O bichinho de pelúcia era azul escuro. Um presente deveras inusitado vindo de seu amigo. Suspeito até. Era um passarinho de expressão fechada que Aomine ganhou na máquina do salão de jogos. Isso porque nem a máquina mais trapaceira de todas parecia o suficiente para minar as habilidades do moreno. “O único que pode me vencer sou eu mesmo” era algo que Aomine sempre dizia, e se não tivesse acontecido àquela segunda partida com a Seirin, provavelmente Satsuki acharia aquele dito absoluto.

“Mas que bom que não”.

A palpitada que surgiu em seu peito foi misteriosa.

O que Satsuki realmente queria era uma pelúcia de cor azul clarinho que de alguma forma a fazia se lembrar de Tetsuya. O que havia recebi também era muito bonito do seu jeito é claro. Mas existia algo que a intrigava acima de tudo. Era azul escuro. Satsuki acabou por balançar a cabeça.

Deveria estar pensando demais.

Ajeitou o passarinho de pelúcia junto a seus novos amigos. A garota, quando tinha a oportunidade, fazia com que seus pais comprassem vários. E como resultado sua cama estava com uma pilha deles onde teria que se encolher se quisesse que todos permanecessem em seus lugares. Era duro ser uma colecionadora.

Satsuki tomou seu banho após arrumar seu material para o próximo dia. Jantaria e tudo o que precisaria fazer era estudar para o teste do dia seguinte.

O problema era que pela primeira vez em muito tempo não conseguiu se concentrar. Não tinha problemas em estudar sozinha, sendo que era muito boa em fazer notas. Porém essa habilidade caiu drasticamente ao se sentir observada por dois olhos muito sérios. E fofos. O “Aomin”, o nome que deu ao bichinho por sua cor e expressão, parecia realmente vivo. Com uma presença única.

– Ok, muito bem! Está de castigo mocinho! - Momoi falou saindo de sua cadeira com determinação.

Se afastando da escrivaninha ela pegou a pelúcia e voltou seus olhos para a parede.

Até que só naquele momento Momoi percebeu que tinha algo realmente diferente na pelúcia. Tinha um papelzinho preso no bichinho com um elástico. Como ela não percebeu isso antes sendo tão analítica?

Satsuki tirou a coleirinha artificial da mascote e leria se não tivesse tido um pressentimento. Dobrou o papel outra vez antes que lesse as palavras. Deu um suspiro com um alívio indescritível, falando com uma voz mais suave para si mesma:

– Homens... Não podem nem deixar uma dama decidir por si mesma?

Arrumou o bichinho como estava antes, o papel intocado. E se posicionou na cama para dormir, fechando os olhos sem pressa. Um sorrisinho estava presente em seus lábios. Quem sabe no dia seguinte.

– Dai-chan! Desculpe a demora! - Momoi falou arfante pela pressa em sair de casa.

–... Sem problemas... - Aomine disse em um tom pensativo. - Tem alguma coisa para fazer depois das aulas?

Os olhos de Satsuki se fecharam um pouco. Analisando.

– Não tenho... Por quê? Quer comprar mais tênis?

Aomine pareceu constrangido, as suas bochechas estavam um tanto vermelhas.

O sorrisinho do dia anterior voltou só que com mais força. Satsuki abraçou o braço do ainda amigo e falou para que seguissem em frente logo ou iam se atrasar. Entendia aquela forma do outro agir, a intenção. Mas não era como se quisesse fugir dela.

O shopping estava cheio de produtos novos com relação ao basquete. Tipos de tênis principalmente. Acabaram por ver a maior parte deles já que era o que mais tinham em comum. Isso a fez se lembrar de Tetsuya. Até Kagami a venceria no quesito de semelhança de gostos. O que sobraria para que Daiki e ela se derem bem? Eram amigos de infância, tinham um passado em comum. Isso era o suficiente?

– Ei, Satsuki... Não está com fome?

Voltou à realidade ao se deparar com o rosto de seu amigo. Daiki tinha a expressão fechada indecifrável. Mas devia estar preocupado. Isso a lembrou da pelúcia em seu quarto e isso a fez ter vontade de rir.

–... Colocaram alguma coisa no seu hambúrguer? - Aomine questionou espantado.

Pegou o lanche da garota e começou a checá-lo.

– Vamos, não seja assim! - Satsuki falou pegando seu lanche de volta - Eu estava pensando em você.

Era um pouco estranho tentar fazer sua pose de “mulher madura” quando estavam no meio de um fastfood, mas Satsuki não ligou. Tinha as pernas cruzadas sobre a outra e ajeitou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha.

Aomine parou onde estava. E não apenas Daiki como os rapazes e algumas moças das proximidades. Momoi percebeu que já tinha causado o efeito que desejava. Porém em demasia e não sabia mais o que fazer. Daiki pareceu sair de transe e pegou sua mão. Saíram da praça de alimentação com dificuldade.

– Eu também... Esquece... Ainda temos aquele filme para ver não é? Já deve estar na hora.

Aomine não virava nenhuma vez.

Satsuki tentou acalmar seu coração. Quando julgou ser suficiente interrompeu seu passo. Parou Daiki também. E começou a andar outra vez, só que na direção oposta.

– Mudei de ideia. Vamos para casa Dai-chan. Quero que me ajude a fazer um bolo!

– E porque de repente...?

– Você tem alguma coisa para me dizer não é? - Satsuki questionou enquanto ia à frente - Eu só escuto coisas importantes de frente. Outros métodos estão in-vá-li-dos! Só para você saber.

– Entendo. - Daiki falou em um tom mais animado.

Quem sabe naquele dia?