Os dedos finos e pálidos da irmã mais nova dos Strauss apertavam com força a corda velha e desgastada, com o rosado que foi apaixonada desde sempre a segurando na outra ponta. Lisanna estava fraca e com vários arranhões, mas mantinha-se firme, ao contrário da loira ao seu lado.

Tudo começou com uma simples missão, aparentemente fácil. Capturar um mago que vinha impedindo as camponesas de colher frutas na floresta aparentava ser moleza para o time mais forte da Fairy Tail e uma convidada a mais, que não ficava atrás com seu Take Over.

Na viagem, a de fios brancos aproveitou para conhecer mais Lucy e nas palavras trocadas, logo foram construindo uma pequena amizade. Quando Lisanna resolveu tocar no assunto de um certo Dragon Slayer que dormia para não enjoar, fazendo uma cara maliciosa e leves indiretas, a maga celestial corou e desconversou enquanto a outra apenas riu. Acreditava fortemente que aqueles dois ficariam juntos, ah se iam.

Assim que chegaram, falaram com os que haviam enviado o pedido e foram à floresta. Não demorou muito para serem atacados por uma substância transparente de todos os lados possíveis, e se não fosse os reflexos rápidos de todos e Happy tirando Lucy do perigo, poderiam muito bem terem caído falecidos no chão.

Uma surpresa foi que a magia do tal mago era superior ao imaginado, e numa emboscada, os exceeds, a famosa Titânia e Gray estavam sem conseguir enxergar e com a mínima força possível, tossindo sem parar. Quase aos pedaços, apenas Lucy, Natsu e Lisanna haviam sobrado.

Quando a loira ousou enfim chamar Loki, já que havia o poupado da briga pelo seu grande uso numa missão anterior, teve duas flechas compostas por poeira acertando suas mãos. O grito ecoou enquanto a ardência de um veneno se espalhava pelo corpo de Lucy.

E é claro que um Natsu furioso partiu para cima dele, deixando com a amiga de infância a cuidar da outra. Mas a maga celestial estava tonta e antes que Lisanna pudesse impedir, caiu em direção ao penhasco com apenas pedras afiadas no fim.

Só não teve esse destino cruel pela agilidade da albina, que segurou seu pulso com dificuldade pelo sangue que o tornava escorregadio. A vida não estava a favor delas naquele dia, pois a parte do penhasco rachou e agora Lisanna se segurava pela ponta dos dedos.

Depois de vários golpes, um Natsu exausto havia derrotado o mago. Mas sua expressão de vitória e feliz desmanchou-se ao ver os dedos da amiga irem se soltando um por um, e esquecendo completamente dos outros, correu até lá a tempo de segurar seu pulso.

Em outra ocasião, mesmo fraco, teria sido fácil puxar as duas. Mas não sob efeito do pó que diminuía drasticamente sua força e poder mágico. Natsu estava esgotado e só possuía força para salvar apenas uma. Mas decidir quem...

Os cabelos brancos chacoalharam-se no ar pela lembrança repentina, e as íris azuladas de Lisanna fitaram a loira que mordia o lábio de dor a poucos centímetros dela. O sangue não parava de escorrer, e isso era preocupante, fora o veneno que se espalhava.

Suspirou, olhando Natsu fazer uma força tremenda em seguida suando. Mesmo fraco ele ainda tentava...

– Não dá para salvar nós duas. – Pronunciou-se, e as orbes ônix a fitaram.

– É claro que dá! Só um pó não vai me afetar Lisanna! – Riu nervoso.

– Seja racional, não dá! – Fechou os olhos – olha, eu sei mais ou menos como é a morte. Foram poucas as batalhas que fiquei a beira dela, a não ser Tenroujima e aquele acontecimento de dez anos atrás. Mas a Lucy... Não duvido da quantidade de vezes que a morte a encarou. Uma pessoa que é tão legal, gentil e forte não pôde perder a vida assim. Então, me desculpe pelo que irei fazer... Diga a todos que os amo, e que sinto muito por fazê-los sofrer de novo... Mas é pelo bem... – Os dois a olhavam com medo do próximo ato – de – Uma solitária lágrima correu pela face da jovem – vocês... – E soltou-se.

O grito dos dois pelo nome da maga foi ouvido claramente pelos moradores, enquanto a mesma sumia em meio à neblina, com um belo sorriso nos lábios.

O rosado ofegou, paralisado.

– Isso é tudo culpa minha! – Lucy gritou, permitindo as lágrimas caírem – tudo! Se eu fosse mais forte, a Lisanna ela... – Soluçou – não... Por favor... Alguém a salve...

Surpreendeu-se ao ser puxada com brutalidade para cima, batendo contra um peito definido e sujando o mesmo com o sangue que ainda escorria.

– Ela fez isso pela gente, pelo bem da sua vida Lucy... Não é culpa sua. – As mãos calejadas direcionaram para o cabelo loiro – pode chorar, apenas me diga uma coisa? – Levantou a cabeça, vendo uma lágrima no canto do olho de Natsu e um sorriso quase imperceptível – você vai me deixar algum dia também?

– Nunca. Eu viverei o máximo que puder. Por ela, por você. – E fechou os olhos, fraca pela falta de sangue no corpo e pelo veneno.

Graças aos Deuses Lucy permaneceu viva, mesmo com a grande perda sanguínea e a danificação de parte de um pulmão pelo veneno. É impossível descrever a reação da guilda pela morte da albina, apenas várias lágrimas pelo rosto de todos e um Mestre choroso colocando uma moldura da mesma na parede.

Foram três longos anos, e aquele acontecimento trágico e tristonho apenas aproximou os dois amigos ainda mais. Natsu não deixava nada machucar a loira. Se perder Lisanna já doeu, com as lágrimas que deixou cair ao chegar a casa no dia, imagina a sua tão amada maga celestial.

Uma noite estrelada. Um piquenique. Praticamente empurrado por Mirajane, Natsu Dragneel confessaria – do seu jeitinho – seus sentimentos por Lucy.

Com a loira a poucos metros de distância, estava nervoso. Foi uma das poucas ocasiões do rosado estar tão encabulado assim. Questionava-se se isso era mesmo certo, mas teve a resposta ao olhar para o céu e ver, emoldurado pelas nuvens e estrelas:

Natsu sorriu e também fez o tão valioso sinal. Naquela noite, sentimentos foram expulsados do peito e um casal encontrou a felicidade nos lábios um do outro.

Tudo graças a certa albina dos olhos azuis.

“Natsu... Seja feliz.”