A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 34
Um Mal Que Sempre Me Rondou


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Estamos chegando aos caps finais dessa fanfic...

Quem estava curioso para saber o que mais irá acontecer a Esther, creio que irá gostar desse cap. E também me matar depois do final dele.

Boa leitura!



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O senhor Siger costumava fazer caminhadas no Queen Park, que ficava nos fundos do prédio onde seu filho Mycroft morava. Como aquela era uma noite agradável, ele acabou por sentar-se em um dos bancos próximos ao lago. Perto do anoitecer, ele retornava para sua casa, pois embora seu filho avisasse que aquele local de Londres era seguro, o idoso era precavido demais e não gostava de se arriscar.

Ainda sentindo as dores da artrose, ele lamentava-se de que Sherringford, que sempre tinha disposição o bastante para leva-lo de cadeira de rodas, tivesse retornado à Yorkshire. Não fazia sentido algum. Só mesmo o caçula, seu filho Sherlock, para forçar Sherringford a interromper uma rara visita à metrópole, e ainda coloca-lo em perigo. Embora Mycroft tivesse tentado esconder o que se passara na Manor Holmes de seu pai, Siger era esperto o bastante para captar que algo tinha acontecido por lá, e que por isso, sua permanência na cidade tinha sido prolongada. Sem dúvida, seu filho problemático estava também por trás disso. Siger se lamentava. Tinha criado seus três filhos da mesma forma, exatamente da mesma forma. E porquê Sherlock era assim? Enquanto seus demais filhos tinham suas vidas, suas rotinas, Sherlock se entregava a uma vida perigosa e instável. Poderia ganhar cinquenta libras em um dia e ficar dois meses sem clientes. Não era isso que ele desejava a um de seus filhos – mesmo o mais indesejado. Talvez o problema estivesse no sangue. Seu irmão bastardo, Terry – ou James Moriarty, como preferiu se intitular mais tarde. Alguém da família daquela mulher com quem seu pai se envolvera deveria ser algum viciado, doidivanas, e transmitiu esse gene ruim à Sherlock.

Siger refletia, sem perceber que um homem sentara-se ao lado dele.

–Faz um clima agradável, não? – o sujeito puxou assunto. Siger ficou surpreso e tentou se levantar, desejando se afastar, mas foi impedido discretamente.

–Eu preciso ir, sinto muito. – argumentou o idoso.

–Por quê não fica mais um pouco, Mr. Holmes?

–Co-como...?

–A Ciência da Dedução. Não é isso que diz seu filho?

Ah, é claro. Um jornalista, decerto. Ou um maldito fã que pensa que meu filho é um herói...

–Acho que o senhor está enganado...

–Sabe, lendo as histórias de seu filho, eu aprendi muita coisa. Inclusive a perceber quando um homem está preocupado. E eu reconheço uma preocupação paterna. Eu também tenho um filho. Ele tem oito anos. Claro, não é um adulto, mas... Nós, pais, colocamos muitas expectativas neles. E eu posso ver que o senhor pôs muitas no seu.

–Sim...

–O que o senhor pensa dos judeus, Mr. Holmes?

Siger sorriu em desprezo. – Nada que seja bom. Eles degradam esse país, assim como esses ciganos, irlandeses, galeses... A Inglaterra está se desvirtuando por causa desses estrangeiros e pessoas que não seguem os caminhos de Cristo.

–O senhor é anglicano? – Siger concordou com a cabeça. Jenkins continuou.

–O que pensaria se um de seus filhos estivesse com uma judia?

–Eu o deserdaria! Ou o impediria de ter essa união!

Jenkins parecia satisfeito com a atitude raivosa de Siger.

–Eu sou um homem de bem, Mr. Holmes. E uma das coisas que eu gostaria que fizessem comigo era que me alertassem quando meu filho estivesse em caminhos errados. Pois como um verdadeiro cristão, eu faço com os outros o que gostaria que fizessem à mim. E eu não posso ficar de braços cruzados ao ver um homem cristão envolvido com uma matadora de Cristo, como é o caso de seu filho Sherlock...

–M-meu filho? Sherlock? Desde quando?

–Ele conheceu uma mulher. Uma mulher sedutora, francesa. Judia. Está apaixonado por ela, e pode cometer a loucura de se casar. Ter filhos...

–Não! – Siger parecia desgostoso. – Sherlock jamais pensou em se casar.

–Pois isso acabou, Mr. Holmes. Ele se apaixonou.

–Quem é ela?

