Em? Ela era meio galinha. Mas lidava bem com isso.

— Sim — concordo.

— Esperem! Eu me lembro da Ali! Toda saidinha, esperta e confiante? — Aria pergunta.

— Nós achávamos que ela era rica, e aí foi tipo, não... ela só tem bom gosto. — Ela olha Luiz, que morde a isca.

— Ah, eu me lembro vagamente.... — Luiz levanta a gola da camisa.

— Ela não era assim! — começo a rir com nervosismo.

— Você perdeu totalmente o contato com a Ali? — Spencer pergunta. — Não são amigas de Facebook nem nada?

Cortei contato com ela. Quebrei ao meio, como se rompe uma faixa no fim de uma corrida.

— Não, quer dizer, sim. Não vejo a Ali desde a faculdade.

E as minhas 781 pesquisas no Google não deram resultado.

— Eu a vi na biblioteca algumas vezes, mas só agora caiu a ficha e eu percebi por que a reconheci. Ela deve estar em Manchester. Quer que eu diga ‘oi’ se a vir de novo? Quer que lhe passe seu celular?

— Não! — exclamo, com um leve toque de pânico na voz. Então sinto que preciso explicar minha reação e digo: — Vai parecer que estou atrás dela.

— Se vocês só eram amigas, por que ela pensaria isso? — Spencer pergunta, e com razão.

— Estou solteira depois de tanto tempo. Não sei, poderia ser mal interpretada. E não estou querendo... Não quero que pareça algo do tipo aqui está a minha amiga solteira que quer espalhar o número do telefone para todos as mulher da rua — explico.

— Bem, eu não ia fazer um cartão de visita! — Spencer diz.

— Eu sei, eu sei, me desculpe. — Dou um tapinha no braço dela. — Estou muito destreinada.

Uma pausa, com sorrisos solidários de Aria e Spencer.

— Vou apresentar umas gostosonas quando você estiver pronta — Aria dá um tapinha em meu braço.

— Uau! — Luiz exclama.

— O que foi?

Ah, levando em consideração as vagabundas feias com quem você sai, isso é fino.

— Não, aquela Bruna era fina, lembra?

— Arram, e ela tinha uma bela bunda.

— Então, pronto — Spencer interrompe. — Nós animamos você? Está se sentindo melhor?

— Sim. Meio como um brilho nuclear — respondo.

— Sério? — Spencer pergunta.

Eu levanto meu copo.

— Muito mais bebida, por favor.


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Notas finais do capítulo

E ai,curtiram a mudança?