Uma coisa é fato: muita coisa acontece e muda em três meses. Quinn tinha ótimos exemplos disso.

O ano havia mudado, e Quinn podia jurar que nunca havia tido um natal e uma virada de ano tão divertidas quanto aquelas. Tanto o natal com os Anderson quanto o ano novo com os Berry – ela e Frannie preferiram passar cada data com uma família, mas juntas, do que ambas as datas com os namorados, porem separadas – com certeza ficariam marcados para ambas as irmãs.

Sue havia mudado – e esse era o tópico que mais assustava Quinn – de uma carrasca para praticamente uma mãe para Quinn. A loira atribuía a maior parte dessa mudança à gravidez de, agora, sete messes da treinadora, mas a verdade é que não eram sós os hormônios ou os extintos maternais de Sue que podiam levar a culpa. A treinadora havia se apegado a Quinn, e o apelido de mini Sue que ela usava para se referir a loira em seu diário era uma prova disso. O fato é que a mudança no jeito de Sue tratar Quinn acabou fazendo com que a loira se apegasse a ela também. Para duas pessoas que viviam discutindo, aquilo era uma mudança e tanto.

Ninguém se preocupou em saber qual era a historia que Quinn sabia sobre Bree, mas Karofsky tinha sofrido suas consequências. E as coisas chegaram a um ponto no qual Quinn se viu obrigada a interferir. Não que ela achasse que o garoto merecia, mas o fez mesmo assim.

Rachel também havia completado dezoito anos. Os pais da judia deram uma festa, e Quinn lhe deu uma corrente com um pingente de estrela. A judia não tirava o colar desde aquele dia.

Frannie também havia feito aniversario, mas a loira se limitou a comemorar com um jantar entre amigos – que foi um tedio para Quinn, mas a loira se obrigou a participar. Tudo pela irmã.

As coisas entre Quinn e Rachel estavam esquentando ultimamente, e como havia prometido a Frannie, Quinn conversou com a namorada sobre a possibilidade de dormirem juntas. Apesar de constrangedora, a conversa foi bem produtiva, e as garotas concordaram que deixariam acontecer, e que ia rolar quando tivesse que acontecer. Sem planejar, ou algo do tipo, o que acabou fazendo com que as duas ficassem com medo de avançar mais, e uma coisa levando a outra, acabou no estado em que elas estavam: as duas querendo ir à diante, prontas para isso, e com medo de tentar.

Todos os aniversários de namoro das garotas, Quinn inventava um jeito de surpreender à namorada. Em quatro dias elas fariam seis messes, e Quinn estava enlouquecendo pensando no que fazer aquele mês.

E eram as lideres quem estavam pagando pela falta de ideias da loira.

– Isso tá horrível! De novo, e do começo. E se isso não sair melhor agora, metade de vocês podem começar a dar adeus ao seu uniforme!

– Vem cá Fabray, por que você não tá treinando com a gente? – Santana perguntou.

Quinn a encarou e Santana engoliu em seco. Nunca tinha visto um olhar tão maníaco na vida.

– Lopez, se não está satisfeita, pode ir embora. Mas deixe o uniforme na sala da treinadora no caminho.

– O que?

– E você não estava incluída na metade que não consegue executar uma coreografia simples como essa, mas vai embora junto com elas se não der certo agora.

No segundo seguinte todas as cherrios cochichavam entre si. Quinn costumava ser mais flexível com as amigas do que com elas, e se ela estava tratando Santana daquele jeito...

– Calem a boca! – a loira gritou – Vocês têm exatos trinta minutos para tomar uma água, conversarem sobre o que está errado e ensaiar. Eu vou dar uma volta pela escola e quando eu voltar aqui, eu quero ver essa coreografia perfeita. Entenderam?

– A treinadora Beiste vai querer o campo em quarenta minutos, Quinn. – Brittany a lembrou.

– Então espero que esteja realmente perfeita, ou vocês terão as duas horas de treino dela para irem para casa comer alguma coisa e voltar aqui para continuarmos treinando. E eu não vou me importar se precisarmos passar a noite em claro até isso sair do jeito certo. E antes que alguém pense “eu vou e não volto” saibam que eu estou louca para me livrar de alguns de vocês.

Quinn saiu da quadra e foi para a biblioteca, onde Rachel estava terminando um trabalho com algum garoto que a loira não sabia quem era.

– Quinn? – a loira ouviu Sue chamar quando passou perto da sala dela.

– Treinadora. – murmurou entrando.

