Mais uma vez ela estava sozinha. Sozinha, trancada dentro do quarto sem nenhuma expectativa. Apenas em algumas horas ela só lamentava por existir. Lamentava estar sangrando e com uma das asas cortadas ao meio. Não poderia mais voar. Não poderia mais sentir a lua tocando os seus cabelos. Seu vestido manchado de sangue transbordava suas lágrimas. E dentro da palma da sua mão uma borboleta azul se contorcia fraca e inútil. Ela não conseguia mais sentir nada. Se pôs em frente ao espelho do quarto e cortou um pedaço da unha. Não sentia mais dor. Algo dentro dela estava morto e isso ficava mais forte ainda a cada dia que se passava. Com uma faca afiada na mão direita, ela fez um gesto arriscado em frente ao espelho. Cravou a faca no seu peito e de lá retirou seu coração infâme. Ela o observou novamente como fizera noite passada. Ele não parava de pulsar em suas mãos e sua boca estava completamente cheia de sangue. Ainda com a faca nas mãos, ela perfurou de novo seu coração. Deitou no chão e viu o sangue escorrer e ir embora pelo ralo do banheiro. Do outro lado da rua, ele estava deitado em sua cama. Sentiu uma enorme dor no peito e por um segundo não conseguiu levantar-se. Não conseguira falar. Ele se contorceu na cama e algo prendia sua respiração. Fechou os olhos e não sentiu mais nada. Eram 3 e 38 da manhã e ele morrera com um golpe interno dado em seu coração. Deitada no chão do quarto ela dera um sorriso cínico.