A Esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem a demora para postar, fiquei sem internet :'(
Espero que gostem!



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O som alto de um bip, me traz de volta. Não abro os olhos imediatamente, mas consigo ouvir vozes. Minha cabeça dói, não me lembro onde estou. Mexo minhas mãos, e tenho como resultado, a desconcertante descoberta de que estou algemado. Quando consigo abrir meus olhos, me sinto ainda mais confuso. Estou numa sala, colorida. Há algumas pessoas, olhando fixamente para uma televisão. Eu resolvo olhar também. Seja o que for, deve ser algo muito interessante. E então, o choque se instala em mim. Vejo Boggs caído no chão, sem as suas pernas, vejo a mim mesmo, descontrolado, tentando matar Katniss. Me vejo também, jogando Mitchell nos braços de uma armadilha que provavelmente levou sua vida. E depois não vejo mais nada. Apenas constatações. Açoitamentos na capital, tortura com choques, fome, frio. Me lembro do lindo rosto de Moira, cheio de hematomas. Me lembro de seus miolos explodindo na minha frente. E me lembro, do mais crucial. O veneno das teleguiadas, geneticamente modificado intricado em minhas veias. Volto minha atenção para o presente. Focalizo em Katniss, de costas para mim. Em pensar que eu quase a matei. Que eu quis, acabar com a vida dela... Na televisão, há uma enorme comemoração, pois aparentemente estamos mortos. Ao menos é isso o que pensam.

— Então, agora que estamos mortos, qual o nosso próximo movimento? — Gale pergunta a ninguém em especial.

As palavras saem de minha boca, antes que eu possa me conter.

— Não é obvio?

Todos os olhares se voltam para mim. Eu encontro os olhos cinzentos de Katniss. Um misto de surpresa, pena, e o pior... medo. Ela tem medo, de mim.

Com dificuldades que eu não sabia ter, se resumindo a fortíssimas dores, consigo me sentar, e olho para o feroz Gale, que deixa bem claro com seu olhar, o ódio que nutre por mim. Talvez repulsa, seria a palavra mais exata.

– Nosso próximo movimento é... – começo, as palavras custam a sair . – me matar.

– Não seja ridículo — Jackson diz, o que me causa comoção, e inexplicavelmente, raiva. Como ela ousa me defender, depois de tudo o que eu fiz?

— Eu acabei de assassinar um membro de sua esquadra! — grito, olhando ao redor, constatando que Mittchell não está aqui. Sinto lágrimas queimarem em meus olhos.

— Você empurrou-o para longe. Não poderia saber que engatilharia a rede no exato lugar — Finnick fala, e coloca a mão gentilmente em meu ombro. O que me acalma, um pouco.

— Quem se preocupa? Ele está morto, não está? – murmuro, e deixo minhas lágrimas rolarem por meu rosto. Sem nenhum resquício de vergonha. Essas pessoas já viram o que sou, o que fiz, e mesmo assim tentam justificar, ficar do meu lado. É muito mais do que eu mereço. Eu só gostaria de saber o que Katniss, a principal envolvida em tudo isso, pensa a respeito.

— Eu não sei. Eu nunca tinha me visto assim antes. Katniss estava certa. Eu sou o monstro. Eu sou a mutação. Eu sou aquele que Snow transformou em uma arma!

— Não é sua culpa, Peeta — Finnick diz, e me lança um olhar desesperado.

— Você não pode me prender com você. É só uma questão de tempo antes que eu mate outra pessoa — digo, e olho em volta, bem nos olhos de todos. — Talvez vocês pensem que é uma maneira de me poupar. Deixem-me pesar minhas chances. Mas isso é a mesma coisa que me ceder para a Capital. Vocês pensam que me fazem um favor me enviando de volta para Snow?

Todos me olham, aturdidos, como se estivessem considerando todas as hipóteses. Levo a mão ao meu peito, e descubro que a pílula de veneno que deveria estar ali escondida em meu bolso, não está.

— Eu matarei você antes que aconteça. Eu prometo – diz Gale, e eu sinto que ele está sendo sincero, pois de todos ele é o único que parece considerar a única alternativa, me matar.

— Isso não é bom. De que forma se você não estiver lá para fazer isso? Eu preciso de uma daquelas pílulas de veneno como o resto de vocês têm.

Todos olham para Katniss, deixando claro que a decisão cabe apenas á ela. Parece até que vários minutos se passam, antes de ela responder. Eu posso ouvir a respiração de todos, em meio ao silencio quase aterrador. Então, quando ela olha em meus olhos, sei antes de todos, qual foi sua decisão.

