Adaptação escrita por carol cardinal
Não tocamos mais no assunto no restante do tempo em que ficamos no bosque. E nenhum dos seres ou espíritos que moravam lá nos incomodaram. Ficamos apenas admirando o ambiente e aproveitando nosso tempo sozinhos, já que em Cair Paravel "intimidade" valia para todos, menos para o rei e a rainha.
Já era na metade da tarde quando meu estômago começou a reclamar por estar vazio, já que não tinha feito o desjejum e nem almoçado. Caspian deu um leve sorriso quando ouviu o barulho do meu ventre.
- Está com fome? - perguntou.
- Sim, e muita!
- Vamos voltar então. Podemos roubar algumas maçãs do pomar real.
- Acha que o rei vai se encomodar?
- Duvído muito.
Caspian levantou do meu colo e me ajudou a ficar de pé. Colocou as mãos dos dois lados do meu rosto e ficou me observando, medindo meus olhos, meu nariz, minhas bochechas e finalmente meus lábios, parando um tempo considerável neles. Aproximou seu rosto do meu e o friu na minha barriga aumentava cada vez mais. Senti uma das mãos pousar no final da minha coluna e a outra na minha nuca, me apertando mais ao seu corpo. Finalmente ele me beijou. Um beijo longo e reconciliatório, que foi se aprofundando cada vez mais, assim como as carícias, mas fomos interrompidos mais uma vez pelo meu estômago.
- É, acho melhor voltarmos logo antes que acionem o alerta de monstros.- disse Caspian com um sorriso maroto.
Eu ri e dei uma leve pancadinha em seu ombro. Olhei ao redor e não percebi nem sinal dos cavalos, encarei Caspian com um olhar interrogativo.
- Foram dar apenas um passeio. Veja só.
Deu um alto assovio e pouco depois um barulho de cascos pôde ser ouvido. Os cavalos apareceram de entre as árvores e pararam na nossa frente, ansiosos para serem montados.
- Tem que me ensinar isso!
- São anos de confiança, meu amor. Mas pelo que vejo, Destro e Lily já gostam de você.
Acariciei o focinho dos dois animais e montei em Lily sem a ajuda de Caspian.
- Ponto para mim.
Caspian assentiu e montou também, me guiando para fora do bosque.
...
Já estava anoitecendo quando conseguimos avistar Cair paravel. Dos portões da vila, vimos uma longa linha de fumaça no céu e pessoas correndo de um lado para o outro. Olhei com dúvida para Caspian mas ele apenas adentrou a vila e eu o segui.
- Fique aqui!
- Caspian!
-Eu volto para te buscar!
Ele desceu e entregou as rédeas de Destro para mim. Tentei chama-lo novamente mas Caspian já havia se misturado na multidão em direção à fonte da densa fumaça.
Desobedecendo às suas ordens, amarrei a rédea de Destro na minha sela e tentei me esquivar entre a multidão. Assim como Caspian, segui a multidão até o foco do incêndio. Era uma das casas dos moradores da vila. A estrutura de madeira e o teto de argila e palha estavam sendo consumidos pelo fogo. Alguns soldados narnianos e outros telmarinos tentavam apagar as chamas. Vi Caspian conversando com um casal há uns quinze metros da casa. A mulher segurava um embrulho nos braços e chorava desesperadamente, enquanto que o homem tentava consola-lo e ouvir Caspian ao mesmo tempo, ambos estavam sujos de fuligem da cabeça aos pés. Tentei me aproximar mais, porém a multidão ficara densa demais e não havia espaço para os cavalos passarem. Vi um rapaz vindo ao meu encontro e me cumprimentar.
- Majestade. - disse ele fazendo uma profunda e desajeitada reverência.
- Segure os cavalos, por favor.
- Sim, minha rainha.
Desmontei e fui abrindo caminho entre as pessoas. Algumas estavam só olhando, outras ajudavam com baldes com água das suas próprias casas. Consegui chegar perto o suficiente para ouvir a conversa de Caspian com o casal.
- Senhora, tem mais alguém na casa? - perguntou Caspian, e não parecia ser a primeira vez.
- A...a minha...a minha filha!
