A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 26
Uma Terra Que Já Chamei de Minha


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!


Com expectativas para Yorkshire? Espero que sim!!
Se preparem que esta visita será bem agitada....

Um grande abraço, e boa leitura!!!



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Era a primeira vez que Esther visitava Yorkshire. Embora ela já estivesse no interior na Inglaterra, Sussex era muito mais ensolarada que a aparentemente sombria Yorkshire. Ela não sabia dizer se era àquela época do ano, mas mesmo sua atmosfera lhe alertava a isso: uma cidade pacata e escura. À medida que o trem se distanciava da efervescente Londres, mais as casas tornavam-se distantes umas às outras, até que ela avistasse solitárias construções perdidas entre as pastagens verdes, que pareciam habitados apenas por alguns animais, como ovelhas e cavalos, minúsculos no horizonte.

Holmes parecia mal-humorado. Estava fumando mais que o habitual. Seu irmão, Sherringford, era a indiferença em pessoa, sentado ao lado de seu marido e cochilando tranquilamente. Talvez já estivesse cansado daquela paisagem bucólica, algo alertava isso a Esther. Mas ela sabia que o primogênito da família Holmes não tivera o privilégio de seus irmãos de tomar, nem que em parte, seu próprio destino. Como se já estivesse decretado a ser o fazendeiro, recluso do interior, embora algo dentro de si parecesse apaixonado pela agitação da Metrópole. Uma batalha interna sem vencedores. Não havia como não ser indiferente a isso.

A estação de Yorkshire era um reflexo do seu redor: estava repleta de homens do campo e havia uma atmosfera rural dominante no ar. Certamente, as sacas que ela enxergou pelo caminho.

–Estamos em época de colheita. A única coisa que agita esse lugar. – disse Sherringford, desanimado. – Quais são os nossos próximos passos, meu irmão?

–Pretendo ir à delegacia ainda hoje. Não há tempo a perder.

–Sequer pretende descansar da viagem?

–Não. – disse Holmes, decidido. – Preciso falar com o Inspetor-Chefe Peters o quanto antes e colocar meu plano em prática. Se quiser, Sherringford, podes ir para casa. Eu posso apanhar um cabriolé e encontra-lo na Manor Holmes mais tarde. Acho que nada mudou substancialmente por aqui desde minha ausência.

Sherringford assentiu. – Está bem, Sherlock. Eu cuido das malas.

Holmes tomou Esther pela mão e a conduziu para fora da Estação Ferroviária de Yorkshire. Pela primeira vez, Esther estava na cidade. Era perto das três horas da tarde e havia um baixo movimento de pessoas a circular. A cidade, por sinal, era bem pequena, com pouco comércio. Agora ela poderia entender porquê Sherringford parecia tão desapontado em abandonar Londres antes da hora.

–Aquele é o único postal da cidade. O único hospital, a única livraria... Nada muda por aqui. – constatou Sherlock. – Nem parece que se passaram mais de quinze anos desde minha última estadia aqui.

Esther assombrou-se com essa afirmação, e continuou a acompanha-lo.

–Possivelmente as pessoas não irão reconhece-lo. – ela observou.

–Sim, possivelmente. O único que pode fazê-lo é o Inspetor-Chefe Peters. Ele esteve envolvido em um caso ocorrido em Devon, um caso que ganhou alguma repercussão e eu o ajudei a coloca-lo na pista certa. Veremos o que posso receber em troca de sua gratidão.

Holmes entrou na delegacia, acompanhado de Esther. Imediatamente, os olhares de alguns policiais, todos com a mentalidade do interior, estranharam a presença de uma mulher naquele ambiente.

–Preciso falar com o Inspetor-Chefe Peters. –disse Holmes ao recepcionista.

O recepcionista olhava alguns papéis e respondeu.

–Inspetor-Chefe Peters está em uma diligência, senhor.

Holmes não parecia convencido.

–Diga que Sherlock Holmes deseja vê-lo.

O rapaz largou os papéis instantaneamente. Os demais policiais, alguns uniformizados, imediatamente lançaram olhares à Holmes e Esther, e passaram a cochichar entre si. Finalmente, o rapaz saiu da recepção e foi à porta do inspetor-chefe.

–Pode entrar, senhor. – ele disse.

Ao entrar, Holmes encontrou um idoso Inspetor-Chefe Peters, gordo e inerte, sentado em sua cadeira, com o semblante de quem tinha cochilado nas últimas horas. Sua mesa estava abarrotada de papéis e seu semblante tinha um quê de doente que Esther percebeu imediatamente.

–O mais ilustre representante de Yorkshire em minha delegacia. Espero que não seja nenhum caso mirabolante.