— Não é o momento. Você está em uma missão. E é necessário para completá-la. — ela diz, e inexplicavelmente começa a corar, antes de desviar os olhos dos meus. — Acham que nós podemos encontrar alguma comida aqui?

E enquanto todos começam uma busca por comida, sou deixado ao lado de Jackson, com uma arma engatilhada em minha cabeça. Se eu tivesse acesso a uma pílula daquelas, minha morte seria tão mais fácil, e rápida. Me lembro na capital, onde tentei tantas vezes acabar com a minha mísera existência, sem sucesso algum. Não quero morrer nas mãos de Snow. E com certa aflição, reconheço que não gostaria de morrer, de jeito algum. Mas eu sou um monstro. E o mínimo que eu poderia querer, é morrer entre pessoas que eu gosto, morrer sendo eu mesmo, não descontrolado pelo veneno da capital. E quando Katniss me olhou nos olhos, eu soube que ela compreendeu minha real intenção em ter a pílula. E assim eu soube que sem motivo aparente, ela prefere me manter vivo.

Engulo uma nova onda de lágrimas, e me concentro em memorias de um tempo, em que eu me considerava feliz. Engraçado é Katniss estar envolvida em todas essas lembranças, que eu sequer sei se são reais.

Após algumas horas, sou flagrado com um sorriso no rosto, quando Jackson me chama para comer algo, e me conta uma longa história sobre Messalla e estoques da capital, na qual eu não presto muita atenção. Não me sinto exatamente com fome. É mais, um vazio. Algo que nem toda a comida do mundo pode preencher. Mas como todo ser humano precisa de alimentação para viver, eu me meto no meio de um punhado de enlatados, e começo a procurar algo, mesmo que ironicamente meu constante pensamento seja morrer. E Katniss.

Do outro lado da pilha, eu avisto uma lata, e consigo ler a palavra Cordeiro. Institivamente eu sei que Katniss pode gostar disso, visto que ela está torcendo o nariz para todas as latas que pega na pilha. Não sei ao certo o motivo dessa necessidade tão grande de agradá-la, mas deve ser para compensar as vezes que tentei matá-la. Então eu me estico, e mesmo sentindo as algemas cortando minha pele, não desisto, até que alcanço a lata. No rótulo, com letras brilhantes está escrito Ensopado de Cordeiro. Sorrio. Ela certamente irá gostar disso. Me aproximo dela, um pouco hesitante, e respiro fundo antes de chamar sua atenção.

– Aqui – digo, e estendo a lata para ela.

O medo em seus olhos se dissipa um pouco, e ela pega com delicadeza a lata das minhas mãos. Quando ela lê o rótulo, levanta a cabeça e me olha intensamente.

– Obrigado – ela diz, e abre a tampa. – Ainda tem ameixas secas.

Eu sinto que há tantas coisas a serem ditas, mas sequer sei por onde começar. Poderia ser com “me desculpe por tentar te matar”, ou “eu te amo mais do que qualquer coisa”, ou apenas “me mate, antes que eu faça isso com você”. Porém eu me contento em apenas observar o meio sorriso que ela me lança, enquanto come seu ensopado. Pego uma lata para mim, aleatoriamente, e me surpreendo com o terrível gosto de nada, que a sopa tem. Não consigo tirar meus olhos de cima de Katniss. E de repente, nada mais importa, apenas o fato de que Katniss está aqui, viva, me olhando de soslaio quase carinhosamente. Um pouco de caldo escorre pelo canto de sua boca, e eu tenho que torcer minhas mãos para não ir até ela, e limpar. Me pergunto, se um dia irei me recuperar disto, se um dia serei uma pessoa normal novamente. Se um dia, poderei sentir o calor dos lábios de Katniss nos meus novamente, e se meu amor por ela, será capaz de me salvar, de me curar. Isso me dá um pequeno feixe de esperança, mas a quem estou querendo enganar? O que fizeram comigo, é algo irreversível. Enquanto termino minha sopa, sinto algo sombrio me invadir. E percebo que este algo sombrio, é nada menos que a verdade. Tenho apenas duas alternativas. A primeira é morrer por livre e espontânea vontade, e a segunda é viver, sabendo que a qualquer momento, posso matar a garota que amo. Ambas são terríveis. Mas eu posso escolher. E estou determinado. Eu escolho a primeira.


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