–Se quiser uma dica, ela está na casa de seu filho, Mycroft, fazendo uma visita ao “futuro cunhado”. Se o senhor têm duvidas, vá até lá e veja com seus próprios olhos.

O velho Siger estava desconfiado, mas deu um voto de confiança àquele estranho, ainda que bem-intencionado demais para o seu gosto.

–Certo. Mas gostaria de saber o porquê do interesse, Mr...

–Jenkins, pode me chamar de Jenkins. Digamos que essa moça não é uma mulher digna de casar com qualquer um, Mr. Holmes. Eu também compartilho das mesmas idéias que o senhor. Estes judeus estão acabando com a nossa Inglaterra. E ela é um deles, uma judia. Pois veja o ponto em que quero chegar, Mr. Holmes: eu e você temos um problema em comum. Se eu resolver o meu problema, resolvo o seu.

Siger estava começando a perceber as intenções do rapaz.

–Irá acabar com ela?

–Termos fortes, Mr. Holmes. Mas digamos que ela não será problema a nenhum outro inglês. Só o que o senhor precisa fazer é leva-la até aqui. Estarei esperando, Mr. Holmes. – disse o homem, se despedindo.

Eram asneiras demais para uma noite. Sherlock sempre se mostrou desdenhoso em relação ás mulheres, e no fundo, Siger sabia as causas. Afinal, algo tinha de afetar aquela pobre criança, que infelizmente presenciara o assassinato de sua mãe por se envolver com outro homem. Ele se lembrava da dor de perceber, tarde demais, que o menino Sherlock presenciara tudo. Lembrava de seus olhos cinzentos, assustados como Siger jamais presenciara novamente, com a grotesca cena. Ele lembrou-se das semanas a fio que o rapaz passou sem brincar, da obsessão com os livros que passou a adotar. Aquilo poderia ser bom, no futuro, ele poderia ser um advogado. Siger queria um filho advogado, achava a profissão distinta. Mas Sherlock tinha um apego maior à Matemática e à Química. E tudo que Siger não queria era outro professor em seu caminho.

Crianças... Se elas pudessem continuar como eram. Siger sempre soube que Sherlock não era seu filho, mas seu sobrinho. Ainda assim, tinha seu sangue. Havia esperança, mas com o tempo, o menino mostrou-se uma causa perdida. A partir dos quinze, costumava desaparecer por tardes e tardes sem explicação. Ele fora esperto o bastante para esconder do pai que estava participando de uma companhia de teatro, para desgosto de Siger. Na mesma semana que estudava em Oxford, ele fugira com a Companhia para a América. Retornou quase um ano depois, e Siger temia que ele agora fosse um desvirtuado. Aproveitando-se do primeiro momento de ausência do rapaz, vasculhou sua bolsa. Cocaína. Uma surra bem aplicada, de vara, e cinco dias no quarto a pão e água não foram suficientes. Sherlock foi para Oxford no verão seguinte. Voltou sem diploma, apenas para pegar seus pertences. Disse que se tornaria um detetive. Pronto, a carreira policial, pensou Siger, para seu desgosto. Mas era algo ainda pior que isto. Um detetive consultor, uma profissão que ele jamais ouvira falar. Sherlock fora embora, sem olhar para trás. Dispensou toda ajuda financeira. Mycroft colocou-se sobre o muro, apenas Sherringford o defendeu, em vão. Ele era mesmo uma causa perdida.

Agora, havia uma judia. Este sim era o fim da linhagem dos Holmes. Mycroft era recluso, jamais quis saber de casamento. E Sherringford estava em situação ainda pior, embora Siger soubesse o motivo, jamais admitira para si mesmo que tinha um transgressor da Lei britânica e das leis de Deus sobre seu teto (mas ao menos ele andava na linha e disfarçava suas preferências), e Sherlock... Sua última esperança. O último fio de sangue de um Holmes seria misturado a um judeu. Como seria seu neto? Seria cortado? Mesquinho e presunçoso, como todos eles? Como ele seria aceito na sociedade? Com desdém, ou pena. Algo que um Holmes jamais deveria sofrer.

Siger já estava no limiar da porta de Mycroft. Respirou fundo, antes de abrir a porta.

Encontrou Esther, sentada delicadamente, conversando com Mycroft. Ela era uma bela mulher, reconhecia Siger, mas não digna de se unir a um Holmes.

Esther ficou nervosa. Afinal, aquele era o pai de Sherlock. Levantou-se educadamente e o cumprimentou. Imediatamente, sentiu certa esquiva do velho homem, e também um pouco de desprezo. Sentiu que causara nele má impressão, embora não soubesse exatamente o porquê.