Holmes nada disse, apenas buscando uma cadeira para sentar, e Esther fazendo o mesmo.

–Mas onde está o seu companheiro, o Dr. Watson?

–Ocupado com um paciente. Não pôde vir.

–E quem é essa adorável senhorita? Seria sua esposa?

Holmes demonstrou irritação. – Não, ela não é minha esposa. Mas vamos direto ao assunto, Mr. Peters. Aviso-te que não é nenhum caso relacionado ao seu distrito, portanto o senhor pode se despreocupar que minha visita aqui não trás a premissa de nenhuma papelada extra em sua... Atribulada rotina. – disse Holmes, percebendo as latas de biscoito vazias jazidas sobre a mesa e também um dardo pregado na parede. – Trata-se de um caso, de natureza confidencial e de outro distrito, que me traz aqui. Espero que ainda esteja colhendo os louros pela prisão do Mr. Murdock.

O inspetor-chefe se contraiu, constrangido.

–Sim, de fato. Ainda recebo congratulações do Superintendente, e depois dessa prisão minha vindoura aposentadoria foi mais bem-aceita. Pois diga-me: como posso ajuda-lo?

–Há um homem em sua cela que preciso vê-lo. Não só vê-lo, mas soltá-lo.

–Como sabes, essa é uma cidade pequena, de modo que há apenas 3 presos: um bêbado, perturbador da ordem e quase um morador da cela, um homem que recentemente bateu na esposa e um estrangeiro, que se bem me lembro, foi trago aqui após uma denúncia de arrombamento vinda da casa dos Holmes... Acho que já posso saber que isso é mais pessoal, não é...

–Não exatamente. Esta foi uma coincidência. – disse Holmes, com veemência. – Entretanto, eu preciso de um depoimento deste cidadão, e averiguar a possibilidade de soltá-lo.

–Soltá-lo?! O homem que invadiu sua casa? Acaso não deseja fazer justiça com suas próprias mãos, ou...?

Holmes irritou-se. – Tal atitude não é de meu feitio, Mr. Peters. O fato é que este estrangeiro, na verdade um russo, pode ser importante na resolução de um caso.

–Tenho cá minhas dúvidas, Mr. Holmes, se irá conseguir alguma coisa dele. Ele não sabe uma palavra de nosso idioma.

–Eu trouxe uma intérprete. Por isso, Mrs. Sigerson está comigo. – ele disse, referindo-se à Esther. – Agora, será que posso vê-lo?

O inspetor-chefe, por fim, assentiu.

Em instantes, Holmes e Esther já estavam nas celas, acompanhado de um jovem guarda chamado Rodgers.

–Rodgers? Será que já posso sair daqui? – perguntou um dos homens, esperançosos, a agarrar-se das grades.

–Hoje não, Greenwald. A visita de hoje é para o Mr. Fala Enrolada aí.

“Mr. Fala Enrolada” era a maneira como eles chamavam o russo. Dos únicos três prisioneiros da cidade, apenas um deles estava sentado em um canto, com o olhar perdido.

–Greenwald, chame-o, por favor.

Greenwald tocou no ombro do russo, que murmurou alguma coisa estranha aos ouvidos britânicos. O guarda bufou, impaciente. Ao perceber o impasse, Esther decidiu intervir.

–(Nós precisamos conversar. Preciso que se levante e nos acompanhe.)

O olhar perdido do russo, de repente, iluminou-se. Um lampejo de esperança deveria ter passado em si, ao ouvir alguém naquele lugar que, finalmente, conseguia compreendê-lo. Ele assentiu e se levantou.

Holmes, Esther e o russo foram levados até uma sala.

–(O que querem de mim?) – ele perguntou, com o olhar desconfiado.

– (Ajudá-lo.)

O homem, que já estava nitidamente magro e com a barba loira espessa, parecia ainda receoso.

–Esther, pergunte-o o seu nome. – pediu Holmes

–(Antes de ajudá-lo, precisamos saber o seu nome)

–(Pensei que já soubessem) – ele respondeu, desconfiado.

Esther, porém, contornou a desconfiança do russo.

–(Eu sei que mandamos duas pessoas e uma delas morreu. Quero saber quem sobreviveu)

–Igor Kratoi. – ele disse.

–(Mr. Kratoi, este é um advogado, e ele se chama Mr. Wright. Nós pretendemos te libertar.)

Holmes assentiu com a cabeça, jogando sobre a mesa um falso cartão, que ele sabia que o russo jamais entenderia.

–Diga a ele que isto tem um preço e que queremos saber o que ele está fazendo aqui, na Inglaterra, assim como os outros, caso contrário ele será morto aqui mesmo pelas autoridades inglesas.

