Bad Heroes escrita por Katreem


Capítulo 9
Dangerous Joke


Notas iniciais do capítulo

Ai está!



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— Quero quatro destes, por favor. — Sorri para o senhor atrás do balcão, ele tinha um bigode branco que me dava vontade de rir e cheiro de café. Ele se afastou para pegar as revistas que eu tinha pedido, levando consigo seu cheiro meio amargo.

Esta tarde, Mike teve treino de lacrosse e pediu que eu viesse comprar as últimas revistas que completariam sua coleção de quadrinhos do Homem-Aranha, não neguei seu pedido e mesmo com o olhar repreensivo que meu pai me esparziu, eu resolvi tomar um ar e me desprender daquela atmosfera pesada que se instalou há algumas semanas lá em casa. Desde o que tinha acontecido na escola, meu pai e minha mãe dobraram a atenção comigo e meu atual estado psicológico, e até fizeram algo que nem em todos esses anos eu precisei: contrataram uma psicóloga.

Irei visitar a Dr. Sullivan todas as sextas a partir de hoje, e tenho que admitir que não estou muito empolgada. O que havia rolado na escola não foi uma grande surpresa para mim e apesar da ampla humilhação pública que tinham me feito passar, eu já estava recuperada. Ou pelo menos tentava. Fiquei com um pouco de vergonha das meninas por ser a única desmoralizada do “grupo”, pois elas eram tão legais, populares e descoladas, o meu sonho como amigas. E mesmo que Alison e Hanna não fossem as melhores influências que alguém poderia querer, elas tinham qualidades de boas amigas e eu sempre apreciei a amizade das duas.

— Aqui está, senhorita. — O homem retornou com as quatro revistas, todas com um ser adornando um colain vermelho e azul na capa. Agradeci o homem com um simples sorriso e deixei alguns dólares roídos em cima do balcão com um pouco de dificuldade.

— Homem-Aranha? — Uma voz fleuma disse por trás de mim. — Acho que prefiro o Homem-De-Ferro. — Virei minha cadeira em velocidade recorde, quase derrubando as revistas de Mike.

O sol daquela tarde colidia com força nas costas cobertas por um suéter azul-escuro de Ezra, fazendo seu olhos parecerem um pouco mais brilhantes do que realmente eram. Ele sorriu quando meus olhos o descobriram atrás da minha cadeira, com as mãos engranzadas nos bolsos frontais do jeans folgado.

— Na verdade, são para o Mike. — Mostrei as revistas que tinha nas mãos.

— Que pena — ele lastimou, negando com a cabeça. —, eu ia gostar um pouco mais de você se fosse fã de quadrinhos.

Respirei fundo, tentando dissimular meu nervosismo por estar conversando com um cara bonito, mais velho, e que sabia de um dos meus maiores segredos sem nem me conhecer.

— O que faz por aqui? — Ignorei seu comentário por falta de uma resposta coerente e resolvi desconversar.

— Eu estava atrás de umas luvas cirúrgicas, mas o lugar onde costumo comprá-las está fechado. — Observou o outro lado da rua onde um pequeno estabelecimento permanecia com as portas fechadas, sem sinal de qualquer funcionário dentro. — Então vi você aqui e resolvi passar para dar um “oi”. — Ele remexeu a cabeça todo engraçado. — Oi.

— Oi, Ezra Fitz. — Sorri com seu jeito agradável.

— Fitz? — Levantou uma sobrancelha.

— Fitzgerald é muito comprido. — Declarei com diversão.

Ele riu e foi para trás da minha cadeira, segurando os apoios com força.

— Posso acompanhá-la até sua casa? — Revolvi minha cabeça para olhar seu rosto vacilante quanto à minha resposta.

— Vou aceitar só porque você parece ser um cara legal. — Ele sorriu e impulsionou minha cadeira para fora da pequena loja de revistas, me fazendo sentir elevações na diferença de terreno.

— Então... — Ezra começou enquanto desviava minha cadeira de algumas pessoas que passavam pela calçada. — Ele é seu namorado? O Mike?

Achei aquela pergunta um pouco direta, pelo menos ele era determinado.

— Ah, não. O Mike é meu irmão mais novo. — Objetei colocando minhas mãos sobre minhas pernas, era meio depressor ver que eu estava tocando-as e sentir exatamente coisa nenhuma era pior ainda. Ezra não disse nada, ele ficou olhando para minhas mãos assim como eu.

— Mas você tem namorado? — Ele prosseguiu.

— Não... — Persisti olhando para minhas mãos repousadas sobre minhas coxas.

— Pare de fazer isso, por favor. — Ezra solicitou sem me olhar.

— Isso o que?

— Ficar olhando para suas pernas... — Ezra continuou sem manter contato visual, o que me levou a pensar que ele tinha algum receio de me olhar. — Isso deixa a gente para baixo, você tem que ser feliz do jeito que é.