Vi os olhos de Caspian se arregalarem e seu corpo ficar tenso, mas logo voltou à postura de rei e imediatamente ditou ordens há alguns dos soldados. No mesmo instante, meia dúzia entraram na casa, desaparecendo entre as chamas.
- Vai ficar tudo bem, senhora. Eles trarão sua filha para fora.
A mulher olhou para Caspian e finalmente pude reconhece-la. Era Helen, a cozinheira do castelo que me levou algum tempo atrás para um passeio na vila, que não teve um final muito agradável. O embrulho que segurava no colo era na verdade um bebê bem pequeno enrolado numa manta.
- Helen? - disse ao me aproximar.
Ela, o homem e Caspian me olharam surpresos. Os ignorei e me aproximei de Helen dando-lhe um leve abraço e acariciando a cabecinha do seu bebê.
- Vai ficar tudo bem.
- Estou aqui! - disse uma voz vinda de dentro da casa.
- Helena! É minha filha majestade!- afirmou o homem.
- Devem estar tentando localiza-la. - disse Caspian.
Ouvimos um estrondo vindo da casa e uma rajada de chamas saiu pela janela do andar de cima. Os soldados e uma adolescente de no mínimo 15 anos saíram apressados pela porta da frente, segundos antes do teto e do segundo andar despencarem. Conseguiram controlar o fogo rapidamente e a fumaça começava a se dispersar. A multidão começou a bater palmas parabenizando o trabalho dos soldados narnianos.
- Helena!
Helen colocou seu bebê nos meus braços e correu para abraçar a filha mais velha. A menina estava ainda mais suja que a mãe, o vestido estava rasgado e seus braços tinham algumas marcas de queimaduras. Elas se abraçaram fortemente e choravam uma no colo da outra.
Aninhei o bebê nos meus braços tentando acalma-lo por estar longe da mãe. Extendeu seus bracinhos na direção do meu rosto, agarrou uma mecha do meu cabelo e ficou brincando com o cacho. Emitia alguns sons incompreenssíveis, mas eu parecia entende-los completamente. Era a primeira vez que segurava uma criança humana tão pequena. Dei uma olhada para Caspian e ele sorria para mim.
- Majestade! - chamou um dos soldados.
- Sim, Elian?- perguntou Caspian.
- Parece que o fogo veio de dentro da casa. As residências dos vizinhos não sofreram nada com o incêndio.
Caspian pensou por um momento e se dirigiu ao marido da Helen.
- O senhor sabe o que pode ter causado o incêndio?
- Não, meu rei. Estava voltando do trabalho quando vi minha casa pegar fogo. Minha esposa também estava fora. Minha filha era a única que ficou em casa, estava cuidando do irmão mais novo.
- Se me permite, gostaria de conversar com sua filha.
- Claro, Majestade.
Helen e a filha vieram ao nosso encontro. A garota abraçou o pai enterrando o rosto em suas roupas sujas.
- O Rei quer falar com você, Helena.
Helena virou-se timidamente para Caspian, fez uma leve reverência e esperou.
- Um dos soldados disse que o fogo veio de dentro da casa. Sabe me dizer o que pode ter causado as chamas?
- Eu...- ela olhou envergonhada para os pais.- Eu acendi uma vela no meu quarto para ler. Estava escurecendo e... eu queria saber o que ia acontecer...
- Você acendeu uma vela para ler?! Era para estar cuidando do seu irmão!
- Me perdoe mãe! Mas eu cuidei direitinho do Luca...
- Por sua causa nós não temos um lugar para passar a noite e nem uma casa para morar! Tudo isso porque você queria ler?!- disse o pai da menina
- Não sejam tão duros com ela. Não foi a intenção de Helena causar um incêndio. E qual é o problema em ela ler um livro?- disse eu.
Todos ficaram em silêncio por um momento.
- Todos aqui terão um lugar para ficar até sua casa ser reconstruída. São bem vindos às acomodações de Cair Paravel. Está tudo bem, Caspian?
- Sim, minha rainha.
- Então vamos. Amanhã veremos o que podemos reaproveitar.
Todos se dirigiram para o castelo em silêncio. Caspian montado em destro e Helen e o marido em Lily. Helena ia a pé ao meu lado. Eu caminhava com o bebê, agora adormecido, nos braços, enquanto observava seu semblante sereno e inocente.
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capítulo grandinho hein?
mereço reviews?