O bravo cavaleiro capricorniano acabara de voltar ao santuário de uma missão na Espanha acompanhado de seu mais novo e falador aprendiz... Após mostrar-lhe o santuário, decidiu se dedicar a mais uma sessão de treinos, como sempre fazia...

Dia após dia tinha por vida esta mesma rotina para buscar seu aperfeiçoamento, e mesmo que muitos dissessem que já era o bastante, sua honra como o mais fiel entre os doze dourados não o permitiria parar... isso enquanto não estivesse em seu mais pleno estado de força para proteger a amada Deusa Athena.

"Minha espada excalibur ainda não havia alcançado o corte perfeito... mas não posso descansar! Tenho de dar o meu melhor por Athena e é por isso que treinarei até não aguentar..."

Perdia-se em devaneios quando sentiu o cosmo de seu amigo, o santo dourado de Sagitário. Sisyphus era tão bondoso que chegou a ser comparado a um anjo... um anjo que El Cid sempre admirou.

— Sisyphus... veio treinar também?

Perguntou-lhe austero, impassível... Não era o tipo de pessoa que deixava transparecer os sentimentos... Já Sisyphus era o que pode-se dizer o "contrário" em personalidade a El Cid. Sempre tão sincero a ponto de não conseguir ocultar do amigo sua tristeza

Tentou dá-lo seu melhor sorriso, mas sabia que não podia enganar alguém que conheço tanto e por tanto tempo. El Cid saberia cedo ou tarde, então decidiu que contar não seria má coisa.

— Sabe, nossa Deusa Atena... ela é apenas uma menina e já tem tantas responsabilidades. Eu não gostaria de deixar todo um peso sobre uma criança.

— É uma questão difícil, mas você não tem culpa de nada.

A conversa começara estranha, já que isto era algo com que todos no santuário vêm lidando desde a chegada da pequena Deusa... Sisyphus apenas parecia querer adiar sua verdadeira intenção no diálogo e isso não passou desapercebido ao moreno de olhar afiado.

Sisyphus olhava para o lago onde capricórnio sempre treinava antes de resolver sentar-se ao lado do outro nas pedras que ali ficavam. Não retrucou o argumento, pensativo e cauteloso como raramente se mostrava frente a El Cid, então este continuou a falar-lhe.

— Nosso dever é protegê-la e talvez quando tudo isso acabe, ela possa viver uma vida normal e em paz.

— Mas isso não te incomoda? Talvez quando tudo isso acabe ela não seja mais a mesma.

À medida que as palavras eram por si murmuradas, deixava com que seus fios dourados escuros caíssem sobre os olhos.

"Não posso mais enganá-lo... ele já sabe que eu gosto da Senhorita Sasha..."

— Se complicas tanto, é porque há algo mais além do que deveria sentir... Somos cavaleiros de Athena, e nós dois somos, entre as 88 constelações, aqueles considerados os mais leais a Athena... Sisyphus, eu sei que há dúvidas em seu coração... e mesmo que eu não entenda muito dessas coisas, posso dizer que você sente um amor platônico pela nossa Deusa...

A cabeça prostrada apenas movimentou-se minimamente para confirmar a afirmação alheia... o anjo nunca esteve tão confuso e amedrontado desde esses tempos, desde que tinha tirado a pequena de sua família, e desde que por ela tinha se apaixonado.

— É impressionante que você possa saber tudo o que sinto apenas estando perto... mas apesar de você ser um homem misterioso, conheço-o o bastante para dizer que é totalmente devoto a nossa Deusa, e muito mais digno que eu... só não entendo como pode saber que eu estou apaixonado quando nunca demonstrou sentimentos por alguém.

Seus olhos brilharam de curiosidade, já que não era usual ver El Cid levantar questões sobre sentimentos, mas a resposta que teve foi um audível suspiro, e de certo fora por indignação.

— Isso foi passado... Eu tinha uma amiga que muito admirava, a Mine... mas ela morreu, e só então descobri como todo esse tempo senti sua falta... Não é feio sentir, mas mostrar seus sentimentos pode torná-lo marionete dos inimigos.

Seus punhos cerraram-se com fúria ao lembrar da batalha onde lutou no coliseu. Lá havia enfrentado sua amada depois de morta... encarara o sonho de Mine que ela não pôde realizar antes de falecer e isto ainda lhe doía.

— Eu discordo nesse ponto...Se não sentíssemos paixão por lutarmos por aquilo que acreditamos, todas essas Guerras não seriam sem sentido?

O silêncio permaneceu por longos minutos, enquanto ambos encaravam as águas calmas de fronte onde sentavam, até que o duro homem quebrou a calmaria tal como as gaivotas cortavam os seus com o som das batidas das belas asas.

— Não há por que nos apegarmos a sentimentos quando sabemos que todos vamos morrer... Prefiro esquecer tudo o que sinto e apenas me dedicar a Athena... assim poderei morrer feliz. Talvez agora você entenda como o amor significa para mim.

— Já eu, prefiro levar comigo os sentimentos... e é por todos que luto, inclusive você... Quero assegurar o futuro das próximas gerações, mesmo que custe minha própria vida.

— Lutar...Por mim?

"Essa foi a pergunta que lhe fiz naquele final de tarde que compartilhamos. Depois de alguns anos, a Guerra Santa realmente se iniciou e só então, em nosso ultimo combate, que pude receber a força dos sentimentos daquele que tanto considerei meu amigo... Seu cosmo envolto na flecha dourada, fez acender uma chama em meu peito que até então havia estado apagada... e nesse momento, quando nossos cosmos se tornaram um, eu pude perceber o que era realmente amor... não um amor por lealdade, mas um amor passional, e sei que ele sentiu o mesmo que eu... Agora compartilhávamos sentimentos, e mesmo que isso acabasse com a minha vida, me joguei contra o ataque que mataria meus companheiros para protegê-los..."

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"Depois de tanto tempo fechando meus olhos para esse amor, finalmente encontrei a resposta para minhas duvidas... eu o amava. Mas éramos guerreiros e quando o ajudei naquele ultimo ataque, tinha plena consciência de que ele não resistiria. Fechei os olhos para que a pequena Deusa, que agora sabia sentir apenas amor fraternal, não me visse sofrer."

— Nos veremos em uma outra vida, meu amigo...

"E também meu amado."