Dei de ombros, mesmo não achando aquilo totalmente verdade. Quem é feliz sabendo que nunca vai poder correr ou andar? Isso pode não ser uma das coisas mais importantes da vida, mas é algo pessoal, uma coisa que sempre quis fazer.

— Talvez tenha razão.

Ezra parou de andar, detendo minha cadeira na beira da rua e olhou para os lados para verificar se tinha algum carro cruzando a rua, e como tinha vários veículos transitando por ali, ele se manteve parado comigo ao seu lado.

— Posso ver? — Ele finalmente me olhou, mas por pouco tempo, e depois afastou seus olhos escuros para as revistas no meu colo.

— Claro.

Com um cuidado exagerado para não machucar as futuras peças da coleção de Mike, Ezra começou a folhear a revista lentamente, como se quisesse armazenar todos os detalhes contidos nas páginas. E foi por isso que ele não escutou quando o chamei desesperadamente ao ver um cachorro de tamanho médio e penugem clara se aproximar em alta velocidade na minha direção. Ele só se desligou das histórias de Peter Parker quando o cachorro já estava com a boca grudada na minha perna e meu grito agudo alcançou níveis extremos.

— A solte! — Ele tentou espantar o cachorro correndo até ele.

— Ezra, o tire daqui. — Pedi suplicante, sentindo leves incômodos onde o cachorro estava dedicando sua mordida.

Um homem se apressou entre uma corridinha cansada para alcançar-nos e gritou pelo nome do cachorro, Sansão, enquanto o agarrava pelo pescoço e lhe prendia em uma coleira azul. Senti um alívio gigantesco ao notar minha perna direita livre dos dentes de Sansão, mas em compensação a parte da calça jeans que cobria meu joelho não existia mais, e agora a pele branca daquela parte do meu corpo sangrava ligeiramente.

— Sinto muito por isso. — O homem se desculpou com o olhar baixo. — Quer que eu leve você ao hospital?

Ele tinha olhos verdes muito bonitos, e apesar da barba por fazer parecia não ter mais de vinte e cinco anos. Sorriu e só parou de me olhar quando seu cachorro se debateu na coleira.

— Ela vai ficar bem, amigo. — A mão delicada de Ezra estava no ombro do homem, puxando-o educadamente em sua direção e coagindo-o a olhá-lo. — Mas é bom você cuidar do que é seu. Como o seu cachorro fujão, por exemplo.

Fiquei olhando o rapaz sumir com seu cão pela rua movimentada, até que a voz de Ezra me acordou.

— Quer ir ao hospital? — Ele se abaixou para ficar da minha altura. Eu ri.

— Vou ficar bem, amigo.

Dei uma risada ingênua e Ezra produziu um meio sorriso, mas esse momento não se prolongou, pois comecei a sentir uma enfermidade enorme no meu joelho abocanhado e fiz careta.

— O que houve? — Ezra perguntou, buscando meus olhos quando os desviei para o chão. — Aria, o que foi?

— Meu joelho está doendo onde fui mordida. — Comentei vagamente, olhando o estrago que Sansão havia feito.

— Meu laboratório é aqui perto, vamos lá e eu coloco um curativo nisso. — Ele deu um passo em direção à parte traseira da minha cadeira, mas eu o impedi segurando sua mão quando o choque de realidade me atingiu.

— Meu joelho está doendo onde fui mordida. — Repeti para mim mesma, respirando fundo e segurando as lágrimas.

— Eu sei, você me disse isso segundos atrás. — Ele deu de ombros enquanto falava, mas em seguida o entendimento cruzou suas feições e ele abriu a boca. — Meu Deus, Aria!

— Eu sei... — Deixei as lágrimas de uma felicidade aprisionada dentro das minhas pernas rolarem pelo meu rosto, ensopando minhas bochechas.

Ezra também pareceu emocionado, passando as mãos no rosto várias vezes e me olhando com um sorriso que poderia iluminar toda Rosewood.

***

Alguns minutos depois de Ezra ter me levado ao seu laboratório e feito um curativo em mim, vagávamos tranquilos pela rua que dava até a minha casa, e apesar de o incômodo do meu joelho ter se amenizado pelos salutares feitos por Ezra, eu ainda podia sentir leves pontadas finas de vez em quando.

— O que está acontecendo? — Ezra ficou sério. Vários refletores azuis e vermelhos passaram pelo seu rosto seguido do meu, os reconheci como sendo das sirenes de dois carros de polícia parados em frente à uma casa.

— Não faço ideia. — Respondi olhando para os lados.

Meu coração errou três batidas quando notei a presença de quatro perfis conhecidos em frente à casa fumacenta, conversando com um policial. Um deles era Alison, que parecia tomar as rédeas e responder todas as perguntas feitas pelo homem de costas largas e uniformes. Spencer, que estava ao seu lado, ruía as unhas dos indicadores como se não houvesse amanhã e tinha o olhar preso em um garoto que conversava com outro policial, há alguns metros dela. O garoto de olhos azuis parecia assustado e temeroso, e lançava olhares tímidos e secretos para as meninas. Hanna e Emily seguravam os braços uma da outra e torciam suas faces em medo, olhando para o policial e para a ambulância que partia em alta velocidade pela rua.