–Pai, está é Mrs. Evans. Mrs. Evans, este é meu pai, Siger Holmes.

–Olá, Mr. Holmes.

Siger não apertou sua mão, tentando sentar-se na poltrona.

–O que faz a esta hora da noite na casa de dois homens, Mrs. Evans? Deseja uma reputação? – perguntou Siger, carrancudo.

–Pai, Mrs. Evans é minha convidada. Ela está esperando seu marido chegar.

Meu filho, você quer dizer. O que Sherlock pensa que está fazendo, casado com uma maldita judia?

–Que seja.

Eu só preciso fazê-la descer. Apenas isso.

Os três ficaram na sala por um longo momento, compartilhando scotch e fumando charutos. Siger apenas sentia desprezo pela moça, embora Esther se mostrasse simpática todo o tempo.

Um dado momento, o telefone tocou.

–Com licença... Preciso atender. – disse Mycroft, ausentando-se da sala de estar, deixando Esther e Siger às sós.

Aproveitando que seu filho não estava ali, Siger pôs a mão sobre um dos bolsos.

–Nossa, mas que mente é a minha... Acho que esqueci minha Bíblia no banco do parque!

Esther virou-se para Siger, surpresa. – Puxa, Mr. Holmes, mas que pena!

–Mas tem tão pouco tempo... Acho que se descermos rapidamente, ainda poderemos encontra-la. Você poderia me ajudar a descer, senhorita? Eu não estou bem das pernas...

–Claro. Eu posso leva-lo até aquele parque. Vamos esperar Mycroft e...

–Er, não minha jovem... Precisamos ser rápidos. Ou podem levar minha Bíblia. Aquela era uma Bíblia de estimação.

–Tudo bem. – disse Esther, mostrando-se prestativa ao homem que era, na verdade seu sogro.

Esther estava conduzindo Siger pelo braço, até o parque. Quando lá, ele apontou a um local em específico, ao perceber o mesmo rapaz que conversara há momentos atrás.

–Olha, eu deixei naquele banco. – ele disse.

–Há um homem ali. Ele pode ter visto sua Bíblia. – ela disse, sem perceber que ele a estava conduzindo a uma armadilha. Quando ela se aproximou do homem, que estava lendo um jornal, o reconheceu imediatamente.

–Mr. Daniel Jenkins?!

Jenkins fez um sorriso, satisfeito. Imediatamente, o parque estava cercado de homens, cerca de dez deles, que se aproximaram e encurralaram Esther. Aterrorizada, ela deu um passo para trás e tentou escapar, mas foi detida por um deles. Lutou, chegando a pisar no pé de um deles e golpear o outro, mas acabou sendo imobilizada.

–Por favor, não façam nada com ele. – ela disse, olhando para Siger, temendo que o idoso também não escapasse do bando.

Jenkins sorriu. – Claro que não. Não faremos nada além de agradecer. – disse Jenkins, apertando a mão do idoso, que tinha o ar triunfado sobre Esther, que não entendia o que estava acontecendo.

–Mr. Siger, ele é um homem perverso! Por favor, não faça isso! Procure ajuda, por favor! Chame a polícia!

–Não é nada pessoal, senhora, mas eu simplesmente não suporto a idéia de ver o meu filho Sherlock com uma judia, uma matadora de Cristo! Por Deus! O que será de minha família, de meus descendentes!

Esther tentava negativar com a cabeça, enquanto os homens apertavam-lhe os braços.

–Não... – ela murmurava, às lágrimas. – O senhor não pode fazer isso...

–Tirem-na de minha frente. – pediu Siger.

–Socorro! Socorro! – ela gritava, dentro do cabriolé escuro, até receber um golpe na cabeça e tudo ao seu redor escurecer completamente.

Siger voltou para casa, como se nada tivesse acontecido.

–Pai? Onde esteve, e onde está Mrs. Evans?

–O quê? Mrs. Evans? Oh, ela precisou ir embora, mas não me disse para onde.

Mycroft olhou com estranheza, mas deixou o assunto para lá. Certamente, Holmes já tinha resolvido suas pendências com o Duque e foi busca-la.

–Aliás, meu filho, gostaria de provar aquele vinho do Lorde Hathaway... Um bom vinho será primoroso para esta noite.


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Notas finais do capítulo

E Esther foi raptada, e ainda com a ajuda do sogro!!!

Putz, bendito preconceito! Esther sempre se dá mal por causa de intolerância!

No próximo cap, veremos o que ela vai fazer.


Até lá!



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