Ele não sabe exatamente quando, mas seus olhos passam a segui-la quando ela vai embora.

É algo que ele percebe, um dia, quando acompanha Sakura até a estação de trem depois de uma tarde trabalhando no mangá. Nozaki observa as mechas ruivas da garota enquanto ela se afasta, como o leve saltitar em seu passo faz os laços de seu cabelo quicarem levemente, e só realmente percebe o que está fazendo quando a silhueta dela desparece por entre as outras muitas do fluxo lotado daquele horário.

Tecnicamente, ele não precisava ficar a esperando desaparecer de sua vista; a maioria das pessoas considera o ato de acompanhar alguém até a estação completo quando essa pessoa atravessa a roleta. Talvez aquilo pudesse ser classificado como fora do comum.

Mas a maneira com que seus olhos a seguem parece tão natural que ele acaba esquecendo, depois. Porque eles continuam a seguindo quando ela se despede dele para voltar para sua sala no dia seguinte, ou quando seu rosto está corado de felicidade ao comer o bento que ele preparara para ela naquela manhã. O rosto dela é sempre tão expressivo e cheio de vida que ele não pode evitar; é o que diz a si mesmo.

O tempo passa, porém, e ele passa a notar também outras coisas. Como o fato de que ela sempre o espera se sentar antes de fazer o mesmo, como a voz dela sobrepõe-se ao ruído de fundo tão facilmente no corredor da escola, como ele passara a pensar em laços vermelhos toda a vez em que via flores de cerejeira florescidas.

Como toda a vez que ela sorri, um sentimento aflora em seu peito, quente e aconchegante que se instala em sua pele e permanece lá como uma sombra mesmo depois de horas.

Nozaki então decide tomar aquilo como uma influência comum que Sakura tem nos outros, pois parece exatamente ser da natureza dela de trazer felicidade por todo o lugar que fosse. Ela é tão radiante que passa a ser quase impossível não querer tê-la por perto.

Ele prende-se a essa pequena premissa, aceitando-a cada vez mais em sua rotina, aceitando os sentimentos que ela trás, o leve vazio de seu peito quando ela vai embora. Sakura tornara-se tão constante em sua vida naqueles últimos meses que era difícil imaginar que um dia ela poderia não estar mais lá.

Talvez fosse por isso que ele sempre a procurava, afinal. Talvez fosse por isso que seu coração tivesse começado a falhar batidas toda a vez em que ela parecia feliz de passar tempo com ele.

Talvez fosse por isso que ele passara a prestar mais atenção nela, em primeiro lugar.

Portanto, o mesmo não acha estranho quando, ao encontrá-la adormecida em sua mesinha de sala num dia quando o trabalho com o mangá tinha durado mais do que o normal, Nozaki se encontre observando seu rosto calmo ao invés de sacudir seus ombros para acordá-la.

Sakura parece tão serena assim; com sua franja caindo pela frente de seus olhos e um fiapo de cabelo ruivo curvando-se por cima de suas maçãs do rosto. A imagem dela o faz lembrar momentaneamente de Mamiko, de algumas vezes em que ela não se assemelha tanto com Mikorin e sim a borrões brancos de memórias que ele de um modo estranho não consegue alcançar.

Ele pode alcançá-la naquele momento, no entanto, então seus dedos se movem por instinto para fazer o que o mesmo sabe melhor no quesito de gravar imagens para a história.

Alguns minutos depois, Nozaki termina por guardar o desenho dela em seu quarto ao invés da pasta que geralmente usa para referências.

Aquela imagem de Sakura parecia preciosa demais para ser mostrada a mais alguém, afinal.