– Já disse pra me chamar de Sue quando não estivermos perto das garotas.

– Claro. – Quinn sorriu.

– Já dispensou as meninas?

– Não. Mas se eu ficasse mais um minuto vendo o que elas estavam fazendo eu ia matar uma por uma.

– TPM Fabray?

– Elas teriam muito mais chance de sobreviverem se fosse.

– Então?

– Só estou um pouco preocupada.

– O que houve? Se eu puder ajudar...

– Não acredito que você possa treinadora. Eu só... Todo mês eu faço algo para Rachel no nosso aniversario. Mas, depois de seis meses, as ideias acabaram.

– Tão pouco Fabray? Imagina quando chegarem aos três anos de namoro. – Sue riu.

– Até lá terão sido quatorze ideias. Mês a mês é só durante o primeiro ano, ou eu vou ter que começar a repetir. – brincou.

– Quando é o aniversario de vocês?

– Sábado.

– Sábado, tipo, daqui a três dias?

– São quatro. – Quinn resmungou.

– E você não tem nenhuma ideia?

– Se aquelas criaturas que estão dançando igual pata choca não colaborarem com a porcaria da coreografia, não.

– Pra que você precisa delas?

– Pensei em cantar alguma coisa enquanto elas dançam na hor...

– Cala a boca. Não. Horrível. O que você fez das outras vezes?

– Cantei para ela no glee e dei flores.

– Previsível.

– Arrumei um jeito de ficarmos sozinhas na minha casa, namorando, vendo filmes que ela gosta e...

– Pervertido de mais.

– O que?

– Continue.

– Hum... Mandei varias flores, que ela foi recebendo ao longo do dia, e depois levei ela pra jantar.

– Brega. O que mais?

– Reservei uma sala de cinema para assistirmos o filme preferido dela, somente nós duas, e no fim do filme um vídeo meu falan...

– Gastou dinheiro de mais pra nada. Tem mais alguma coisa horrível que você tenha feito?

– Mês passado eu cantei uma musica que compus e levei ela pra jantar e no cinema.

– Fabray, você é ridícula.

– Mas...

– Você quer fazer algo romântico ou que te faça parecer uma idiota?

– Romântico, claro. Acontece que el...

– Então faça uma coisa que só tenha significado para vocês duas.

– Como?

– Eu não acredito que vou perguntar isso, mas... Onde vocês... Tiveram a primeira vez?

– Nós nunca... – Quinn murmurou ficando vermelha.

– Em seis messes? Você é mais mole do que eu pensava ser possível.

– Sue!

– Tanto faz. Consegue pensar em algum lugar especial para vocês?

– Apenas um.

– A leve lá. Vocês tem uma musica?

– Temos, mas...

– Dance com ela. Vocês...

– Sue, para! – Quinn disse – Seu plano começa a dar errado na parte de leva-la a um lugar especial.

– Por quê?

– O acampamento que fomos ano passado.

– O que tem?

– Ele é o lugar especial. Foi onde demos o nosso primeiro beijo. Bom, o que eu me lembro, pelo menos.

– Eu não vou nem perguntar. – Sue resmungou – Foi durante a noite, quando vocês foram pra cachoeira, não é?

– Como você...?

– Não sou idiota, Fabray. Sei que fazem isso todo ano.

Quinn suspirou e Sue recostou na cadeira, a encarando.

– Fabray, você pode fazer uma coisa romântica uma vez na sua vida?

– O que?

– Se eu disser que consigo mandar vocês pra lá sem problemas ou custos, mas vocês teriam que ficar na cachoeira, você levaria ela pra lá e arrumaria o resto? Se quiser passar a noite, não se preocupe, tem uma cabana lá.

– Você... O que?

– É uma chance única, Fabray. Pegar ou largar.

– Eu... Preciso ver com se os pais dela a deixariam passar a noite fora, e falar com...

– Você tem até amanha pra me responder. – Sue disse e deu um sorriso de lado – Espero que aproveitem bem à cabana.

– Oh! Pelo amor! Sue! – Quinn praticamente gritou e Sue riu – Olha, sem querer ser mal agradecida nem nada, mas... Você tem sido boazinha de mais ultimamente, mas isso já tá sendo exagero.

– Só... – Sue suspirou – Leve como um muito obrigada, Quinn.

– Pelo que?

– Por tudo o que você fez nessa escola. E pelo que você fez por mim.

– O que eu fiz por você?

– Isso não te interessa. – Sue sorriu – Agora vai cuidar das minhas lideres.

