A Esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capítulo 1

- Você está fazendo um progresso maravilhoso, Peeta – Moira, a médica que está cuidando de mim, desde que cheguei a capital, exclama, sorridente.

Meu corpo foi praticamente reconstruído. Se readaptar não tem sido nada fácil. Mas eu estou com uma motivação implacável. Todos os dias, faço duas horas de fisioterapia com Moira, e quando ela vai embora, continuo fazendo. Por mais que meu estomago pareça incapaz de digerir algo, eu me forço a comer o que eles entregam em meu quarto. Não há nada de delicioso. Apenas uma mistura cor de terra, e com gosto de terra também. Moira diz que é minha dieta, e logo poderei comer normalmente. Não que eu me importe com isso. O mingau de terra, como apelidei a refeição, tem dado resultado. Estou com músculos bem definidos. E apesar de ter certa dificuldade para fazer alguns movimentos, me sinto forte. Só não me sinto bem. As noites são uma forma de tortura para mim. Eu não consigo dormir. E quando durmo, tenho sonhos terríveis. Quando acordo ofegante e apavorado, descubro que os pesadelos, são na verdade reais. Aí tenho de encarar que Katniss está mesmo, morta. Chorar nunca resolveu. Mas é o que posso fazer. Choro todas as noites, como se fosse uma rotina. Mas, quando amanhece, um vigor toma conta do meu corpo, e eu me obrigo a levantar meu corpo. Pois eu tenho um propósito. Eu tenho que matar o presidente Snow. Eu ainda não sei como chegar até ele. Quando fui removido do hospital, me trouxeram para um prédio, que chamam de centro de reabilitação. Mas, na verdade, sei que é uma prisão.

- Moira – começo, cautelosamente, após terminar a última sessão de exercícios. – Eu realmente gostaria de ver Johanna. Você não pode dar um jeito nisso?

Ela olha para baixo. Algo está errado. Sei pela expressão em seu rosto. Quando se passa muito tempo convivendo com alguém, você começa a entender cada movimento dela. Moira é a única pessoa que tem conversado comigo. E ela é realmente legal.

- Isso não depende de mim, querido – ela diz, depois de um tempo.

- Depende de quem, então? – questiono, aborrecido.

- Do presidente Snow, claro. Deixe de conversa e tome seu remédio – ela retruca, me estendendo um frasco branco.

Eu não gosto deste remédio. Ela nunca me diz para que serve. E eu me sinto estranho toda vez que tomo. Já tentei descrever o que sinto, mas ela deu de ombros dizendo que é um efeito colateral. Relutante, pego o comprimido, e engulo.

- Ela está bem ao menos? – insisto.

Moira já está perto da porta, quando me olha discretamente. Em seguida olha para um canto da parede, e balança a cabeça quase imperceptivelmente.

- Não – sussurra, e sai do quarto, sem se despedir.

Impotente, fico sentado em minha cama, fitando o chão. O remédio, faz com que meu corpo pareça mais pesado. Faz minhas emoções, ficarem mais... intensas. Como eu gostaria de ver Johanna. Ando até a porta, e percebo que Moira a deixou destrancada. Eu andei uma vez pelo prédio, e não vi nada de diferente, ou estranho. Há outros quartos como o meu aparentemente. Ninguém sai. Por não precisar. Aqui eu tenho um banheiro, com chuveiro. Me entregam roupas limpas e as refeições todos os dias. E tenho uma televisão, onde passa vinte e quatro horas por dia, programas idiotas da capital. Como mudar a cor do seu cabelo em casa. Como aplicar plumas nos cílios. Removendo tatuagens. Um monte de besteiras. Eu gostaria que em algum desses programas ensinasse como diminuir a dor. Ás vezes é como se nada tivesse mudado. É como se eu estivesse em casa, no meu quarto, na vila dos vitoriosos no distrito doze, e a qualquer momento pudesse apenas me levantar e ir até a casa de Katniss, do outro lado da rua. É como se fosse um transe. Eu chego até a porta, mas quando tento abrir, percebo que está trancada. E a real situação me acerta numa força desconcertante. Um pouco grogue abro a porta e espio para fora. Um longo corredor se projeta. Há números nas portas dos quartos. Vou seguindo pelo corredor, tentando fazer o menor barulho possível. Só quero ir até o sol. Olhar o mundo lá fora. Me sinto um completo prisioneiro aqui, mesmo não sendo maltratado nem nada do tipo. Ao mesmo tempo, sinto que há algo errado. Eu não posso voltar para casa. Haymitch não me procurou. Não posso nem ao menos ver Johanna, que segundo Moira, está aqui. Finnick não está. Já chorei a morte dele também. Sou surpreendido por dois pacificadores. Eles estão extremamente armados, e me olham alarmados.

- O que está fazendo fora do quarto? – um deles pergunta.