Não precisei pedir para que Ezra empurrasse minha cadeira até lá, por que quando me dei conta, já estávamos perto das meninas e o policial de pele escura já tinha se afastado e se juntado ao outro que conversava com o menino de olhos azuis.

— O que aconteceu? — Eu e Ezra dissemos em uníssono.

— Uma grande cagada. — Alison respondeu, olhando para a casa atrás de si.

— E põe grande nisso. — Disse Hanna.

Spencer nos chamou até a casa dela e Ezra ficou para trás, pois Ali alegou que o assunto que seria tratado era de extrema confidencialidade. Emily empurrou minha cadeira em silêncio até a casa dos Hastings e Spencer não parava de olhar para trás enquanto nos separávamos de toda aquela confusão.

— E se o Toby for preso de novo, Ali? — Hanna perguntou.

Ali mordeu o lábio, parecendo duvidosa.

— Ele vai ficar bem. — Ela respondeu depois de alguns segundos.

— Tem certeza? — Spencer a olhou com os olhos brilhando no meio da rua escura. — E se ele não ficar? Ele deve estar nos odiando.

— Será que a Jenna está bem? — Emily irrompeu.

— Não pense nisso, Em. — Alison olhou para as estrelas que fulguravam no céu. — Pense que nosso plano foi executado com sucesso, até mais do que eu esperava.

Completamente perdida na conversa que se desenrolava entre elas, resolvi perguntar o que estava acontecendo e de que diabos elas estavam falando.

— Espere, do que vocês estão falando? Quem é Toby? Quem é Jenna? Que plano foi executado?

Spencer abriu a boca, mas um grito alto cortou-a.

— Ali! — Alison revirou os olhos ao ver Jason em frente a propriedade dos DiLaurentis, as meninas pararam onde estavam quando ele caminhou em nossa direção. — O que está fazendo na rua até agora?

— Indo para casa. — Ela respondeu com tédio, sem olhar para ele.

Jason olhou para todas nós e depois observou sua irmã.

— Porque seus olhos estão brilhando? — Ele pareceu confuso, reparando os olhos cintilantes dela sem parar.

— É meu o brilho próprio que irradia por todo meu corpo. — Disse convencida. — Mas você não saberia disto, não é mesmo? Pois você vive na escuridão dos perdedores.

Não achei aquilo engraçado, mas Hanna e Spencer acharam, e confirmaram por meio de um risinho refreado. Jason encheu os pulmões e comprimiu os lábios em irritação.

— Não vou cair nessa história. — Ele disse.

Inicialmente, eu nem sequer registrei as palavras dele. Estava ocupada demais o encarando. Fiquei fascinada pela semelhança entre os dois, e agora sob a luz clara dos próprios olhos de Ali, podia notar o quão parecido com a irmã Jason era. Eles tinham o mesmo cabelo louro, as mesmas sobrancelhas finas curvadas nos cantos, a mesma pele pálida. Mas enquanto Alison era pura arrogância, Jason parecia ser do tipo de cara que se acomodava em uma cadeira, como se esperasse não ser notado por ninguém. Tinha cílios longos e escuros como os da irmã, mas Ali tinha olhos azuis e ele tinha olhos verdes, como um lagarto. Encaravam Alison com uma hostilidade tão pura e concentrada quanto ácido.

— Não estou entendendo muito bem o que você quer dizer, Jason. — Ali ergueu uma sobrancelha.

Ele respirou fundo de novo e nenhuma de nós moveu um músculo sequer.

— Vamos para casa, mamãe está te procurando. — Ele deu as costas e caminhou calmamente até a porta de carvalho.

— Prestem atenção, meninas. — Ali sorriu. — Ele tem problemas com as maçanetas.

Ele olhou para o lado e entrou batendo a porta com força. Emily ficou encarando a porta que se fechou, parecia querer desvendar alguma coisa.

— Eu tenho que ir. — Ali suspirou ao olhar a própria casa. — Guardem nosso segredo. — Piscou antes fazer o mesmo trajeto de seu irmão, entrando na casa após nos fitar uma última vez.

— O que foi isso no seu joelho? — Hanna apontou com o dedo.

— Um cachorro me mordeu. — Disse. — E doeu.

— O que? Mas você não pode sentir por que... — Spencer se interrompeu. — Oh Meu Deus!

— Que da hora! Agora você pode andar! — Hanna comemorou.

Sorri para elas. Eu ainda não tinha forças para andar, mas sentir alguma coisa já era um começo.

— Ainda não, Han. — Avisei. — Talvez eu possa em breve. Mas agora me contem, o que vocês aprontaram?

Emily inflou as narinas antes de responder pesarosa.

— Nós, acidentalmente, podemos ter cegado Jenna Marshall.


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Notas finais do capítulo

EZRIA.