Assim que Quinn saiu da sala, Sue voltou ao que fazia antes de Quinn passar por ali.

“Esqueça o que eu disse antes, diário. Quinn Fabray pode ser uma idiota quando quer. Mas ela ainda faz jus ao apelido na maior parte do tempo. Essa garota me dá orgulho.”

***

– Tudo bem, o que houve? – Frannie perguntou quando as garotas estavam jantando, mais tarde, naquele mesmo dia.

– Nada. Por quê?

– Você está estranha. Pensando de mais.

– Não é nada. Só... Tudo bem, eu quero te pedir uma coisa.

– Fala. – a mais velha sorriu.

– Posso dormir fora fim de semana?

– Vai pra casa de quem?

– De ninguém, na verdade.

– E vai dormir onde?

– Bem, eu e Rachel fazemos seis meses no sábado, e eu queria levar ela... Em um lugar especial.

– Pra passar a noite? – Frannie arqueou a sobrancelha.

– É. O lugar é longe. Não tem como ir e voltar no mesmo dia. Eu estava pensando em sair na sexta e voltar no domingo.

– Se você convencer Hiram e Leroy, por mim tudo bem.

– Valeu Fran. – Quinn sorriu – Hum... Lembra que você disse que podíamos falar sobre tudo e...

– É só falar, Q. – Frannie sorriu.

– Se eu conseguir convencer Hiram e Leroy... Eu quero que você me ajude a escolher uma... Roupa.

– Roupa?

– É. Que eu pretendo não usar. Entende? – murmurou ficando vermelha e Frannie riu.

– Claro que eu ajudo Quinn.

– Só mais uma coisa... Eu... Vou matar a segunda aula amanha. Talvez terceira também.

– Você o que? Nada disso.

– São só duas aulas, Frannie!

– Pra que você quer matar duas aulas, Lucy?

– Pra ir falar com Hiram e Leroy. Não quero que a Rachel saiba até sexta.

– E por que a segunda e a terceira?

– Eu e Rachel sempre nos encontramos antes da primeira aula e almoçamos juntas. A segunda e a terceira aula são dois períodos que não nos vemos.

– Tudo bem. Mas tenta voltar pra terceira aula.

– Pode deixar.

– Posso saber pra onde vai levar ela?

– O lugar onde demos o primeiro beijo. – a mais nova sorriu.

– A boate?

– O segundo beijo. – Quinn resmungou e Frannie riu.

– Bom, boa sorte com seus sogros amanha.

***

– Hey Quinn. Tudo bem? – Leroy perguntou assim que abriu a porta e Quinn engoliu em seco.

– Tudo. E o senhor?

– Bem também. Eu falei com Frannie ontem à noite e ela me disse que você talvez aparecesse, mas não me disse por que. Vamos, entre.

– Você falou com a Frannie? – Quinn perguntou enquanto seguia o sogro até a sala.

– É. Nós temos conversado às vezes. E então, o que houve? – perguntou quando sentaram.

– Eu... – Quinn suspirou – Quero pedir a sua ajuda e a sua permissão.

– Para?

– Fazer uma surpresa para a Rachel.

– E por que pedir permissão?

– Bem... Eu... Quero levar ela pra o lugar onde demos o primeiro beijo. Fazer algo romântico nesse aniversario, sabe?

– Isso é fofo Quinn. – Leroy sorriu.

– É. – Quinn murmurou – Mas teríamos que sair na sexta, depois da escola, e só voltaríamos domingo.

– Certo. – Leroy disse cruzando os braços – É por isso que quer minha permissão.

– Sua e do seu marido. – disse.

– Você pediu a Frannie?

– Pedi.

– E o que ela disse?

– Que se os senhores deixarem Rachel ir, por ela tudo bem.

Leroy passou a mão pelo cabelo e suspirou, encarando Quinn.

– Não sei. – o homem murmurou – Isso... Rachel sabe?

– Não senhor. Quero fazer uma surpresa.

– Para de me chamar de senhor.

– Desculpe.

– Olha... Tudo bem. Rachel pode ir.

– Obrigada Leroy. – Quinn sorriu.

– Mas quero que me prometa uma coisa.

– Claro.

– Você não vai fazer nada que ela não queira.

– Eu nunca faria isso.

– Só pra garantir. – Leroy semicerrou os olhos, a encarando – Para onde vocês vão?

– Pro acampamento que fomos no ano passado.

– E pra que você precisa da minha ajuda? – Leroy perguntou e Quinn sorriu.