– Ei, bicho preguiça! – John gritou da janela do carro assim que chegou, seis em ponto.

Notei que sorria enquanto entrava, colocando minha mochila no banco de trás.

– Dormiu bem? – ele me perguntou com um sorriso que combinava muito bem como seu cachecol azul.

– Sim. – menti.

– Então, Dover...lá vamos nós! – John acelerou animadamente.

Sua avó, pessoa que havia educado-o, morava lá desde sempre. Ele mesmo havia passado toda a sua infância ali com sua irmã, já que seus pais morreram em um acidente de avião quando tinha só cinco anos.

Era uma viagem de três horas e nós tínhamos muito assunto pela frente, o que me deixou um tanto quanto apreensivo.

Não por John, porque ele parecia uma matraca de falar coisas sem utilidades. Eu falava que ele era especialista nisso.

“Socialização, Sherlock. Faz parte da vida e da convivência entre outros seres humanos” ele ria.

Estava apreensivo por mim. E se o assunto acabasse? E se eu dormisse no caminho? E se ele descobrisse que eu sou insuportável?

– Sherlock...você sabe a origem do seu nome? – ele me perguntou repentinamente, cortando o silêncio, enquanto entrávamos na primeira rodovia.

– Hm. Na realidade não. Meu avó paterno que sugeriu e meus pais gostaram.

– Entendi. É que soa épico ...nome de protagonista de livro, sabe? Já eu me chamo John porque meu pai tinha um amigo que se chamava John.

– E o seu sobrenome?

– Watson?

– Não, o do meio. Vi na sua pasta. Com “H” né?

– Isso não vem ao caso agora – riu –Mas o seu, o seu é bem bacana. Parece de um personagem, não sei explicar...Sheakespeare, talvez? Eu curto muito. – concluiu sorrindo para mim.

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Assim que chegamos, John preferiu me mostrar o porto antes de seguirmos para a casa de sua avó.

Era nove e meia da manhã e quando finalmente consegui ver as montanhas daquele lugar, consegui entender o motivo delas serem tão famosas.

– Eu vinha aqui brincar. É uma caminhada, mas eu adorava jogar bola ali embaixo, tá vendo? – ele apontou para um campo logo abaixo.

– Sim. – respondi ainda maravilhado com o cheiro, a cor e a visão que o oceano trazia.

– Vem...- ele me disse ao segurar minha mão e me levar mais a frente. Hesitei, mas ele insistiu.

Seus dedos eram quentes e ao vê-lo a minha frente, sorrindo e me guiando...isto me fez sorrir.

Mas era a primeira vez que eu me sentia assim.

Não sei se você já provou essa sensação de felicidade infinita, mas que dura poucos segundos. É como se eu tivesse sido feliz para sempre naqueles milésimos que se seguiram.

Mas talvez tivesse sido apenas o sono, com os cabelos dourados de John brilhando ao sol, o oceano azul combinando com seu cachecol, seus dedos quentes e firmes contrastando o vento gelado que batia sobre nós.

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Ficamos o dia todo com a avó de John. Ajudamos em algumas coisas, reparos em casa enquanto ela nos empanturrou com doces de todos os tipos.

Definitivamente gentileza é algo de família.

Quando voltamos já era quase de noite. Me sentia exausto e ainda assim poderia ficar com John por horas.

– Obrigado pela ajuda, Sherlock. – ele sorriu assim que destravou a porta para eu descer do carro.

– Eu que agradeço. Dover é um lugar muito agradável.

Ele então sorriu e me encarou, antes de encarar seu volante de maneira pensativa. Ele fazia isso com frequência.

– É sim. Fico feliz que tenha curtido tanto quanto eu. Bom descanso, então. – me disse com mais um sorriso.

– Para você também. – eu saí aliviado, sorrindo de volta.

Quando entrei em sala, vi minha mãe lendo um livro e só essa cena me deixou satisfeito.

Me aproximando, beijei seu cabelo rapidamente e isso a fez me agarrar em um abraço que eu quase me arrependi de ter começado tudo aquilo.

– Como foi seu dia, meu lindinho?

– Bem mãe, vou tomar banho...e dormir. Estou cansado.

– Só isso? William...você só volta a essa hora e não me conta nada! Como John está?

– Foi bom, mãe. Ele está bem. E, por favor...vou pedir que a partir de hoje, me chame só pelo meu segundo nome. Sherlock. – pisquei fazendo minha mãe rir, enquanto eu fugia para o quarto, para não ter que contar mais nada.