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Desafio 27 de drabbs, tema beijo

— por Abel Araghon

Ginshu abriu os olhos ao ouvir o farfalhar das folhas das árvores. Sentando-se no futon, esticou o braço e pegou a lamparina, que ainda estava acesa.

Isso significava que poucas horas haviam se passado.

Outro farfalhar, como o som de passos, fê-lo ficar alerta. Puxou suas vestes, vestindo-se o melhor possível, e fitou a entrada do quarto. Era o único meio de chegar até ele.

Uma sombra criou-se do lado de fora. Ginshu engoliu em seco, não querendo acordar ninguém no templo. Mesmo que fosse frágil e amaldiçoada, tentava ao máximo causar menos problemas para aquelas pobres pessoas.

Não era culpa delas se ela era daquele modo. Se precisava trocar de corpo todo dia para sobreviver, era um problema seu.

A sombra moveu-se, claramente esticando o braço para abrir a porta. A tensão inundou seu corpo, preparando-o para o que viria. Esperava que fosse algo que pudesse lidar. A porta deslizou para o lado, lentamente. Seu coração disparava, batendo cada vez mais rápido.

— Você me assustou! — ofegou Ginshu, os ombros caídos de alívio ao ver a figura revelar-se diante de si.

— Quem mais poderia ser? — indagou Bonten, fechando a porta atrás de si.

— Qualquer um tentando contra mim.

— Você não é tão especial assim — zombou.

Ginshu suspirou, colocando a lamparina de lado e deixando que seu corpo relaxasse sobre o futon. Era só Bonten.

— Eu temo pela segurança das pessoas que vivem no templo — explicou Ginshu.

— Eu sei.

Bonten aproximou-se dela, observando quando a princesa foi para o lado, deixando um espaço para ele deitar. Sem perder tempo, tirou seus sapatos e suas roupas mais pesadas, despindo-se da cintura para cima, e deitou-se ao lado dela.

Fitou-a longamente.

— O que foi? — sussurrou Ginshu.

— Você sabe como é fascinante — respondeu ele, estendendo a mão e acariciando o rosto com escamas.

— Você diz isso porque eu sou um Deus.

— Eu prefiro os deuses — Bonten sorriu, admirando os olhos cor de vinho. — Só é uma pena que não possamos passar a noite inteira juntos.

— Eu avisei desde o início — apontou Ginshu, virando o rosto na direção do dele.

— Sim, você avisou...

O sussurro morreu nos lábios dela. Bonten beijou-a lentamente, como se ela fosse de cristal. Suas mãos acariciavam a pele delicada e pálida, e sua língua uniu-se à dela, deslizando uma sobre a outra. Beijaram-se por minutos, acariciando os cabelos e os rostos. Eles eram deuses, não havia mal em se envolverem consigo mesmos. Ninguém nunca saberia, muito menos desconfiaria. Enquanto parecesse que Ginshu e Bonten eram inimigos, estavam em lados opostos de uma guerra infindável, eles poderiam ser os amantes que nunca seriam descobertos.

Porque as pessoas só veem aquilo que lhes convém.