Esther assentiu e disse isso, em russo. O russo parecia consternado.

–(Então, Sua Graça não mandou vocês aqui? Quem são vocês?)

Esther percebeu a inquietação do homem e tentou acalmá-lo.

–(Não espere ajuda do Duque Ivanov. Se depender dele, você estará morto na primeira oportunidade. Nós somos a sua última esperança de ainda escapar com vida.)

O russo parecia se desesperar e começou a murmurar.

–O que ele está dizendo? – perguntou Holmes.

–Ele está com medo. Disse que mora no norte, que tem seis filhos e era um simples falsificador de moedas, até os homens do Duque Ivanov aparecerem e ameaçar a ele e sua família, caso ele não aceitasse ir à Inglaterra. Jamais matou alguém e quase precisou fazer isso em seu último serviço. Por isso ele falhou. Agora, ele diz que sua família estará morta.

Esther voltou a falar em russo.

–(Ainda há um jeito de voltar para casa)

O russo continuava a chorar.

–Diga a ele que poderemos soltá-lo e pagar passagem para a Rússia.

Esther repetiu suas palavras em russo e o russo assentiu. Depois de uns instantes, engolindo o choro, o rapaz assentiu e disse algumas palavras. Esther suspirou com alívio.

–O que foi que ele disse?

–Que entregará o Duque Ivanov.

O russo acrescentou mais algumas palavras, com um sorriso no lábio, deixando escapar seus escassos dentes podres.

–E que precisa de um banho.

Holmes bufou, não vendo outra alternativa, senão leva-lo à Manor Holmes.

Ele pagou uma fiança, relativa a seis libras por invasão de domicílio e conseguiu a liberação, ainda com a relutância do inspetor-chefe em fazer isto.

Durante a partida até em um cabriolé até a Manor Holmes, Esther e o russo conversaram um pouco em seu idioma, deixando Holmes completamente excluído e um pouco incomodado por vê-la conversando com um criminoso que quase atirara em seu irmão recentemente. Mas Esther tentava fazer que o rapaz – que disse ter 30 anos – se sentir mais confortável e menos acuado.

Holmes sentiu um alívio ao ver a imponente Manor Holmes começar a despontar no horizonte, que já estava perto de findar o pôr-do-sol. Esther não pôde deixar de admirar a beleza do local. Entretanto, o russo se assustou ao perceber para onde estava indo e tentou saltar do cabriolé em movimento, se não fosse impedido por Holmes.

–Diga a ele, Esther, que não pretendemos fazer nada contra ele.

Esther disse, e insistiu várias vezes, até finalmente acalmar o assustado russo, que se disse temeroso com sua vida.

Trazendo a si, Holmes finalmente entrou em seu antigo lar, que há mais de quinze anos não recebia sua visita. Ainda que tanto tempo tenha passado, parecia que aquela casa tinha sido congelada em um instante do tempo. Ao entrar, Esther apertou-lhe firmemente a mão, pois sabia as atrocidades presenciadas pelo jovem Sherlock naquela casa que já se vislumbrava ser tão fria e triste.

–Mr. Spencey? – chamou Holmes pelo mordomo. – Sherringford?

–E-Estou aqui, Holmes. – ouviu-se uma voz, um tanto trêmula. Holmes estranhou, e continuou a andar pelos cômodos, sendo seguido por Esther e o russo, a passos muito atrás de si.

Ele encontrou Sherringford na sala principal, diante da lareira e do enorme quadro de pintura à óleo que retratava um jovem Siger Holmes. Embora estivesse frio, gotas de suor poderiam ser vistas a escorrer de sua testa, que imediatamente causou estranheza em Esther e Holmes.

–Sherringford, o quê...?

–Não se aproxime, Sherlock! – gritou o rapaz, trêmulo. – Nem um só passo. – ele disse, pausadamente.

–O que está havendo, Sherringford? – perguntou Holmes.

Esther percebeu que Sherrringford olhava o tempo todo para uma direção, enquanto pedia calma. Imediatamente, ela descobriu o motivo de seu estranho comportamento ao olhar para o topo da escada.

–Holmes... – ela disse, com um sussurro. – Olhe ali.

Holmes direcionou seus olhos para onde Esther estava acenando com o rosto e mal pôde acreditar no que estava vendo.

–Sentiu minha falta, Mr. Holmes?

–Não pode ser! Sebastian Moran?!


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Notas finais do capítulo

EIIITA!!!!


E olha quem veio pagar uma visitinha ao Holmes....
Sebastian Moiran, em carne e osso!
E de quebra, temos Sherringford de refém... Putz!

Vejamos como o detetive sairá desta. E se alguém irá se ferrar com isso.


Um grande abraço, pessoal, e até quarta!



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