- Eu. É... A Dra. Moira, disse para eu ir até a sala de... recepção. É... falar com ela – arrisco. Eles trocam um olhar, e me avaliam. Mal ouso me mexer.

- Certo. – O mais alto diz. E me deixam passar.

Fico perplexo. Aqui há mesmo uma sala de recepção? E porque eles não estranharam o fato de minha cela-quarto, estar destrancada?

Me forço a andar o mais rápido que posso. Isso não havia me passado pela cabeça, mas eu poderia fugir. Ir até Snow. Matá-lo, e depois me matar. Minha visão está oscilando. Talvez seja o excesso de adrenalina. Viro por outro corredor, e me deparo com uma escada. Imediatamente, eu a desço. De dois em dois degraus. Tenho que chegar a algum lugar. A escada parece não ter fim. Mas eu me sinto compelido a continuar descendo. Não sigo por nenhum outro corredor. Apenas desço. Paro abruptamente, quando escuto um som. É como um gemido. Tão baixo, que seria impossível escutar se tudo ao redor não estivesse tão silencioso. Fico parado tentando escutar de onde vem esse gemido. Uma porta se abre ao longe, e uma mulher de cabelos roxos, e roupa branca sai de um quarto. Ela está vindo em minha direção.

- Sr. Peeta Mellark. É um prazer enfim vê-lo. Sinto muito por sua perda. Perdão, mas... O que faz nesse andar? – a mulher pergunta, olhando com interesse e admiração para mim.

- Eu... – começo – estava...

- Já passou do período de vigilância? Ah, que ótimo. Não soube da sua mudança de ala. Bom, fico feliz que nos veremos mais vezes. Talvez um dia eu possa trazer minha filha aqui. Ela é realmente louca por você.

E dizendo isto ela faz um aceno, e desce as escadas. Coço a cabeça. Tudo está tão confuso. Que história foi essa de vigilância? Ala? Olho para escadaria, e me pergunto se saberei voltar. Escuto outro gemido. Tenho de descobrir o que é isso. Sigo pelo corredor, atento a qualquer barulho. Aqui, os quartos estão quase todos de portas abertas. E arrumados meticulosamente. Quando chego ao final do corredor, há uma porta sem número. O que é intrigante. Tento abri-la, mas está trancada. Suspiro. Minha cabeça dói. Escuto um gemido novamente. Dessa vez, parece mais próximo. Tem que estar nesse quarto. Tenho um pressentimento. Eu preciso descobrir o que de fato está acontecendo. Num impulso, olho para o lado, e não vendo ninguém no corredor, lanço meu corpo contra aporta, repetidamente até que ela se rompe. Estou preparado para o pior, mas o que vejo me deixa surpreso. Não há nada aqui. Apenas mais um quarto como o meu, e todos os outros. Mas é então, que escuto outro gemido, e tenho a certeza que só pode estar vindo daqui. Começo a procurar em todos os cantos do local. Não sei o que espero achar, mas sei que há algo errado aqui. Depois de vasculhar todo o quarto e o banheiro, decido ir embora. Tentar achar uma saída. Numa última tentativa, olho embaixo da cama. E tenho a certeza de que eu estava certo. Ali, está, um alçapão. Tentando não fazer muito barulho, movo a cama de lugar, e levanto a pesada tampa do chão. Um cheiro desagradável faz meu estomago revirar. Há uma escada de aparência frágil, e eu não hesito em descer. Conforme vou descendo, vou entrando em uma escuridão medonha. Sinto um arrepio na espinha, quando escuto um gemido novamente. Está bem aqui. Só não consigo enxergar onde. Quando meus pés tocam o solo, espero meus olhos se acostumarem com a escuridão. Vou tateando a procura de algum objeto, algum móvel, alguma pessoa. O cheiro é quase insuportável. Cheiro de coisa podre, urina, sangue.

- Tem alguém aqui? – sussurro.

Por resposta, obtenho uma tosse áspera, pesada.

Estremeço. Tateio até uma parede, e procuro desesperadamente alguma forma de clarear esse lugar. Acho uma espécie de botão. Mesmo com receio, não tenho outra opção, além de apertá-lo. E ver o que vai acontecer. Quando aperto o botão, uma sequência de refletores vai se acendendo. Há refletores no teto, no chão. Parece uma explosão de luz. Por um momento não consigo enxergar muita coisa, mas quando minha visão se acostuma a claridade, o que vejo me faz perder o chão. Bem diante dos meus olhos, há uma figura, acorrentada ao chão. Há sangue seco por toda a parte. Esguichado nas paredes brancas, escorrido no chão. Quando ele me olha, seus olhos injetados de sangue, começam a marejar imediatamente. Seu corpo se resume a pele e osso. Sinto lágrimas escorrendo por minhas bochechas.

- O que... O que fizeram com você Cinna? – consigo, por fim dizer.


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